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Artigo | Zero Onze e Oitocentos e Onze: Referências da Marvel em Stranger Things

Um dos retornos mais aguardados dos últimos tempos, a segunda temporada de Stranger Things vem prometendo uma história tão ou até mais atraente do que a desenvolvida em sua primeira, contando com muita ação, suspense e um dinamismo ainda maior entre os personagens que conquistaram, em um ímpeto arrasador, um publico fantástico.

E é claro que grande parte dessa glória alcançada pela série da Netflix se deve as suas referências a grandes obras da cultura popular. Entre Alien, Carrie, Conta Comigo, Gonnies e div diversas outras obras homenageadas pela série, consta uma HQ da Marvel, mais especificamente a edição #134 de Uncanny X-Men.

Mas essa homenagem de Stranger Things a Marvel pode não se limitar somente a uma ou outra referência indireta. Isso porque existem fortes elementos que podem levar a crer na possibilidade de Eleven (Millie Bobby Brown) ter sido constituída com base em uma personagem de um universo distópico da editora.

O CENÁRIO MARVEL EM STRANGER THINGS

Falo especificamente de Dias de Um Futuro Esquecido, que retrata acontecimentos do que viria a ficar conhecido como Universo 811 nos quadrinhos da Marvel e adaptado em filme pela Fox em 2014. Nesse arco, a história contada se passa em um futuro distópico onde a raça humana e mutante são quase que completamente eliminadas. Partindo disso, alguns dos mutantes sobreviventes organizam uma resistência que possui como objetivo principal alterar todo aquele cenário à partir de acontecimentos do passado que resultariam em sua própria realidade.

E para que esse plano pudesse ocorrer era vital a participação de Rachel Summers, a única mutante com poderes capazes de enviar uma consciência para outro período do tempo. Mas afinal de contas, quem é Rachel, a protagonista dos quadrinhos de Dias de Um Futuro Esquecido?

Muitos fãs de X-Men, principalmente os menos envolvidos com as publicações e mais influenciados por séries animadas de TV não devem ter reconhecido o nome de Rachel, mas não se abismaram tanto com seu sobrenome, Summers, que é também o sobrenome de um dos principais lideres dos X-Men, Scott. E é exatamente aí que mora o segredo – não tão secreto – dessa equação. Rachel é filha das contrapartes de Scott Summers e Jean Gray em uma realidade alternativa que viria a ficar conhecida como Dias de Um Futuro Esquecido, ou, para os fãs de quadrinho Universo 811 – guardem esse número, ele é potencialmente importante para essa história!

Na trama desenvolvida no nesse universo distópico dos quadrinhos, a morte de um personagem central, assim como aquela assistida por nós na história desenvolvida no cinema pelo maior vilão dos X-Men de todos os tempos – a.k.a Bryan Singer – é o ponto de ignição de uma série de acontecimentos que viriam a transformar completamente o mundo conhecido por nós na linha temporal tradicional das histórias dos X-Men, o Universo 616.

Sendo a premissa do Universo 811 a tentativa de alteração de acontecimentos passados que levariam, inevitavelmente, ao cenário de caos de sua linha narrativa, Rachel – que herdara dos pais seus poderes – passa a ser figura central na trama pela sua capacidade de transportar  consciências através do tempo.

Nesse arco, a partir daí, surgem questões como a Lei de Registro Mutante e consequentemente a criação dos Sentinelas, máquinas de arquétipo humano que viriam não só a tomar o antagonismo da trama para si, como também se voltariam contra seus criadores, dominando o mundo e escravizando os mutantes remanescentes nele. Esses mutantes escravizados eram mantidos em campos de concentração – incluindo Rachel – sendo torturados e submetidos a experimentos científicos.

UNIVERSOS E COMPARAÇÕES

Os poderes de Rachel, conhecidos como transferência psicotemporal, seriam então utilizados para enviar um mutante para os anos 80, a fim de reverter os principais acontecimentos que resultariam na criação do Universo 811. Em perspectiva, embora talvez a mais banal das comparações, os acontecimentos retratados em Stranger Things se passam na mesma década.

Não sabemos ao certo como a dinâmica dos universos paralelos funcionam em Stranger Things, afinal, tendo ou não consciência disso, a série deixou esse ponto em aberto. Talvez não haja realmente alguma influência do Universo 811 sobre a personagem 11. Será mesmo?

Como já mencionado, Rachel herda de seus pais – e aqui, dentro dessa lógica, como uma relevância maior aos poderes herdados da contraparte de Jean Gray – grande parte de seus dons. Dentre esses, os que se tornam mais interessantes nesse contexto são a telecinésia, que lhe dá a capacidade de mover matéria com a força de seu pensamento, e a psicometria, que lhe permite ler resíduos psíquicos em objetos.

Incrível coincidência para os mais incrédulos, ambos os poderes são manifestados por Eleven em momentos cruciais da trama, da mesma forma como a grande maioria dos mutantes de X-Men despertam seus dons. Também como Rachel, que usa seus poderes psicotemporais no Universo 811, Eleven é responsável por estabelecer o contato com o universo paralelo de sua trama em uma tentativa de encontrar Will, como vimos na primeira temporada de Stranger Things.

Outro detalhe bem pertinente e quase imperceptível consta ainda do cenário de caos retratado no quadrinho de Dias de Um Futuro Esquecido. Lá, como já relatado anteriormente, os mutantes sobreviventes são escravizados e utilizados em várias experiências científicas, esses mesmos são divididos em castas e identificados através de uma tatuagem. Entenderam as referências?

Existem comparações a serem traçadas também dentro da própria história. Nos episódios finais da primeira temporada de Stranger Things, a caça ao Demogorgon se dá em um cenário onde Joyce e Harper seguiam em busca de Will na realidade alternativa. Se lembrarmos bem desse momento, quando o grupo de jovens consegue atear fogo na criatura na realidade principal, a alternativa é modificada, no mesmo local, surgindo marcas das chamas no chão. Isso nos dá um bom fundamento para acreditar que essa realidade paralela é na verdade um futuro alternativo, assim como o Universo 811.

DEVORADOR DE MENTES OU DEVORADOR DE MUNDOS?

Nessa segunda temporada de Stranger Things fomos apresentados a uma nova dimensão da criatura que aterrorizou Hawkins na temporada anterior, o Demogorgon. Dessa vez, apresentando uma maior dimensão de características da criatura antagonista, somos levados ao Devorador de Mundos, uma criatura que se manifesta de forma orgânica, se atrelando a natureza como um grande bioma – manifestado também através dos túneis aos quais Will tem em sua mente e que formam um mapa de Hawkins.

A composição desse organismo e sua ligação com as criaturas vivas é mais bem explicada por Dustin, já no penúltimo episódio. Segundo ele, a criatura – que segundo os desenhos de Will lembra muito a Hidra – é um lendário monstro de outra dimensão, que escraviza raças de outras dimensões e que possui grandes poderes psiónicos. A criatura central no comando dos Demogorgons pode ser claramente uma referência a outro monstro antagônico da Marvel.

Em uma das histórias alternativas da Marvel vemos um vilão de nome Annihilus, que tem sua trajetória intimamente ligada a Franklin Richards, que passou a desenvolver habilidades psiônicas – ressalva a possibilidade de essa ser uma habilidade inata de Franklin, por esse possuir o gene X. A origem de Annihilus – ou Aniquilador – vem de uma espécie humanoide muito avançada, que se desenvolveu no plantio de esporos de vida. Esses esporos originariam a vida de uma criatura após um advento com um meteoro, originando um ser de grande capacidade intelectual.

ZERO OITO + ZERO ONZE

Com o avançar dos episódios dessa segunda temporada somos introduzidos a Kali, uma nova personagem com poderes como os de Onze e com uma tatuagem, assim como a da protagonista, com o número Oito. Essa talvez seja a ideia crucial para corroborar a tese desenvolvida no começo desse artigo, escrita há mais de um ano, quando a primeira temporada de Stranger Things foi lançada.

Mas essa talvez possa não ser a única referência a personagem em relação a Marvel. Embora faltem elementos para corroborar tal tese, acredito que alguns fãs da Marvel, quando viram a união das “irmãs” logo se questionaram sobre uma sutil similaridade com a Irmandade Askani. A Irmandade Askani era um grupo de resistência mutante em um mundo alternativo ao Universo 811, mas que se desenvolvia dentro de uma lógica similar. Nessa história, Rachel havia fundado a Irmandade Askani, um grupo de resistência às forças do Apocalipse.

Talvez essa referência seja a que conta com menos elementos precisos, embora a base da história se desenvolva da mesma forma: um pequeno grupo de mutantes que formam uma resistência as forças antagônicas que os haviam escravizado.

Fato é que Onze e Oito tem uma história que se desenvolve de uma maneira peculiar, suas origens são bem claras tanto quanto o destino que as personagens devem tomar daqui para frente, principalmente se a premissa Askani se confirmar na próxima temporada.

WILL E A POSSÍVEL REFERÊNCIA A FRANKLIN RICHARDS

O Aniquilador não é apenas o ponto chave do despertar dos poderes de Franklin Richards, mas também seu principal antagonista. Franklin é filho de Sue Storm e Reed Richards, membros do Quarteto Fantástico. Mesmo possuindo o gene X, a origem de seus poderes é também relacionada à “absorção de radiação cósmica” o que também se enquadra na relação com Will.

A referência de Franklin contida em Will pode ser facilmente contextualizada por alguns dos poderes que são demonstrados por Will na segunda temporada, como a pré-cognição, já que Will antecipa a forma da própria criatura e os acontecimentos que se desenvolveriam a partir dali. A projeção astral é outro dos poderes de Franklin que podem se relacionar ao que Will apresenta na série, na medida em que sua consciência consegue se conectar ao monstro em outra dimensão.

Todas essas questões cruzadas vem demonstrar que a possibilidade de Stranger Things ter como premissa principal (ou plot) da construção de sua história o Universo 811 da Marvel. Ah, detalhe peculiar, só pra reforçar ainda mais a ideia: embora Eleven e Will não formem um par romântico na série, Franklin Richards o é de Rachel Summers no Universo 811, o que ao menos reforça a conexão entre as referências apresentadas até aqui.

Há certamente uma infinidade de questões que poderão ser trabalhadas nessa lógica, afinal essas referências à Marvel na construção tanto da história quanto da protagonista não são sequer negadas, já que a premissa da própria série se desenvolve em uma ampla gama de homenagens a filmes, séries e várias outros produtos da cultura popular.

Criada com a expectativa de ser antologia, Stranger Things agora estará na mira dos mais atentos espectadores que certamente esperam ver o potencial de Eleven – bem como os inúmeros mistérios contidos em suas referências – se revelarem. Para nós, a expectativa é tão grande quanto suas possibilidades.

Texto escrito por João Sampaio.

Redação Bastidores

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