Artigo | Conheça a história do hospital abandonado de Hitler
Locais abandonados geralmente rendem boas histórias de suspense e causam calafrios em quem passa pela frente de um lugar nessa situação. Na Alemanha há um dos edifícios abandonados mais assustadores do mundo, capaz de deixa até o mais corajoso com receio de entrar nele.
Trata-se do antigo hospício e hospital militar Beelitz Heilstätte, situado na região de mesmo nome, que fica próximo a cidade de Berlim. Sua construção ocorreu no ano de 1898, em uma obra monumental composta por pelo menos 60 prédios e que foi utilizado, a princípio, como um hospício para efeminadas relacionadas ao pulmão, uma das principais no período era a tuberculose. Apenas os que estavam em situação pior, ou seja, próximos da morte que ficavam no local.
Já na primeira guerra mundial, foi utilizado como hospital militar, já que contava com uma estrutura relevante para cuidar de tanta gente. A Primeira Guerra Mundial teve o uso de armas até então novas para a época, entre elas estavam a metralhadora e o gás mortada. O que poucas pessoas sabem ou conhecem a respeito é que o antigo sanatório, nesse período de guerra, cuidou dos ferimentos de um soldado até então desconhecido, seu nome era Adolf Hitler.
O hospital se saiu tão bem na tarefa de cuidar dos feridos da Primeira Guerra Mundial que algum tempo depois, durante a Segunda Guerra Mundial, o local foi novamente usado como hospital militar, mas agora para cuidar de soldados nazistas feridos no período da guerra. Já com o fim da Grande Guerra, no ano de 1945, foi invadido novamente, mas agora pelos russos que o transformaram em um hospital soviético, algo que durou até o ano de 1995, mesmo depois da queda do muro de Berlim.
A estrutura do antigo manicômio já foi utilizada para as filmagens de O Pianista, de Roman Polanski, em 2002 e recentemente serviu de cenário para o filme O Manicômio (Michael David Pate). No momento, o setor que funcionava o hospital psiquiátrico e a ala das cirurgias estão completamente abandonadas.
Uma parte do complexo é usada para realizar reabilitação neurológica. Já o restante, que está abandonado e em desuso, geralmente acontecem visitações para quem gosta de lugares abandonados.
Veja algumas fotos do local:











Crítica | O Manicômio - Terror e nazismo em um hospício abandonado
O nazismo já foi tema recorrente de inúmeras produções, ou sendo abordado de forma direta, mostrando a guerra e o genocídio feito por Adolf Hitler, ou de forma indireta com o tema do nazismo sendo um fator secundário e usado apenas para desenvolver a trama. É sob essa ótica que o filme o Manicômio (Michael David Pate) se prende ao usar o terror propagado pelo nazismo como pano de fundo do filme.
Em um primeiro momento a ideia da produção alemã é bastante interessante. Na trama, diversos youtubers vão fazer um desafio de passar uma noite no sanatório abandonado do período em que o exército de Hitler usou o local como hospital militar. Só que o diretor usou esse conceito das crueldades feitas no sanatório apenas como gatilho para servir de motivo para o terror que seria colocado em prática contra os youtubers. Também utilizou o ambiente do manicômio para dar um motivo dos youtubers irem para o lugar, já que é justamente por acreditarem que o local era abandonado e repleto de espíritos que foram para lá.
A narrativa é contada do ponto de vista dos jovens e feito ao estilo found footage. A grande marca dessas produções é a câmera em primeira pessoa, com o ponto de vista sendo apresentado pelos próprios personagens, as vezes com câmeras nas mãos ou as colocando em lugares estratégicos para dar a impressão de que não exista um câmera segurando essas câmeras e assim tentar dar maior tom de veracidade para a história.
A grande questão envolvendo produções que usam essa técnica, em que a câmera é o principal fator para contar a trama é que geralmente esse artifício é usado em um primeiro momento para tentar dar o maior nível possível de realismo, geralmente são feitos com câmeras tremidas e com cortes rápidos na edição. Um dos grandes problemas de O Manicômio é justamente em relação ao jeito em que se trabalham as câmeras, é tão mal filmado que chega a dar vontade de sair do cinema na metade. Em alguns momentos fica incompreensível entender o que está acontecendo nas cenas e assim conseguir acompanhar a ação.
Pegue como exemplo o longa Fenômenos Paranormais (2011) que também é um found footage que se passa em um hospital psiquiátrico. Nele a câmera é utilizada para melhor contar a narrativa e dar grandes sustos e arrepios em quem assiste, é um fator a mais o uso da câmera e é um recurso tão bem trabalhado que é quase impossível de esquecer suas cenas.
Heilstätten (nome original) tem bastante problemas em relação ao roteiro. A começar que o filme é bastante chato em seus primeiros 30 minutos com os personagens e o hospício sendo apresentados. Nesse tempo nada de sustos, apenas indícios de que o lugar parece atormentado por algo sobrenatural. O ambiente do sanatório é relativamente bem trabalhado, criando uma atmosfera de terror, mas que não se sustenta com o tempo, pois o ambiente é pessimamente explorado, algo que não ocorre, por exemplo, na segunda temporada de American Horror Story, em que há um personagem nazista em um hospício antigo e tudo nele é belamente trabalhado em relação ao terror do local.
Os cortes de câmera lembram os que são feitos em vídeos de youtubers, com cortes rápidos e ágeis. Tal técnica, possivelmente, foi utilizada para cortar diálogos e tentar esconder suas deficiências. Esses cortes rápidos de câmera ajudam na criação dos sustos que funcionam de início por ser algo bem trabalhado, mas depois de um tempo os cortes se tornam repetitivos e perde-se aquele fator surpresa do susto na cena.
A tal motivação dos youtubers para ir ao local é muito mal trabalhada. A ideia do tal desafio é interessante, mas não foi bem desenvolvida, parece ter sido apenas uma ideia jogada para dar a tal motivação para o grupo se encontrar no hospital psiquiátrico e assim desenvolver toda a caça ao grupo.
Um tema que poderia ter sido mais bem explorado e melhor aprofundado é a questão da idiotização dos jovens. Os youtubers são uma imagem de uma juventude que só pensa em fazer vídeos para a internet e se tornar web celebridades. Essa falta de seriedade desses digitais influencers é colocada em contraponto ao que ocorreu durante a segunda guerra mundial, em que milhões de pessoas foram mortas e em especial o que aconteceu no manicômio em que a trama ocorre. A crítica do longa é em relação a essa juventude que não trata esse tema do nazismo com a seriedade que deveria. Isso é demonstrado nas diversas brincadeiras que os jovens fazem no local.
Os personagens são bastante bobinhos, para não dizer idiotas, mas em um nível carregado, justamente para dar um tom de que são jovens que agem como crianças mimadas. Não há um protagonista que se destaque, tornando todos que estão no filme personagens bastante esquecíveis. O elenco também se mostra um calcanhar de aquiles do longa, com interpretações falhas, caricatas e cheias de exagero.
O final cria uma reviravolta em tudo o que havia sido apresentado até então. Se pensar bem, ao chegar ao fim do filme, tudo o que foi mostrado até então perde o sentido, algo que possivelmente irá decepcionar os telespectadores. Durante todo o tempo a trama te joga em uma direção e do nada a muda apenas para dar um plot twist sensacional. E para piorar, alguns segundos antes do longa terminar dão outro plot twist, desfazendo tudo o que haviam criado alguns minutos antes.
O Manicômio é uma produção bastante decepcionante, justamente por ter uma ideia bacana, e por ter usado de forma errada um local que dá medo simplesmente pelo fato dele existir, e também por ter trabalhado bizarramente na criação do terror. Serve para divertir os fãs do gênero, mas deve desagradar na mesma proporção por não trazer algo de diferente em relação a trama e por não saber como trabalhar o roteiro.
O Manicômio (Heilstätten – Alemanha, 2018)
Direção: Michael David Pate
Roteiro: Michael David Pate, Ecki Ziedrich
Elenco: Nilam Farooq, Farina Flebbe, Sonja Gerhardt, Maxine Kazis, Lisa-Marie Koroll, Emilio Sakraya, Tim Oliver Schultz
Gênero: Terror, Thriller
Duração: 90 min.
https://www.youtube.com/watch?v=CfelHXfaECM
Crítica | Dragon Ball Super: Broly - Pancadaria entre titãs
Dragon Ball é uma das franquias de maior sucesso entre os animes e mangás, tendo várias temporadas e contando com inúmeros episódios. A temporada atual do anime é a saga Super que ignorou totalmente a anterior, no caso a saga Dragon Ball GT. Difícil encontrar alguém fã da cultura pop que pelo menos não saiba o nome de algum personagem ou que não tenha assistido a um episódio da produção.
Dragon Ball Super: Broly é o primeiro filme inspirado na série Super, já que A Batalha dos Deuses e O Renascimento de Freeza são produções originárias do universo Z. No longa, a principal novidade para os amantes é o reaparecimento de Broly, um personagem tão poderoso que até mesmo Goku e Vegeta em suas múltiplas transformações tem dificuldades em enfrentá-lo de igual para igual.
Este é o quarto longa em que Broly surge vilão. O primeiro filme tinha - até o momento - o encontro mais relevante entre Goku e Broly, já que as duas outras continuações são horríveis. Esqueçam tudo o que presenciaram sobre este vilão até então, pois tudo que é feito na animação serve para dar uma guinada em relação a vida desse ótimo personagem, algo que até então foi pouco explorado, tanto nos filmes quanto na série.

A ideia do roteiro foi a de fazer um reboot do personagem, esquecendo todas as bobagens já feitas com o antagonista anteriormente e criando uma brecha para que possam usá-lo em algum episódio futuro de Dragon Ball Super. O roteirista e criador do anime, Akira Toriyama, deu uma maior estrutura narrativa para alguém que até então, mesmo com várias aparições, continuava sendo um ninguém, um personagem sem uma origem competente que o sustentasse nas histórias da franquia.
Diferente do que ocorre em outros animes, há uma paciência maior para construir a trama de Broly, mesmo ele sendo o antagonista, o mostrando desde criança e o motivo pelo qual ter se tornado alguém tão cruel e poderoso. Há uma esperança em tudo o que é apresentado sobre o personagem, dando a entender que Broly não é um vilão e sim alguém que foi subjugado a uma vida de isolamento e treinamentos forçados. Em nenhum momento o mostram sendo maldoso ou praticando algum ato cruel, mas sim como um ser que apenas não entende os limites de sua força e que segue todas as ordens de seu pai.
Por ser uma continuação da saga Super há um acompanhamento quanto ao paradeiro de Freeza, o vilão tem papel secundário na trama, mas nada que tire o foco de seu personagem, pois há um certo destaque por ser ele o responsável por levar Broly ao encontro de Vegeta e Goku. E diferente do que ocorreu em muitos outros filmes de Dragon Ball, há uma explicação do porque de o confronto ocorrer. Várias perguntas que ficam na cabeça são respondidas durante a animação, provavelmente até quem não está antenado com sobre a série irá entender a trama, pois ela explica didaticamente e detalha bem todos os acontecimentos.

O que um fã de Dragon Ball espera ao assistir um filme inspirado na franquia são as cenas de luta e nessa questão o longa se sobressai em relação aos filmes antigos. Provavelmente as cenas de luta sejam até superiores das apresentadas no anime. A intenção do diretor Tatsuya Nagamine (One Piece - Heart of Gold) é a de mostrar o poder brutal e irracional de Broly. Para isso há uma luta de igual para igual contra Vegeta, Freeza e Goku, com a diferença do que ocorreu nos longas anteriores, em que Broly era extremamente ignorante, sendo muito mais superior aos adversários,
Sabemos que Vegeta e Goku são muito poderosos, ainda mais com suas inúmeras transformações e para vencê-los apenas um Deus ou até mais que isso. As cenas de ação são de deixar de boca aberta, soco atrás de soco, e quando se imagina que está terminando acontece uma reviravolta na trama em que tudo é arrumado para futuras produções em que Broly, possivelmente, se torne o destaque principal.
Outra abordagem interessante do roteiro é em relação ao humor empregado, cenas engraçadíssimas que destacam o poder do carisma de quase todos os personagens. É um humor bem desenvolvido, com tiradas rápidas e situações tão naturais que fica difícil de não dar risada.
Dragon Ball Super: Broly é tudo o que um fã de animes buscam em uma produção do gênero. A trama belamente roteirizada e desenvolvida, sem deixar nós soltos e pensando em adequar a vida de Broly a futuras produções, possivelmente já para o inserir na saga Super. O longa tem uma mensagem de esperança para quem curte a franquia, com um final que deixa a trama mais leve do que se imaginava encontrar. Que os fãs de Dragon Ball sintam todo o poder destruidor de Broly.
Dragon Ball Super: Broly (Doragon bôru chô: Burorî – Japão, 2018)
Direção: Tatsuya Nagamine
Roteiro: Akira Toriyama
Elenco: Voz Original: Sean Schemmel, Christopher Sabat, Vic Mignogna, Chris Ayres, Sonny Strait, Emily Neves, Monica Rial, Kara Edwards, Alexis Tipton, Jason Douglas
Gênero: Animação, ação, fantasia
Duração: 100 min.
https://www.youtube.com/watch?v=8JdK7cZqGq8
Lista | As 10 Armadilhas Mais Cruéis de Jogos Mortais
(Spoilers)
Jogos Mortais é uma das maiores e mais populares franquias de terror. Sua fama se consolidou pela história inicialmente original apresentada no primeiro filme e por ter um vilão que agia com uma certa moral. Mas havia algo a mais que fascinava o público fã do gênero que eram as armadilhas cruéis e sanguinolentas usadas para matar os personagens. A seguir uma lista com um apanhado das armadilhas mais cruéis da franquia.

10. Armadilha da Cadeira de Facas (Jogos Mortais 4)
Em Jogos Mortais 4, John Kramer consegue sua vingança pessoal com uma armadilha bárbara. Prende um homem em uma cadeira com os braços e pernas atados e sangrando sem parar, o que acarretaria em breve em uma morte por perda de sangue. Para sair dali o homem precisava empurrar várias facas com o rosto. Obviamente ele tem um tempo muito curto para realizar a tarefa.

9. Armadilha da Sala de Aula (Jogos Mortais 3)
Essa é uma armadilha que aparece logo no início de Jogos Mortais 3, um filme com história questionável e que se prende apenas em suas armadilhas bizarras. No longa um homem tem correntes presas ao corpo e precisa desativar uma bomba, caso contrário irá morrer. Para sair dali precisa tirar as correntes do corpo usando apenas a força de impulsão. Essa é apenas uma das armadilhas criadas por Jigsaw que praticamente não dá chance da vítima de sobreviver.

8. Armadilha do Crucifixo (Jogos Mortais 3)
Jogos Mortais 3 parece que foi concebido apenas para ter armadilhas assassinas que causassem o máximo de dor possível nas pessoas. Novamente surge uma armadilha com um homem preso a ela e junto tem seus braços e pernas abertos em posição de cruz, seus membros estão colocados dentro de um sistema que os gira em 180 graus.

7. Armadilha do Ácido (Jogos Mortais 6)
William Easton é a vítima da vez. Fez algo de errado no passado que o levou a ser escolhido até os jogos sádicos de Jigsaw. Próximo ao final de Jogos Mortais 6 teve que passar pelo crivo de duas pessoas que ele havia prejudicado indiretamente. Essas pessoas iriam decidir se ele iria viver ou não. A ideia da armadilha está em ter vários pinos aterrados ao corpo de William que iriam derramar ácido diretamente dentro de seu corpo.

6. Armadilha do Caixão de Vidro (Jogos Mortais 5)
Jogos Mortais 5 fazia parte de uma sequência de filmes que tentava trabalhar a mesma história dos longas anteriores, alinhando todo o roteiro e tentando juntar as peças que faltavam. Com o tempo os filmes iam sendo lançados e com isso só se focava em armadilhas criativas e em jeitos diferentes de se matar e em Saw V não foi diferente. O caixão de vidro serviu para colocar um dos personagens dentro dela. Mas o objetivo não era matar quem entrasse dentro e sim salvar, pois a caixa era um refúgio feito para proteger do teto e do chão que iriam se fechar e esmagar quem estivesse do lado de fora da caixa.

5. Armadilha do Pêndulo (Jogos Mortais 5)
Armadilha inicial do quinto filme da franquia é mais uma que envolve vingança pessoal. O jogo consistia em colocar a vítima deitada com os braços abertos e acima dela um pêndulo ficava balançando de um lado para o outro e ia descendo até que o homem colocasse suas mãos para serem esmagadas dentro de um sistema mecânico. Neste capítulo da franquia as armadilhas eram maldosas ao extremo e não davam chance de redenção para as vítimas.

4. Armadilha do Ciclo (Jogos Mortais: Jigsaw)
O último filme da franquia Jogos Mortais foi o mais fraco na questão armadilhas criativas, porém há uma que se sobressai as outras do longa que é a armadilha do ciclo. Ela consistia em colocar uma pessoa pelos pés e a alçar dentro do ciclo (lembrava o formato de um funil) e para fazer com que a armadilha pare de girar é preciso chegar ao final dela, caso não consiga o corpo é literalmente retalhado.

3. Armadilha Arranca-Costela (Jogos Mortais 3)
Quando uma franquia se torna popular é necessário sempre que uma história seja mais impressionante que a outra, e no caso de Jogos Mortais que as armadilhas sejam uma mais impactante que anterior. A ideia desta armadilha está em ter que pegar a chave e assim abrir as alças que estão presas junto à costela da personagem, caso não consiga abrir os feixes com rapidez todos irão se abrir ao mesmo tempo matando instantaneamente a vítima. O problema é sempre onde a chave está colocada, neste caso dentro de um vidro cheio de ácido.

2. Armadilha de Urso Reversa (Jogos Mortais)
Essa é uma armadilha clássica dentro da franquia, tanto que chegou a ser utilizada mais de uma vez. A ideia é que a vítima tire a armadilha que está atrelada a sua boca antes do tempo terminar, mas o problema está em encontrar a chave que está dentro do corpo de outra pessoa, ou seja, para sobreviver é necessário matar outra pessoa. Uma armadilha sádica, bem elaborada e que age totalmente no psicológico da personagem, pois é necessário ser rápida para conseguir sair.

1. Armadilha das Seringas (Jogos Mortais 2)
Jogos Mortais 2 é considerado um dos piores longas da franquia, mas tem a armadilha mais cruel de todas. Quem tem fobia a agulhas deve passar rapidamente por essa cena em que uma das personagens é empurrada dentro de um poço cheio de seringas a fim de encontrar a chave que está ali dentro. É uma cena apavorante que brinca com a ideia de encontrar uma agulha em um palheiro, nesse caso é necessário ser rápida para tentar amenizar o sofrimento.
Crítica | De Repente uma Família - Uma comédia de humor cativante
Se há um diretor em Hollywood a se ficar de olho para aqueles que são fãs de comédia, esse é sem duvidas Sean Anders, diretor de De Repente uma Família e que tem algumas boas produções do gênero em seu currículo como diretor e roteirista. Longas como Pai em Dose Dupla e Quero Matar Meu Chefe 2 são comédias divertidas e inteligentes nas quais o diretor soube trabalhar um roteiro simples sem precisar forçar em nada para que o público dê risada.
Em De Repente uma Família, Sean Anders faz um dos seus melhores trabalhos se levando em conta roteiro e direção. A produção (inspirada na vida dele mesmo) é simples no jeito de se contar a história, com uma narrativa de fácil assimilação e sem querer enrolar na apresentação da trama. A mensagem é um dos seus grandes acertos. Ao desenvolver o filme, o humor - principal elemento de seus filmes - vai ganhando mais força a partir do momento em que as situações envolvendo a dupla de protagonista vão aparecendo.
Na trama, Pete (Mark Wahlberg) e Ellie (Rose Byrne) decidem que querem ter um filho e para isso recorrem a adoção. Entre a procura pelo filho que julgam ser o ideal se deparam com uma adolescente chamada Lizzy (interpretada pela ótima Isabela Moner) de personalidade forte e cativante. Logo o casal se simpatiza com Lizzy e descobrem que ao a adotar ela terão que levar também seu irmão e sua irmã e então tomam a decisão de adotar o trio. A partir desse momento toda a história é criada em torno dessa nova família e tão logo se conhecem já começam os atritos comuns em quase todos os lares.
Sean Anders faz um ótimo filme autobiográfico e usa sua própria história de vida para criar uma das tramas mais interessantes e engraçadas dos últimos anos. A mensagem em De Repente uma Família é linda, se discute o que é uma família, o preconceito em relação a adoção de crianças e adolescentes. A mensagem é clara: pai e mãe não são apenas aqueles que geram, mas também aqueles que criam. É uma questão bastante relevante, em que se discute o abandono de crianças em que muitas crescem, possivelmente, sem encontrar um lar.
O jeito em que o diretor trabalha esse encontro entre pais de primeira viagem com filhos que eles desconhecem é feito de forma rápida e ágil, sem perder tempo criando tramas secundárias que não acrescentariam nada ao filme, vai direto ao ponto já agrupando os três irmãos na residência e mostrando os conflitos desse novo relacionamento. Há alguns momentos em que a história se torna repetitiva como as várias idas ao grupo de apoio que de início funciona e tira boas risadas, mas depois perde a força por ser algo já visto anteriormente. O mesmo acontece com as birras das crianças que tomam um longo tempo do filme, essas birras são importantes para mostrar que ter filhos, não importa o tamanho deles, é uma tarefa que em alguns momentos é árdua, mas também prazerosa.
Esses problemas em relação a trama nada atrapalham De Repente uma Família, pois mesmo tendo algumas cenas repetitivas ainda assim é algo tão bem trabalhado que nem se percebe essas questões. O primeiro e segundo ato da produção são bastante interessante em relação a criar toda a estrutura narrativa, lembrando séries americanas de humor com planos abertos e médios e com grande agilidade na hora de cortar a história para outras situações. Não que a trama do filme seja contada de forma corrida e sim no sentido de focar apenas no que é importante e relevante para o longa, sem se alongar além do necessário. Sempre que isso está para acontecer há um corte que leva para outra situação relacionada a anterior.
Uma das principais características das produções de Sean Anders é o humor e em De Repente uma Família é o que predomina. Mesmo tendo uma história carregada de drama o humor tem seu espaço, ele é usado para tirar a carga pesada em relação a um tema que dependendo do jeito que o diretor trabalhasse o roteiro poderia o ter transformado em um drama pesadíssimo. Apenas no terceiro ato que se começa a focar mais na emoção com a revolta de Lizzy em querer encontrar sua mãe biológica. Não teria como fazer humor com o encontro das crianças com a verdadeira mãe sem criar uma carga emocional e por isso é um acerto ir pelo caminho do drama nessa situação. A ideia do diretor é a de se fazer uma comédia que nos dois primeiros atos te faz rir sem parar para depois, no terceiro ato, dizer ao que veio e qual sua real mensagem.
Um outro acerto é refazer a parceria que deu tanto certo em Pai em Dose Dupla com o ator Mark Wahlberg que não é um ator dos mais espetaculares de Hollywood, mas é esforçado e mesmo não sendo um mestre no quesito atuação é carismático e consegue sim prender a atenção do público. Mark Wahlberg não está no nível de um The Rock, mas por ter esse carisma já mencionado consegue pegar papéis em produções de todos os gêneros. O ator tenta a todo o custo fazer produções de todos os estilos e parece ter se encontrado na comédia. Em Pai em Dose Dupla já havia feito um excelente personagem e em De Repente uma Família novamente rouba a cena, como um pai que a todo custo tenta ser um pai ideal. As cenas de humor ficam melhores com sua presença, com tiradas rápidas e frases bem colocadas dão graça para cenas que possivelmente não dariam em nada. O diretor consegue fazer com que o longa se torne alegre e engraçado, sem precisar forçar no humor empregado e muito disso se passa por Mark Wahlberg que não é exagerado em sua atuação e por isso mesmo as cenas ficam mais leves e divertidas com o ator em cena.
Comédias sobre famílias desestruturadas há de monte, mas poucos têm uma mensagem tão importante quanto Instant Family (nome original). Seu principal mérito é o de colocar o lar e a relação de pais e filhos como o principal fator para a história se desenvolver, criando uma atmosfera leve e que faça o telespectador pensar a respeito de algumas situações que ocorrem durante a trama. De forma simples e sensível Sean Anders não quer nos emocionar a ponto de fazer chorar, mas sim de fazer rir com situações comuns ao cotidiano de qualquer família e esse é outro acerto do diretor, que concebe uma das melhores comédias dos últimos anos.
De Repente Uma Família (Instant Family, EUA – 2018)
Direção: Sean Anders
Roteiro: Brian Burns, Sean Anders
Elenco: Mark Wahlberg, Rose Byrne, Isabela Moner, Gustavo Quiroz, Julianna Gamiz, Octavia Spencer, Tig Notaro
Gênero: Comédia
Duração: 117 min
https://www.youtube.com/watch?v=P0c7ndA1IG0
Crítica | Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro - Os Caça-Fantasmas brasileiros
Danilo Gentili e seus amigos do programa The Noite no SBT, Léo Lins e Murilo Couto, são alguns dos mais populares humoristas da nova geração e em Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro (Fabrício Bittar) mostram porque ainda têm muito para reinar por bastante tempo, não apenas na televisão e na internet, mas nos cinemas também.
A ideia era a de criar um longa de terror com toques de humor, fazendo uma homenagem aos filmes que passavam no antigo cine trash e acertaram em cheio. Com uma trama de simples entendimento, humor afiado e com alguns elementos bem trabalhados do terror fazem aquilo que os fãs do gênero tanto buscam ao assistir a uma produção desse estilo, que é se divertir e ao mesmo tempo se surpreender.
Mesmo não assustando nem dando medo, Exterminadores do Além consegue criar uma atmosfera de suspense que prende o telespectador e o envolve acerca do mistério sobre a loira do banheiro e dos possíveis assassinatos na escola. Tudo em relação ao terror é feito de forma absurda, exagerada justamente porque esse é o conceito que o diretor queria transmitir, quanto mais exagerado e bizarro mais trash era e assim mais burlesco as cenas se tornavam.
Alguns elementos presentes em filmes de terror são bem construídos no filme e outros nem tanto. Uma das situações que deram certo foi a violência empregada. Há sangue jorrando por todos os lados, situações grotescas e mortes bem trabalhadas. Por outro lado os jump scares não funcionaram do jeito que deveriam. Efeitos de jump scares são colocados em filmes de terror justamente para dar susto no telespectador. De início até chega a funcionar - mesmo sendo feito de forma exagerada e com o som jogado nas alturas - por outro lado esse efeito, depois de apresentado duas vezes, se torna repetitivo e desnecessário. Duas vezes já estava de bom tamanho, a partir daí ele começa a se tornar algo que já sabemos que irá acontecer tornando assim os sustos cansativos e óbvios.
O trash presente nas cenas lembra bastante outras produções do gênero que se tornaram clássicas por usar esse tipo de estilo como fez The Evil Dead (Sam Raimi) com o excesso de sangue e com as mortes bizarras e com a cena do bebê no laboratório que lembra, pela bizarrice, Fome Animal (Peter Jackson). E para construir as cenas, tanto de trash quanto de humor, o diretor usou algumas referências cinematográficas muito conhecidas pelos cinéfilos. Entre as produções reverenciadas por Fabrício Bittar estão Alien, o próprio Evil Dead, American Pie entre outras produções. Essas referências não atrapalham, pelo contrário, ajudam a compor os personagens, o ambiente pelo qual a trama se passa. Em alguns momentos essas referências parecem atrapalhar o andamento da história, mas isso não é verdade, elas ajudam bastante a construir situações que tiram o riso do público.
Por ser uma produção com quatro dos humoristas de maior destaque do cenário atual é de se imaginar que o humor fosse o ponto forte do filme, mas não é bem isso que se encontra. Possivelmente, para não tirar o foco do terror, deram uma diminuída no tom usado a partir do final do segundo ato para o terceiro ato em que começa o confronto contra a loira do banheiro. Até então havia um humor até que bem inserido, com frases prontas jogadas pelos personagens e situações absurdas feitas para fazer rir. Essas situações em alguns momentos parecem forçadas, feitas não de um jeito que parecesse ser instantâneo, algo que a produção Tucker & Dale Contra o Mal fez de forma fantástica, as situações nas quais os protagonistas se envolvem são tão simples e engraçadas que é algo que Fabrício Bittar poderia ter pensado em fazer em Exterminadores do Além. Quis levar muito a sério algumas questões e acabou deixando o humor instantâneo e simples de lado.
Léo Lins e Danilo Gentili são reconhecidamente os dois humoristas de maior destaque da trama. Léo Lins é o líder do grupo que caça fantasmas e interpreta um rapaz canastrão, enquanto Gentili faz um homem grosso e chato. O destaque provavelmente iria para um dos dois, mas acontece o contrário, é Murilo Couto que rouba o filme. O ator está ótimo e é uma pena que seu personagem esteja tão encostado durante a história, tendo apenas algumas cenas de destaque, e mesmo assim ele se sai bem, diferente de Gentili e Léo Lins, que parecem não estar tão soltos quanto estão no palco do The Noite, parecia que eles realmente estavam querendo ser algo que não eram e aí perderam o brilho, não foram eles mesmos, os grandes humoristas que todos conhecem. Fora o fato de quando os três estão em cena não há uma química, parecia que o trio de atores nunca haviam trabalhado junto.
Para tirar um pouco do peso em cima do trio protagonista colocaram personagens secundários que até se saem bem, mas são totalmente mal desenvolvidos e por ter pouco tempo de cena se tornam irrelevantes para a história, estão ali apenas para serem mortos e não fazem nada que acrescente algo a mais para a trama. Um desses personagens de segundo escalão (mesmo sendo uma humorista de primeira) é Dani Calabresa. Sua personagem de início pareceria que seria uma protagonista e o filme ia caminhando bem com ela, mas do nada decidem a abandonar, deixando em todos a pergunta porque deram tanto destaque para ela se iriam fazer aquilo com sua personagem. Se Dani Calabresa continuasse no filme iria dar o equilíbrio que faltou e não foi visto com o trio principal. Antonio Tabet (O kibeloco) também é um ótimo humorista e que não tem destaque nenhum, e o roteiro tenta dar um jeito ironizando a situação na qual seu personagem se encontra.
A loira do banheiro, que dá nome ao longa, é muito mal inserida na trama, sempre aparecendo como uma força oculta até que toma forma perto do final. Essa demora em fazer ela aparecer e o excesso de mistério sobre quem é acaba matando a vontade de ver a vilã. Chega um momento que nem se lembra que há uma loira do banheiro atrás deles pelo fato do espírito maligno não estar tão presente quanto deveria estar. Quando chega no confronto principal há uma necessidade de querer mostrar ela como um monstro, mas isso também já não fazia sentido pelo que propuseram durante o longa. Outro erro foi ter demorado tanto para mostrar a origem da lenda, essa origem poderia ter sido encontrada no segundo ato e que ajudaria a empurrar toda a história para o seu fina. Deixaram tudo para o último ato e acabou ficando um amontoado de informações sem relevância.
Fabrício Bittar é um diretor novo no cenário nacional e que só trabalhou em produções em que Danilo Gentili foi o protagonista. Ainda falta experiência em suas tomadas de decisão como o fato de não saber se faria um filme de assombração sobre possessão e falta ainda um tratamento melhor quanto a criação dos personagens, em Exterminadores do Além eles são vazios, não há um trabalho dramático feito em cima deles. É um diretor esforçado, gosta de filmar suas cenas várias vezes até que consiga tirar o melhor delas e que sabe contar bem uma história. Só lhe falta um pouco mais de agilidade e ousar mais nos planos feitos.
O roteiro, mesmo sendo óbvio e em alguns momentos repetitivo, se sobressai em relação aos filmes de humor nacionais em que todas as comédias parecem dramalhões teatrais. Já em relação aos filmes de terror há muitas boas ideias só que sempre esbarram na falta de dinheiro para colocar em prática e Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro pode ser uma quebra nesse paradigma, com efeitos especiais eficientes possivelmente fará com que o público tenha um maior interesse por produções de terror feitas no Brasil.
Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro (idem – Brasil, 2018)
Direção: Fabrício Bittar
Roteiro: Fabrício Bittar, Danilo Gentili
Elenco: Danilo Gentili, Léo Lins, Murilo Couto, Dani Calabresa, Matheus Ueta, Jean Paulo Campos, Ratinho, Dirgão Ribeiro, Antonio Tabet, Sikêra Júnior
Gênero: Comédia, Terror
Duração: 89 min.
https://www.youtube.com/watch?v=qgo0JDfMevo
Crítica | Boneca Maldita - Netflix e o gosto pelas bizarrices
A Netflix adora produzir e lançar uma produção bizarra de vez em quando em seu serviço de streaming. Boneca Maldita (Rocky Soraya) é daquelas que não deve se levar a sério justamente porque o título já entrega o que vem pela frente, só que acontece totalmente o contrário com o filme, ele tenta sim ser levado a sério e tenta até criar uma trama cheia de reviravoltas e em alguns momentos tenta ser algo parecido com Invocação do Mal.
Sabrina é o nome da boneca e seu aspecto meio grotesco é apenas um artifício para atrair o público que é fã do gênero de terror, mas apenas isso, pois a tal boneca assim como aparece desaparece, sendo claramente escanteada para que então o diretor pudesse desenvolver a trama que ele imaginou para o longa. A ideia era usar a boneca como um elemento que pudesse assustar, mas esse não era o real objetivo de Rocky Soraya que tinha a intenção de enganar o público,
O pior em Boneca Maldita é mesmo o roteiro confuso que não sabe o que quer fazer com a trama. De início parece ser um filme sobre o trauma infantil em relação à perda dos pais, tanto que no primeiro ato até que prende a atenção só que depois muda totalmente e o tema do longa se torna o egoísmo e a inveja, um claro sinal de que o roteiro não sabia por quais caminhos seguir.
Portanto, o principal vilão não é a boneca e sim um demônio chamado Baghain que possui os corpos de outras pessoas. É a partir do aparecimento desse demônio que se percebe então a desnecessidade da boneca para o filme, pois se o demônio entra em pessoas não faz sentido algum ter uma boneca ali. Possivelmente Rocky tentou fazer algo parecido com que foi feito em Annabelle, só que para não ficar igual acabou mudando todo o roteiro e isso originou em confusões e mais bizarrices na estrutura narrativa da história.
Além de errar em não saber que vilão colocar como antagonista, ou a boneca ou o espírito maligno, ainda há outros erros juvenis, como os plots twists mal construídos e desnecessários. Em um momento do longa o longa parece caminhar para uma definição quanto o que é o demônio e sua motivação e então há uma primeira reviravolta que acrescenta informações de quem é aquele demônio e como ele já havia enfrentado os caçadores de fantasmas (uma dupla ao estilo Ed e Lorraine Warren) antes e logo próximo ao final ocorre outra reviravolta que não serve para nada, apenas para explicar quem é o demônio e o porque está atacando a família, uma questão que poderia ter sido feita de forma rápida com alguns diálogos, mas que o diretor perde grande tempo apresentando.
A narrativa é pessimamente construída tornando Boneca Maldita um filme chato e cansativo por não saber o que quer fazer. As tentativas de sustos são péssimas e não há surpresa alguma quando Baghain aparece no fim e luta bizarramente com a protagonista. O longa é tão óbvio que fica na cara onde os sustos irão aparecer e os jump scares forçados ajudam ainda mais a tirar o peso da cena, transformando algo que poderia ser um suspense em uma cena comum.
Outra das falhas do longa foi em relação aos personagens que são mal desenvolvidos, sem profundidade e com interpretações tão ruins do elenco que fica difícil de acompanhar o que o ator ou atriz está fazendo na cena. O elenco é tão fraco que em alguns momentos lembra uma novela mexicana da pior qualidade. Outra questão a ser analisada e que atrapalha bastante a experiência é a noção de não saber quem é o protagonista. Em alguns momentos parece ser a garota, outra hora a tia, em outro o tio e aí aparecem os caçadores paranormais que se tornam os verdadeiros protagonistas. Rocky Soray comete os mesmos erros que cometeu em O Terceiro Olho (disponível na Netflix), mas ainda assim tem lugar cativo no streaming da empresa, pois suas produções têm um público bastante fiel.
Boneca Maldita (Sabrina, Indonésia – 2018)
Direção: Rocky Soraya
Roteiro: Riheam Juniati, Rocky Soraya, Fajar Umbara
Elenco: Luna Maya, Christian Sugiono, Sara Wijayanto, Jeremy Thomas
Gênero: Horror, thriller
Duração: 112 min
Quem é Quem? | O Final de Cam Explicado
Com Spoilers
A netflix em parceria com a Blumhouse fez um dos filmes de terror mais complexo dos últimos anos. Se a ideia era fazer algo irracional e sem lógica alcançaram o objetivo com sucesso. A ideia do diretor era a de não dar nenhuma brecha para que se pudesse chegar ao final e cravar o que realmente se passou com a protagonista, se ela estava louca ou se tudo aquilo foi feito por alguém. Tudo foi construído como uma bela metáfora e representação da realidade. Aqui iremos divagar a respeito de todas as passagens do filme e seu final.
A Fama a Qualquer Preço
Lola (Madeline Brewer) não trabalha como camgirl apenas com o intuito de ganhar dinheiro, há também um sentimento narcisista nela em relação a ser popular, algo comum se levar em conta que quase todos que trabalham com a internet, consciente ou inconscientemente, tem esse sentimento de em algum momento chegar a fama. Tanto que no serviço de vídeo em que ela grava seus programas tem um ranking que funciona 24 horas por dia. Esse ranking meio que causa uma euforia na protagonista e tem a meta de ficar entre as 50 primeiras colocadas e assim continuar subindo no ranking sucessivamente. Para conseguir essa fama é necessário ficar na internet quase que tempo integral, seja pelas redes sociais ou pelo próprio programa que faz em sua casa para um público cativo. Há um momento no filme em que Lola comenta com sua amiga, logo após acabar um de seus shows, que precisava voltar pois as concorrentes ainda estavam online, e em outro momento volta a dizer que precisaria ficar 24 horas para assim se manter ou conseguir subir nesse ranking. Esse ranking mede a popularidade das garotas, além de trazer uma grande recompensa financeira.
A Violência Em Troca de Audiência
A violência tem um papel central na trama e também tem muito a ver com a questão de ser famoso. A protagonista ao almejar subir no ranking faz de tudo para engajar seu público, só que uma hora a audiência começa a ficar enjoada dos quadros - algo comum em termos comportamentais - eis que Lola começa a praticar atos de violência explícita, que mesmo sendo fakes deveriam chocar, mas acontece o efeito contrário e seu público ama suas insinuações de mortes, uma delas mostrada no filme é a da facada no pescoço. Mas não é o único ato de violência que faz com que se chegue a essa conclusão da violência como espetáculo. A clone de Lola, em um momento pega uma arma e atira na própria cabeça durante um dos seus atos e novamente o público vai ao delírio. Óbvio que o tiro foi encenado, mas esse fetiche da violência, queira ou não, traz uma audiência para Lola e ela consegue subir mais rápido no ranking a partir do momento que se aprofunda mais nesses números. E ainda há a cena do nariz quebrado perto do fim, em que ela bate a cabeça na mesa para provar que a outra seria uma farsa.
Perdendo a Essência
Lola em sua ânsia de ficar entre os melhores e pensando ficar 24 horas no ar começa a perder sua essência, sua personalidade. Nessa vida das redes sociais, não apenas Lola, mas qualquer outra pessoa que fique falando com seu público praticamente o dia inteiro acaba por criar um personagem, acaba se tornando alguém que não é na vida real. Tanto que a partir do momento em que o duplo de Lola começa a ficar online o dia inteiro a Lola real começa a ficar transtornada e há apenas um momento em que esse duplo deixa de ficar online que é quando a Lola real encontra com sua mãe. Lola ia pega o celular para mostrar a sua mãe que outra pessoa roubou sua identidade, mas eis que do nada a fake some. Isso quer dizer que ela estando em casa, com sua família está ali vivendo a vida real e está sendo ela mesma, não está mais sendo uma personagem. Uma clara mensagem de que só longe dessa vida da internet é que se consegue um sossego e deixa de ser outra pessoa.
A Dupla Identidade
E esse é o real objetivo de Cam, tratar da perda da identidade na internet não apenas literalmente, mas metaforicamente, pois aquela outra Lola que aparece não é outra pessoa, e sim ela mesma. Lola queria por que queria ficar 24 horas por dia online e conseguiu, queria ficar famosa e querida pelo público e também conseguiu. Em um momento do filme, quando começa a investigar quem cometeu o possível crime de roubo de identidade dela acaba se deparando com o caso da Babygirl, uma garota que aparece nos vídeos com o seu duplo, mas que já está morta na vida real. Essa garota morta seria como se tivesse também perdido sua essência, é como se sua alma tivesse ficado presa na câmera e possivelmente foi a mesma coisa que aconteceu com Lola. Essa morte da Babygirl e as mortes fakes de Lola são na verdade a morte da personalidade delas, estão tão preocupadas em fazer espetáculo que não conseguem mais discernir o que é ou não real. Um pouco antes de Lola começar a ver que a sua clone, ela havia participado de um show com uma amiga em que as duas fazem uma competição sexual e a partir daí que tudo começa a ficar estranho. É como se a partir desse momento realmente sua neurose em ficar popular começasse a fazer efeito e a deixar com mais ambição em ser popular e ficar online em tempo integral, pois suas concorrentes faziam o mesmo e estavam a passando no ranking.
Crítica | Cam - A perda de identidade no meio digital
Estamos acostumados a assistir produções de alta qualidade da Blumhouse sobre os mais variados temas, mas sempre com foco no terror. Queira ou não os longas da empresa têm a capacidade de impressionar o público com histórias originais e apavorantes. Pois agora eles dão um grande passo no sentido de criar algo maior com uma narrativa bastante complexa. Cam (Daniel Goldhaber) é daqueles filmes que anos vão se passar e ainda será lembrado por ter feito algo que muitos longas do gênero tentaram e não conseguiram que foi o de surpreender com um terror psicológico bem trabalhado e o de criar um mistério de difícil compreensão a respeito do que está sendo apresentado.
A trama segue Lola (Madeline Brewer), uma garota que construiu em sua residência um set de filmagem em que faz vídeos para a internet, mas não é uma vlogueira no sentido normal da linguagem e sim uma camgirl, uma modelo virtual que realiza práticas sexuais em troca de dinheiro virtual. Há um ranking em que a garota se prende e vai até os limites imagináveis do fetichismo para conseguir a atenção do público e assim subir nesse raking. Claro que tudo tem um preço e uma clone começa a usar a sua conta e a se passar por Lola para realizar seus serviços em seu lugar.
Claro que a partir do momento em que ocorre o roubo da conta e de identidade de Lola há uma busca para tentar encontrar o possível vilão e é aí que o filme acerta em cheio, pois às vezes em uma história não existe outro alguém para se culpar e esse vilão pode ser você mesmo, assim como realmente aconteceu no longa. O perigo pode parecer ser outra pessoa que invadiu seu computador e roubou seus dados ou alguém que está se passando por você usando efeitos especiais para mudar seu rosto, mas o que o diretor quer realmente nos mostrar é que a vilã no caso é a própria Lola e sua ânsia em se tornar importante e relevante no meio digital.
Para que o telespectador entenda Cam é necessário que não se olhe para a história de uma maneira racional, pois não há nada de lógico ali apresentado. Tudo é uma grande metáfora sobre o mundo digital em que vivemos. A começar pela própria perda de identidade, no longa essa perda acontece literalmente, pois a garota está tão fanática em chegar entre nas cinquenta mais assistidas que ela começa a viver uma outra realidade que é a do show online. Lola não é aquilo nem daquele jeito que está sendo apresentada, mas precisa ser outra pessoa para que gostem dela.
Também é um grande acerto do diretor Daniel Goldhaber tratar de outros assuntos muitos pertinentes em relação ao digital como, por exemplo, o preconceito com pessoas que trabalham nesse meio. São algumas passagens que são inseridas para dar esse tom de que trabalhar com internet não é um trabalho de fato. Lola tira a roupa para ganhar dinheiro e não há nada que a impeça de fazer isso, mas a sociedade enxerga isso com outros olhos, uma crítica interessante e atual quanto aos velhos valores em relação os novos valores.
Há ainda outro tema que pode ter passado despercebido do público, mas é uma sacada muito inteligente que é a da espetaculização da violência e o mercado de tragédias, pois ao longo do filme são vários casos de violência que são praticadas pela própria protagonista contra si, sempre assistidas por centenas de espectadores e cada vez que prática algo mais violento vai recebendo mais dinheiro e mais atenção do público.
O roteiro aborda esses temas de forma bastante competente, pois eles são colocados ali não por acaso e o diretor não dá a entender que está criticando essas práticas, ele dá um jeito de enganar o público ao abordar o mercado de sexo virtual e que de início parece ser a real crítica a pessoas que consomem conteúdo digital com a única e exclusiva finalidade de sentir prazer e achar que é amigo de alguém que conheceu pela internet mesmo sem nunca tê-la visto presencialmente.
Uma grande vantagem do longa é o elenco reduzido, em algumas produções isso poderia atrapalhar o andamento da história, mas em Cam o acerto está em fazer com que a protagonista busque formas de reconquistar sua conta e entender tudo o que está acontecendo. Há personagens secundários que dão ainda mais mistério para o andamento da narrativa e fazem o mistério ficar ainda maior do que já é. Madeline Brewer (The Handmaid's Tale) é uma ótima atriz e encara o papel de interpretar ela mesma de forma competente e surpreendente, prende a atenção do público e ajuda a contar a história de forma perfeita.
Alguns filmes já trataram sobre o assunto dos problemas no meio digital como Unfriended em que mostra o bullying virtual ou Nerve em que os usuários precisavam realizar desafios para se tornarem mais populares. São produções que desde o início dizem sobre o que é diferente do que ocorre com Cam que desde o momento em que o mistério é inserido fica aquela duvida do que seria aquele duplo de Lola. Como dito acima, não é para se assistir logicamente como estamos acostumados a ver em outras produções, é apenas para entrar na vibe do diretor e entrar na mente da protagonista em ser uma pessoa querida por todos.
Cam (Cam, EUA – 2018)
Direção: Daniel Goldhaber
Roteiro: Daniel Goldhaber, Isa Mazzei, Isabelle Link-Levy
Elenco: Madeline Brewer, Patch Darragh, Melora Walters, Devin Druid, Imani Hakim, Michael Dempsey, Flora Diaz
Gênero: Horror, thriller, mistério
Duração: 94 min
https://www.youtube.com/watch?v=pN8xZ5WDonk
Crítica | A Rota Selvagem - Um caminho de autodescoberta
Histórias de superação e autodescobertas existem aos montes no cinema, principalmente com personagens com algum problema em se conectar com o mundo ou que estejam em uma fase da vida de novos conhecimentos. É isso o que é proposto em A Rota Selvagem (Andrew Haigh), um filme em que acompanhamos a trajetória de Charley (Charlie Plummer), um garoto que vive com o pai alcoólatra e mulherengo e que não tem mais sua mãe por perto como companheira para o ajudar a viver com essa barra de ter um pai que mesmo estando presente é bastante ausente.
Eis que o roteiro faz com que uma tragédia ocorra na vida do garoto fazendo com que isso funcione como uma justificativa para que assim Charley possa sair do seu estado comum e comece a viver sua vida. Esse fato é mais uma desculpa para que Charley possa sair à procura de sua tia e assim acabe por fazer uma viagem de auto conhecimento. É uma produção que trabalha bem a ideia de não ficar preso a um lugar e poder sair por aí para desfrutar das maravilhas do mundo e também a de conhecer os perigos e as belezas da vida em um período tão confuso como é a adolescência.
Charley é um garoto como qualquer um, é curioso, de poucas palavras e busca emoções novas. É nesse contexto que se depara com Lean on Pete, um cavalo usado em corridas, que logo é descartado por não conseguir obter os resultados necessários. Lean on Pete e Charley tem muito em comum, ambos foram largados no mundo, a diferença é que o cavalo não terá um fim digno e o garoto acha isso injusto, além de ter criado um laço de amizade sensível com o animal passa a continuar sua viagem, agora com companhia de Lean.
A partir daí que o longa passa a ficar mais cativante. O garoto não é de ficar plantando em apenas um lugar, quer continuar seu caminho e assim conhecendo um mundo novo, cheio de barreiras e perigos pela frente. Essa sua nova trajetória é marcada por uma segunda tragédia que serve para dar outra lição a Charley, não adianta o quanto ele ajude o cavalo, o animal tem o seu rumo e o seu destino certo e mesmo que se faça algo para mudar esse caminho o destino fará o seu trabalho para que a ordem natural volte aos eixos.
O roteiro é bem estruturado no sentido de fazer com que Charley se conecte com o mundo exterior e que o cavalo e a ida à casa de sua tia são na verdade apenas uma desculpa para que ele saia andando por aí. Apesar de ser bastante maçante em alguns momentos A Rota Selvagem não é monótono, a ação acontece, mas sempre no sentido em que o protagonista vai caminhando, é uma ação mais arrastada que o de costume e que lembra bastante o longa Inverno da Alma em que a personagem de Jennifer Lawrence busca encontrar seu pai. Esse ritmo faz todo o sentido, pois há uma razão para que seja trabalhado dessa forma, ainda mais levando em conta a questão de o garoto se sentir abandonado, algo diferente do que ocorre em Na Natureza Selvagem (Sean Penn) em que o protagonista foge de sua vida por querer fazer algo de novo e de relevante.
O título original do longa leva o nome do cavalo e isso diz muito sobre o que ele representa para a história. Lean on Pete, queira ou não, é importante no sentido de amadurecimento de Charley e por dar um motivo para que ele faça o que sempre desejou, não apenas sair de casa e da realidade que vivia, mas a de conhecer todo o vasto mundo que há além de sua casa. Mas o cavalo não é o único amigo que Charley conhece, encontra em Del (Steve Buscemi) e Bonnie (Chloë Sevigny) conexões que descobre ser passageiras, mas que o ajudam a entender como o mundo funciona, se você é fraco não serve mais para a sociedade e acaba sendo descartado. Essa lição, que Del e Bonnie passam Charley serve para dar uma guinada em sua vida no sentido de fugir dali o mais rápido possível para que não seja ele no futuro a pessoa a ser descartada.
O diretor dá um direcionamento em relação ao personagem de Charley, fazendo com que sem mais nem menos esteja pronto para novos desafios e para que ele crie uma casca também no sentido de ter uma superação quanto aos traumas vividos. Charley tem pouca vivência por ser novo, mas com uma trajetória marcada por tantas histórias que com certeza ajudarão a moldar sua personalidade e a transformar ele em uma pessoa melhor.
Há uma diferença gritante de interpretação quando Charlie Plummer está em cena com o ator renomado Steve Buscemi e com a excelente Chloë Sevigny, algo natural se levar em conta a bagagem dos dois veteranos no cinema, mas o garoto não decepciona, apesar de jovem mantem o foco no personagem e prende a atenção do telespectador com seu modo simples de interpretar um garoto vazio e que ainda está criando uma personalidade. Buscemi e Sevigny estão ótimos, mas com pouco destaque acabam perdendo o brilho e para piorar o diretor resolve tirar os dois da história quase que simultaneamente, apenas para mostrar que essa era apenas uma fase vivida por Charley.
Andrew Haigh tem uma direção competente, trabalhando bem elementos que ajudam a direcionar o caminho do protagonista, sem dar pistas do que vem pela frente na aventura pelo mundo afora. Alguns momentos se excede em cenas que não acrescentam em nada para a trama e trabalha bem os diálogos que vão direto ao assunto, sem ficar dando voltas. Andrew Haigh toma decisões rápidas quando precisa levar o garoto de um lado para o outro e tudo que acontece na história é por algum sentido.
*Esse filme foi visto durante a 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
A Rota Selvagem (Lean on Pete, Coréia do Sul – 2018)
Direção: Andrew Haigh
Roteiro: Andrew Haigh, Willy Vlautin
Elenco: Chloë Sevigny, Charlie Plummer, Steve Buscemi, Travis Fimmel, Amy Seimetz
Gênero: Aventura, Drama
Duração: 121 min
