Review | Assassin's Creed: Origins é a reinvenção da franquia

Lista | 7 Dicas para dominar Assassin's Creed Origins

Enquanto nossa análise desse baita jogaço ainda não sai, é uma boa hora para fazer uma lista de dicas básicas que podem passar despercebidas por alguns jogadores mais ansiosos em partir na exploração do Egito Antigo com medjai Bayek. Portanto, atente a lista, pois ela pode te ajudar em alguns detalhes que raramente são mencionados dentro do game.

Assovie muito

A mecânica de stealth de Assassin’s Creed também foi consideravelmente remodelada e com uma I.A. realmente atenta caso você se revele entre os arbustos ou grama alta para enfiar uma flechada na cabeça de alguém. Logo, o ideal é sempre atrair seus inimigos para sua zona de segurança através dos assovios. É possível limpar consideravelmente um acampamento de bandidos ou quartel de soldados inimigos apenas com esse recurso. Para ativá-lo, basta pressionar o botão inferior do seu pad direcional por um curto período. Se manter ele apertado por um tempo maior, acabará sumonando sua montaria estragando seu stealth.

Fique atento a barra de vida dos inimigos

Essa parece ser básica, mas não é. Agora a franquia assume totalmente o lado RPG que vinha flertando há anos. Portanto, caso um inimigo esteja em um nível muito superior ao seu, você não conseguirá eliminá-lo com apenas um golpe da hidden blade. Apenas conseguirá realizar um “ataque furtivo” que tira uma quantidade considerável de vitalidade. Isso também se aplica aos tiros com os arcos do game. Mesmo mirando na cabeça, você não conseguirá assassinar o inimigo com apenas um disparo.

O melhor conselho é se manter afastado de acampamentos e inimigos com diferença de três níveis do seu atual, pois eles te matarão com muita facilidade em confronto direto.

Concentre seus esforços no crafting

Principalmente no começo do jogo! O crafting de Assassin’s Creed agora é tão importante quanto foi em Black Flag nos aprimoramentos do seu navio. No caso, obviamente, se trata de aprimorar seu personagem. Há seis espaços para melhorias conquistadas através da caça e coleta de outros recursos como madeira e metais que visam aprimorar substancialmente sua vitalidade, dano com arco, dano com a hidden blade, dano com armas de combate corpo-a-corpo, quantidade de flechas e, por fim, quantidade de instrumentos como dardos venenosos, bombas de fogo e dardos tranquilizadores.

As melhorias causam impacto direto na jogabilidade. Recomendo aprimorar sempre os seguintes espaços: vitalidade, dano de combate direto e a aljava para carregar mais flechas, além do dano da hidden blade que permitirá tirar muito mais vida de inimigos mais fortes que você.

Sempre use a Senu

A maior aliada de Bayek em sua jornada é a águia Senu. Por isso, é importante sempre escalar os pontos de sincronização para aumentar a percepção da ave – além de abrir os necessários pontos de viagem rápida.

Isso resulta também em um impacto significativo na hora do gameplay quando o jogador se infiltra em quartéis e acampamentos com tesouros escondidos e também com o intuito de eliminar comandantes e capitães. Ao contrário da percepção para encontrar objetivos primários do jogo, a rodinha que indica onde está localizado tal objetivo não será dourada, mas branca, além de não contar com o auxílio do barulhinho para encontrar o que estamos procurando.

Com o uso de Senu nesses pontos, será possível localizar com facilidade onde estão os baús de tesouros tão cobiçados nessas infiltrações. Além disso, Senu é muito necessária para avistar materiais imprescindíveis para o crafting a distância, permitindo a marcação desses alvos.

Desvende os papiros

Em diversos locais importantes, existem papiros escondidos com bons enigmas para o jogador desvendar. Esses papiros sempre mencionam uma localização específica da cidade. Nela, sempre haverá um item muito raro ou lendário para incrementar seu arsenal de armas, além de sempre trazerem bonificações de habilidades especiais como envenenamento ou em chamas. Caso não tenha paciência para explorar, é possível achar as localizações exatas em vídeos do YouTube.

Uma dica mais preciosa é pegar esses itens quando estiver em um nível bastante alto para conquistar equipamentos do nível correspondente ao seu.

Apague o seu fogo

Pode parecer zoeira, mas é inacreditável o tanto de vezes que Bayek acaba completamente em chamas quando está no meio de um combate. Principalmente pelos vasos com óleo que incendeiam muito facilmente. Eles ajudam a derrubar os inimigos, mas também te matam com facilidade. Para perder menos vida, lembre-se do conselho dos bombeiros: se estiver pegando fogo, ROLE! O mesmo se aplica a Assassin’s Creed Origins. Apertando quadrado ou X, Bayek usará a esquiva e acabará rolando em algum momento, apagando a combustão.

Vingue os assassinos assassinados

Você vai encontrar esses eventos randômicos com frequência durante sua jornada no Egito. Sempre será sinalizado com um losango azul e uma caveira em seu interior. As missões “vingue fulano” sempre te darão uma boa quantidade de experiência permitindo uma progressão ainda mais rápida para conseguir realizar as missões principais sem a necessidade de tanto griding com as secundárias.

Essas são as dicas mais importantes para conseguir dominar de vez Assassin’s Creed Origins. Ainda teremos muito conteúdo programado sobre o jogo então se certifique de sempre conferir o site quando puder. Além disso, é bastante nítido que recomendamos o game. Fazia anos que Assassin’s Creed não era tão divertido!


Crítica | Mindhunter é uma viagem monótona sobre o ego inflado de John Douglas

É complicado ler Mindhunter depois de ter conferido a excelente adaptação trazida por David Fincher que estreou há pouco na Netflix. O motivo é bastante simples: a expectativa é muito alta.

Com foco inicial ferrenho nas entrevistas de Holden Ford, personagem inspirado em John Douglas, um dos responsáveis fundar a Unidade de Ciências Comportamentais do FBI, acreditei que a autobiografia homônima seria uma experiência perturbadora nos arquivos das mórbidas entrevistas que o agente conduziu com diversos psicopatas capturados anos antes dele iniciar sua pesquisa de perfis que revolucionou a criminologia dos anos 1970.

Mas, ledo engano, Mindhunter vai por outras vias nem tão interessantes. Por exemplo, o maior desafio da autobiografia é justamente seu primeiro terço. São mais de cem páginas em uma aventura de ego sobre histórias nada interessantes da vida pessoal de John Douglas, sua rotina, educação e vida amorosa. Ou sobre como ele aprendeu a jogar baseball entre outros esportes. É um negócio tão absurdo e contrastante que demorei a acreditar que estava lendo um livro sobre as mentes mais perigosas da América.

John Douglas e o Cotidiano

O problema é que os leitores desavisados vão estranhar essa enorme ladainha extremamente maçante. Tenha em mente, sempre, que Mindhunter é uma autobiografia de Douglas escrita em conjunto com Mark Olshock. Logo, para chegar no ouro do tema, é preciso aguentar muita ladainha nada pertinente ao leitor. Esse é o maior defeito do livro: Douglas trata o material como um “querido diário” e omite detalhes pertinentes sobre como consegue traçar o perfil dos suspeitos que, segundo ele, são sempre muito apurados.

A parte das entrevistas, na verdade, não compõem nem mesmo 10% da obra e, quando surgem, são extremamente resumidas apenas mencionando um breve histórico sobre o entrevistado e da conversa também. Não há nem mesmo uma menção aprofundada sobre entrevistas históricas com Ted Bundy e Charles Manson. Por mais irônico que pareça, o maior foco é restrito em Ed Kemper, a entrevista mais explorada no seriado – logo, quem já viu essa história não ficará muito animado em ler um capítulo inteiro trazendo as mesmas informações já tão bem trabalhadas.

Claramente minha análise está assumindo uma posição de quem foi motivado a ir atrás da fonte depois de ver o material adaptado. É claro que sei que o livro foi lançado anos antes nos EUA, mas sua publicação no Brasil é bastante oportunista para conquistar leitores que já tiveram contato com a série.

Porém, quem sobreviver a chatice inicial de mais de cem páginas, com certeza encontrará capítulos melhores até o fim do livro. Apesar da notória desorganização do material que mistura casos ativos com a vida pessoal de Douglas, é por eles que conhecemos detalhes importantes da investigação de diversos psicopatas que aparecerão nas próximas temporadas do seriado.

Eis o homem, a lenda.

John Douglas e os Psicopatas

Casos como o de David Carpenter, Carmine Calabro, Bittaker e Norris, Robert Hansen, Larry Gene Bell e Wayne Williams são bastante detalhados, apesar de uma frieza excessiva de Douglas ao abordar a quantidade inacreditável de vítimas que esses assassinos ceifaram ao longo do período de atividade.

Douglas também parece relutar em contar mais detalhes sobre os diversos tipos de psicopatas com padrões diferentes como os que atuam em duplas, os homossexuais, psicopatas negros, mulheres, psicopatas casais ou de familiares. São assuntos pertinentes que envolvem perfis distintos, mas Douglas apresenta a pirâmide básica para identificar alguém cheio de potencial para se tornar um assassino em série: enurese tardia, incêndios diversos e tortura de animais.

Como Douglas rapidamente abandona as entrevistas das quais ofereceram a base para seu estudo, temos a apresentação dos diversos casos ativos de criminosos que ele e sua Unidade conseguiram colocar atrás das grades. Porém, como disse, Douglas não se importa em explicar minimamente como conseguiu traçar o perfil dos criminosos temendo que outros psicopatas lessem o livro e descobrissem o método.

Apesar de ser um medo crível, nada ajuda na obra que se torna enfadonha só ganhando força quando alguns casos realmente extraordinários como o da esposa que desejava matar um colega de Douglas surgem, ou o terrível caso de Gene Bell. Mesmo assim, com histórias fortes, a leitura encontra outros entraves: a escrita não é prazerosa e muito menos magnética.

Ao contrário de seu concorrente direto, o livro Serial Killers – Anatomia do Mal, de Harold Schechter, Mindhunter é enfadonhamente escrito sem gatilhos narrativos de suspense ou estruturas narrativas clássicas para deixar a leitura mais envolvente. Douglas faz uma mera descrição dos fatos, apesar dos esforços hercúleos do seu parceiro co-escritor em deixar a experiência mais envolvente.

Particularmente, acho surreal o talento que Douglas tem em deixar um dos assuntos mais interessantes do mundo virar uma verdadeira chatice. Ainda que o texto nunca supere o problema de Douglas mais desviar a atenção dos fatos para si e seu ego gigante, o leitor já está acostumado nessa altura a aturar as interrupções e logo é recompensado por detalhes valiosos da investigação como a de Wayne Williams e a razão da mudança do lugar de desova dos corpos das crianças que matava.

Uma das principais entrevistas da carreira de Douglas que ele nunca menciona direito: Ted Bundy.

Potencial nunca atingido

Apesar da segunda metade do livro ser muito mais interessante, sentimos que o potencial de Mindhunter nunca é verdadeiramente atingido. Isso também acontece por conta da estrutura muito viciada que Douglas aplica no relato dos casos que nunca são verdadeiramente estudos, mas relatos de como ele estava certo.

Segue o padrão: vida de Douglas, assassinato com identidade revelada do psicopata na maioria das vezes, descrição do estado dos corpos das vítimas, perfil traçado por Douglas, investigação continua, Douglas viaja e alguém pede para ele retornar para ajudar no interrogatório do suspeito que bate com o perfil, interrogatório muito resumido, prisão, vida de Douglas, fim.

Isso se repete na maioria da segunda metade do livro e sentimos um rancor forte da personalidade do autor por nunca ter recebido reconhecimento suficiente sobre a sua ajuda no caso em particular. Logo, há também um sentimento de “lavar roupa suja” no meio dos capítulos que nada são pertinentes para nós.

Apesar de sua constante repulsa a psicólogos, talvez seja realmente o que o autor precisa: visitar um deles.

Mindhunter é um livro que custa muito a engrenar e muito provavelmente você já irá ter abandonado a leitura antes de chegar nas partes realmente interessantes. Douglas adora puxar a fofoca para o seu lado com uma das autobiografias mais chatas e malas que eu já tive o desprazer de ler.

Rapidamente o livro se torna em uma egotrip insuportável comentando como Douglas é forte, bonito e trabalhador. O engraçado é que, aparentemente, o agente especial é imune a falhas. O “perfeito” detetive nunca erra em sua jornada. Seus perfis são exatos e precisos, apesar de nunca revelar como raios ele chega a essa bendita dedução.

É particularmente curioso e irônico o livro terminar com o lamento de Douglas de que “os dragões vencem”, em alusão aos psicopatas soltos por aí. Se ao menos tivesse ensinado o básico e tornado o campo de seu estudo mais interessante, pode ter certeza que seria mais fácil identificar e monitorar indivíduos com essa disposição doentia.

Por fim, depois de aguentar as apresentações de sua “magia” em acertar os perfis dos assassinos sem mais nem menos e encerrar a leitura, é bem fácil de admitir que dificilmente o leitor sentirá que aprendeu algo ao longo das mais de 300 páginas do livro. Realmente, é uma conquista admirável pegar um tema tão relevante e torna-lo em algo tão... egocêntrico.

Mindhunter: O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano (Mindhunter: Inside the FBI Elite Serial Crime Unit, EUA – 1995)

Autor: John Douglas, Mark Olshaker
Editora: Intrínseca
Edição: 1ª edição de 2017 – não atualizada com informações complementares
Gênero: Autobiografia, Crime
Pgs: 380


Astro de Mindhunter lamenta fim da série, mas ainda quer 3ª temporada

Quem é aquele cara? | O Final da 1ª Temporada de Mindhunter Explicado

Spoilers!

Mindhunter é uma das obras que mais prestigiamos neste ano aqui no site (leia a nossa crítica). Depois uma sólida estreia e esbanjar potencial para se tornar uma das séries pilares da Netflix, fica difícil não guardar muitas expectativas para a próxima temporada que chega em 2018.

Quem acompanhou a série deve ter ficado com uma pulga atrás da orelha para descobrir quem era aquele pacato cidadão mal-humorado que surgia sempre nas introduções de diversos episódios.

Certamente alguém nada amigável, certo? Depois de concluirmos o arco de Holden Ford na temporada, Fincher apresenta uma perturbadora cena mostrando esse mesmo homem queimando desenhos de diversas mulheres torturadas de variadas formas.

Não, o cara não é Holden Ford

Os novos fãs do seriado estão tão ansiosos para descobrir quem se trata esse cidadão que já estão considerando ele ser Holden Ford alguns meses depois dos acontecimentos mostrados na série. Mas o caso não é esse. Por mais que o desenvolvimento do arco do personagem mostre que ele esteja caminhando para um estado mental psicótico chegando até mesmo a repetir uma mesma frase que Ed Kemper fala durante um interrogatório, o final da temporada indica uma catarse no protagonista.

Ao ser abraçado por Kemper no fim do episódio e não saber reconhecer o que ele quer daquele cara, Holden tem um colapso nervoso ao perceber que está na mesma folha doentia que o objeto de seu estudo. Em desespero, foge e cai no corredor do hospital sussurrando que está morrendo.

Ou seja, por conta dessa reação exacerbada, Holden consegue fugir da escuridão. Céus, Fincher até termina a temporada com a excelente In the Light de Led Zeppelin para “iluminar” essa questão. A catarse deve mudar profundamente Holden que deve parar de se comportar como um maníaco que olhou por tempo demais para o abismo e agir novamente como uma pessoa equilibrada.

Então quem é?

Esse cidadão é um dos psicopatas recordistas de tempo que conseguiu fugir das forças policiais tendo assassinado 10 pessoas entre 1974 a 1991. Depois de 31 anos do seu primeiro assassinato, foi finalmente preso em 2005.

Trata-se do Assassino BTK, Dennis Rader. O apelido BTK vem do seu modus operandi no ato de matar: Bind, Torture, Kill. Ou seja, amarrar, torturar e matar – justamente por isso vemos tantos desenhos de mulheres amarradas enquanto são lançados ao fogo.

Rader tinha os meios mais fáceis para encontrar suas vítimas – isso é mostrado no seriado. Com livre acesso a diversas moradias para instalar sistemas de segurança, o psicopata já podia traçar seus planos para sequestra-las posteriormente. Era um psicopata organizado, extremamente metódico que planejava cada invasão com extremo cuidado para não ser surpreendido ou pego. Ou seja, aprendia a rotina das vítimas por meses antes de agir.

Todos os assassinatos ocorreram em Wichita, no Kansas. Ao longo das três décadas que a polícia falhou, o BTK adorava ridicularizar as forças da Justiça enviando pistas e cartas para veículos de mídia, além de reivindicar os assassinatos para si, afinal faz parte da mente psicopata uma enorme dose de narcisismo sádico.

Rader tinha tesão em lingeries e meias-calças. Em quase todas as vítimas femininas, roubou pertences íntimos e usou posteriormente para se masturbar no porão da casa da mãe. Era comum se fotografar enquanto amarrado usando também as roupas das pessoas que assassinou.

Dennis Rader relaxando no sofá com sua filha Kerri.

Seu primeiro ataque envolveu o infame assassinato da família Otero no qual Rader matou o casal e dois dos cinco filhos por sufocamento em 1974. O frisson midiático causou pânico em Whichita que foi assombrada pelos assassinatos de Rader até 1991.

No fim, Rader foi somente pego pela própria soberba e burrice. Quando foi anunciado que um livro seria escrito sobre os terríveis assassinatos do BTK, Rader recomeçou a infernizar a mídia reclamando a autoria de assassinatos até então sem solução. Uma dessas cartas foi enviada à polícia. O assassino ainda não entendia muito dessa novidade da informática consolidada nos anos 2000 e gostaria de saber se era possível rastreá-lo ao gravar documentos em um disquete.

Enganando o psicopata, a polícia afirmou que seria impossível pegá-lo através dos disquetes com seus escritos. E foi justamente por conta disso que Dennis Rader encontrou seu fim. Através de um documento gravado e deletado do disquete, por meio de metadados, a polícia encontrou o nome de usuário ‘Rader’. Em uma pesquisa rápida e simples na internet, foi rastreado um tal de Dennis Rader, presidente do conselho de uma igreja luterana.

Através de pistas reunidas na época, sabia-se que o BTK tinha uma camionete Cherokee preta. E na casa deste Rader também havia esse mesmo carro. Pegando DNA encontrado nas evidências dos crimes nos anos 1970 e colheita de DNA da filha do psicopata, a polícia reuniu provas o suficiente para colocá-lo para responder seus crimes.

Rader foi condenado a dez prisões perpétuas em uma penitenciária do Kansas. Na época não havia a sentença de morte no estado. Em um índice psicológico de maldade, ele atingiu o número 22, o máximo possível do estudo o categorizando como um indivíduo sádico que sente prazer em torturar pessoas e animais.

Agora resta ver como essa história perturbadora será trazida pelas telas de Mindhunter. Pela atmosfera do seriado, é bastante improvável que o BTK seja traído pela própria ignorância.


O Fim da Ilusão | O Final de Blade Runner 2049 Explicado

Spoilers! 

Chegou como um estouro. Blade Runner 2049 se consagrou como um dos melhores filmes de 2017 trazendo peças muito originais para o gênero sempre em expansão da ficção científica.

Como em raríssimas novas interações de consagrados filmes do passado, o novo Blade Runner consegue criar muitas coisas ao mesmo tempo que expande a história do original para limiares que nunca tínhamos sonhado conhecer antes. Logo, sua história termina com diversas pontas soltas, além de confrontar os personagens com destinos amargos.

Um breve contexto

A essência do conflito desse novo filme é a busca de K pelo real. Caso não saibam, K é um replicante e toda sua vida é cercada pelo sintético. Em um trabalho de rotina, elimina um replicante Tyrell pré-Blecaute, Sapper (Dave Bautista). Antes de morrer, Sapper diz a K que ele não valoriza sua espécie por não ter presenciado um “milagre”. A partir das consequências dessa investigação, K se vê completamente envolvido em uma conspiração muito maior do que o seu papel na sociedade.

O “milagre” é, como o personagem descobre depois, a filha de Deckard com a replicante Rachael, a primeira modelo dos novos Nexus 8 (androides com tempo de vida útil similar ao da vida humana). De alguma forma, Tyrell conseguiu atingir o limiar que tanto procurava para acabar com a linha que separava os humanos dos sintéticos: a reprodução natural. Rachael seria a primeiro androide a ter a capacidade de conceber vida. Porém, com o Blecaute, toda a informação sobre a possibilidade de criação desse androide é perdida e como sabemos, Tyrell é assassinado.

Rachael tem uma filha com Deckard depois de fugir com ele no final de Blade Runner. Para proteger a criança, Deckard foge e Rachael morre ao dar à luz. A criança então tem seus dados genéticos duplicados para criar um arquivo falso que indica sua morte. Depois, Sapper a envia para um “orfanato” de sucateiros com apenas um único pertence: um cavalinho de madeira talhado por Deckard contendo a data de seu nascimento.

Lá ocorre toda a memória infeliz que é, posteriormente, implantada em K. A menina é resgatada de sua infeliz vida no orfanato e, talvez pelas condições precárias ou por uma mentira para protegê-la, acaba desenvolvendo um problema imunológico que a impede de sair de uma bolha de proteção. Seus pais adotivos criam um quarto com diversas tecnologias de hologramas para que Ana Stelline não viva em uma prisão. A menina cresce e acaba virando uma ótima profissional de criadora de memórias para serem implantadas em replicantes desenvolvidos pela Wallace.

Ela é a representação do fim do muro que separa humanos e andróides. Ela despertaria uma revolução e acabaria com a escravidão no mundo de Blade Runner.

O Final

Ao fim do filme, Deckard é sequestrado por Luv e Wallace, os antagonistas que querem descobrir como foi possível Rachael e Deckard terem reproduzido natural um novo replicante. A motivação de Wallace é conseguir replicar a tecnologia de reprodução entre replicantes para conseguir atender a demanda impossível de novos Nexus para colonizar os novos planetas dominados por humanos.

Enquanto isso, K é resgatado por uma espécie de Resistência replicante revelando a verdade sobre a filha de Deckard que, até então, K julgava ser ele o replicante especial, o escolhido, etc. Nessa célula da resistência, K recebe a missão de matar Deckard para impedir que Wallace descubra o paradeiro da garota ou que disseque o corpo do antigo Blade Runner.

Sendo a coisa “mais humana” a fazer, o desolado K tem o poder da escolha: matar Deckard ou abandonar o papel ingrato dessa narrativa que assumiu. Mantendo a ambiguidade até o fim, sem revelar a intenção de K, vemos o protagonista impedir Deckard e Luv de chegar em um covil de Wallace.

Depois de uma longa e árdua luta, K mata Luv e... salva Deckard. Com o naufrágio da nave, K fala para o herói que ele está finalmente livre para conhecer a filha que nunca conheceu. Deckard e K então vão até o laboratório de Ana Stelline. K não acompanha Deckard no reencontro.

Gravemente ferido pelo confronto com Luv, K senta nos degraus do prédio. Admira a neve caindo ao redor. Sente o gelo derretendo entre os dedos, interligados. Hora de morrer.

Mas e daí?

De fato, e daí? Bom, há uma beleza na trajetória de K ao longo do filme. E essa trajetória é perfeitamente dividida em três atos e acontecimentos que fazem uma reviravolta em sua psiquê.

No começo do longa, K não almeja nada além de sua vida normal e função. Apesar de sentir um desconforto pela artificialidade que o cerca e até mesmo da sua própria natureza como replicante, K não se odeia como acontecia com Deckard no primeiro filme. K vive cada dia normalmente, já se contentando apenas com sua existência.

Porém, ao descobrir que a memória implantada realmente aconteceu, K passa a suspeitar que teve uma infância. E, portanto, é humano ou algo especial, um evento nesse mundo distópico. Logo, ele não seria mais um replicante como os outros. Finalmente em sua vida artificial, ele poderia dizer que possui algo real: um significado maior. Também teria uma alma, uma humanidade, suas memórias seriam história e comprovariam existência verdadeira, existência orgânica.

Até tudo isso lhe ser arrancado com a revelação de que ele não é o filho de Deckard, ele não é especial como imaginava. Ele é somente um replicante que acreditava ser humano – traça-se um belo paralelo com Blade Runner se levarmos em conta que Deckard também é um replicante segundo Ridley Scott. Lá tínhamos um humano que acreditava ser humano, mas que era replicante. E aqui um replicante que acreditava ser humano, mas que era somente um replicante.

Com isso, K entra em profunda crise existencial. Como voltar a ser artificial se provou um pouco do sabor da realidade? Mesmo que falsa? A líder da célula revolucionária diz a K que a coisa mais “humana” a fazer é matar Deckard.

Porém, nosso protagonista está cansado de receber ordens de mulheres cínicas em posições de pretenso poder. Ele vaga pela cidade até ser confrontado por um outdoor em holograma de Joi, sua antiga namorada virtual que nada mais era que um produto feito pela Wallace para atender a demanda de carência e sexo que a sociedade necessita.

Ali, há uma leve catarse, mas importantíssima. A nova Joi o chama de ‘um perfeito Joe’. No caso, associamos imediatamente que até mesmo seu nome que lhe foi dado pela namorada era artificial, algo completamente sem personalidade, algo programado. Além disso, é possível associar o Joe com John Doe, no inglês significa um Zé ninguém, um fulano X.

Isso afeta fortemente o protagonista a reencontrar um norte na vida. Ele cansou de seguir a programação e a ordem dos outros. Pela primeira vez na vida, K possui o poder da escolha.

A escolha já vira uma das características mais reais e humanas para ele, pois está escrevendo o próprio destino. K vai ao resgate de Deckard e, ainda por cima, o faz reencontrar a filha perdida, conseguindo frustrar os dois lados do jogo: Wallace e a Resistência.

De alguma forma, K percebe que o sentimento humano de afeto, de amor, é algo profundamente real. Isso é justificado pelo encontro do replicante nas memórias sólidas de Deckard: seja em retratos ou nos animais talhados na madeira. O protagonista enxerga o amor do antigo Blade Runner e vê que aquilo é real e cheio de significado. O amor é o que significado e realidade para a existência.

Ao conduzir Deckard até a filha, porém, K atinge um nirvana que transcende o amor. Um sentimento verdadeiramente puro e messiânico: K vira um genuíno altruísta. Ele se sacrifica por um homem que acreditava ser seu pai, mas que não era. Ele salva duas vidas confinadas em prisões distintas para que seguissem uma jornada da qual ele nunca faria parte.

Tanto que, antes de entrar no laboratório, Deckard pergunta a K: “O que eu sou para você?”. Ele quer entender esse gesto de bondade no replicante. Ele quer entender uma motivação que nunca será capaz de compreender e mensurar. K não responde e Deckard parte. No fim, em seu altruísmo extremamente amável, K se torna mais que humano. Ele contempla a luz e morre olhando aos céus. A serenidade de seu olhar indica que não há mais medo ou amargor. Se K encontrará algo além da vida, somente ele sabe.

E pelo tom tão iluminado e belo desse final, pode ter certeza que K encontrou algo melhor do que sua existência.