Review | Resident Evil 5

Review | Resident Evil 5

A Capcom se encontrava em uma posição delicada com "Resident Evil 5". Como dar continuidade a um jogo que estabeleceu uma nova tendência de mecânica, trazer novidades a altura, respeitar o legado da franquia e ao mesmo tempo atrair novos jogadores? Para dificultar o questionamento, o game ainda passou por vários problemas internos de desenvolvimento envolvendo troca de cast de um personagem, cortes no orçamento e de trechos inteiros de fases - até para cumprir com o prazo estipulado de lançamento - e acusões infundadas de racismo iniciadas por uma minoria de profissionais da indústria jornalística.

Definitivamente, as condições não eram as ideais para a saída do jogo que os fãs gostaria e mereciam, não é mesmo?

Mas Resident Evil 4 também contou com diversos problemas e reformulações antes de seu lançamento, o que não impediu o jogo de ser incrível, logo o mesmo pode acontecer com este, correto? Errado.

Resident Evil 5 sofre de uma enorme carga negativa, talvez o maior temor de qualquer franquia consagrada: a perda da identidade. 

A começar pela mudança de cenário. Saem a mansão de confinamento , as ruas apertadas de Raccon City e os bizarros campos e castelos de da área rural espanhola para a entrada de uma África ensolarada. Claro, há de se louvar o trabalho de iluminação e texturas, bem polidos para a época de 2009, mas é inegável que o ambiente e sua atmosfera não são dos mais aterrorizantes em relação ao que veio antes. 

Se a ambientação não colabora, ao menos a jogabilidade fazem jus ao terror de outrora, não? Não.

RE 5 é frenético a todo momento. As hordas - agora, ainda mais armadas - são mais numerosas, as munições não são mais escassas e encontrar uma erva para dar upgrade em sua barra de vida nunca foi tão fácil. A situação só piora conforme avançamos na jogatina e devemos enfrentar os infames infectados com armaduras e armamento militares e monstros gigantescos que abusam da suspensão de descrença. Até trechos em ambientes metálicos e industriais, desnecessariamente, possuem uma maior presença. 

Com isso, todo o senso de vulnerabilidade dos protagonistas se esvai. Chris e Sheva são heróis de filme de ação. Se, ao enfrentrarmos o perigo, nos deparando com ele, não o sentimos, então qual é a graça? Um caminho vergonhoso foi seguido aqui. 

Compare o trecho da batalha contra um gigante em "Resident Evil 4" e em "Resident Evil 5". Enquanto em um, o jogador se esforçava para prolongar o duelo até achar o momento ideal de ataque com a consciência de que, se resultasse em falha, o golpe seria fatal e o processo se repetiria, no outro tudo o que o jogador deve fazer é atirar com uma supermetralhadora embutida em uma caminhonete. Havia boatos de que esse se trata de um dos trechos cortados e que, na ideia original, envolveria até mesmo uma perseguição do tal gigante. 

O que nos abre a brecha para falar de outro problema, a mecânica. Um jogo de ação - ainda mais em terceira pessoa - exige uma certa gama de possibilidades de movimentos e ações para o jogador acompanhar a agilidade do gameplay. Pegando emprestado as mecânicas de Resident Evil 4, o jogo falha nesse ponto crucial ao limitar demais o jogador com poucas opções de movimentos. Funciona bem para um terror mais calcado e com eventuais sequências de ação como o jogo antecessor, mas este não é o caso. E se a ideia fosse manter o jogador mais vulnerável, limitando seus movimentos frente às hordas, o objetivo também não seria cumprido, resultando em alguns bons momentos de frustração. 

E a narrativa? Bom, Resident Evil nunca foi uma franquia conhecida por suas histórias e excepcional trabalho de desenvolvimento de personagens. A criação do mundo e seus conceitos e as mecânicas eram o foco dos elogios. Mas não podemos nos esquecer que estamos falando de um game de 2009, ano em que "Uncharteds" e "BioShocks" da vida já estavam disponíveis. 

Sinto-lhe informar, caro leitor, mas até nisso o jogo falha. A história, que se passa 5 anos depois dos eventos de RE4, gira em torno de Chris Redfield, agora trabalhando para a BSAA, tendo de se aliar com Sheva Alomar em Kijuju para apreender Ricardo Irving e impedi-lo de concretizar uma venda de arma bio-orgânica. Obviamente, há muito mais debaixo dos panos do que aparenta, com direito a conspirações, planos de dominação global e ressureição de personagens antes dados como mortos. É tudo tão exagerado e telegrafado que, em dado momento da trama, pode prever tudo que está para acontecer com alguns poucos minutos de jogatina. A direção durante as cutscenes é, em sua maioria, terrível, com enorme apelo para cortes rápidos, shaky cam e slow motion, gerando alguns momentos bem embaraçosos de se ver e acompanhar.

Os personagens são tratados da mesma forma preguiçosa e desinteressante, sem qualquer arco crível. Chris Redfield é um personagem completamente unidimensional e profere a todo momento diálogos expositivos e didáticos a respeito da trama e do que acabamos de presenciar. Sua relação com Sheva não soa orgânica e sim uma exigência de roteiro. Há somente um momento dedicado entre ambos para falarem de sua vida pregressa e assuntos mais humanizados - momento este durante um passeio de barco para uma tribo indígena em uma tentativa pífia de desenvolvimento de Sheva ao inserir o básico de backstory -  acredite, eu contei. 

Albert Wesker então, vilão carimbado da franquia, coitado, surge mais canastrão do que nunca chegando atingir o nível cartunesco. Os momentos finais de batalha que o envolvem me provocaram algumas risadas tamanho nível de galhofa na escrita. Os coadjuvantes, todos subaproveitados, não agregaram muito à trama. 

O melhor ponto do game e que também é sua novidade mais engenhosa, trata-se da possibilidade de jogar em cooperativo. Lembro de gastar incontáveis horas jogando com meu irmão ou com alguns amigos em revezamento por morte ou tempo durante encontros em casa. É simplesmente muito divertido. O valor de entretenimento é altíssimo e a variedade de cenários e busca por upgrades nas armas certamente manterá a dupla de jogadores engajados até o final. Claro, isso se você deixar passar todos os problemas citados e quiser apenas investir algumas boas horas na matança de zumbis.

"Resident Evil 5" não consegue ser um bom jogo de terror - o frenesi durante o enfrentamento de hordas regulares e munição fácil não o deixa - e nem um eficiente jogo de ação - a mecânica é travada e limitadora herdeira de seu antecessor. Não achando sua identidade, o game é um arremedo de ideais e conceitos passados atafulhados em uma narrativa medíocre com história e personagens genéricos. Vale pelo cooperativo mas não muito mais que isso, ainda mais hoje com tantas opções carentes de tais defeitos. Eu realmente gostaria de poder dizer que a Capcom, eventualmente em um "Resident Evil 6", aprenderia com os erros e presenteasse os jogadores com o game que faria a franquia se encontrar novamente. Infelizmente, isso não aconteceu e a situação só iria piorar. E é assim que o texto termina, em tom fúnebre e com a saudade, mesmo que fosse apenas exclusivo ao quarto game, de um certo mercador para te chamar de estranho diversas vezes durante a jornada. Até nisso, o processo se tornou automático e sem personalidade.

Resident Evil 5 (Biohazard 5, Japão/2009)
Desenvolvedora: Capcom
Gênero: Ação, tiro em terceira pessoa
Plataformas: Microsoft Windows, PlayStation 3, PlayStation 4, Xbox One e Xbox 360.


Crítica | Cinquenta Tons Mais Escuros, de E. L. James

Os livros de E. L. James se tornaram um fenômeno mundial assim que foram lançados e agora os filmes também seguem essa linha de sucesso. O longa Cinquenta Tons Mais Escuros foi lançado esse mês e aproveitando esse momento, resolvemos analisar o segundo livro também.

Assim como no primeiro livro, vemos aqui a história pela perspectiva de Anastasia. Ela se mudou para Seattle e conseguiu um emprego como assistente de um editor, e mesmo separada (e sofrendo muito por isso!) de Grey ela aceita as flores que ele mandou pelo seu primeiro dia de trabalho e a carona para a exposição de fotos do amigo dela, José. Christian está disposto a reconquistar Ana e durante uma conversa intensa num jantar depois da exposição, ele se declara e propõe um novo acordo. A ideia agora é não ter regras. Sim, isso mesmo! Christian Grey quer tentar um relacionamento baunilha com Ana e claro que ela aceita, com isso ela promete ter fé e paciência com ele.

Parece que a única coisa que pode impedir disso dar certo é o próprio Christian com todos os seus problemas e seu estilo de vida totalmente diferente do de Ana, mas o que não esperávamos é o retorno de questões do passado dele que voltam simplesmente para atormentar a vida feliz do recém casal. Leila, uma ex submissa de Grey, começa a aparecer "perseguindo" eles com pequenas aparições como quando aborda Ana na rua e solta a pergunta "O que você tem que eu não tenho?".

Aqui começa um dos pontos positivos da história, o clima tenso quase constante que E. L. James consegue criar com a ameaça de um ataque que pode acontecer a qualquer momento. Mas infelizmente ela não consegue manter isso por muito tempo, pois começa a criar outros diversos (sério, são vários) conflitos que tem o intuito de aumentar o clima de tensão. Outro conflito que a autora gosta de focar é entre Ana e o chefe, Jack Hyde. Esse por sinal é pior trabalhado do que o primeiro que citei, pois existe sempre uma expectativa de algo acontecer e quando acontece é algo raso e facilmente resolvido. Até Kate e Elena, amigas de Ana e Christian respectivamente, entrem em cena para gerar tensão e alguma discussão sem sentido. 

O principal problema de Cinquenta Tons Mais Escuros é realmente a falta de desenvolvimento. Todos os conflitos são resolvidos de maneira tão simples e óbvia, alguns até de maneira casual. E não pense que os momentos bons estão fora dessa regra, a autora consegue ser extremamente criativa criando os cenários mais românticos e belos para o casal, mas todos seguem sempre a mesma fórmula de desenvolvimento regada de clichês.

Apesar de tudo isso, aqui temos um Christian mais aberto e até apaixonado. Pra quem ansiava por conhecer melhor os conflitos internos dele, aqui a autora foi além e entregou os maiores segredos desse personagem quase complexo. A parte boa é mesmo entregando tanta coisa, ainda existe um oceano de coisas que gostaríamos de conhecer sobre ele de tão bem trabalhado desde o primeiro livro. Ana por sinal consegue se abrir mais também, expondo medos que não havíamos conhecido. A melhora na comunicação dos dois e os momentos de confissões de Christian realmente são pontos altos da história. Devo assumir que uma cena onde Grey realmente conta o seu grande segredo (não tão segredo assim, vai!) é um momento tão tenso e chocante que se tornou o meu favorito. Mesmo não sendo perfeito, por todos os problemas que citei estarem ainda presentes.

E isso nos leva as cenas íntimas do casal. Diferente do primeiro capítulo da história, aqui os momentos de conversa entre eles são constantes o que torna real a ideia de relacionamento "normal" deles. Porém não pense que a autora deixou de lado as cenas de sexo mais pervertidas e quentes, elas ainda estão aqui, mas regadas de amor que enriquecem esses momentos.

Enfim, esse livro serve para nos mostrar a ansiedade da autora em expor ideias. Tudo aqui é importante, tudo é urgente e tudo serve para gerar tensão e expectativa no leitor. Porém essas ideias na sua maioria, cansam e atrapalham a história. Falta de desenvolvimento é um ponto gravíssimo, principalmente quando a pretensão é criar uma gama de detalhes e conflitos como aqui. Então, por favor, não espere uma grande obra.

Ps: Se resolver comprar, escolha a nova edição lançada para aproveitar o lançamento do filme. Além de contar com fotos dos bastidores das gravações, conta também com o primeiro capítulo escrito pela perspectiva de Grey.


Crítica | Os Visitantes

O  professor e experiente jornalista Bernardo Kucinski é hoje reconhecido no meio literário, principalmente, pelo seu romance de estreia K.: Relato de uma Busca, publicado em 2011, e consagrado como uma das melhores peças literárias sobre a ditadura militar e suas sequelas, partindo do desaparecimento de sua irmã, Ana Rosa Kucinski – no romance, filha do protagonista.  O autor, que até o momento já havia publicado livros de economia e política, teve também editada sua produção de contos e novelas. Infelizmente, dessas outras obras, nenhuma abalou tanto quanto o romance.

Agora, sob a égide da Companhia das Letras (que republica agora em agosto também sua maior obra), Kucinski publica mais uma novela: Os Visitantes. Depois de enveredar pelo gênero policial, com muitos tropeços, em Alice, a opção atual é estruturalmente mais segura. Narra a partir do ponto de vista do escritor de K., numa espécie de realidade alternativa de sua própria situação. A cada curto capítulo, um nova pessoa vem bater à porta do escritor e perturbar-lhe, seja para apontar erros no romance, discutir a exposição dos personagens retratados, como suas atitudes são descritas… “Tudo neste livro é invenção, mas quase tudo aconteceu”, epígrafe dessa novela e do romance, torna-se mais que um esclarecimento, um motivo, um embate, uma posição que agora é voltada contra seu próprio criador.

Segundo Kucinski – o de carne e osso – de todos os visitantes, apenas o primeiro, uma senhora sobrevivente do Holocausto, não existiu realmente. Foi, na verdade, um colega historiador que lhe confrontou a afirmação de K. de que até os nazistas guardavam o registro de todas as suas vítimas. O que não é verdade. No primeiro capítulo, o escritor narra que, depois do encontro com a senhora, foi buscar informações na Wikipédia e, em seguida, correu atrás de mais obras de Primo Levi. Surpreende encontrar esse tipo de ação quando se conhece a biografia do autor. O artifício da “ficção” ressurge para provocar proporcional dúvida.

Vale ressaltar que nesse mundo, K. não é um sucesso. A cada capítulo-crônica o narrador se emburra por não ver menção nenhuma a seu romance em jornal nenhum. Apenas o nicho retratado na obra (a comunidade judaica, as colegas de sua irmã desaparecida, parentes e colegas uspianos)  parece ter notado sua existência: uma provocação ao nosso país-enigma, não só quanto à construção da narrativa da ditadura, como em relação à recepção de obras que a contestem 30 anos depois do fim desse período da história brasileira – hoje, um cenário absurdo de florescimento da anti-política.

O que conferiu a agilidade seca e chamou a atenção no primeiro romance de Kucinski foi fruto da sua formação jornalística. Preciso, cada capítulo tinha um objetivo, era uma progressão – mesmo que ilusória – da busca dos desaparecidos. Sua inclinação kafkiana, como é discutido em um dos capítulos da novela, (não só pelo uso da abreviação K. para o protagonista, como pela sua brevidade, aspecto labiríntico e total desesperança) retorna através da justaposição dos episódios tenuemente conectados, especialmente quando identidade e reconhecimento nas páginas do livro é a razão da visita. Os Visitantes é um outro relato da mesma busca de K., a busca pela verdade, forçadamente interessada nos mecanismos sistemáticos por debaixo do regime, visto que as chances de realmente encontrar a filha desaparecida são quase nulas.

Bernardo Kucinski afirma em entrevistas que sua dedicação à literatura ficcional funciona como uma sobrevida. As páginas derradeiras da novela, no entanto, parecem uma despedida. O destino da filha de K. e de seu marido são reconstruídos em “Post Mortem”. Até lá, a história se sucede da maneira que anuncia o título “Sangue no escorredor de pratos” – lavando roupa suja. Admitindo conscientemente ou não as problemáticas invocadas pelos visitantes, importa é que o narrador incorpora as autocríticas e reflete sobre a complexidade ética do raconteur dos acontecimentos que “desafogou” em seu livro. Porém, mesmo com apenas 90 páginas, como um todo, falta fôlego à articulação da prosa de Kucinski, deixando pontas soltas pelos curtos capítulos. Não equivale-se aos melhores momentos de seu aclamado romance.

Sua desilusão emociona, mas quem procura algo profundo tematicamente vai encontrar em Os Visitantes uma reiteração estilística anódina. Firme em suas convicções políticas, Kucinski parece frágil em seu processo de reconstruir a História ao reconstruir suas histórias e experiências. De tanto alterar suas perspectivas, desgastou-se. Mas o assunto em si, para todos os leitores, não pode ser deteriorado de forma alguma.

Os Visitantes (2016)
Autor: Bernardo Kucinski
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 88


Os 10 Filmes mais Polêmicos sobre Sexo

Qualquer coisa pode se tornar arte. Ela contempla todos os aspectos da existência humana, sem exceção. Se existe alguma consciência estética deliberada sobre qualquer ação ou reação de origem humana, nós podemos considerar algo que chamamos de arte. Pense nisso. Os prédios que nos cercam, as roupas que nos vestem, a comida que comemos, tudo pode envolver algum senso de estilo, que não é necessariamente prático, mas é de alguma forma belo e agradável – nenhum de nós come comida crua, certo?

E, tal qual todos os exemplos acima, o sexo também se tornou uma forma de arte. Desde Freud, que dizia que a pior coisa do sexo era não fazê-lo, até Foucault, que observou com precisão o sexo como uma das relações de poder mais antigas e enraizadas de todas as culturas do mundo, o fato é que uma parte considerável do decorrer de uma vida gira em torno do sexo. Nós o praticamos, nós o assistimos e, mais importante, nós gostamos. Essa é uma afirmação simples e categórica, a partir do momento em que se observa que, sem sexo, nenhum de nós teria nascido.

Pois bem, já que o sexo é uma parte essencial de nós, naturalmente ele se tornou um foco de arte. Conforme velhos tabus foram caindo, o experimentalismo e a ousadia de grandes cineastas e artistas contribuíram para que nós tivéssemos uma visão mais abrangente – seja ela feia ou bela; precisa ou abstrata – do que o sexo realmente é, e o que ele representa para nós. Admita – mesmo que não seja seu gênero favorito, alguns dos filmes que mais te marcaram foram filmes de teor bastante erótico. Sex sells!

Então, nós selecionamos dez filmes eróticos de Hollywood que são relevantes – artisticamente, historicamente ou ambos. Deixe a vergonha de lado, amigo leitor. Vamos falar sobre sexo!

10. Atração Fatal (1987)

Começando a lista com um dos muitos filmes que envolvem o ninfomaníaco mais conhecido de Hollywood, Michael Douglas, Atração Fatal não só é um filme de alto teor erótico – e de grande qualidade – como também pelo resto do roteiro, um thriller de suspense muito bem desenvolvido. Com Glenn Close no auge da sua forma, o duo entre os atores envolve e surpreende na medida certa.

A trama fala sobre um advogado das classes altas de Nova York, Dan, que decide ter um affair com uma mulher sedutora, enquanto sua esposa está fora da cidade. Entretanto, o relacionamento começa a tomar uma forma que Dan considera ameaçadora, e ele decide encerrá-lo. O que ele não imaginava, é que a sedutora mulher fosse se revelar uma psicopata com fortes tendências obsessivas – ao ponto de torna-la uma homicida.

O filme gerou grande polêmica na época por subverter o que seria uma relação padrão de obsessão – o homem adúltero é perseguido pelo seu affair. As cenas de sexo são bem tórridas e intensas – e o mesmo pode-se dizer das cenas de violência. Atração Fatal permanece, mesmo depois de trinta anos, um filme surpreendente.

9. Azul é a Cor Mais Quente (2013)

Saltando no tempo em direção 2013, nós temos um outro destruidor de tabus – o que impressiona, já que, estando bem imerso no século XXI, o filme não deveria ser tão chocante assim. Mas o fato de inevitavelmente ter sido mostrado que, independente do quanto tenhamos avançado nesse sentido, a sexualidade, de muitas formas, ainda permanece um tabu – muito longe de ser tratado com a naturalidade que deveria.

Apesar de tudo, não é nenhuma surpresa. Pois o filme apresenta, de maneira crua – mas sem ser indelicado – a homossexualidade como algo tão belo e complexo quanto qualquer outra forma de relacionamento. As protagonistas Emma e Adèle são tão confusas e indecisas quanto muitas pessoas que conhecemos – e ainda tem que lidar com a resistência do mundo a sua volta, que insiste em rejeitar e tornar complexo algo que, em essência, é muito simples.

Tão simples que o filme, como um todo, se resume a isso – Adèle descobrindo sua verdadeira sexualidade através de Emma. E, através da manifestação natural da sua verdadeira sexualidade, ela também descobre o amor. O filme choca muito menos pelo que ele mostra, do que pelo que ele diz – que existem muitas formas legítimas de amar.

Claro, existe uma grande dose de choque também pelas cenas de sexo. Diretas, objetivas e extensas, elas mostram como funciona a dinâmica entre duas mulheres, desfazendo por completo a ilusão criada pela pornografia rasa com a qual o público masculino está acostumado. Talvez por isso o filme cause tanta controvérsia – ele desconstrói algumas das nossas ilusões sobre o sexo feminino, e por isso está na lista.

8. Anticristo (2009)

Apesar de polêmicos, os filmes anteriores têm um nível de aceitação geral por público e crítica. Não é o caso deste aqui. Passados quase dez anos, Anticristo ainda é um filme que divide opiniões e ânimos – tem quem ache uma obra de arte válida, tem quem ache uma abominação que não deveria ter visto a luz do dia. E, se é polêmica, merece ser citada.

Lars Von Trier é um sujeito que precisa de muita terapia e remédios tão pesados quanto forem possíveis. Mas, aparentemente, ele realmente gosta de dividir sua angústia com o público, em uma espécie de sessão terapêutica em escala global. E quem sofre somos nós.

Felizmente, nada que chegue nem perto do que Charlotte Gainsbourg faz Willem Dafoe sofrer. Para Von Trier, sexo é uma coisa que envolve dominação e dor. Não é apenas mais emocionalmente saudável do mundo, mas a perspectiva que ele nos impõe através de Anticristo é, no mínimo salutar – tudo o que é muito bom, pode se tornar igualmente ruim, nas devidas circunstâncias.

A circunstância ruim é a perda do filho do casal durante um ato sexual. Isso deixa a esposa profundamente marcada. O marido toma para si a tarefa de juntar os cacos e tentar seguir com a vida. O que ele não contava era a maneira como a esposa ia processar esse evento e, principalmente, como iria direcionar e extravasar sua dor.

Um filme extremamente polêmico, que não perder nada do seu potencial de choque até aqui. Assistir Anticristo ainda é uma experiência para a qual se precisa estar preparado – sob o risco de entender que o filme é apenas o pior bdsm que você já viu na vida.

7. Proposta Indecente (1993)

Sexo, além de arte e prazer, também é um negócio. Tão velho quando a própria raça humana, diz a sabedoria popular. O que levanta a questão – quanto vale o seu corpo? O meu não deve valer muita coisa; talvez um sanduba de mortadela no Mercadão. Mas Robert Redford estava disposto a pagar um milhão de dólares por Demi Moore. Você aceitaria?

Embora não tenha sido um grande sucesso de crítica, Proposta Indecente fez um caminhão de dinheiro não apenas pela enorme carga erótica que o próprio mote da trama envolve, mas pelo fetichismo que é a base do conceito da trama – todos nós temos um valor. Pelo preço certo, você pode ter quem você quiser, dar o que você quiser (não no mau sentido, seu pervertido).

O casal formado por Woody Harrelson e Demi Moore está mal das pernas financeiramente, e toma uma decisão muito prudente – ir para Las Vegas tentar a sorte. Depois que o óbvio se reafirma como o óbvio, um bilionário aparece oferecendo esse caminhão de dinheiro para ter Moore por uma noite. O dinheiro é a solução para todos os problemas do casal – se o evidente dilema ético da proposta puder ser superado.

O que nós temos é um vai-e-vem em torno de tabus, questões éticas e dilemas conjugais, conforme ambos mudam de opinião e conforme a presença do personagem de Redford vai criando uma espécie de triângulo emocional doentio. Proposta Indecente pode não ser o filme mais bem executado dessa lista, mas ele nasceu para ser polêmico. E continua sendo.

6. Orquídea Selvagem (1989)

Um exemplar não apenas de erotismo, mas quase pornografia. E com um toque latino! Orquídea Selvagem é um filme menos complexo do que os anteriores, mas cuja polêmica gira em torno do fato de ser praticamente um soft porn de grande orçamento e envolvendo nomes de peso em Hollywood na época. O que chama realmente a atenção no filme é menos o que está em cena, e mais o que aconteceu fora dela.

O diretor e roteirista, Zalman King, foi obrigado a eliminar algumas cenas de sexo entre os protagonistas Rourke e Ottis sob o risco de o filme receber um X-rating, que a censura americana reserva apenas para material pornográfico ou outros inviáveis de se exibir para um público regular. Obviamente, isso iria limitar brutalmente o potencial comercial do filme.

O que significa que a edição original do filme era ainda mais erótica do que a que foi aos cinemas. Então, até dá para entender o tal do X-rating, porque o filme, por si só, está a um passo de ser exibido em canais “fechados”, se é que o amigo leitor entende.

A trama, como dissemos, não tem nada de complexa. Voltamos ao conceito do sexo como forma de poder, com Jacqueline Bisset usando Mickey Rourke – no auge da sua forma – como peão em um jogo de sedução envolvendo uma jovem competidora de um cargo corporativo, Carré Ottis. Claro, em se tratando de dois jovens extremamente atraentes, o controle do jogo rapidamente foge das mãos da personagem de Bisset.

Uma dica – não assista esse filme com a família do lado. De verdade.

5. Os Sonhadores (2003)

O primeiro dos filmes de Bernardo Bertolucci na lista (e você sabe qual é o outro), Os Sonhadores talvez seja um dos filmes mais liberais dessa lista. Tão liberal que quase prejudicou em um nível particular a atriz Eva Green, que alegou posteriormente em entrevistas que quase se estafou emocionalmente por ter que andar nua pelo set durante uma parte considerável da produção. Não somente isso, mas também por apresentar uma das dinâmicas de relacionamento mais controversas de toda essa lista. Se você acha que está jogando o jogo liberalismo bem, Bertolucci nos mostra o que é o nível hard da coisa.

Não poderia ser diferente. O filme se passa durante a revolução estudantil de Maio de 68 na França, um momento histórico onde jovens se uniram com um único objetivo – lutar contra o establishment. Enquanto do lado de fora, uma revolução acontecia, dentro do apartamento dos irmãos Isabelle e Theo acontecia uma pequena revolução na vida de Matthew, um estudante de intercâmbio.

Embora o filme não seja absolutamente genial, ele trabalha a sexualidade de um ponto de vista natural que, em um determinado ponto, surte efeito. Quando se descreve o filme como um triângulo amoroso entre dois irmãos gêmeos e um garoto, sendo todos muito jovens, existe um óbvio choque. Entretanto, o filme exibe tanta nudez, tanto sexo, com tanta naturalidade, que em algum lugar esquecemos que aquilo deveria nos chocar.

A imagem dos corpos nus torna-se apenas mais um elemento na tela, e, quando ultrapassamos esse limite, conseguimos nos focar no que realmente se trata a trama – o envolvimento emocional entre os protagonistas. Pode-se dizer muita coisa sobre esse filme, mas não que Bertolucci não prova o seu ponto – sexo choca enquanto achamos que ele deve chocar.

4. Ata-me! (1990)

Pedro Almodóvar é sempre um cineasta em que se deve prestar atenção. Ele é provavelmente um dos melhores analistas de relações humanas em Hollywood nesse momento – por mais controversos que seus filmes possam eventualmente ser, todos os seus filmes são absolutamente reconhecíveis, e nenhum deles é raso ou fácil de se entender. Ata-me, uma de suas primeiras parcerias com seu “muso” Antonio Banderas, não é diferente.

Não bastasse o duo Almodovar/Banderas ser o bastante para chamar atenção o filme também está envolto em polêmica – tendo sido um sucesso de público e crítica na Espanha, o filme quase naufragou em terras americanas. O puritanismo ianque quis aplicar sobre o filme o já mencionado X-rating, reservado a filmes pornográficos ou inviáveis para o público comum. Entretanto, o valor artístico do filme foi considerado tamanho, que a censura americana criou uma nova classificação – NC-17 – para que o filme pudesse ser exibido em cinemas comuns.

A trama mostra Rick, paciente de uma instituição psiquiátrica que, ao sair, decide ir até Marina Osorio, um ex-atriz pornô com quem ele havia dormido durante uma de suas fugas da instituição. Obcecado pela mulher, Rick acaba conseguindo prende-la a uma cama, e decide não deixa-la sair dali até que ela aprenda a ama-lo. Obviamente, o filme envolve uma carga pesadíssima de bdsm, quase justificando o veto inicial da censura americana.

Ata-me!, apesar de não ser um filme fácil de se digerir, é um grande exemplo de como a mente de Almodovar funcionava quando mais jovem. Como dissemos, ele é um observador das relações humanas, e sempre fez questão de expor sem dó, mas com classe, o que existe por baixo das aparências.

E se não bastasse tudo isso, a trilha sonora ainda é de Ennio Morricone. Quer mais?

3. 9 ½ Semanas de Amor

Mais um filme com Mickey Rourke na lista, contando também com o furacão Kim Bassinger no auge da sua forma. Outro filme que explora o lado mais devasso do sexo, com momentos explícitos de bdsm (aparentemente, as pessoas em Hollywood não se contentam com sexo só bacana), 9 ½ de Amor se tornou uma espécie de clássico/referência em termos de “pornografia” socialmente aceita.

Uma parte dessa consistência se dá pelo fato de que as atuações do casal protagonista são boas. Rourke não é considerado uma promessa perdida à toa – ele tinha talento, e o demonstrava. Bassinger também não era de todo ruim, e esse filme é uma prova disso. Com um roteiro não denso, mas sexualmente pesado, seria muito fácil perder a mão, o que não acontece aqui. Entre filmes que nós podemos chamar de eróticos, 9 ½ de Amor talvez seja um dos mais bem executados – dentro das possibilidades, claro.

O mote do filme gira em torno da distinção que muitas vezes fazemos entre nossas vidas sexuais e outros setores dela. Muitas pessoas pensam de forma compartimentada – trabalho não se mistura com família, que não se mistura com sexo, que não mistura com amizade, e por aí vai. O personagem de Rourke é assim; a personagem de Bassinger, não. O que provoca uma clara cisão entre eles – embora o sexo seja instigante, não existe uma real aproximação desse limite. O que não significa, em absoluto, que não exista relação nenhuma.

A dificuldade em observar esses compartimentos da vida é o que força a relação entre eles para um determinado rumo. E, de certa forma, uma reflexão para o espectador. Exatamente por causa dessa complexa relação – e, claro, pelo sexo – 9 ½ foi um sucesso comercial. Em terras paulistanas, por exemplo, o filme chegou a ficar cerca de um ano e meio sendo exibido ininterruptamente no Cine Belas Artes.

Um feito e tanto para um filme de “apenas” sexo.

2. Instinto Selvagem (1992)

É claro que sim. Você tinha alguma dúvida de que esse filme estaria aqui?

O amigo leitor já percebeu que a virada dos anos 80 para os 90 foi recheada de filmes com altíssimo teor erótico e diversas quebras de paradigmas no cinema. Pois coube ao brilhante diretor holandês Paul Verhoeven criar esta que talvez seja a mais emblemática obra erótica do cinema mainstream hollywoodiano.

Como não poderia deixar de ser, o filme é todo envolto em polêmicas. Mesmo antes de ser lançado, Instinto Selvagem gerou imensa controvérsia pela sua enorme carga de sexualidade, além de uma representação explícita de violência. Ele sofreu uma imensa oposição de ativistas dos direitos homossexuais, que criticaram o filme pela maneira como exibia relações homossexuais – além, é claro, da representação de uma mulher bissexual como uma psicopata assassina e narcisista. Um currículo e tanto.

Apesar dessas reprimendas iniciais, não há o que discutir – Instinto Selvagem foi um sucesso colossal. Com Sharon Stone habitando os sonhos molhados de 11 entre cada 10 membros do público masculino do período – e com o bônus de Michael Douglas ainda aceitável para o feminino – o filme arrecadou mais de 350 milhões de dólares de bilheteria; o que, no início dos anos 90, era quase inacreditável para um suspense erótico.

A trama fala sobre um detetive que investiga o assassinato de um rockstar famoso. Todas as pistas levam a romancista interpretada por Sharon Stone, que escrevia um livro cujo crime era rigorosamente idêntico às circunstâncias do assassinato. Assim, ela passa a usar todo seu poder de sedução para conduzir aqueles que deveriam conduzi-la.

Outra das polêmicas envolvendo o filme veio à tona somente em 2006, quando Stone declarou que a épica cena da cruzada de pernas foi filmada sem sua permissão. Com ou sem permissão, o fato é que a cena entrou para a história do cinema. E o público masculino – e uma parcela do feminino – agradece.

1. O Último Tango em Paris (1972)

Obviamente, o amigo leitor já sabia qual filme estaria no topo da lista. Cercado de polêmicas intensas, que no início envolviam violência gráfica e estupro em tela que lhe renderam altos índices de censura na época, e posteriormente se tornaram afirmações abertas de estupro real no set, Último Tango é uma daquelas obras que nos provocam de uma tal forma, que às vezes somos obrigados a nos questionar sobre o real valor da obra em si.

O próprio conceito da narrativa, um homem viúvo de uma suicida que passa a ter um relacionamento estritamente sexual com uma garota muito mais nova enquanto ainda está de luto, já é perturbador o bastante. Mas quando se vê como esse relacionamento se desenvolve, é ainda mais difícil de deixar a obra se desenrolar, porque as cenas não são somente muito eróticas – elas forçam o limite do que consideramos aceitável.

Porque, diferente da pornografia chula, que é simplesmente apresentação banal de sexo, Último Tango se pretende ser uma obra de arte, e Bertolucci, que por louco que possa ser, é um bom diretor e consegue criar um certo nível de conexão e empatia com a narrativa e seus personagens. O que é um problema, porque, como dissemos, tudo no filme é muito perturbador, e se conectar com ele não provoca a melhor das sensações.

Muitos diriam aqui que não é função da arte somente agradar – que é isso que a diferencia de mero entretenimento. Mas o fato é que esse filme nos leva longe nesse questionamento, e a luz dos fatos recentes no obriga a perguntar se mesmo a arte não deve questionar a si mesma, antes de se propor a questionar seu público. Maria Schneider que o diga. Afinal, até onde podemos afirmar que Brando estava realmente atuando?

É para se pensar. Mas não somos nós que vamos responder.

Menções Honrosas:

Império dos Sentidos (1976 - Nagisa Ôshima)

Ninfomaníaca: Vol. I e Vol. II (2013 - Lars von Trier)