Crítica | Silvio é comedia de erros da ficção e da realidade

Crítica | Silvio é comédia de erros da ficção e da realidade

Vítima de uma infeliz coincidência, Silvio chega às salas de cinema pouco depois da morte do apresentador lendário e dono de um conglomerado de mídia. Amado por muitos e criticado por outros tantos, Silvio Santos talvez merecesse uma cinebiografia (que na verdade não é exatamente isso) à altura de sua popularidade.

Na trama, acompanhamos um curto intervalo de tempo entre a aparente resolução do sequestro da filha do apresentador, a fuga do chefe dos sequestradores e uma nova tentativa de sequestro - desta vez, na mansão do próprio Silvio, que acaba cercada por policiais, imprensa e autoridades. Esse período é entremeado não só por flash-backs da vida do comunicador, como também por delírios da mente do criminoso.

Temos na tela, então, duas comedias de equívocos. A primeira tem fonte na realidade: chega a ser inacreditável como o criminoso foge e depois consegue invadir a casa de um milionário que acabara de ter a filha sequestrada, mas que não pensa em momento nenhum em colocar um segurança que seja em sua porta. Bem, esperem: este é o Brasil e isto realmente aconteceu. Ademais, as confusões e o festival de incompetência e demagogia do poder público são reais e parecem seguir fielmente os eventos como os conhecemos hoje. Uma piada mesmo.

A segunda comedia de erros é a abordagem que o próprio filme faz do seu material. Como aparentemente ninguém na produção estava convicto do que fazer (um filme de sequestro? uma cinebiografia? um drama realista?), na dúvida resolveram fazer tudo: e tudo mal. O roteiro então junta o episódio da invasão, os flash-backs da vida de Silvio Santos (que mais parecem um trailer de outro filme entrecortado neste) e o delírio do universo mental do sequestrador. Nenhuma das três linhas narrativas funciona muito bem, mas a última parece especialmente mal encaixada e amadorística (defeito intolerável para um filme de orçamento relativamente grande para os padrões brasileiros).

Rodrigo Faro faz o que pode com o pouco que tem e tenta se sair dignamente da maquiagem e do roteiro que ora faz com que ele se mostre o apresentador que conhecemos, ora tente conferir ao personagem uma face mais humana e "naturalista". No final, ele também fica no meio-termo, como o filme, sem saber direito qual caminho tomar.

A direção de Marcelo Antunez (de Rodeio Rock) aparece como autêntico compilado dos cacoetes do cinema brasileiro de entretenimento: toda cena precisa de algum efeito, de algum "realce" - seja na edição de som, na câmera lenta - porque nunca se pode confiar totalmente no drama que o roteiro propõe. O resultado é uma mistura esquisita que ora parece novela, ora parece comercial de TV, mas raramente cinema. Isso sem contar a fixação irritante em primeiros planos, uma sucessão de testas falantes em que todo o espaço cênico se resume a um pingue-pongue entre rostos quase o tempo inteiro. O filme não respira e o público se cansa em algum momento.

O que permanece quando Silvio termina é uma vaga sensação de que o personagem-título era, enfim, uma pessoa comum, com um passado também assolado por tristezas e fracassos. Talvez se o filme houvesse optado por mostrar esse lado (sem os efeitos constantes, sem a edição irriquieta, sem as confusões entre gêneros cinematográficos), ele funcionasse como um drama humano. Da forma como ficou, parece um programa de auditório não exatamente bem sucedido.


Feios, da Netflix, chega ao catálogo nesta sexta-feira 13 - Foto: Netflix

Crítica | Feios, da Netflix, tenta reviver o gênero jovem-adulto, mas falha em tudo

Feios, da Netflix, é adaptação de livro famoso

Feios, da Netflix, chegou ao catálogo nesta sexta (13) com a promessa de reviver o gênero jovem-adulto, tão popular há cerca de uma década. Naquela época, estávamos cercados por sagas que dominavam os cinemas com suas tramas distópicas e jovens protagonistas desafiando sistemas opressivos. Porém, essa era de ouro passou, e o que sobrou para Feios foi uma tentativa tardia de resgatar o brilho desse estilo de narrativa.

A história de Feios, que é uma adaptação do romance de 2005 de Scott Westerfeld, segue Tally, uma adolescente de 16 anos, interpretada por Joey King, que vive em uma sociedade futurística onde todos são obrigados a passar por uma cirurgia chamada "A Transformação". Esse procedimento altera suas aparências "imperfeitas", tornando-os "Perfeitos" e permitindo que vivam em uma cidade paradisíaca, onde todos são bonitos, jovens e festejam sem preocupações. A premissa soa familiar, não é? É o tipo de história que já vimos em outros filmes e séries, e é justamente aí que está o problema. O filme cai em tropos que, embora funcionassem no início dos anos 2010, agora soam previsíveis e cansativos.

Joey King, conhecida por suas atuações em A Barraca do Beijo e O Ataque, tem um papel difícil aqui. Sua personagem, Tally, deveria ser o coração do filme, mas a interpretação dela acaba sendo sem brilho. Isso não é completamente culpa da atriz, que já mostrou talento em outros trabalhos, mas sim do roteiro, que não lhe dá muito com o que trabalhar. Sua jornada de autodescoberta e resistência ao sistema, que deveria ser emocionante, passa sem grandes momentos marcantes, resultando em uma protagonista que não consegue cativar totalmente o espectador.

Mais pontos negativos do que positivos

Do lado oposto da trama, temos a Dra. Cable, interpretada por Laverne Cox (Orange Is the New Black). Ela é a vilã que controla o destino de Tally e os outros jovens prestes a passar pela Transformação. Infelizmente, nem mesmo o carisma de Cox consegue salvar sua personagem de ser pouco desenvolvida. A Dra. Cable é apenas uma figura autoritária sem profundidade, seguindo o clichê de "governo opressor" que já vimos em tantos filmes do gênero.

O que realmente incomoda em Feios é a sensação de que o filme não traz nada novo. Temos uma sociedade autoritária, uma protagonista que descobre que algo está errado, uma amiga rebelde, e, claro, um grupo de resistência vivendo à margem da sociedade. A amiga em questão é Shay, interpretada por Brianne Tju, que foge para a Fumaça, um grupo que rejeita a Transformação e vive de forma "natural" na floresta. Essa dinâmica de cidade versus natureza já foi explorada de maneira mais interessante em filmes como Jogos Vorazes, onde a divisão de classes era representada de forma mais contundente. Aqui, tudo parece uma versão diluída das ideias que esses filmes anteriores já abordaram.

Outro ponto que prejudica Feios é sua direção. McG, conhecido por filmes como As Panteras e O Exterminador do Futuro: A Salvação, entrega um trabalho que parece desinteressado. Não há grande inventividade visual ou sequências de ação memoráveis que poderiam elevar a experiência.

O design de produção de Feios, da Netflix, que deveria destacar o contraste entre a cidade dos Perfeitos e a Fumaça, é insosso e pouco inspirado. A cidade, que deveria ser uma utopia brilhante e sedutora, parece apenas mais uma cidade genérica de ficção científica, sem identidade própria. Já a Fumaça, com seu estilo de vida rústico, também não impressiona. Não há uma construção de mundo convincente que nos faça realmente acreditar nas escolhas que os personagens estão fazendo.

A trilha sonora também merece destaque, mas não pelos melhores motivos, já que o tempo todo parece uma tentativa falha de recriar a atmosfera de filmes indie. É o tipo de escolha que poderia funcionar, se fosse bem utilizada, mas aqui soa deslocada e sem impacto.

Tarde demais

Com tudo isso, Feios, da Netflix, é um filme que chega tarde demais para seu próprio bem. Se tivesse sido lançado na mesma época que Jogos Vorazes e Divergente, talvez tivesse encontrado um público mais receptivo, mas agora, em 2024, ele parece mais uma cópia pálida do que já vimos antes. A própria narrativa, com suas divisões de classes rígidas e vilões autoritários, soa ultrapassada em um cenário onde o gênero jovem-adulto está lutando para se reinventar.

Feios tenta abordar temas relevantes, como a obsessão com a beleza e o controle social, mas falha em trazer uma nova perspectiva para essas questões. É uma adaptação que não acrescenta muito ao livro original e que, no final das contas, se perde em um mar de clichês e fórmulas desgastadas. Para os fãs do gênero, talvez seja uma experiência nostálgica, mas para os que buscam algo inovador, Feios decepciona.

É difícil não se perguntar o que aconteceu com o gênero jovem-adulto. Onde antes tínhamos histórias que realmente mexiam com a imaginação, agora temos filmes como Feios, que, apesar de terem potencial, não conseguem entregar algo que vá além do básico.


Crítica | Não Fale o Mal usa a velha fórmula de refazer uma boa ideia (e estragá-la)

Crítica | Não Fale o Mal usa a velha fórmula de refazer uma boa ideia (e estragá-la)

Diz a lenda que o visionário produtor da Hollywood clássica, Irving Thalberg, fazia questão de ser fiel aos livros e peças de teatro que adquiria sempre que levantava suas produções. Ele acreditava que, quando você adapta uma obra original de sucesso, nunca sabe realmente qual o segredo do êxito, e portanto o mais razoável seria sempre permanecer o mais próximo possível do material original.

Agora, vamos saltar quase um século para frente até chegarmos a 2024: Não Fale o Mal é a refilmagem norte-americana da produção dinamarquesa de mesmo nome e lançada em 2022. Nos dois filmes, a trama parte de uma situação corriqueira: de férias na Toscana, dois casais com um(a) filho(a) acabam fazendo amizade e combinam vagamente de voltar a se ver em breve. Um dos casais vive em Londres e passa por uma crise matrimonial; o outro casal vive no campo e convida o primeiro para um final de semana de isolamento e passeios ao ar livre. Marido e mulher aceitam e partem na viagem levando sua menina.

Como você estraga uma boa ideia trocando originalidade por repetição de clichês em Não Fale o Mal

O original (dirigido por Christian Tafdrup e roteirizado por ele e por Mads Tafdrup) é mais um dos filmes muito interessantes do circuito independente que não dão as caras por aqui. Colecionou prêmios e indicações a ponto de chamar a atenção de Hollywood, que comprou o roteiro para uma nova versão em inglês. É de se imaginar (usando lógica elementar) que, se o filme tem qualidades a ponto de valer a pena fazer uma nova versão (com elenco famoso e mais alcance de mercado), é pelo que ele tem de diferente e não por ele repetir chavões e situações que vemos todos os dias em filmes do gênero. Logo, o mais natural seria que a refilmagem preservasse o que ele tem de melhor: ou seja, seu diferencial.

Quem já assistiu ao filme original sabe que ele é uma crônica social muito ácida transmitida pelo diretor em forma de um filme de suspense. O resultado é incômodo e provocativo e é bem expresso em seu título: no caso, a melhor tradução para "Speak No Evil" poderia ser "Finja que não viu" ou algo parecido. As questões que o roteiro original propõe são: Até onde você finge que nada está errado apenas para preservar a polidez social e evitar constrangimento ou confrontação? Vale arriscar a cautela e o instinto de sobrevivência somente para escapar de um instante desconfortável?

A versão dinamarquesa (cuja fama é um prêmio para o rigor e a originalidade do tratamento) mantém tal premissa até o limite (ou seja, até o desfecho, que é devastador). É bizarro e incômodo do início ao fim pela fidelidade a seu próprio universo de valores e ao conjunto de conflitos sobre os quais se debruça. Não faz concessões às convenções de gênero ou ao espetáculo. Deve ser por isso que chamou atenção da indústria. E aí a indústria foi lá, fez tributo a ele e, em retribuição, destruiu o conceito na refilmagem.

Refilmagens são a nova praga da indústria

Seria ótimo que o original de 2022 pudesse ganhar maior projeção com uma distribuição de peso (chegando até mesmo ao Brasil). Mas na impossibilidade disso, a refilmagem poderia fazer o mesmo que Michael Haneke fez com seu próprio Violência Gratuita, que ele refilmou em inglês repetindo praticamente página por página do tratamento original. E é quase isso que o diretor e roteirista James Watkins faz na versão de 2024: por cerca de uma hora, a refilmagem segue os passos seguros e perspicazes no outro filme - há clima, mistério, incômodo, um diálogo repleto de coisas não ditas e pequenos mal-entendidos que vão aumentando a tensão por baixa da mesa.

Até que ele...bem, ele desiste. Depois da metade, o que era um filme original e que não sairia da cabeça do espectador por dias cai na vala comum do jogo de gato e rato, da correria e da barulheira típicas de 95% dos filmes hollywoodianos do subgênero de "perseguição": alguém persegue, outro alguém foge, um procura, outro se esconde, um personagem precisa "salvar o dia", você sabe que todo mundo vai se machucar em algum nível mas, bem, no final é o de sempre.

Não Fale o Mal está longe de ser o primeiro filme estrangeiro destruído em sua versão norte-americana. Basta se lembrar da obra-prima argentina O Segredo de Seus Olhos, que virou o terrível primo gringo Olhos da Justiça, ou da desanimadora refilmagem norte-americana do clássico sul-coreano Oldboy. O espectador que assiste a qualquer das novas versões terá uma pálida noção do que era o material original.

O que sobra aqui, por sua vez, é a presença sempre poderosa de James McAvoy, cada dia mais parecido com uma versão renovada de Russell Crowe. É pouco para o filme que poderia ser o melhor de seu gênero na temporada. Irving Thalberg teria preservado mais do original - afinal, como saber se a parte que foi modificada não era o real motivo de prestígio do primeiro filme?

https://www.youtube.com/watch?v=mSzsQuRQ9Z8


Crítica | A Substância mistura horror e humor mas se sustenta na dupla de atrizes

Crítica | A Substância mistura horror e humor mas se sustenta na dupla de atrizes

Na crescente onda de novas realizadoras dentro da indústria, a francesa Coralie Fargeat (do anterior e nem tão conhecido Vingança, de 2017) conquistou grande reconhecimento em Cannes este ano ao levar o prêmio de melhor roteiro por A Substância, que chega agora aos cinemas brasileiros. Seu filme é uma mistura provocativa (mas também apelativa) de ficção científica, horror e comedia de humor negro.

Na trama, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma estrela de TV decadente que, após perder seu emprego como apresentadora, decide utilizar uma terapia experimental e secreta que replica suas células de modo a criar um clone mais jovem de si mesma (Margaret Qualley) e que pode ser usado sob condições e prazos muito específicos. Quando as circunstâncias levam a uma repetida infração das regras do experimento, as consequências são devastadoras para a paciente.

Por que o filme tem chamado tanta atenção

Embora se alongue demais - especialmente num clímax exagerado e escatológico - o filme consegue divertir e, ao mesmo tempo, propor uma reflexão superficial a respeito do culto à juventude e à aparência (especialmente feminina), uma exigência constante e estimulada pelos meios de comunicação de massa. A atuação de Moore é particularmente comovente (porque ela literalmente é "desmontada" na tela), mas o filme dificilmente funcionaria tão bem se seu contraponto não fosse interpretado por uma radiante Margaret Qualley.

A pretensão de "crítica social" de A Substância perde força por apostar completamente na caricatura e em soluções esquemáticas de roteiro. Todos os homens no enredo são figuras patéticas e desprezíveis, o que reduz a observação sociológica ao nível do desenho animado. Além disso, a fixação em mostrar imagens "chocantes" (sangue, vísceras, ferimentos) soa infantil e apelativa, deixando pouco espaço para a sutileza e a imaginação da plateia.

Outra deficiência do filme está em soluções de roteiro que desprezam completamente a lógica interna, como quando Elisabeth se transforma magicamente numa marceneira profissional ou quando, já bastante debilitada fisicamente, consegue correr e carregar peso com extrema facilidade. A aposta na "ficção científica" muitas vezes é entendida de maneira cartunesca, o que coloca o filme muito abaixo de clássicos do gênero (que respeitam a verossimilhança mesmo dentro de premissas fantásticas).

Mais um filme repleto de referências

A Substância se nutre de diferentes fontes para construir seu universo imaginário e visual, que aliás é bastante poderoso e um dos seus pontos altos. A mais evidente delas é o cinema de David Cronemberg, mas também ficam bastante explícitas as citações a Stanley Kubrick (especialmente com Laranja Mecânica e O Iluminado), não só em detalhes do cenário e direção de arte de modo geral (repare no carpete do estúdio e nas paredes vermelhas), no figurino de Harvey (Dennis Quaid), como também na composição geométrica de muitos quadros e no uso de lentes mais curtas. Ao final, Fargeat não se contém e chega a usar "Assim Falava Zaratustra" de Richard Strauss para sua apoteose.

Outras referências estão nos clipes musicais dos anos 1990 (como os de Benny Benassi, uma evidente fonte de inspiração para as coreografias do show de Sue) e o clássico de horror B dos anos 1970, Nasce um Monstro.

É difícil ser indiferente ao filme, mas...

Ao escolher o choque e não a sutileza e deixar pouquíssimo espaço para o juízo do espectador, A Substância não permite que a plateia fique indiferente, provocando ora repulsa, ora riso nervoso. Mas acidentes de carro, quebras bancárias e velórios de crianças tampouco deixariam a mesma plateia indiferente (e nem de longe são coisas boas). Se apostasse menos no horror visceral e mais na intensa presença e no jogo de cena de sua dupla de talentosas atrizes, o filme fatalmente sobreviveria melhor ao tempo. Veremos quantos cinéfilos ainda se lembrarão dele daqui a 10 anos.

https://www.youtube.com/watch?v=jEUc1ZYoy-k


Review | Ace Attorney Investigations Collection traz versão definitiva e até game “inédito”

Review | Ace Attorney Investigations Collection traz versão definitiva e até game “inédito”

Há anos que a Capcom vem trabalhando intensamente em remasterizar e disponibilizar toda a franquia Ace Attorney em todos os consoles possíveis. Agora, enfim, parece que todos os jogos importantes da franquia foram renovados com o lançamento de Ace Attorney Investigations Collection. 

Os derivados foram lançados originalmente em 2009 e 2011 trazendo aventuras intrincadas do rival de Phoenix Wright, protagonista dos jogos principais - o carismático e arrogante Miles Edgeworth. 

Com inúmeras novidades, o presente mais importante da coletânea é a localização inédita de Ace Attorney Investigations 2: Prosecutor’s Gambit que só havia sido lançado no Japão até então, obrigando os fãs a procurarem outras fontes que trariam a tradução não oficial do título.

https://www.youtube.com/watch?v=PLFMaakr_xg

DNA Próprio de Ace Attorney

Quem nunca jogou a saga Ace Attorney antes, assim como eu, pode se enganar acreditando que há experiências similares no mercado com jogos de investigação como a franquia Sherlock Holmes ou o majestoso L.A. Noire. Muito embora Investigations tenha certa semelhança com os jogos citados, ele é uma experiência totalmente própria e distinta. 

O derivado tem uma proposta diferente ao trazer o cerne da experiência as mecânicas de investigação enquanto o drama dos tribunais é um tanto mais secundário. Como comentar sobre as narrativas envolve bastante spoiler, ambos os jogos ficam em diferentes casos, como assassinato e tentativa de assassinato, que estão relacionados à conspirações maiores. Para isso, Miles Edgeworth e seu detetive parceiro Gumshoe são encarregados de investigar e descobrir as tramoias montadas. 

O primeiro game, talvez por um pouco de falta de experiência, traz uma história mais enxuta e menos surpreendente, enquanto o segundo é muito melhor trabalhado com diversas reviravoltas boas, além de oferecer um desafio mais complexo e personagens mais interessantes. Também é válido notar que os jogos possuem um bom humor particular, além de terem uma pegada mais realista que os tornam uma experiência à parte da franquia. 

Como o próprio nome já diz, Miles precisa encontrar diversas pistas nas cenas de crime, além de entrevistar suspeitos e figuras presentes na hora da intercorrência. As pistas podem ser unidas através de uma mecânica de lógica/dedução, dando origem para novas narrativas ou pistas que serão importantes nos desfechos dos casos. 

No momento dos confrontos, o jogador terá que pressionar os suspeitos para tirar mais informações, além de saber escolher o momento certo de apresentar as provas que refutam alguma mentira. Em caso de erro, o jogador é penalizado até a vida de Miles se esgotar e entrar em um cenário de Game Over. 

Essas são as mecânicas principais dos jogos, enquanto no segundo há apresentação do ‘Xadrez Mental’, muito similar às entrevistas com personagens em L. A. Noire, mas no formato da franquia. Entretanto, se o jogador errar a exata ordem das perguntas ou não saber o momento de ficar quieto, falhar o jogo vai levá-lo ao começo de todo o interrogatório - o que pode ser bem frustrante às vezes. 

São passagens bem divertidas e que não cansam pelo duelo verbal ser bastante intenso, além das artes dos personagens serem muito expressivas. Mas é muito importante destacar que o jogo, embora seja enquadrado como um quebra-cabeça “point and click” disfarçado - é possível controlar Miles pelos cenários das investigações - toda sua apresentação é centrada em Visual Novel. 

Logo, é importante o jogador já estar ciente do caminhão de textos que terá de enfrentar. Em inglês, principalmente, já que não há localização para português no lançamento. Apesar de ser bastante interativo e exigir atenção, apertar X ou A para correr o texto, eventualmente se tornará uma experiência maçante (ainda bem que há a opção de acelerar a apresentação dos textos, além de outras opções gráficas da caixa de dialogo).

Mesmo não sendo um veterano da franquia, sei que os jogos Investigations são repletos de referências a eventos da trilogia de Phoenix Wright, além de trazer diversos personagens que já deram as caras nos games principais. Até mesmo entre os dois títulos, há referências e citações de casos do primeiro jogo. Então os fãs de longa data terão muito divertimento ao reconhecer faces familiares e situações dignas de muitos OBJECTION em diálogos bem elaborados. 

Review | Ace Attorney Investigations Collection traz versão definitiva e até game “inédito”
Capcom

Apresentação caprichada

Tratando-se de um remaster de jogos que já possuem mais de uma década, é bem legal notar o empenho da Capcom em modernizar o visual dos jogos. Aqui há uma apresentação totalmente inédita com sprites animados em alta definição. O melhor disso é notar as novas expressões faciais para os personagens. Para os nostálgicos, é possível ainda alterar a apresentação visual em gráficos pixelizados dos originais. 

Ambos os games possuem vastas galerias de arte, troféus e trilhar musicais trabalhadas até mesmo em orquestra, o que é ótimo já que as músicas certamente são um dos pontos fortes do jogo que não possui dublagem para os personagens (novamente enfatizo a montanha de texto que o jogador vai encarar). Há também o modo história que resolve todos os mistérios automaticamente, permitindo que o jogo se comporte como uma visual novel totalmente tradicional.

A Capcom também tomou uma boa decisão ao trazer a seleção de capítulos, permitindo que os jogadores possam desfrutar das passagens ou investigações favoritas sem a necessidade de encarar a campanha inteira de cada jogo que possui cinco capítulos cada. 

Além disso, para encorajar uma nova jogatina do original, ambos os títulos possuem uma lista generosa de conquistas para desbloquear. 

Review | Ace Attorney Investigations Collection traz versão definitiva e até game “inédito”
Capcom

O olhar ao passado para destravar o futuro

Finalmente após todas as coletâneas lançadas, é seguro apostar que a Capcom deve trazer o sétimo Ace Attorney muito em breve. Enquanto isso, fãs e novatos podem se divertir com o ótimo Investigations. Ter Miles Edgeworth como protagonista de primeira viagem é uma ótima oportunidade para conhecer essa franquia tão única e especial da desenvolvedora.

Deixo um ardendo apenas que esses jogos devem ser muito mais divertidos no formato mobile. Então são perfeitos para um Switch, Steam Deck ou PlayStation Portal, até mesmo para ter uma experiência mais confortável de leitura ou lazer durante uma viagem ou passeio no parque. Ainda assim, os jogos funcionam muito bem em uma telona de TV também. Uma ótima experiência onde quer que o jogador esteja. Sem objeções. 

Agradecemos a Capcom pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise. 


Crítica | O Casal Perfeito é a minissérie que você precisa assistir agora na Netflix

Crítica | O Casal Perfeito é a minissérie a que você precisa assistir agora na Netflix

Baseada no romance escrito pela veterana autora best-seller formada pela Universidade Johns Hopkins (uma das mais conceituadas dos Estados Unidos), Elin Hilderbrand, e desenvolvida para a Netflix por Jenna Lamia (de Good Girls), O Casal Perfeito é a típica minissérie feita para maratonar: episódios bem amarrados e que prendem o espectador querendo entender o que de fato se passa entre aquele bizarro grupo de personagens.

Na trama, Green Garrison Winbury (Nicole Kidman) é uma poderosa escritora que vive na luxuosa comunidade de Nantucket (uma ilha localizada no estado de Massachusetts). Em torno dela orbitam seu marido (Liev Schreiber), os filhos e suas respectivas esposas e namoradas. Quando um deles resolve se casar no local, um crime é cometido poucas horas antes da cerimônia - prendendo a todos na ilha e numa trama cuja teia se revela aos poucos diante dos olhares dos personagens e do próprio espectador.

Os acertos da produção que fazem diferença

Além de uma trama bem sustentada e um conjunto de personagens interessantes e ambíguos (cada vez mais raridade na dramaturgia de streaming), a minissérie conta com a direção segura de uma cineasta de peso: Susanne Bier, de Em um Mundo Melhor e Depois do Casamento, além do sucesso Bird Box, da própria Netflix. Egressa da escola dinamarquesa, Bier cultiva um estilo mais realista, o que propicia aos atores terreno fértil para encontrar suas melhores atuações sem ter que disputar atenção o tempo todo com subterfúgios e truques de edição, por exemplo.

A ambientação da minissérie confere autenticidade ao drama dos personagens, além de oferecer ao espectador um panorama social saboroso a respeito da comunidade local que enfrenta os conflitos típicos de uma localidade turística (incluindo os ruídos inevitáveis de classe e entre moradores e visitantes).

O elenco se destaca 

Nicole Kidman tem sido apontada como o maior destaque da minissérie, mas ela não brilha sozinha: o elenco foi muito bem escalado e Liev Schreiber está à altura dela como o marido apreciador de maconha e que tem mais segredos que os filhos imaginam (muitos deles compartilhados com a própria esposa). Entre os mais jovens, é impossível não notar a presença magnética de Eve Hewson, atriz irlandesa de outra minissérie de sucesso (Por Trás de Seus Olhos), que além de ótima atriz é também uma das mais carismáticas de sua geração. É preciso acompanhar com atenção sua carreira a partir de agora. Dakota Fanning também está excelente como a nora grávida e maliciosa e demonstra que hoje é uma atriz completa. Para os apreciadores de cinema europeu, a minissérie traz ainda a lendária atriz parisiense Isabelle Adjani, estrela de tantos clássicos como Possessão e Nosferatu: O Vampiro da Noite.

O Casal Perfeito é uma minissérie bem produzida, com uma trama que prende atenção e que pode ser vista de um fôlego só: imperdível para o público mais adulto do streaming.


Cena de Rebel Ridge, da Netflix - Foto: Reprodução

Crítica | Rebel Ridge, da Netflix, brilha ao misturar ação brucutu com crítica social afiada

Rebel Ridge é o novo lançamento da Netflix

Rebel Ridge, filme que estreou na Netflix nesta sexta-feira (06), é uma dessas obras que chega sem muito alarde, mas logo de cara te prende com uma narrativa que mistura ação eletrizante e uma crítica social afiada. O diretor e roteirista Jeremy Saulnier, conhecido por filmes como Green Room e Blue Ruin, não desaponta ao criar uma experiência visualmente impactante e repleta de tensão em seu novo trabalho. Aqui, ele não se intimida em abordar temas delicados, como a corrupção e o racismo, especialmente dentro do contexto de pequenas cidades americanas esquecidas pelo tempo.

O filme abre com uma cena que já define o tom da história: Terry Richmond, interpretado de forma brilhante por Aaron Pierre, está em sua moto, sendo perseguido por dois policiais racistas. O motivo? Ele carrega US$ 10 mil para tirar seu primo da cadeia, preso por posse de maconha. Esse momento inicial, que poderia ser retirado de qualquer manchete contemporânea, mostra como Saulnier utiliza a realidade para construir uma ficção que ressoa com o público de maneira visceral. E aqui, o espectador já entende que Terry não é apenas uma vítima das circunstâncias; ele é um homem em missão.

https://www.youtube.com/watch?v=-KVq_2LuzSY

Uma vez que Terry chega ao tribunal local, fica claro que a cidade de Shelby Springs está em ruínas, tanto moral quanto economicamente. Ele busca ajuda legal, mas é rapidamente rejeitado, com exceção de uma escrivã empática, vivida por AnnaSophia Robb, que faz o possível para auxiliar. Esse detalhe já mostra o contraste entre os poucos indivíduos ainda preocupados com o bem-estar alheio e um sistema quebrado, que só existe para manter o status quo de poder. Aqui, Saulnier nos lembra de como a burocracia e a negligência podem ser armas tão destrutivas quanto qualquer pistola.

Grandes atuações

A cidade, claro, está sob o comando do xerife Sandy Burnne, interpretado de forma magnífica por Don Johnson. Sandy é o tipo de vilão que você adora odiar: egocêntrico, manipulador e absolutamente despreocupado com o sofrimento alheio. Ele está ocupado tentando limpar seu nome após um processo de morte acidental, e o departamento de polícia local está atolado em dívidas que ameaçam destruir o pouco que restou da reputação da cidade. Mas Terry não tem tempo para se importar com isso – ele só quer salvar o primo antes que seja tarde demais. No entanto, como qualquer bom thriller de ação nos ensina, o herói sempre acaba se metendo mais fundo do que gostaria.

Aaron Pierre, por sua vez, é uma revelação. Em Rebel Ridge, ele traz uma performance calculada e cheia de nuances. Terry é um ex-fuzileiro, e isso transparece em cada cena: sua postura, sua habilidade de combate e, principalmente, sua frieza sob pressão. Há uma sequência em particular que realmente destaca o quão implacável ele pode ser: após ser eletrocutado, ele simplesmente arranca os fios de seu corpo como se nada tivesse acontecido. Essa cena é um dos muitos momentos que fazem você perceber que está diante de um astro de ação em formação. Pierre canaliza aquela energia dos grandes heróis dos anos 80, mas com uma profundidade emocional que os diferencia.

Falando em profundidade, Rebel Ridge não se contenta em ser apenas um filme de ação. Saulnier se esforça para construir um enredo que vai além dos tiros e perseguições. A relação de Terry com a escrivã que ele conhece no tribunal é um exemplo claro disso. Ela está lutando com seus próprios demônios, tendo perdido a filha em uma batalha judicial após se envolver com drogas. Esse arco traz um peso emocional ao filme, mas também pode deixar a trama um pouco convoluta em alguns momentos. Ainda assim, essa escolha de roteiro é uma maneira de humanizar os personagens e torná-los mais do que simples peças em um jogo de vingança e sobrevivência.

Mensagem sob as camadas

Visualmente, o filme é um espetáculo. A cinematografia de David Gallego capta a atmosfera decadente de Shelby Springs de uma maneira quase poética, tornando a cidade um personagem por si só. Os enquadramentos são bem pensados, e cada cena de ação é coreografada com precisão. Ao contrário de muitos filmes do gênero, onde a ação é pura adrenalina sem propósito, em Rebel Ridge cada tiro, cada luta, parece contar uma parte da história. A edição, feita pelo próprio Saulnier, é afiada e mantém o ritmo sempre acelerado, sem perder o foco nos momentos mais calmos que servem para aprofundar a trama.

Mas o que realmente diferencia Rebel Ridge de outros filmes de ação é a sua mensagem. Sob as camadas de pancadaria e tiroteios, há uma crítica contundente à corrupção, à ganância e à maneira como as instituições falharam com as pessoas. É impossível assistir ao filme sem sentir uma pontada de indignação ao perceber que, mesmo em uma cidade pequena e fictícia como Shelby Springs, os problemas ali retratados são assustadoramente familiares. Saulnier nos mostra que, quando o poder e a ganância prevalecem, a justiça é deixada de lado, e quem paga o preço são sempre os mais vulneráveis.

Em termos de comparação, Rebel Ridge está a anos-luz à frente de outros lançamentos recentes da Netflix no gênero. Ao contrário de filmes como Red Notice, que se apoia em cenas de ação vazias e diálogos sem substância, este filme tem algo a dizer. Ele questiona o estado atual da sociedade americana e faz isso sem perder o entretenimento de vista. A ironia, claro, é que um filme como esse teria sido um sucesso garantido nos anos 90, com suas explosões e heróis indestrutíveis. No entanto, Rebel Ridge se recusa a ser apenas mais um blockbuster genérico e entrega uma experiência cinematográfica que, além de empolgante, é também instigante.

Por tudo isso, Rebel Ridge é um filme que entrega tudo o que promete: ação de alta qualidade, performances poderosas e uma crítica social que vai fazer você pensar muito depois que os créditos rolarem. Jeremy Saulnier se consolida como um mestre do gênero e Aaron Pierre mostra que seu futuro em Hollywood é brilhante. Se você está procurando um filme que combina adrenalina com inteligência, Rebel Ridge é a escolha perfeita.


Crítica | Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice é diversão nostálgica repleta de referências

Crítica | Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice é diversão nostálgica repleta de referências

Como faz parte do seleto grupo de diretores com alguns bilhões de bilheteria no currículo, Tim Burton pode se dar ao luxo de levantar uma continuação quase duas gerações depois do original, de modo que todo um grupo etário que sequer estava vivo quando "Beetlejuice: Os Fantasmas se Divertem" foi lançado, em 1988, pode agora se divertir fingindo que nutre nostalgia por aquilo que não viu. Ou saudade do que não viveu.

A trama do primeiro filme gira em torno de um casal, Bárbara (Geena Davis) e Adam Maitland (Alec Baldwin), que, após morrerem em um acidente de carro, ficam presos como fantasmas em sua antiga casa. Quando uma nova família se muda para a residência, incluindo a adolescente Lydia (Winona Ryder), os Maitland tentam assustá-los para que vão embora, mas sem sucesso. Em busca de ajuda, eles invocam Beetlejuice (Michael Keaton), um espírito caótico e imprevisível, cuja intervenção acaba criando mais problemas do que soluções.

Na continuação de 2024, "Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice", Lydia - que hoje é estrela de um programa de auditório - está de volta à casa assombrada acompanhada da mãe amalucada artista plástica (Catherine O'Hara, divertida como sempre), da filha adolescente mal-humorada (Jenna Ortega, em mais uma variação sobre o tema "Wandinha") e do candidato a padrasto enganador. A família novamente se vê às voltas com Beetlejuice (Keaton, enérgico como sempre), que por sua vez tem que se preocupar em escapar da fúria de uma antiga amante vivida por Monica Bellucci (esposa atual do diretor e que faz aqui uma "noiva-cadáver" quarentona).

Nostalgia e trilha musical empolgante seguram Beetlejuice

O roteiro é ágil e sabe que está lidando com expectativas alimentadas por algumas décadas, então tudo que estava no original parece necessariamente ter de estar na continuação (inclusive a passagem musical e sobrenatural do desfecho). Mesmo transitando num universo cujas regras já foram estabelecidas anteriormente, o enredo demonstra inteligência em não se alongar, ao mesmo tempo que introduz novos obstáculos que mantêm a trama de pé sem se repetir demais (especialmente no conflito criado pelo interesse romântico da personagem de Ortega). A única sobra parece ser o personagem de Willem Dafoe, um tardio "ator do momento" que, ao menos aqui, tem pouco com o que se ocupar em tela.

É curioso notar que a grande qualidade do primeiro filme (o universo soturno e caótico do purgatório concebido por Tim Burton) não poderia ter, em 2024, a força que tinha no século passado. São quase 40 anos de bizarrices acumuladas no cinema, na TV e na Internet, o que faz com que as extravagâncias típicas da imaginação de Burton e de seus roteiristas (os figurinos de show do Talking Heads, por exemplo, e mesmo a violência gráfica, mas cartunesca) hoje parecem uma leve repetição do que se assiste rotineiramente.

Tim Burton, contudo, é talentoso o suficiente para saber disso, e oferecer à expectativa de um público acostumado com o caos ofensivo da cultura pop as doses certas de referências cinematográficas (ao expressionismo alemão e também ao cinema de terror de Mario Bava, numa divertida passagem falada em italiano), além de uma seleção de canções antigas que dificilmente incomodarão a alguém (ou tem como qualquer coisa que esteja acontecendo com "MacArthur Park" tocando ao fundo não ficar interessante?).

Sem se aprofundar muito nos temas que costumam se sobressair em sua filmografia (a questão da "máscara social" e das aparências, presente desde sua leitura de Batman e em "Edward Mãos de Tesoura", por exemplo), Burton consegue oferecer uma diversão leve, mas de qualidade, numa mistura bem equilibrada de maquiagem com efeitos visuais digitais e que provavelmente agradará tantos aos fãs do primeiro filme quanto a seus filhos (e, muito em breve, netos).

https://www.youtube.com/watch?v=As-vKW4ZboU


Review | Astro Bot é uma excelente celebração PlayStation

Review | Astro Bot é uma excelente celebração PlayStation

2024 é um ano de transformação para a indústria de games. Com demissões em massa e diversos relatórios indicando que o modelo atual de produção de jogos é insustentável, é nítido que uma mudança precisa acontecer. Acredito que o excelente Astro Bot seja um dos precursores dessa mudança de paradigma.

Explico. A gestão anterior da PlayStation certamente não fez grandes favores ao PlayStation 5, de longe o console mais carente de grandes títulos em uma marca que sempre se distinguiu pelos exclusivos da mais alta qualidade. Ao apostar tremendamente em jogos como serviço, nota-se que o tiro saiu pela culatra e muitos projetos acabaram até mesmo cancelados como o multiplayer independente de The Last of Us. 

A má gestão chegou ao clímax agora em 2024, consagrando este ano como talvez um dos piores da marca até hoje. Se não fossem as exclusividades temporárias de Final Fantasy VII Rebirth, Stellar Blade e A Ascensão do Ronin, os donos de PS5 estariam a ver navios. A urgência de um título first party original era iminente e, felizmente, a resposta veio com Astro Bot que consagra com muito sucesso o novo mascote da PlayStation, além de mostrar que jogos mais simples também são importantes.

https://www.youtube.com/watch?v=mJM4oMvxdsE

Lições 

Astro Bot é “vítima” do sucesso do primeiro exclusivo do PS5: o muito divertido Astro’s Playroom. Muito embora os jogadores considerem o game uma tech demo caprichada, a Team Asobi demonstrou um domínio impressionante em criar fases divertidas que poderiam render seu próprio jogo plataforma 3D. Dito e feito. Produzido quase que imediatamente após o lançamento de Playroom, Astro Bot é a evolução natural da franquia, além de comprovar o potencial da Asobi em realizar projetos bem maiores.

Toda a brincadeira metalinguística de Playroom permanece aqui, mas com uma proposta diferente. Se antes a evolução dos consoles era o foco, dessa vez se trata da história dos games que consagraram a PlayStation ao longo das décadas. 

A narrativa do jogo é bastante simples, remetendo à estrutura da franquia Mario da Nintendo. Em uma jornada espacial à bordo da nave-mãe do PlayStation 5, Astro e seus amigos são surpreendidos por um alienígena maléfico que rouba todos os componentes principais do console, além de espalhar inúmeros bots pela galáxia. 

Com a nave despencando em um planeta desconhecido, Astro precisa reunir os componentes e salvar seus amigos para conseguir fugir das maldades do vilão. Para isso, conta com a pequena nave Dual Speeder - um controle DualSense modificado. Visitando diversos sistemas “solares”, Astro inicia as visitas nos planetas para resgatar os outros bots até chegar às peças faltantes do PS5. 

Não é preciso disfarçar, a Asobi se inspirou tremendamente no trabalho da Nintendo em Super Mario Odyssey. Desde a lógica da liberação de novos níveis até a mecânica de resgatar os bots - que seriam as Super Luas no jogo da concorrente. Entretanto, particularmente, não vejo problema, já que as semelhanças que os jogos compartilham ajudam a entregar uma experiência praticamente perfeita - levando ao pé da letra o provérbio de que não se mexe em time vencedor. 

Desse modo, temos 300 bots para resgatar, sendo 169 únicos inspirados em inúmeras franquias. São muitas surpresas que o jogador aguarda ao resgatar os bots únicos, inclusive, com homenagens até mesmo obscuras que só veteranos do PS1 vão conseguir identificar sem esforço - o jogo não menciona diretamente a referência que cada bot faz em seu visual.

Os personagens estão dispostos em mais de cinquenta níveis, podendo ter sete bots em cada planeta para resgatar. Outros estão escondidos em fases secretas que o jogador terá que descobrir ao navegar pela galáxia, destruindo cometas e asteroides ou interagindo com algumas estrelinhas espalhadas pelo cenário. 

No planeta que funciona com hub central, o jogador pode interagir com os bots resgatados que também ganham cenários e animações distintas a depender de prêmios adquiridos numa máquina gatcha - é onde você irá gastar as moedas PS coletadas durante as fases. 

No hub, também existem outros territórios que só são liberados através do auxílio de determinada quantidade de bots. Lá, também é possível resgatar outros bots e peças de quebra-cabeça. Essas peças, quando completarem o quadro, liberam novos espaços interativos que permitem a troca de skins da nave e do próprio Astro - existem roupinhas de diversas sagas icônicas.

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Mundos de personalidade

A Asobi criou mais de 50 fases para o jogador explorar livremente com ordens relativamente pré-determinadas. Obviamente, as fases vão ficando mais difíceis conforme o jogador avança entre os sistemas solares que são desbloqueados assim que o chefe principal é derrotado - por sinal, as batalhas contra chefes são excelentes, respeitando a clássica regra de três fases para derrotá-los. 

Os níveis, assim como manda o DNA de todo jogo plataforma 3D, são temáticos, trazendo também mecânicas próprias - por exemplo, um que permite alterar toda a estrutura da fase variando entre o dia e a noite. Os temas explorados são bastante clássicos e é difícil dizer que há algo extremamente original por aqui. Então pode esperar por aventuras em fases aéreas, aquáticas, no deserto, na neve, em doces, florestas, ilhas paradisíacas, masmorras, cavernas, castelos e muito mais. 

Se há algo para reclamar nesse sentido, há somente uma ausência específica de um nível focado em dinossauros, de resto, Astro Bot é bastante completo. Na maioria dos níveis também é possível contar com um power up específico que influi diretamente em mecânicas de locomoção ou combate (ou ambos). 

São diversos apetrechos que Astro pode encontrar, mas cada nível tem o seu poder específico, já que as fases também são estruturadas com eles em mente. Todos são bastante divertidos, mas alguns se sobressaem aos outros. Para evitar spoilers, não pretendo comentar sobre eles, mas há boa diversidade até o final do jogo. De problemas que encontrei, apenas um, que permite Astro se projetar a longas distâncias, sofria falhas nos comandos. 

Todos os níveis são criativos com designs divertidos que conseguem entreter facilmente. Por vezes, o jogo parece um cozy game, mas garanto que não é. Os maiores desafios estão em níveis secretos, principalmente nos focados nos símbolos do PlayStation como X e O, por exemplo. Para completar o jogo em 100%, é necessário driblar os desafios em um percurso repleto de obstáculos e armadilhas sem direito a checkpoints. Acredite, esses níveis são realmente difíceis e podem estressar bastante. 

Os níveis normais, obrigatórios da campanha, também possuem áreas secretas podendo conter outros bots para resgatar ou portais para uma dimensão perdida que, por si só, também possui diversos níveis - mas eles precisam ser descobertos nas fases normais. Como é fácil perder algum detalhe, quando o jogador revisitar algum nível, poderá comprar um pássaro que funciona como radar por 200 moedas PS. 

Apesar de contar com uma boa variedade de inimigos, após um tempo, nota-se uma certa fadiga, com muitos sendo reciclados em diferentes skins e nada mais. Então senti uma falta de oponentes únicos, já que no meio do jogo eles começam a se repetir, inclusive as mecânicas necessárias para derrotá-los. Afinal, Astro só conta com poucas armas: soco, soco carregado e os raios que o ajudam a planar por alguns segundos, funcionando como um pulo duplo. De resto, todas as outras habilidades são provenientes dos power ups.

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Maestros do Dualsense

Por conta de Astro’s Playroom, a Asobi ficou encarregada de mostrar o poder e potencial do novo controle do PS5, o elogiado DualSense. Já no título de estreia do console, a missão foi cumprida com sucesso, demonstrando como o feedback háptico do controle funciona, além de outros recursos como microfone, alto falante e giroscópio (sensor de inclinação). 

Com Astro Bot a história se repete. O game faz uso intenso dos recursos do controle, principalmente do alto falante - que recomendo diminuir um pouco o volume que é bastante alto. O controle reforça a todo momento os ótimos efeitos sonoros em conformidade com o feedback háptico que simula diversas texturas que Astro percorre ao longo dos níveis seja nadando, andando ou voando - e todas transmitem sensações bem agradáveis. 

Como a maioria do cenário é interativo, o controle realmente não para de trabalhar na mão do jogador e é impressionante a capacidade de programação que a Asobi apresenta. Seja no combate ou na locomoção, o resultado é fantástico, da mesma forma quando navegamos pelo Espaço. Os gatilhos adaptativos são outro grande destaque, se comportando de modo distinto a cada power up que Astro utiliza. 

Os maiores showcases de todos os recursos do DualSense são os minijogos envolvendo o reparo das partes resgatadas do console. São extremamente agradáveis e divertidas, sempre apresentando um reparo distinto. 

Também surpreende que a Asobi conseguiu tornar a vida útil da bateria do controle, mesmo com tantos recursos ativos, mais longeva para um game como esse. Em Astro’s Playroom, basta um terço de hora de jogo para ver a bateria drenar em uma velocidade assustadora. Aqui, o controle consegue resistir as quatro, cinco horas de uso como já acontece normalmente. 

A Asobi merece mais parabenizações por conseguir fazer a PlayStation se desvincular do vício em gráficos hiperrealistas. Aqui, o domínio é todo da direção de arte encantadora que espalha cores vibrantes por todo o lado, além de conferir uma boa identidade visual para o universo do personagem. Toda a fauna, flora e decoração é inspirada na estética clean dos bots, assim como suas expressões faciais. Aliás, as animações dos personagens em geral são todas sublimes e muito eficazes em cativar, criar ternura e empatia pelos bots. É fofo. 

O visual é belíssimo do mesmo modo e, melhor ainda, resiste ao tempo ao apostar em uma identidade visual mais única (assim como ocorre na maioria dos jogos da Nintendo). Porém, como há muito estímulo visual o tempo todo, há sequências com show de luzes que acabam causando dor de cabeça em jogadores menos acostumados com a agitação - é o meu caso. 

O jogo roda sem problemas e também não cheguei a presenciar qualquer bug ou glitch. Ou seja, temos uma experiência altamente polida. Também é fato que a parte musical foi caprichada. Há temas clássicos retrabalhados, temas inéditos excelentes, além da música tema já icônica do Astro. Poucas vezes há algum erro ou excesso do compositor em músicas exageradamente infantis ou desagradáveis. 

Uma pena, porém, que um dos maiores trunfos do jogo seja limitado: as fases inspiradas nas principais franquias PlayStation. Poucos jogos foram contemplados com a reimaginação fofa da estética do game, além de apresentar armas únicas para o protagonista. É algo tão bom e funcional, com o tom parodico afiado, que o jogador vai sentir uma falta disso. Torço para que a Asobi crie um jogo só de homenagens para as franquias poderosas da PlayStation. 

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O que realmente importa: diversão

Astro Bot chega ao Brasil custando trezentos reais. No máximo o jogo deve durar pouco mais de quinze horas. Na minha jogatina, fiz muitas atividades secundárias e terminei a aventura em dez horas. Ainda faltam algumas coisas para descobrir e explorar, mas entendo que a experiência mais enxuta possa ser custosa demais para os fãs. 

Entretanto, particularmente, eu torço muito pelo sucesso de Astro Bot. Não só pela qualidade inegável o pequeno time da Asobi se empenhou em entregar, mas porque se trata de uma experiência que reforça a importância de jogos menores, com propostas diferentes dos AAA blockbusters que estão se tornando cada vez mais inviáveis economicamente. 

Dedicado em agradar os jogadores, Astro Bot nos aproxima da marca e relembra o potencial do PlayStation de divertir e encantar diversas gerações até hoje, incluindo a minha, celebrando momentos de diversão. 

Agradecemos a PlayStation pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.


Review | Concord é falsa esperança para os infames hero shooters

Review | Concord é falsa esperança para os infames hero shooters

Hero shooter é um dos gêneros mais populares da atualidade nos videogames, ganhando notoriedade após o estrondoso sucesso do primeiro Overwatch em 2016. Desde então saíram uma série de jogos semelhantes como Valorant, Marvel Rivals e a sequência de Overwatch que começou a demonstrar certo desgaste no gênero. Concord não chega exatamente no melhor momento dos hero shooter. Em frente a diversas adversidades, vejamos como o jogo se saiu. 

https://www.youtube.com/watch?v=7jqQJhjf_3o

A primeira impressão é a que fica

Concord começa com o pé esquerdo. Em meio a cenas iniciais onde os diálogos oscilam entre o superficial e o excessivamente sério, o jogo introduz um tutorial que promete ser abrangente, mas revela-se limitado assim que você começa a jogar de verdade. Ao invés de prepará-lo para correr, ele apenas te ensina a engatinhar. Enquanto tenta entender o que está acontecendo e por que uma criatura colossal te persegue implacavelmente, o caos e a morte tomam conta da experiência. No entanto, à medida que você enfrenta esses desafios, Concord começa a revelar um caráter mais robusto e maduro, que pode, com o tempo, se mostrar recompensador.

Concord funde a adrenalina dos combates rápidos de Call of Duty com a dinâmica dos heróis de Overwatch. Você escolhe entre um elenco de 16 Freegunners (os destemidos e excêntricos protagonistas do jogo) e se lança em batalhas 5v5, espalhadas por uma variedade de mapas de tamanho médio em diferentes planetas. O jogo busca equilibrar estratégia e habilidade, com mapas desenhados para todos os estilos - seja para quem prefere tiros de precisão à distância ou para os que gostam de despistar o inimigo com movimentos ágeis em espaços confinados. Enquanto jogadas estratégicas, como preparar emboscadas com certos personagens ou aprender o layout do mapa para flanquear o inimigo, podem te dar vantagem, atiradores habilidosos podem virar o jogo com tiros certeiros, tornando cada partida uma competição acirrada entre inteligência e força bruta.

Porém, no momento, as opções de modos de jogo não trazem muita novidade. No lançamento, há apenas seis tipos de partidas, divididos em três playlists distintas. A playlist Brawl inclui o clássico Team Deathmatch - que entrega exatamente o que se espera - e Trophy Hunt, onde é preciso coletar as tags dos inimigos abatidos. Já a playlist Takeover foca em objetivos, com os modos Signal Hunt e Area Control, onde é necessário capturar e defender zonas fixas ou móveis. Por fim, Rivalry traz uma dinâmica sem respawns com os modos Cargo Run (capture e defenda um dispositivo) e Clash Point (controle uma área ou elimine a equipe adversária).

Há uma frustração constante com a escassez de modos de jogo oferecidos; afinal, não dá para implorar aos seus companheiros para irem para o ponto B indefinidamente enquanto eles insistem em morrer no ponto A. A situação se agrava com a limitação das playlists, que impede a combinação ou escolha rápida de modos, o que faz o jogo parecer raso para o longo prazo. Contudo, essa estrutura familiar é contrabalanceada por algumas escolhas ousadas que a desenvolvedora Firewalk faz na utilização dos personagens, o que sugere que Concord pode, de fato, encontrar seu espaço na sua lista de jogos multiplayer.

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Foco no Lore

Apesar das sólidas bases que sustentam Concord, há um foco inusitado e, por vezes, distrativo na lore e nos personagens do universo do jogo. O ponto central gira em torno da formação de sua equipe de Freegunners a bordo da North Star, cada um com sua própria história e motivações na luta contra a Guilda e outras tripulações que realizam atividades ilegais pela galáxia. A cada semana, uma nova cutscene será lançada, ampliando essa narrativa, enquanto um Guia Galáctico estará disponível para mergulhar os jogadores nos detalhes dos planetas onde as batalhas ocorrem, até as rotas de navegação entre eles - sim, isso mesmo, rotas de navegação.

Essa ênfase na construção de uma narrativa profunda pode atrair jogadores que apreciam uma história envolvente, mas também pode ser vista como um desvio para aqueles que preferem uma experiência de jogo mais direta e focada na ação. No entanto, se a Firewalk conseguir encontrar um equilíbrio entre a narrativa expansiva e a jogabilidade, Concord tem tudo para se destacar em um mercado saturado de shooters.

Há muito o que assimilar em Concord, mas o jogo tropeça ao cometer o erro cardinal de contar demais em vez de mostrar. O Guia Galáctico é repleto de páginas e mais páginas de lore, destinado a proporcionar uma compreensão mais profunda da galáxia em que você batalha, mas acaba gerando mais perguntas do que respostas. Por exemplo, se a Guilda vilã é realmente uma ameaça onipresente, por que minhas batalhas são apenas contra outros Freegunners? Ao tentar adicionar camadas ao mundo, o jogo acaba revelando lacunas lógicas que se tornam cada vez mais evidentes.

A Firewalk claramente dedicou muito esforço na criação de um universo que tenta capturar o encanto aventureiro de Star Wars com o humor irreverente de Guardiões da Galáxia, mas o resultado é um elenco numeroso com pouca personalidade distinta. Embora o Guia Galáctico forneça informações detalhadas sobre a personalidade de cada Freegunner, essa profundidade não se reflete no que vemos em ação. O efeito é um universo que recorre a muitos clichês, sem apresentar nada realmente original ou envolvente o suficiente para compensar essas falhas. Com a oferta limitada de modos de jogo no lançamento, a sobrecarga de lore se torna ainda mais confusa, e embora as futuras atualizações de Concord possam preencher essas lacunas, é difícil imaginar como elas irão melhorar o universo já estabelecido.

No momento, o principal incentivo para continuar jogando Concord é o Quadro de Tarefas. Através dele, você pode desbloquear novos cosméticos e variantes de personagens, que são habilidades passivas exclusivas para cada personagem. Embora os cosméticos sigam o padrão típico de um passe de batalha - sem custos adicionais, vale ressaltar - as variantes de personagens oferecem algo bem interessante. 

A primeira variante, por exemplo, é para Teo, e substitui sua habilidade de mobilidade aumentada após uma esquiva por um aumento na capacidade de munição e armamento. Essa mudança transforma radicalmente a abordagem ao jogar com Teo, incentivando o jogador a ser mais agressivo nos combates, fazendo com que resulte em mais eliminações. Se as variantes continuarem a proporcionar benefícios reais para os jogadores de longo prazo, esse com certeza seria um caminho concreto para Concord se fortalecer, evoluindo para a sua melhor versão e garantindo alguma longevidade ao jogo. Além de variantes de personagens, a personalização de armas e equipamentos poderia oferecer mais opções para os jogadores expressarem sua individualidade e experimentarem diferentes estilos de jogo.

Contudo, a Firewalk precisa resolver as inconsistências narrativas e dar mais profundidade aos personagens para que o universo de Concord se torne mais envolvente para os jogadores. A lore, que é bem rica, deveria se integrar de forma mais orgânica ao gameplay, permitindo que os jogadores descubram a história através de suas ações e interações no jogo, em vez de depender de longas e maçantes leituras no Guia Galáctico. Além disso, a adição de novos modos de jogo e eventos sazonais pode ajudar a manter o interesse dos jogadores a longo prazo, sempre oferecendo algo novo e emocionante para explorar. Um passe de batalha com conteúdo regular e rotativo também seria uma boa opção para manter os jogadores engajados e fornecer um fluxo constante de novas recompensas.

Conclusão:

Em suma, Concord apresenta uma base sólida e algumas ideias inovadoras, mas requer ajustes significativos para atingir seu verdadeiro potencial. Com melhorias na narrativa, personagens mais carismáticos e uma maior variedade de modos de jogo, pode ser que o jogo consiga se destacar no competitivo mercado de shooters multiplayer. No entanto, essa tarefa só será possível se o jogo passar por uma grande reformulação que passe a chamar a atenção da comunidade de jogadores. Na forma em que está atualmente, há pouca esperança. 

Agradecemos a PlayStation pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.