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Críticas

Crítica | Pedro Osmar, Prá Liberdade que se Conquista

A arte não trata do exclusivamente imaginário, mas do real através da imaginação. Cabe ao saber pessoal suplantar essa insuficiência crônica da criatividade. Abordando arte e política de maneira semelhante, o documentário encontra ressonância adequada na figura de Pedro Osmar, mas, apesar da curta duração, se depara com a redundância e certa acriticidade no senso artístico comum. Primeiramente, porque Pedro Osmar não produz um discurso de massa, suas produções multimídia seguem vieses experimentais, preparando bem o terreno para a proposta de análise do filme. Em compensação, o filme trabalha com algumas concessões – mínimas se comparadas com um primo de gênero como Cinema Novo, de Eryk Rocha.

Pedro Osmar emprega um olhar poético e analítico para suas imagens, na nostalgia colorida dos 8mm, no vídeo, no digital, aproveitando bem a materialidade de cada meio. Os arquivos pessoais são seguidos entrevistas, shows, ensaios-performances. O documentário chega a incluir material filmado pelo próprio Pedro Osmar, gravado recentemente, confidenciando para a câmera seus desejos artísticos. Se os materiais mais antigos são capazes de evidenciar uma eficiente geografia do artista Pedro Osmar – muitas vezes recontextualizando algumas cenas (protestos do movimento Diretas Já!, especialmente) e permitindo uma revisão contemporâneo –, os mais recentes parecem, porém, deslocados. Visto que é a música de Osmar que o define, que monta o Corpo do artista, pouco vale, para além de uma quebra de fruição, atentar para os grossos e grisalhos pelos da barba do cantor paraibano. Uma confirmação da sua atualidade ou os discursos engessados são uma concessão à parte?

Em contraponto, o foco não-convencional, pouco histórico, no sentido de traçar a carreira do artista, é levado até o fim. Quando surge uma entrevista, por exemplo, uma fala mais objetiva, todo o material anterior é enriquecido. E os diretores Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques foram sábios em confiar nas imagens raras que conseguiram, mesmo danificadas. A poesia do paraibano aparece transcrita na tela enquanto o áudio está picotado e incompreensível. Momentos depois, comparamos a letra de Osmar enquanto ele redige uma de suas letras.

A música tem efeito fundamental e complementar, porque coloca as imagens em perspectiva. Sejam filmagens, fotos ou animações feitas com colagens, quem dita a montagem é a música. Nesse sentido, aliada a edição precisa, o ritmo constante do filme é um dos seus maiores méritos. Entretanto, se espera por uma excrescência nessa análise do relevo artístico de Pedro Osmar. Entretanto, não há um momento em que o espectador encontra um pico, o resultado de uma curva climática, apenas um calor final, movido pela própria energia do artista e pela reafirmação dos seus ideais.

Ao menos, como um todo, o documentário não se ocupa de bajular o músico desnecessariamente. Cinema Novo, por exemplo, não conhecia o seu público, nem era crítico ou apresentava inovações suficientes para se justificar fora de um quadro onde a cinefilia restrita. Eryk Rocha optou por repetir a exaustão o nome de todos os cineastas que apareciam na tela, era didático demais para encontrar criatividade na colagem dos filmes da época. Pedro Osmar, ao contrário, relega as referências para os créditos, não se preocupa em identificar os faltantes imediatamente, nem inserir elementos extra-fílmicos de suporte. Importa, durante todos os seus setenta minutos de duração, a Palavra do artista. Tanto que o maior contato que há no campo de inspirações, intenções, afirmação política se dá numa entrevista, em que são citados nomes como Hermeto Pascoal, Phillip Glass, Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos.

Em linhas gerais, Pedro Osmar, Prá Liberdade que se Conquista é consciente de que não vai atingir um público grande, nem um muito diferente daquele que já povoou os shows do artista. Logo, faz com suas limitações uma homenagem, tropeçando no sentido mais volátil que a expressão pode assumir, mas chegando ao fim com a impressão de uma criação espontânea.

Pedro Osmar, Prá Liberdade que se Conquista (idem, Brasil)
Direção: Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques
Gênero: Documentário
Duração: 76 min.


by Redação Bastidores

Crítica | Tinha Que Ser Ele?

O gênero cômico, tanto na literatura quanto no audiovisual, passou por seus ápices e declínios. Fosse com as narrativas irreverentes dos contos de fada ou com as histórias de comédia romântica adolescente que se tornaram praticamente atemporais - ou até mesmo com o humor ácido de obras mais introspectivas -, tal estilo tornou-se muito saturado pelos roteiros formulaicos e pelas delineações superficiais de seus personagens, transformando-se na comédia pastelão (a base dos longas criados por Adam Sandler, por exemplo).

Tinha Que Ser Ele? traz uma premissa nada original: a narrativa principal gira em torno de um pai (Bryan Cranston) que viaja para o sul da Califórnia para conhecer o namorado magnata (James Franco) de sua filha mais velha (Zoey Deutch). Não é muito difícil prever o que vai acontecer: os dois protagonistas irão se desentender e desencadear uma série de eventos em cadeira totalmente impossíveis e que, querendo ou não, arrancam uma ou outra risada do público.

O elenco também é formado por faces muito bem-vindas, incluindo a de Megan Mullally (cuja afinidade com a comédia vem de seus tempos de glória em Will & Grace), Keegan Michael-Key (dando vida a um personal stylist e treinador cômico e nem tanto caricaturado como se é de costume) e o novato Griffin Gluck, que emerge como o personagem mais maduro dentro de uma família desequilibrada e desajustada.

O principal problema do longa realmente reside na narrativa. A inverossimilhança, tão evitada em blockbusters norte-americanos ou até mesmos em filmes de menos circuito comercial, corre solta e causa estranhamento por serem foco das viradas principais e das superações de obstáculos. Tinha Que Ser Ele? inicia com uma conversa pelo Skype tão cruamente escatológica que a timidez das risadas talvez venha acompanhada de uma certa vergonha alheia - e as coisas apenas aumentam o nível da falta de bom senso: bordões repetitivos e desnecessários se mesclam com objetos de cena gritantes e pretensiosos, reafirmando de modo redundante a excentricidade de Laird (Franco).

Apesar disso, não posso negar que o filme tenta fugir aos estereótipos de produções similares, mesmo que não o consiga com tanto êxito. É de se esperar que tanto a máscara do pai quanto a máscara do namorado caiam e suas verdadeiras intenções sejam reveladas - porém, a personalidade destoante entre os dois formam uma camada relativamente complexa, provando que as aparências realmente enganam.

A conexão entre Cranston e Franco por vezes varre para debaixo do tapete a falta de relação entre os personagens. Todos ali são construções individuais que não conseguem fornecer em momento algum uma centelha de química. Eles funcionam isoladamente, e cada um possui sua subtrama bem delineada, ainda que o roteiro assinado por John Hamburg (também o diretor) e Ian Helfer recorra a saídas clichês - envolvê-los em arcos de redenção ou de superação que vão de lugar nenhum a nenhum lugar.

Como já dito, o longa tem os seus momentos de descontração. Ainda que muito longas, as sequências dialogais entre os protagonistas, ou até mesmo entre Ned (Cranston) e Stephanie (Deutch), são interessantes e conferem um certo ritmo dinamizado para a história. A falha, mais uma vez, reside em sua pretensão e sua vontade exacerbada se significar algo que não é. Além disso, o exagero próprio do subgênero pastelão aumenta exponencialmente e de modo tão visceral que chega a causar repulsa. Ao final do segundo ato, o grande clímax envolve um alce empalhado conservado na própria urina e uma luta mal coreografada.

Confesso ser decepcionante o fato de Hamburg afastar-se tanto assim de seu estilo neste longa. Ao contrário do que vemos em Eu Te Amo, Cara, uma obra que acredita em seu potencial sem forçá-lo a uma reflexão vazia, Tinha Que Ser Ele? não sabe para que lado apontar, e cria tantas subtramas cansativas e previsíveis que podemos supor com certeza absoluta o final antes do final do primeiro ato.

A grande “mensagem” da narrativa é não julgar o outro pela aparência física, e sim pelo que ele tem a oferecer para sua construção. Entretanto, esse ideal restringe-se a um plano intangível e que não se concretiza dentro da construção fílmica. A compreensão vem através do foreshadowing, um recurso relativamente interessante dentro de obras audiovisuais de comédia, mas que por vezes atinge sua cota de originalidade.

Apesar dos breves momentos humorísticos, Tinha Que Ser Ele? segue o padrão de seus predecessores, não acrescentando em nada para o gênero. A “salvação”, por assim dizer, vem com as performances e o peso atraído pelos nomes do elenco - e nem isso não significa muita coisa.

Tinha Que Ser Ele? (Why Him? - Estados Unidos - 2017)
Direção: John Hamburg

Roteiro: John Hamburg, Ian Helfer
Elenco: Bryan Cranston, James Franco, Megan Mullally, Zoey Deutch, Griffin Gluck, Keegan Michael-Key
Gênero: Comédia
Duração: 111 min.


by Thiago Nolla

Crítica | Era O Hotel Cambridge

Recentemente, estreou nos cinemas Eu, Daniel Blake, do cineasta britânico Ken Loach. O longa, que narrava o embate de um homem contra o sistema, era, claramente, um filme de protesto. Estruturado como um conto ficcional simples e humano, mas com os pés profundamente fincados na realidade, o plano final do filme não deixava dúvidas acerca do seu caráter combativo. Sendo assim, pode-se facilmente dizer que as ambições e os objetivos do cineasta ao fazer esse filme eram cristalinos. O resultado bem sucedido disso tudo pôde ser conferido pelo público nas telas do cinema. Infelizmente, é justamente esse tipo de clareza na proposta e, por conseguinte, no resultado obtido, o que mais falta em Era O Hotel Cambridge, da cineasta brasileira Eliane Caffé.

O filme, uma mistura estranha de documentário e ficção, gira em torno de algumas pessoas que, por serem moradoras de rua ou refugiados, fizeram de um prédio abandonado - o antigo Hotel Cambridge, no centro da cidade de São Paulo - a sua moradia. Acompanhando alguns dos inúmeros dramas existentes naquele ambiente, o filme foca nos dias que antecipam a reintegração de posse do local. Enquanto continuam a viver suas vidas, eles também planejam fazer de tudo para não ser despejados, mesmo que o significado disso sejam manifestações intensas e embates violentos com a Polícia Militar.

Claramente, uma das maiorias curiosidades em relação ao longa é o fato de que ele foi filmado de uma maneira com que a realidade se misturasse com a ficção. Ao mesmo tempo que a aparência documental - câmera seguindo os personagens, muita iluminação natural - e a presença de outras pessoas representando a situação real e concreta de suas próprias vidas são preponderantes, rostos famosos como os de Suely Franco e José Dumont denunciam que boa parte dos acontecimentos narrados estão recebendo uma dose considerável de ficção - mesmo que os personagens encarnados pelos dois atores sejam baseados em pessoa reais, ainda assim, como não poderia deixar de ser, dada a própria natureza da arte da atuação, há um forte elemento de ficção na construção de suas performances.

Trabalhada ao longo de todo o filme, essa estrutura deliberadamente oscilante entre o real e o ficcional funciona na maior parte do tempo. Mesmo que, às vezes, exista uma confusão de perspectivas no trabalho de câmera (estamos vendo a subjetiva de um personagem ou é o olhar da diretora?), as boas atuações da dupla de atores principais e a surpreendente capacidade expressiva do elenco amador, juntamente com a força dos relatos e dramas dos personagens, são suficientes para a criação de uma narrativa poderosa que mantém o espectador atento. Dessa maneira, tem-se a impressão de que o objetivo principal dos seus realizadores é simplesmente o de fazer um relato comovente sobre a dura realidade daqueles que vivem sem moradia.

Até os instantes finais, é essa impressão a que mais perdura. No entanto, os últimos segundos do filme chegam e o público finalmente percebe que a intenção dos realizadores era a de fazer uma obra de protesto. E há algum problema nisso? A resposta é não, desde que os responsáveis pelo filme sejam claros em relação às suas intenções e seus objetivos principais desde o início. Caso contrário, o resultado pode ser considerado desonesto. Afinal de contas, se é apenas um relato que está sendo mostrado, tendemos a acreditar nele. Mas, se o que estamos vendo é um longa de protesto - defendendo um lado, portanto -, nos perguntamos o quão real é tudo aquilo que está sendo narrado.

Isso, em si, não é algo condenável. O grande problema é que, ao saber no final de Era O Hotel Cambridge qual é a sua verdadeira natureza, o público pode achar que a estrutura que oscila entre o real e o ficcional foi construída com o claro propósito de manipular a realidade de acordo com a posição política e ideológica dos realizadores. Se assim o foi, o longa é desonesto. Se não teve esse propósito, errou sobremaneira ao adotar essa estrutura narrativa. Seja qual for, nos dois casos o final faz com que tudo que havia sido construído caia por terra completamente. Como julgar os aspectos técnicos e narrativos de um filme que tem a sua honestidade colocada seriamente em xeque?

Já em relação ao conteúdo do filme, não havia uma maneira de a diretora escapar de uma postura propagandística. Aliás, pode-se até dizer que esse engano pelo qual o público passa ao longo da projeção - o de achar que é um relato documental quando, na verdade, é uma obra de protesto - foi uma forma que os realizadores encontraram de fugir do caráter panfletário tão característico dos filmes combativos, salvando, assim, a natureza cinematográfica do projeto. No entanto, o tiro acaba saindo pela culatra, uma vez que se mostram covardes em assumirem, desde os minutos iniciais, os verdadeiros objetivos da obra. Falando, por sua vez, do discurso defendido pelo filme, faz sentido que seja imparcial, mas um pouco mais de contextualização e capacidade de enxergar a complexidade de determinadas situação fariam as discussões levantadas pela narrativa subirem de nível intelectualmente.

Extremamente problemático, Era O Hotel Cambridge é um filme que sofre em demasia por não ter enxergado na sua estrutura  - que considera ser o seu grande trunfo - um problema sério de ética. Essa, na verdade, é a melhor das hipóteses. Agora, se os realizadores perceberam o problema e, ainda assim, o usaram para manipular os dados da realidade a seu bel prazer, temos uma situação gritante de desonestidade intelectual. Porém, o estrago já foi feito. De um lado, o erro, e, de outro, a possível desonestidade. Assim, independentemente de qual tenha sido o caso, o filme, apesar de continuar tendo a força dos seus relatos, cinematograficamente falando, vai direto para a lata de lixo da História.

Era O Hotel Cambridge (idem, Brasil – 2016)
Direção: Eliane Caffé
Roteiro: Eliana Caffé, Luis Alberto de Abreu, Inês Figueiró
Elenco: José Dumont, Suely Franco, Paulo Américo, Juliane Arguello, Mariana Raposo, Gabriel Tonin
Gênero: Documentário/Drama
Duração: 99 minutos


by Redação Bastidores

Crítica | Sinais

Ponto de vista é chave. A mera percepção de como enxergamos um evento pode transformar nossas sensações em relação a este, e até diferenciar a forma como somos afetados. Um exemplo cômico e extremo, é se Star Wars fosse contado do ponto de vista de um pacato stormtrooper, que vive sua vida como soldado imperial e enfrenta um dia após o outro enquanto discute sobre novos modelos de speeders e treina sua pontaria contra a Aliança Rebelde. Até o dia em que é subitamente incinerado quando a Estrela da Morte é explodida por Luke Skywalker, e nós certamente sentiríamos pena desse soldado anônimo.

É uma comparação um tanto exagerada, mas serve para chegar aonde queremos com Sinais, o terceiro filme de M. Night Shyamalan em Hollywood e que seria marcado como seu último grande sucesso antes da fase sombria de sua carreira. Embarcando no gênero da ficção científica, Shyamalan registra uma invasão alienígena de grande escala, mas ao invés de concentrar-se na chegada e na destruição (como, por exemplo, o Guerra dos Mundos de Spielberg), as lentes do cineastas voltam-se para uma família praticamente isolada do resto do mundo; em um formidável exercício de atmosfera.

A trama nos apresenta à Graham Mess (Mel Gibson), um ex-reverendo que teve sua crença em Deus e na fé completamente destruídas após a trágica morte de sua esposa em um acidente de carro. Sustentando uma fazenda no interior dos EUA com a ajuda do irmão Merrill (Joaquin Phoenix) e seus dois filhos, Morgan (Rory Culkin) e Bo (Abigail Breslain), a Graham precisará uni-los quando misteriosos círculos e sinais começam a aparecer em suas plantações - indicando para uma invasão alienígena de escala global.

Basicamente, um filme de invasão. Mas como elaborado no parágrafo de introdução, é o ponto de vista adotado pelo cineasta que torna a experiência tão rica e diferente das inúmeras outras abordagens a esse gênero. É um filme silencioso e isolado, e todas as influências externas que nos oferecem pistas do que acontece numa escala maior vêm pelo jornal ou televisão, e é admirável como Shyamalan inicia uma progressão muito controlada para a sequência de eventos; mostrar um lojista assistindo à uma matéria na TV sobre os círculos na plantação para contar o número de comerciais de refrigerante, por exemplo, oferece uma visão natural e de figuras palpáveis para um tema tão intenso. O roteiro do diretor também trabalha bem ao trazer sugestões e pistas sobre o background dos personagens, como o fato de todos ainda chamarem Graham de "padre" ou o taco de beisebol de Merrill na parede da sala.

Esse clima quieto e aparentemente sem eventos só torna mais exacerbante quando as grandes ameaças do longa começam a de fato se manifestar. Em dois momentos, vemos o talento incontestável de Shyamalan para construir um suspense insuportável até a revelação de algo; o primeiro deles, indubitavelmente o mais famoso do filme, acontece quando Merrill assiste pela televisão (novamente, a presença da mídia torna tudo mais alarmante) um vídeo captado em uma festa de aniversário no Brasil, onde vemos diversas crianças gritando e tentando encontrar a criatura alienígena - que nos é revelada de forma abrupta e assustadora pela primeira vez, seguido pelo tema marcante de James Newton Howard. O outro momento segue o mesmo princípio, com Graham entrando na casa de Ray Redds (personagem do próprio Shyamalan), onde ele clama ter conseguido trancafiar um dos alienígenas após uma briga. Nossa expectativa já é enorme por sabermos que o invasor pode aparecer a qualquer instante, e Shyamalan nos mantém colados à poltrona quando Graham usa a lâmina de uma faca para enxergar o cômodo do outro lado da porta trancada; culminando em mais uma súbita aparição da criatura, mas que impacta - e assusta - justamente pela longuíssima antecipação.

O grande clímax da projeção mantém essa condução primorosa e requintada, com Shyamalan nos mostrando o mínimo possível das criaturas ou da violência; ouvir pelo outro lado da porta os latidos de um cachorro serem interrompidos pelo cortante som de um pescoço se partindo é muito mais impactante. É também quando Sinais afasta grande parcela do público, que considera o desfecho uma grande bobagem e artificial por trazer Merrill enfrentando o alienígena com seu taco de beisebol. E realmente teria sido, se Shyamalan não tivesse preparado todo um jogo de foreshadowing que culmina brilhantemente nesse momento, desde as conversas sobre beisebol com seu colega militar, o flashback de Graham onde sua esposa diz para "bater com força" e até a mania de Bo em espalhar copos de água pela casa. Essa culminação de elementos, aliadas à mudança na câmera de Shyamalan (que abraça planos centrais e lentes grande angulares para marcar a catarse de Graham) e a forte música de Howard, tornam esse um dos mais belos e emocionantes momentos da carreira do cineasta.

Sinais talvez seja o mais Hitchcockiano dos trabalhos de M. Night Shyamalan, com uma verdadeira masterclass de como construir-se uma ambientação pesada e envolvente, ao passo em que o suspense desenvolvido é um dos maiores de sua carreira. É justamente por tapar o mundo externo de um evento megalomaníaco e alarmente que temos algo realmente assustador.

Sinais (Signs, EUA - 2002)

Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Elenco: Mel Gibson, Joaquin Phoenix, Rory Culkin, Abigal Breslin, Cherry Jones, M. Night Shyamalan
Gênero: Suspense, Ficção Científica
Duração: 106 min

https://www.youtube.com/watch?v=G4f3X1TGSXY


by Lucas Nascimento

Crítica | Corpo Fechado - O Filme de super-herói mais realista já feito

Muitas foram as adaptações já feitas de histórias em quadrinhos para o cinema: X-Men (2000), Homem-Aranha (2002), Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008) e consequentemente todos os filmes deste vasto universo dos super-heróis que vieram tanto da Marvel como da DC para as telonas.

No ano de 2000, M. Night Shyamalan estava no auge por ter feito o excelente Sexto Sentido com Bruce Willis e então produziu, dirigiu e roteirizou sua nova produção chamada de Corpo Fechado, com o mesmo Bruce Willis no papel de David Dunn e Samuel L. Jackson interpretando Elijah Price.

O filme de pouco mais de uma hora e meia, apresenta um homem que trabalha como segurança em um estádio e choca o país por ser o único sobrevivente de um acidente de trem que matou todos que estavam a bordo. O mais impressionante não foi que esse homem apenas se tornou o único sobrevivente, mas também porque saiu do acidente sem nenhum tipo de machucado. Todos se questionam como isso pode ter acontecido.

Passada a história de apresentação dos personagens, eis que David Dunn se encontra com Elijah Price, que tem uma doença rara apresentada logo de início, tem seus ossos de vidro. É um roteiro bastante eficiente em sua mensagem e diferente da grande parte das baboseiras das produções feitas de super-heróis, tanto da DC como da Marvel, pois não apela para explosões, super-vilões, nem para efeitos práticos de tirar o fôlego, muito menos para roteiros vagos que chamem o público de idiotas.

Outro atrativo está no fato de tratar de questões humanas, isso sim pode-se questionar se há um tratamento justo em certas produções dos heróis uniformizados atuais, até porque o que mais os roteiristas tentam fazer ultimamente é criar um vínculo destes heróis com o público tentando humanizá-los. Mas a relação dos personagens de Corpo Fechado, principalmente quanto ao do protagonista interpretado por Bruce Willis, é de que há um homem ali que tem um lado Super-Herói, e que ele sempre surge para salvar o dia, e isso é feito de um jeito muito realista pelo diretor.

Corpo Fechado não fala de um herói comum e sim de um homem que busca se encontrar, a sua dupla identidade seria um jeito de se achar. Seu casamento não anda bem, seu filho está com problemas no colégio e deseja que seu pai seja um super-homem. Shyamalan mostra David sempre como se tivesse super-poderes. A cena em que apresenta força sobrenatural do levantamento de peso é quando o personagem realmente começa a perceber que não é uma pessoa comum.

No início do longa o ritmo é um pouco lento e você talvez não entenda o que o diretor quer contar com toda aquela abordagem, mas com o tempo o espectador percebe que há algum faz sentido na atmosfera criada. Tudo que é apresentado está na trama por algum motivo, e esta narrativa é bem trabalhada, é sombrio na medida certa, cheio de traumas humanos e bastante realista. O que chega mais perto deste Corpo Fechado, provavelmente, é Logan, no jeito em que a história é contada 

É claro que todos os elogios ficam com M. Night Shyamalan, que costuma ser muito criticado por algumas de suas produções que dirigiu e parece ter voltado com tudo depois de A Visita. A verdade é que o público sempre espera mais, e como ele surpreendeu em O Sexto Sentido todos vão querer ser surpreendidos com os seus plots twists. Shyamalan um bom diretor, e nesse Corpo Fechado suas tomadas de câmera são ótimas, a todo momento a câmera está em movimento como que se estivesse seguindo os personagens.

Corpo Fechado é essencial para entender o cinema e o universo de Shyamalan que é sim um grande cineasta e esse é um ótimo filme à altura de outras produções do gênero. Uma pena que as outras produções deste universo não tiveram a mesma qualidade, mas o que importa é que este continua sendo um dos grandes clássicos do cinema moderno. 

ATENÇÃO SPOILER: No final de Corpo Fechado o personagem de Samuel L. Jackson vai parar no hospício por ter cometido atentados terroristas a procura de um inumano como ele. No novo Fragmentado, James Mcavoy nas cenas pós-créditos é levado para o mesmo hospício em que Elijah está preso. Seria o início de uma sequência? Recentemente ele havia revelado seu desejo em fazer uma continuação de Corpo Fechado e isso seria incrível. Universos que pareciam tão distintos e que na verdade teriam muita ligação entre sim. É torcer e rezar para que isso aconteça.

Corpo Fechado (Unbreakable, EUA - 2000)

Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Elenco: Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Robin Wright, Spencer Treat Clark, Michael Kell, Charlayne Woodard
Gênero: História em Quadrinhos, Drama, Mistério, Ficção científica
Duração: 106 minutos.


by Gabriel Danius

Crítica | A Bela e a Fera (2017)

Como toda criança, encontrei divertimento nas pequenas coisas.  Tinha certa peculiaridade que certamente definiu as duas carreiras que escolhi para viver. Ver os mesmos filmes repetidas vezes, principalmente as animações Disney. Dentre todas, duas eram favoritas: 101 Dálmatas e A Bela e a Fera. Vi e revi tanto esses dois que praticamente memorizei até mesmo os diálogos. Entre diversas animações favoritas, sempre guardei um pedaço especial para A Bela e a Fera por conseguir conversar tão bem com o público e apresentar um poder de concisão tremendo, afinal o filme tem apenas 84 minutos.

Divertido, edificante, espetaculoso e musicalmente perfeito, era questão de pouco tempo até a Disney encaixar A Bela e a Fera em sua nova linha de remakes milionários trazendo as animações para o universo tridimensional do live action. Até agora, todos os filmes dessa leva superaram as expectativas de bilheteria. Cinderela, Malévola e Mogli: O Menino Lobo e, muito provavelmente, a história se repetirá com A Bela e a Fera mesmo que este remake seja um dos piores já realizados pelo estúdio.

A história é basicamente a mesma que todos conhecemos, obviamente, tomando como base a versão animada da Disney. Bela vive em uma pacata cidadezinha no interior da França. Condenada a viver todos os dias uma vida trivial de rotina trivial na qual todos os camponeses a acham uma garota excessivamente estranha, o cotidiano de Bela sofre uma preocupante reviravolta. Após seu pai inventor, Maurice, se perder a caminho de uma feira de negócios e se tornar prisioneiro de uma perigosa Fera amaldiçoada, Bela parte para resgatar seu pai.

Ao chegar no castelo amaldiçoado, se oferece como prisioneira para que a Fera liberte seu velho pai. Concordando com os termos, Fera liberta Maurice. Ao tempo que Bela permanece aprisionada, descobre que diversos móveis e utensílios domésticos tem vida própria e passa a entender toda a enorme maldição que condena o castelo e seus habitantes ao esquecimento completo. Felizmente, há uma maneira para quebrar a maldição, porém isso custará o preço de um verdadeiro amor entre pessoas completamente opostas.

Entusiasmo excessivo

Logo nos primeiros minutos de A Bela e a Fera é possível notar algo que será aberrante no filme inteiro: é uma obra de muitos excessos e de pretensão alta, afinal há sim o desejo de superar a animação de 1991 – já aviso que isso passa bem longe de acontecer. Já sacrificando a icônica e bela sequência dos vitrais para expor como a Fera se tornou uma criatura amaldiçoada para ilustrar tudo através de um prólogo que busca tecer comparações dos residentes do castelo com a aristocracia francesa pré-Revolução Francesa.

A manutenção da narração over para uma cena que já ilustra toda a arrogância e transformação do príncipe em Fera é absolutamente desnecessária. Claro, confere o tom de "contos de fada" que o filme tanto almeja, porém, removendo a introdução estilizada da animação, torna-se totalmente redundante.

É engraçado notar que o texto de Chbosky e Spiliotopoulos segue à risca o roteiro da animação, porém, mesmo tão parecido, consegue falhar em algumas recriações e, no mais importante, as passagens originais para justificar a tremenda barriga de 47 minutos a mais que essa versão possui.

As canções permanecem peças importantíssimas para desenvolver os personagens e as relações entre eles como em praticamente ocorre em todos musicais. As poucas mudanças na estrutura do original geralmente elaboram romances novos entre os habitantes do castelo ou incrementam maior animosidade entre os camponeses com Bela que agora é inventora também – uma característica que se prova desnecessária, pois é esquecida rapidamente. São empreitadas desnecessárias em conferir ainda mais independência para uma personagem que já é forte e poderosa desde sua concepção no conto escrito em 1740 que marcam a impressão de serem concessões para atender as filosofias políticas de Emma Watson.

A maior aposta dessa releitura é responder uma questão que ninguém havia perguntado até agora: o que houve com a mãe de Bela? A resposta, além de fraca, é totalmente anacrônica e agrega muito pouco para a narrativa. Realmente se torna uma gordura que sacrifica o ritmo fluído dos acontecimentos da obra, além de prejudicar o florescer do romance entre Bela e Fera. O pior desse arco é inserção de um artifício mágico extremamente surreal até mesmo para a diegese estabelecida aqui. É somente criado para resolver essa questão e sumir logo após.

Há também uma ligeira tentativa de humanizar em excesso a figura da Fera com uma canção que justifica o motivo de sua arrogância. Além de vitimizar o personagem, ainda busca responsabilizar os empregados do castelo por toda a maldição. De certa forma, ao inserir esse conceito, há uma poluição em uma das mensagens mais poderosas do filme, sobre arcar com as todas consequências de seus atos vaidosos. Com isso, estranhamente, o personagem perde a boa complexidade marcada pela animação.

Não satisfeitos em inserir uma ideia desnecessária para a Fera, ainda há outra que praticamente consegue enfraquecer o florescer da paixão entre os dois personagens – mesmo que renda o melhor diálogo de todo o filme.

Mesmo mantendo boa parte da estrutura do roteiro da animação, alongando o filme apenas para inserir músicas novas e tentar desenvolver o “grande” mistério do passado dos personagens, os roteiristas conseguiram prejudicar a fluidez da narrativa e a relação entre os protagonistas. Em vez de aperfeiçoarem características dos coadjuvantes clássicos como Lumiere (agora com um pouco mais de tempo para namorar com Plumette), Horloge, Zip e madame Samovar, há maior atenção para madame Garderobe e para o novo personagem Maestro Cadenza, transformado em um cravo.

Então, no que raios a dupla de roteiristas conseguem melhorar do texto da animação? Por incrível que pareça, há sim bons elementos. O divertido núcleo de Gaston e LeFou ganha camadas óbvias graças à paixão escondida de LeFou por seu companheiro que acaba tornando o personagem mais complexo e justificando suas motivações de ficar ao lado de um ser tão vil e canastrão.

Gaston também ganha novos tons de cinza com a indicação de uma intensa bipolaridade que rende momentos genuinamente cômicos. Entretanto, há cenas novas bastante redundantes para dimensionar mais o conflito entre Gaston e Maurice, além de Gaston receber um dos piores desfechos da obra. Também há um bom elemento que traz maior urgência e perigo conforme as pétalas da rosa encantada caem. Só.

O Crepúsculo da Disney

Ao assistir a primeira parte do último filme da saga Crepúsculo, pensei que seria o fim de Bill Condon em Hollywood tamanha a feiura estética e falta de capricho de sua direção. Porém, o quão redondamente enganado eu estava. Ao sair das duas bombas, Condon é convidado para dirigir um dos projetos mais importantes da Disney: o remake de A Bela e a Fera. E o tiro saiu pela culatra. É difícil apontar onde que Condon não erra ao conferir diversos aspectos de telefilme para este remake.

Como havia dito, o filme inteiro é marcado por um exagero visual tremendo. Excesso de elementos em tela marcam quase todos os números musicais, principalmente durante Belle que deveria ser um dos mais singelos possui exagero de figurantes a todo canto, além de receber um dos piores tratamentos fotográficos dos últimos anos graças ao contraste pífio totalmente chapado. O que é uma verdadeira pena, pois trata-se da sequência de apresentação da protagonista e do trabalho exemplar do setor de figurino que dedica atenção crucial até mesmo as vestes do menos importante figurante.

Alguns como "Be Our Guest", o exagero funciona, de certo modo, pois o crescente da música não é respeitado, além de revelar um dos bons momentos de lucidez da direção de Condon ao realizar uma pequena sequência que mostra os preparativos do jantar espetaculoso de Lumiere. Outro bom detalhe visual é dar maior relevância para a maldição de modo mais explícito. Além de condenar o castelo a uma vida deformada e esquecida, tudo é gélido, sombrio e abandonado. Nisso sim, a fotografia e o design de produção acertam em cheio: é uma recriação exemplar do castelo visto nos desenhos, porém, é uma pena que o diretor não saiba aproveitar adequadamente seu espaço com pontos de vista mais interessantes.

Condon realmente deixa a decupagem desse filme extremamente quadrada e sem graça. Os únicos planos que conseguem ter força geralmente são recriações dos enquadramentos clássicos do desenho. Ao menos, apesar de quadrada e bastante sem-graça, Condon tem noção que está gravando um musical e, portanto, quase nunca prejudica as coreografias grandiosas garantindo o espetáculo destas cenas. Em "Gaston" temos um dos melhores exemplos de como Condon sabe maneirar nos exageros e criar um ótimo número musical divertido.

Entretanto, é justamente nos novos números musicais que Condon consegue revelar a sua pior característica: a breguice. Sem a base do desenho, o diretor realmente se perde nas três novas canções, "Days In The Sun", "Montmartre" e "Evermore". Essas derrapadas do diretor são cruéis porque as canções são boas e funcionam melhor quando escutadas isoladamente, sem a encenação.

Há também problemas rasteiros de montagem por conta de Condon confundir que não está dirigindo uma peça da Broadway, mas sim um filme. Ao menos três números musicais se encerram com cortes para o preto e logo depois apresentando cenas em espaços completamente diferentes. Isso consegue te tirar completamente da atmosfera do filme. A ação também é bastante infeliz ao se perder em um tom infantiloide que ameniza toda a sequência da invasão dos camponeses no castelo ou beiram o risível como a cena na qual Maurice foge de uma alcateia de lobos. Outras cenas antológicas como a da biblioteca, também causam estranhamento pela escolha equivocada da decupagem.

Enfim, o que mais estranha em A Bela e a Fera é o quão vazia está obra é. Há certo estranhamento que pode ser totalmente subjetivo, mas falta certo quê de magia tão presente na animação que raramente aparece aqui. É triste, pois é uma história que possui muitíssimo potencial. Esse estranhamento pode ser gerado por muitos elementos distrativos e um deles certamente é a atuação medíocre de Emma Watson como Bela.

Mesmo que Watson não consiga atingir as notas de Paige O’Hara, dubladora original, a cantoria é afinada e boa. Entretanto, em termos de expressividade, Watson passa longe de acertar o tom e essa culpa também recai no diretor. A atriz canta muitas vezes com os braços contidos ao corpo, nunca expandindo ou explorando seus gestos como forma de libertação durante as canções. As poucas vezes que arrisca, copia a movimentação da versão animada da personagem.

Sua interação com os objetos virtuais também deixa a desejar com olhares vazios que realmente revelam que não há nada ali. O melhor exemplo é seu primeiro encontro com Zip em uma estranha troca de plano e contraplano. Com Fera, o mesmo ocorre, até mesmo durante a bela valsa. A maquiagem virtual deixa bastante a desejar assim como todos os efeitos aplicados no personagem de rosto, por incrível que pareça, bastante humanizado.

Em contraponto da apatia de Watson, Dan Stevens oferece um show como Fera. Uma pena que devido a tantas barrigas e cenas desnecessárias, seu tempo de tela seja tão rápido – sua presença no desenho é maior por conta da curta duração da obra. Ele sim consegue se comunicar através de olhares irados que se acalmam conforme se apaixona pela moça tanto que o número musical de Something There só funciona graças a pureza de seu desempenho.

Luke Evans e Josh Gad também estão ótimos como Gaston e LeFou capturando a canastrice e inocência apaixonada, respectivamente, com perfeição. Porém, no setor de dublagem há outro jogo de extremos. Ian McKellen consegue tornar Horloge uma figura ainda mais pesada e presente do que ela já era. Emma Thompson faz Madame Samovar com a mesma doçura de outrora. Porém, o irreconhecível Ewan McGregor transita entre momentos excepcionais e abissais com Lumiere. Por vezes acerta o sotaque, outras, uma entonação latina-francesa surge.

O principal problema com os objetos e móveis também recaem no design de produção realista. Enquanto os animadores acertam com Zip e Lumiere – único personagem encantado que conta com uma figura humanoide, Horloge possui uma movimentação travada e um tanto bizarra, assim como Madame Samovar que apenas é um bule com um rosto sem graça estampado. Por conta dessa abordagem, a maioria deles é extremamente rígida perdendo o encanto de antes – isso é justificado no enredo, mas não deixa de ser uma decisão ruim.

Fantasmas do Passado

A nova versão de A Bela e a Fera tem grandes chances de ser um sucesso financeiro. Entretanto, é uma pena que a qualidade apresentada aqui seja tão irregular. A escolha dúbia de Condon em conduzir um projeto importante foi confirmada com o que vimos em tela. Há diversos problemas e as passagens inéditas que visam justificar a existência desse filme acabam por prejudicá-lo consideravelmente.

O elenco e parte do design de produção, além da força da história adaptada pela animação compensam uma ida ao cinema. Alan Menken, um dos gênios musicais da Disney, inclusive prepara arranjos totalmente novos para suas composições que logo vão completar três décadas – uma pena que não haja a presença da ótima Human Again. As mensagens sobre não julgar as pessoas pela aparência, amor pleno, inteligência e coragem também são transmitidas com clareza – até mesmo explícita com alguns diálogos sobre a monstruosidade dos normais ante a gentileza da Fera.

É recomendado apenas não esperar uma estupenda transformação aqui. A lembrança da animação berra a cada instante tornando impossível não comprar uma obra com outra. E acredite, a nostalgia não agregará em nada para uma obra que consegue ser bastante vazia. É difícil entender a existência desse filme quando justamente sua maior força somente é encontrada nas encenações do desenho. Portanto, para se maravilhar com A Bela e a Fera, só é preciso revisitar o clássico de 1991 na prateleira mais próxima.

A Bela e a Fera (The Beauty and the Beast, EUA – 2017)

Direção: Bill Condon
Roteiro: Steven Chbosky, Evan Spiliotopoulos
Elenco: Emma Watson, Dan Stevens, Luke Evans, Josh Gad, Kevin Kline, Hattie Morahan, Haydn Gwynne, Ewan McGregor, Ian McKellen, Emma Thompson, Stanley Tucci, Audra McDonald, Nathan Mack
Gênero: Contos de Fada, Fantasia, Romance, Musical
Duração: 129 minutos.


by Matheus Fragata

Crítica | O Sexto Sentido

...são os surpreendentes minutos finais que revelam ao espectador que todas as pistas já haviam sido colocadas...

Quando O Sexto Sentido foi lançado nos cinemas, em 1999, o seu roteirista e diretor, o indiano M. Night Shyamalan, era um completo desconhecido. Com uma carreira constituída de apenas dois longas metragens mal sucedidos e o roteiro de O Pequeno Stuart Little, ninguém imaginava que ali estava um dos nomes mais promissores do suspense contemporâneo. Ninguém, com a exceção da Disney, que, ao dar ao talentoso diretor a oportunidade de filmar com plena liberdade o texto original que havia escrito, produziu a obra de suspense mais comovente e fascinante dos últimos vinte anos.

Começando com uma espécie de prólogo, a trama do filme se inicia na noite em que o psicólogo Malcolm (Bruce Willis) é atacado brutalmente por um dos seus pacientes. Depois desse evento, há um salto de um ano, e a história se concentra na relação que o protagonista tem com Cole Sear (Haley Joel Osment), um garoto de nove anos de idade que afirma ter contato com pessoas mortas.

Diferentemente de inúmeros suspenses lançados nos últimos anos, O Sexto Sentido compreende perfeitamente um dos elementos fundamentais do gênero: para que as ameaças da trama gerem antecipação é essencial que o público se importe com os personagens e os seus respectivos destinos. Se não há essa ligação emocional entre o espectador e a situação dramática que está sendo narrada, o suspense vira um exercício de estilo sem significado algum. Assim, o medo, um dos sentimentos mais poderosos que o Cinema é capaz de produzir, é desperdiçado, jogado na vala comum da mediocridade.

Felizmente, M. Night Shyamalan, muito ciente disso, constrói motivações verossímeis (levando em conta o elemento sobrenatural da história, isso é um mérito que merece ser destacado) e seres tridimensionais. Aliada às atuações sóbrias de todo o elenco e o carisma tanto dos dois atores principais quanto de Olivia Williams e Toni Collette (a primeira interpreta a esposa de Malcolm, e a segunda, a mãe de Cole), essa preocupação do roteirista e cineasta com a profundidade de seus personagens e da relação que eles mantêm salta aos olhos ao longo de toda a projeção, a ponto de fazer com que consideremos o filme um drama com pitadas de suspense e não o contrário.

Se preocupando também com a relevância para a trama dos momentos mais aterrorizantes e não apenas da dos personagens e das situações dramáticas, Shyamalan, muito inteligentemente, além de trazer conceitos interessantes de espiritismo para a história (o frio é cinematograficamente poderoso), introduz a fantasmagoria de uma maneira com que as suas características (sim, os fantasmas não aparecem apenas para assustar o espectador - embora isso claramente exista, afinal, estamos falando de um filme de suspense -, e sim porque eles têm um motivo para ainda estar aqui neste Mundo) sejam similares a algumas das características dos personagens: não é à toa que uma das figuras mais recorrentes é o espectro interpretado pela jovem Mischa Barton, uma personagem cuja idade e vulnerabilidades são muito próximas das de Cole (e é fascinante pensar que, talvez, ela assuste o personagem somente porque é jovem e não sabe como abordá-lo).

...no início e ao longo da história, nos mostrando que a compreensão de todos os componentes cênicos e cinematográficos só ocorre...

No entanto, não é apenas na construção do roteiro que o diretor naturalizado norte americano se sai bem. Aliás, por incrível que pareça (dada a excelência atingida no texto), são nas escolhas que ele faz como diretor que o seu verdadeiro gênio aparece. Desde os enquadramentos e ângulos usados para criar uma sensação de terror no público, até no emprego de alguns elementos que aproximam o filme do drama e até mesmo da fantasia, passando pela lógica visual trabalhada e desenvolvida quase que em todos os frames da película, cada um dos componentes selecionados cuidadosamente pelo diretor e sua talentosa equipe indicam um cineasta com total controle das armas cinematográficas disponíveis no seu arsenal.

Falando, em primeiro lugar, sobre o trabalho de câmera, um momento, entre vários outros, que funciona como um perfeito exemplo da destreza de seu diretor é a cena que mostra Cole indo ao banheiro no meio da noite. O plano geral do corredor vazio, o plano detalhe do medidor - indicando que a temperatura está caindo -, a garota atravessando a tela (com o surgimento de alguns acordes da trilha) e o corte imediato para o close-up de Cole enquanto ele vira lentamente o rosto (aqui, o mérito também é do montador) é uma aula de como o silêncio (aliás, esse é um recurso muito usado pelo diretor), o timing e a composição de quadros econômicos e milimetricamente precisos são essenciais para a construção do suspense. Um outro instante que também serve como exemplo é cena da escadaria. Percebam como pequenos recursos - a compassividade dos passos de Cole e o ângulo contra-plongée que revela as curvas tortuosas da escada - são suficientes para gerar uma forte náusea no público.

Já no que diz respeito aos elementos empregados com o objetivo de fornecer ao filme um tom mais dramático e até mesmo fantasioso, são a trilha sonora composta pelo sempre competente James Newton Howard (que, além de ressaltar, com nítidas distinções, os momentos de suspense dos mais dramaticamente densos, dá à narrativa, com determinados acordes, um pungente sentimento de jornada) e as penumbras em que Tak Fujimoto, o diretor de fotografia, mergulha os personagens, as responsáveis por embalarem o filme de uma maneira, por vezes, irresistivelmente mágica. Por fim, comentando sobre a lógica visual estabelecida, a iluminação escura e o uso de preto, cinza, tons pastéis e algumas cores que remetem às do outono, como o amarelo, vinho e marrom (a maior parte do filme se desenrola nessa estação do ano, o que também auxilia na criação dessa atmosfera mágica) pintam com lugubridade e melancolia a tristeza do mundo habitado pelos personagens. Além disso, não há como não falar do brilhante trabalho de design de produção, o qual, através de algumas vestimentas do figurino e objetos de cena, emprega o vermelho como um poderoso símbolo, afinal, é uma cor que simboliza tanto a morte, tão presente na narrativa, quanto o imenso amor que todos os principais personagens compartilham por seus entes queridos.

Porém, aqueles que assistiram a O Sexto Sentido sabem que, por mais que os méritos citados neste texto mereçam ser destacados, é mesmo o final do filme o grande responsável por tê-lo transformado numa obra venerada até os dias de hoje. Na época em que foi lançado, o cenário de suspense não estava muito bem servido (assim como nos dias de hoje). A abordagem mais clássica e o tom intimista adotado por Shyamalan não eram coisas muito vista pelos espectadores do final da década de 1990. Mas essas características acabaram ganhando muito mais força em razão da surpreendente revelação final. Hoje em dia, quando se fala de O Sexto Sentido, fala-se sempre dos seus minutos derradeiros.

Apresentando uma revelação comovente e corajosa, que impôs ao seu trabalho como diretor e roteirista uma atenção extrema aos detalhes e o emprego de uma lógica narrativa que se sustentasse após várias revisões, Shymalan provou com o seu filme que é somente no final que se tem o sentido pleno de uma obra cinematográfica. Afinal de contas, são os surpreendentes minutos finais que revelam ao espectador que todas as pistas já haviam sido colocadas no início e ao longo da projeção, nos mostrando que a compreensão de todos os componentes cênicos e cinematográficos só ocorre na conclusão da história. Assim, fica claro que é no final de um filme, e somente nele, que se entende o começo e o meio. Assim como num texto.

O Sexto Sentido (The Sixth Sense, EUA – 1999)
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Elenco: Bruce Willis, Haley Joel Osment, Toni Collette, Olivia Williams, Mischa Barton, Donnie Wahlberg
Gênero: Suspense
Duração: 107 minutos


by Redação Bastidores

Crítica | O Lobo de Wall Street

Eu adoro Ilha do Medo. E acho A Invenção de Hugo Cabret um filme adorável. Mas é com O Lobo de Wall Street que Martin Scorsese tem a oportunidade de fazer (novamente) aquilo que faz como ninguém: histórias sobre sujeitos do outro lado da lei, almas sórdidas cuja conduta irreversível atropela todos os valores éticos, morais e até vidas humanas em sua trajetória brutal – e que, ainda com todas as características repelentes, certamente vão conquistar o público e fazê-lo (de certa forma) ficar ao seu lado, mesmo quando o fundo do poço transforma-se no desfecho inevitável.

A trama é inspirada na vida real de Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), um implacável corretor da bolsa de valores que rapidamente foi construindo sua reputação em Wall Street na década de 80. Sua estratégia rendeu milhões graças a sua série de mentiras a que submetia compradores de ações mais baratas, para depois iniciar uma grande empresa que se manteve sob mesmo modus operandi, visando agora os grandes investidores. O roteiro de Terence Winter aborda também sua vida pessoal e as complicações com o FBI que Belfort enfrentou.

Em muitos aspectos, O Lobo de Wall Street se assemelha muito a dois dos melhores filmes da carreira de Martin Scorsese: Os Bons Companheiros e o subestimado Cassino. Não só pelo fato de termos duas histórias reais sobre sujeitos que ascenderam em suas carreiras ilegais (para depois, sucumbirem em suas próprias ambições estratosféricas), mas pela forma com que seu magistral diretor as contou. Scorsese utiliza de diversos recursos visuais fascinantes, seja a colagem de diversos vídeos promocionais dentro da história, narrações em off (e até uma curiosa “conversa telepática” entre dois personagens) seus famosos planos-sequência (aqui, rende a sequência mais intensa da projeção, que envolve uma tensa briga domiciliar), a quebra da 4a parede para inteligentemente aproximar o espectador do protagonista (“Vocês não estão entendendo nada disso né? Resumindo, tudo isso era ilegal”, diz Belfort diretamente para a câmera após exemplificar diversos termos específicos da Economia) ou até mesmo alterações na razão de aspecto da tela. Muitos créditos também para a excepcional montadora Thelma Schoonmaker, que profere velocidade e um ritmo alucinado à projeção, mesmo com suas extensas 3 horas.

É de se impressionar também com a presença do humor (politicamente incorreto em sua mais pura forma, claro) presente aqui. Mais conhecido por seu trabalho em séries como Família Soprano e Boardwalk Empire, o roteirista Terence Winter tece diversos diálogos inteligentes e bem contextualizados na insanidade do mundo das ações de Wall Street. Seja no importantíssimo diálogo com o personagem de Mark Hanna (Matthew McConaughey, em participação breve mas memorável) ou no sutil duelo de segundas intenções travado por DiCaprio e o agente do FBI vivido por Kyle Chandler (que pelo visto, se contentou em fazer exatamente o mesmo papel em todos os seus trabalhos em Hollywood) em um barco, que vai ficando mais envolvente (e divertido) à medida em que os dois vão compreendendo suas intenções. Winter também aposta em diversas cenas que não escondem o vício em drogas e as luxuriosas orgias do protagonista  e mesmo que diversas vezes o efeito seja cômico, é impossível não ter a noção de que Jordan está cada vez mais próximo de sua autodestruição.

E então chegamos à performance central de Leonardo DiCaprio. Uma que, não fosse tão bem sucedida, resultaria na perda de identificação entre o filme e o espectador e eu aqui agradeço mais uma vez pela gloriosa parceria entre o ator e Scorsese. Na pele do irremediável Lobo, o intenso DiCaprio alcança aqui um dos trabalhos mais memoráveis de sua esforçada carreira, demonstrando incríveis habilidades como ator, dançarino e… ginasta – aguardem só pela cena em que DiCaprio e o colega Jonah Hill (que nem parece Jonah Hill, de tão perdido dentro de seu comicamente perturbado Donnie Azoff) sofrem os efeitos de uma droga rara; duvido que haverá cena mais insana do que esta em 2014. De tão bom que está, um (merecido) Oscar para DiCaprio seria um mero pleonasmo.

Com o mais inspirado uso de trilha sonora incidental em sua carreira em anos, O Lobo de Wall Street é uma frenética e implacável tragédia grega do mundo das finanças. Pode muito bem ser considerado o terceiro capítulo da "trilogia" formada por Os Bons Companheiros e Cassino, mais uma fantástica adição para a carreira de Martin Scorsese. Um trabalho de mestre. Obrigado, Scorsese. Obrigado, Leo.

O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, EUA – 2013)

Direção: Martin Scorsese

Roteiro: Terence Winter
Elenco: Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Matthew McConaughey, Kyle Chandler, Jon Favreau, Rob Reiner, Jon Bernthal, Jean Dujardin, Joanna Lumley, Cristin Milioti
Gênero: Ação, Aventura
Duração: 180 min

https://www.youtube.com/watch?v=iszwuX1AK6A


by Lucas Nascimento

Crítica | A Invenção de Hugo Cabret

Martin Scorsese é um dos maiores diretores da História do Cinema, e um não pode ser chamado de cinéfilo sem ter visto alguma de suas obras-primas. Famoso por longas de gangsters e violência, ele explora território completamente novo em A Invenção de Hugo Cabret (pronuncia-se “Cabrê”), uma doce e inocente aventura infantil em 3D, onde o cineasta aprimora técnicas narrativas e ainda encontra espaço para homenagear a Sétima de Arte.

A trama é ambientada em uma Paris dos anos 30 cujo visual beira o fantástico (em um excelente trabalho do design de produção e efeitos visuais), onde encontramos o órfão Hugo Cabret (Asa Butterfield) morando entre as paredes do relógio de uma estação de trem. O jovem sobrevive por meio de furtos e escapadas, enquanto tenta consertar um enigmático autômato deixado por seu pai (Jude Law), e inicia uma amizade com Isabelle (Chloe Grace Moretz), que possui a chave para a resolução do mistério.

Assim como O Artista e Meia-Noite em Paris (ambos indicados para Melhor Filme no Oscar de 2012), Hugo é um ode ao passado, uma homenagem nostálgica sobre tempos mais simples e inesquecíveis. Escrito a partir do livro de Brian Selznick, o roteiro de John Logan é um texto maravilhoso que traz mensagens verdadeiramente inspiradoras em suas entrelinhas (especialmente na comparação feita por Hugo entre o mundo e uma máquina, e o conceito das peças extras) ao mesmo tempo em que traça histórias interessantes dentro desse mundo semi-fantasioso. Os diálogos fluem bem e sua trama é acessível para qualquer público, com um requisito claro: a paixão pelo cinema.

E Scorsese é um apaixonado por cinema. Ele usa o texto de Logan como guia e faz de Hugo algo propriamente pessoal, usando de velhas assinaturas (como a névoa, onipresente nos filmes do diretor, que ganha uma bela profundidade com o 3D) a passo que adota recursos mais modernos, como o ótimo travelling digital nos segundos iniciais – que oferecem uma imersão no cenário e na história como eu não via há muito tempo; eu realmente me senti dentro da estação de trem. A tal homenagem à Sétima Arte que você tanto tem ouvido falar é proporcionada, em sua maior parte, pela presença do icônico Georges Méliès (Ben Kingsley, ótimo); precursor no cinema de efeitos especiais, cuja vida e obra são relembradas aqui em uma sequência particularmente empolgante, (Viagem a Lua, longa mais famoso de sua filmografia tem um papel maior) que ainda conta com imagens dos filmes do próprio e de diversos outros (até de O Trem chegando na Estação, primeiro da História). É Scorsese e sua campanha para a preservação de películas em uma propaganda nada apelativa, muito pelo contrário, e sim convincente.

Todo o elenco também abraça o universo de Hugo Cabret. Asa Butterfield impressiona com seu carisma e dramaticidade ao viver o personagem-título, hipnotizando com seus olhos azuis da mesma forma que a sempre talentosa Chloe Grace Moretz esbanja um portentoso sotaque britânico, que cai bem com a empolgação inocente de sua personagem. Repleto de salientes coadjuvantes, Sacha Baron Cohen (o eterno Borat) talvez seja o melhor deles como o divertido inspetor da estação, cuja agressividade na perseguição a jovens órfãos é contrastada de forma dócil por sua timidez ao conversar com a florista Lisette (Emily Mortimer, de Ilha do Medo). Prestem atenção também à ligeira ponta de Martin Scorsese…

A Invenção de Hugo Cabret é mais do que apenas o primeiro 3D de Martin Scorsese. É uma história sobre encontrarmos nossa função no mundo e como os sonhos podem ser capturados pela incomparável magia do cinema. É uma carta de amor para o cinéfilo dentro de todos nós.

Obs: A crítica já deve ter deixado bem claro mas, se possível, assista em 3D!

A Invenção de Hugo Cabret (Hugo, EUA – 2011)

Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan
Elenco: Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz, Ben Kingsley, Sacha Baron Cohen, Emily Mortimer, Jude Law
Gênero: Aventura
Duração: 126 minutos

https://www.youtube.com/watch?v=Hv3obL9HqyY


by Lucas Nascimento

Crítica | Papa Francisco, Conquistando Corações - Cumpre seu papel

Jorge Mario Bergoglio queria ser médico quando adolescente, sua mãe ficou muito feliz ao ouvir as boas novas do filho, mas o filme dá um salto. Depois de receber um livro de sua avó sobre São Francisco de Assis ele então decide que não quer mais ser doutor e sim padre. Sua mãe se revolta, assim como seus amigos que tentam o persuadir da ideia. Essa é a história que o filme Papa Francisco, Conquistando Corações que estreia nessa quinta-feira aos cinemas nos apresenta.

Na trama que conta a trajetória do então padre Jorge Bergoglio até chegar ao papado muito se fala sobre a pessoa e pouco fala de sua história de vida. É abordada sua adolescência até a vida adulta de forma simples, mas muito competente. Mostra sua falta de importância para os bens materiais, sua sensibilidade com os pobres. Há uma cena que mostra bem essa passagem. Uma moça o aborda e reclama dos pobres da favela ele então responde a ela dizendo que isso é a "teoria da lixeira" que nada mais é que pegar todos os pobres da favela e joga na lixeira. O filme tenta a todo momento mostrar que Francisco é uma pessoa do bem, um humanista por natureza. Seu trabalho social na favela tem grande destaque, assim como a idolatria da população por ele. Era chamado de Papa muito antes de ser eleito pelos arcebispos.

Não é de hoje que o cinema argentino adapta boas histórias para o cinema, assim como não é de hoje que o Papa atrai tantos holofotes. Produções como Habemus Papam!, Bórgias, o banheiro do papa já abordaram a vida de diversos papas em vários momentos da história. Filme é baseado na obra "Pope Francis, Life and Revolution" (Sem previsão de sair no Brasil) da jornalista Elisabetta Pique. Essa jornalista tem papel importante na produção já que ela que conta a história.

Ela era jornalista quando foi chamada para cobrir a eleição do novo Papa que seria Joseph Ratzinger. Já nessa eleição o nome de Bergoglio foi lembrado por alguns colegas e isso o deixou chateado por o usarem para frear a vitória de Razinger considerado muito conservador.  Depois que o Papa renunciou Bergoglio foi eleito, e o filme mostra que ele não era cotado em nenhum momento para vencer. Foi uma surpresa geral sua eleição, mas não para os argentinos que sempre o idolatraram. No ano em que foi eleito Papa tinha como plano se aposentar de sua carreira eclesiástica.  O filme não aborda os planos de Francisco tinha para modernizar a igreja Católica.

A direção de arte e figurino são perfeitos, a fotografia passa um ar de serenidade, calma, deixa um ar de santidade para o religioso. A direção de Beda Docampo é simples e bela, e claro não podemos deixar de falar da alma do filme: Darío Grandinetti.

Darío é um ator argentino se não tão famoso quanto seu compatriota Ricardo Darín é sim tão competente quanto o mesmo. Em sua biografia cinematográfica encontramos produções consagradas pela crítica como Relatos Selvagens, Julieta e Fale com Ela. Grandinetti tem a missão de interpretar uma personalidade que se não é amada por todos é muito respeitada e admirada por sua simplicidade. Consegue transpassar serenidade, calma, suavidade tudo que um homem dessa patente deveria se portar. Sua atuação deixará muitas pessoas emocionadas.

É uma boa história, mas romântica demais em alguns momentos. Por ser um filme curto demais e que é adaptado de um livro ele acaba por ficar preso em um foco apenas do filme. Não consegue abordar temas importantes para a história de Bergoglio, como os anos duros da ditadura em que muitos padres foram assassinados pelo regime militar. Quem quiser se aprofundar melhor na história do papa, incluindo a fase da ditadura deve assistir a produção da Netflix Pode me Chamar de Francisco que por ser uma minissérie trabalha melhor o papel de Francisco durante os duros anos do regime militar. Algo que no filme não é abordado.

Papa Francisco, Conquistando Corações (Francisco - El Padre Jorge, Espanha, Argentina, Itália – 2015)

Direção: Beda Docampo Feijóo

Roteiro: Beda Docampo Feijóo e César Gómez Copello
Elenco: Darío Grandinetti, Silvia Abascal, Anabella Agostini, Eugenia Alonso, Christian Arrieta
Gênero: Drama, Biografia
Duração: 104 minutos

https://www.youtube.com/watch?v=jlQTnXRqFB4


by Gabriel Danius

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