Crítica | Guerra Civil 2 #5

Aviso: Esta crítica contém spoilers

Como previsto, a edição 5 é uma batalha em proporções gigantescas entre os dois lados da Guerra Civil. Até o momento não consigo entender como qualquer herói defenda a Capitã Marvel. Talvez o motivo para Brian Michael Bendis não se preocupar em apresentar uma justificativa em se posicionar juntamente à Carol Danvers é porque realmente não exista uma. Como defender o abuso de autoridade que beira à quebrar a lei para prender pessoas que têm uma possibilidade de cometer um crime?

Sem Desenvolvimento

Lembra na última edição onde vimos o Pantera Negra e Capitão América na mesa com os outros vingadores para conversar com a Carol e decidir essa guerra de forma diplomática? Eles aparecem nessa edição lutando um contra o outro. Capitão ao lado de Tony e Pantera (inexplicavelmente) ao lado de Carol Danvers. Pra finalizar a participação de T'Challa, ele segura o Homem de Ferro e pede para ele "Parar essa luta!", sendo que na edição anterior foi mostrado claramente que Tony está tentando justamente isso.

Pantera Negra mal utilizado

E esse é o grande problema da maior parte dessas super sagas. Como você precisa colocar absolutamente todos os heróis dentro da mesma história, não dá tempo pra desenvolver de verdade qualquer um deles. Exigindo do leitor que ele acompanhe todas as edições solo pra ajudar a dar sentido na saga principal, como é o caso de T'Challa. Absolutamente nada na saga inteira explica o posicionamento do rei de Wakanda.

Personalidades Alteradas

O maior problema do quadrinho é justamente que muitas personalidades de heróis diferentes precisam ser significativamente alteradas para que a Guerra anunciada realmente aconteça. Em muitos casos, o personagem em si é totalmente ignorado. O importante é que ele apareça fazendo alguma coisa legal e falando alguma frase que é sua assinatura. Doutor Estranho trancando Tempestade com poderes de magia? É um deleite visual. Mas porque ele realmente está fazendo isso e porque ele decidiu esse lado? Ninguém sabe.

Caos

Adicione a este mix várias outras batalhas e lutas pessoais ausentes de qualquer peso emocional. Rocket Racoon levando um chute do Miles Morales, Sam Wilson enfrentando Magika, Doutor Estranho contra os X-Men... Tudo não passa de barulho e de um espetáculo beirando estupidez. Em dado momento da luta, Tony Stark entra no capacete de Peter Quill para tentar racionalizar com ele, enquanto Quill o consola pela morte de Rhodes. O Visão erra um tiro (de novo!) e destrói a nave dos Guardiões. Chega a ser risível. Não existe nenhuma carga dramática.

Muitos personagens, pouco desenvolvimento

A edição acaba com uma nova visão de Ulysses que interrompe a guerra. Nessa visão vemos o Homem Aranha de Miles Morales matando o Capitão América. Mesmo que Tony saiba que a visão não é algo que realmente acontecerá, todos juntos param de lutar. A edição finaliza com Capitã Marvel se aproximando de Miles e anunciando sua prisão, com todos os heróis somente olhando.

Arte

David Marquez e Justin Ponsor continuam seu bom trabalho para desenhar ação. A confusão das batalhas fica reservada somente para as motivações, não para as lutas. Sempre com bastante dinâmica e belamente feitas, temos explosões e raios de poder para todos os lados, sem perder de vista os ângulos da ação. Existe um painel em específico que me chamou muito a atenção e é justamente o único em que Clint Barton aparece. Na terceira edição tínhamos o painel onde ele se entrega, com muita luz sobre seu corpo em posição de rendição. Nesta, temos ele em isolamento, caminhando por uma floresta com seu arco preso às costas. Agora seu rosto está virado para baixo com sombras e linhas mais rústicas. A cena denota um tom sombrio para o herói.

A única ressalva para o trabalho do desenhista desta edição é que o cenário onde eles estão lutando é desprovido de grandes detalhes. Existem cenas que nos fazem pensar que eles estão lutando dentro da sala de treinamento da Mansão X. Não existem veículos, objetos, paredes... Somente o chão do terraço que é muito pouco detalhado. Grande destaque para os heróis, pouca atenção para o plano de fundo.

Conclusão

A falta de carga dramática tem o efeito de justamente alienar o leitor. Nós acabamos lendo o quadrinho como se estivéssemos vendo um jornal. Sabemos quem está envolvido, sabemos quem matou quem e quem destruiu o quê. Mas não fazemos ideia das motivações pessoais. A história se torna desinteressante.

E o pior é que já estamos na edição 5 e certa profundidade já deveria ter sido conquistada. O leitor já deveria estar mais envolvido com os personagens e familiarizado com o que eles defendem.

Apesar de um início interessante, Guerra Civil continua dando sinais de fraqueza e Bendis entrega um trabalho muito inferior ao que já vimos em seu currículo e extremamente comercial.


Crítica | Guerra Civil 2 #4

Aviso: Esta crítica contém spoilers

E após uma edição que nos mostra que Guerra Civil 2 pode ser uma saga interessante, acordamos dessa ilusão com a edição 4. Guerra Civil 2 será somente mais uma saga.

O que realmente é uma pena, apesar de longe de ser surpresa. Poucas super sagas Marvel têm realmente sido um ponto fora da curva, como Guerras Secretas de 2015. Elas passaram a ser somente algo comercial, caça níquel. Com o lançamento do filme Capitão América: Guerra Civil , é claro que a Marvel não perderia a oportunidade de lucrar em cima da marca.

E isso fica explícito na edição 4. Temos ameaça de uma batalha com praticamente todos os heróis, entrada dos Guardiões da Galáxia, revelações sobre o Ulysses... Mas comecemos pela ponta solta da última edição.

Gavião Arqueiro

Na última edição, o veredito sobre o julgamento de Clint Barton, o Gavião Arqueiro, referente o assassinato de Bruce Banner, o Hulk, estava para sair. Essa edição se inicia com Carol Danvers visitando a Mulher Hulk no hospital, para dar a notícia do que houve. Como era de se esperar, aqui já encontramos ela saindo do coma e pronta pro combate. Algo diferente do fim da edição 1 onde parecia que ela morreria. Carol a informa sobre o assassinato de seu primo e a decisão do julgamento: Clint Barton é inocente. Notícia esta que enche Jennifer Walter de raiva:

Clint Barton tem problemas pela frente

Profiling

Como estamos acompanhando desde a primeira edição deste evento, Tony Stark procura entender o funcionamento dos poderes do personagem Ulysses. Este, por sua vez, é o pivô de Guerra Civil 2 com seus poderes de clarividência. Tony descobre que seu poder não é de fato prever o futuro, mas sim, enxergar o cenário com possibilidade de ser realidade. Ou seja, tudo o que ele viu até o momento poderia acontecer, mas não com certeza. Jogando outro tema atual para dentro da história: o famoso profiling. Profiling é calcular as chances de uma pessoa agir de certa forma, baseado em estatísticas do grupo ao qual ela pertence. Este é um assunto em voga na eleição americana e em muitos noticiários. Ao passo que a idéia de calcular se um refugiado sírio (por exemplo) tem chances de ser um terrorista parece segura, ela também possui uma face racista. E é esse o ponto que o quadrinho quer abordar.

Kamala Khan já escolheu seu lado

Ao passo que eu acho interessante o tema ser discutido dentro dos gibis usando uma ameaça real, o Hulk, para ilustrar o assunto e criar um paralelo, eu penso que não existe mais uma dúvida sobre qual lado estar. É válido prender alguém por um crime que essa pessoa possa cometer? Fico imaginando um julgamento de alguém nesse caso. E o pior, Capitã Marvel já está prendendo pessoas com a ajuda de Ulysses a semanas, dentro da história.

Heróis com cabeça dura Ideais

Tony, com as novas informações sobre o funcionamento dos poderes do inumano, junta uma parte dos heróis, dentre eles Steve Rogers, para uma última tentativa de conversa com Carol Danvers. Nessa conversa, Stark explica que na verdade as previsões do futuro não irão de fato acontecer. São somente possibilidades. Dentro do quarto temos figuras como Dr. Estranho, o Fera, Pantera Negra e Medusa, juntamente com Raio Negro. Todos como mera decoração, diga-se de passagem. Esqueça os diálogos inteligentes de Illuminati. A discussão é entre Tony e Carol, que continua agindo como cabeça dura e sai da reunião no meio da conversa, deixando os heróis para trás boquiabertos. Assim como o leitor, que vai ficar sem entender o porque de tanta dificuldade de comunicação. Mesmo sabendo que as visões de Ulysses são duvidosas, ela parece não se importar. Novamente, para que uma história de briga de heróis funcione, eles precisam estar se comportando como adolescentes de ego super crescido. Mesmo assim, gostaria de ver uma defesa melhor do lado dela. É impossível, por lógica, ficar dividido nessa guerra civil.

Após sair da reunião, Carol começa a interrogar a mais nova prisioneira por algo que pode cometer relacionado à Hydra. Uma simples civil, presa pessoalmente pela Capitã Marvel ao sair de seu trabalho em um banco e colocada dentro de uma cela de um prédio da SHIELD. Esse é mais um exemplo de como a Capitã está agindo de forma irresponsável e exagerada.

Enquanto a interrogação se desenvolve, Noturno tira a civil da cela com seus poderes de teletransporte. Ao mesmo tempo, é dado um alerta de intrusos no terraço do prédio. No topo, está Tony Stark e um contingente de heróis ao seu lado. A mensagem é clara: Carol Danvers e seus aliados precisam ser parados. Apesar de parecer em grande desvantagem, a Capitã possui uma carta em sua manga; por um milagre, os Guardiões da Galáxia.

Eu digo milagre porque não faz nenhum sentido que Peter Quill e seu bando tenham interesse em uma confusão na Terra. Além, é claro, do motivo comercial: o Rocket Racoon na capa da edição 4 .

Conclusão

Por fim, a conclusão é que Guerra Civil 2 chegou ao ponto que queria chegar, uma enorme luta entre vários heróis que vai gerar as consequências duradouras nas edições solo de cada herói (duradouras até a próxima saga que deve chegar em Maio do ano que vem com novas promessas de mudanças e etc...). A idéia de que Ulysses conseguia de fato prever o futuro era a única coisa que poderia deixar alguém indeciso sobre que lado defender. Essa indecisão, infelizmente, foi removida nessa edição com a notícia de que não, Ulysses não prevê o futuro. Carol Danvers está literalmente prendendo pessoas com base em ilusões.

Uma pena. Guerra Civil 2 poderia mesmo ser um ponto fora da curva, mas eu admito que seria um pouco de ingenuidade esperar isso desta saga e de seu roterista, Brian Michael Bendis.