Crítica | O Destino de Júpiter - Tragédia grega de Space Opera
Não deve ser fácil ser Lana e Lilly Wachowski. As duas acertaram em cheio com Matrix em 1999 e receberam uma carta branca para se fazer praticamente tudo o que quiserem, desde adaptar o desenho Speed Racer até o ambicioso A Viagem, narrativa de 6 épocas distintas que dirigiram com Tom Tykwer. Agora, as Wachowski trazem sua primeira ideia original desde o encerramento da trilogia Matrix, abraçando em O Destino de Júpiter um pesado space opera que infelizmente não atende às expectativas.
A trama nos apresenta a Júpiter Jones (Mila Kunis), uma jovem que trabalha limpando banheiros para sua família na Terra. Quando o caçador Caine Wise (Channing Tatum) a encontra, ela descobre ser a reencarnação da rainha de uma dinastia alienígena de mil anos atrás, colocando-a na mira do invejoso Balem Abrasax (Eddie Redmayne), que planeja destruí-la para conquistar seu planeta.
Olha, um produtor precisa ter muita confiança para financiar algo como O Destino de Júpiter, pelo simples de motivo de ser um produto original, não adaptado de nenhum material publicado, e por certamente ter custado uma grana alta para os cofres da Warner. E outra, é ridículo demais. Além de a trama se arrastar ao ficar discutindo questões territoriais embaseadas em uma filosofia barata (o roteiro ataca o consumismo, o capitalismo e o sistema, mas nunca se aprofunda nisso) – meio como A Ameaça Fantasma fez no passado – o design das criaturas é risível e estranho, apresentando-nos a híbridos de humanos e animais, que certamente despertarão o riso em algum momento (o que dizer daquele homem-elefante?). Nem as cenas de ação (área que as Wachwoski dominaram como ninguém em Matrix) empolgam, soando genéricas e dosadas demais em efeitos visuais pesados.
O casal de protagonistas também é do mais preguiçoso. Desde as performances automáticas de Kunis e Tatum (a atriz grita mais do que a mocinha de Indiana Jones e o Templo da Perdição, imaginem), o romance dos dois é artificial e repleto de frases intimistas que parecem ter saído de um romance sci-fi de Stephenie Meyer (“Você quer me morder?” é apenas um exemplo), sem falar que Caine salva a protagonista exatamente da mesma forma uma dúzia de vezes – mas tudo bem, porque ele tem um par de patins gravitacionais, o que é bem foda. Quem parece se divertir a beça ali é Eddie Redmayne, que está exagerado e afetadíssimo como o vilão Balem, rendendo bons momentos. Pena que o filme o desperdiça ao apostar em inúmeras subtramas e personagens desinteressantes, especialmente o patético núcleo familiar de Jones.
Mas é uma pena ver o navio afundando de forma tão desastrosa. Eu respeito as Wachowski por corajosamente apostar em uma ideia original e com uma mitologia vasta, algo que está cada vez mais esquecido em tempos de remakes, reboots, adaptações de livros em duas partes e inúmeras continuações de mitos do passado. É triste ver que o resultado aqui é um fracasso.
O Destino de Júpiter poderia ter sido o início de algo novo em Hollywood, mas cai na mesmice ao depender de um roteiro preguiçoso, personagens sem graça e uma abordagem um tanto ridícula para temas de ficção científica. Uma pena, mesmo.
Obs: Com todo o festival de excentricidade, não é nenhuma surpresa que Terry Gilliam magicamente aparece numa participação especial.
O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, EUA - 2015)
Direção: Lana Wachowski, Lilly Wachowski
Roteiro: Lana Wachowski, Lilly Wachowski
Elenco: Mila Kunis, Channing Tatum, Eddie Redmayne, Sean Bean, Douglas Booth, Doona Bae, Tuppence Middleton, Gugu Mbatha-Raw
Gênero: Ficção Científica
Duração: 127 min
https://www.youtube.com/watch?v=KY96kILEt7s
Crítica | Nebraska - Uma comédia em tons de cinza
Depois de um desmistificador olhar sobre a sociedade havaiana em Os Descendentes (que lhe rendeu um Oscar como corroteirista), o diretor Alexander Payne retorna com uma saudável mistura entre o humor e o drama com Nebraska, sucesso do Festival de Cannes que traz Payne e um talentoso time de volta à cerimônia da Academia deste ano.
A trama se concentra no idoso Woody Grant (Bruce Dern), que acredita ter ganhado 1 milhão de dólares em um sorteio e acaba por ficar obcecado em reclamar seu prêmio. Certo de que é apenas um golpe publicitário, seu filho David (Will Forte) promete levar o pai até o estado de Nebraska a fim de lhe garantir uma espécie de satisfação.
Em sua estreia como roteirista de cinema, Bob Nelson elabora uma narrativa muito simples e concentrada nas diferentes situações que ocorrem no caminho da jornada para Nebraska. O mais significativo deles, é certamente a visita de Woody, David e Kate (esposa do protagonista, vivida pela excelente June Squibb) à cidade natal do casal, onde acabam por encontrar parentes e colegas dos velhos tempos. Nelson acerta ao proporcionar os diálogos mais desinteressantes da face da Terra (especialmente aqueles entre a pacata família Grant), e Payne o segue com inteligência ao apostar em um ritmo lentíssimo e sem muitos cortes em tais cenas – mesmo que ocasionalmente maçante, é essencial para a criação de humor do filme. O diretor também agrada ao trazer planos divertidíssimos (como aquele em que dois sujeitos mascarados preparam-se para um ataque inesperado) e que funcionam com o timing de seu elenco – mesmo que completamente unidimensionais, é impossível não rir com os irmãos interpretados por Tim Driscoll e Devin Ratray.
Por outro lado, é interessante a decisão de Alexander Payne em rodar o filme em preto-e-branco, já que esta confere melancolia à saga de Woody Grant. Mesmo que pontualmente engraçado, o personagem do ótimo Bruce Dern é uma figura trágica (alcoólatra, solitário e ingênuo demais), e o veterano ator é eficaz ao dominar um andar manco e devagar; assim como expressões confusas e uma falha audição. E o diretor de fotografia Phedon Papamichael captura com seu inteligente jogo de luzes e sombras o tom apropriado para o longa, fazendo desejar que a Academia voltasse a dividir a categoria entre colorida e preto-e-branco, dada a incrível beleza das imagens capturadas. Além disso, a trilha sonora de Mark Orton contribui ao trazer uma curiosa mistura entre noir e country.
Novamente sobre Payne, devo apontar uma cena específica que traz uma mise en scène fabulosa e absolutamente simples, que comprova seu talento absoluto como cineasta de forma sutil. Logo após os dois filhos (Forte e Bob Odenkirk, da série Breaking Bad e a vindoura Better Call Saul) saírem do carro, Woody fica no banco de trás e sua esposa atrás do volante. Ao retornarem, não há outra decisão estética a não ser colocar Forte ao lado de Woody e Odenkirk ao lado da mãe, o que revela muito sobre seus personagens – e a qual dos pais cada um dos irmãos confere mais afeto. Um exemplo que revela um Payne mais contido, mas nem por isso menos eficiente.
No fim, é interessante observar Nebraska como uma obra sobre a auto-satisfação, mesmo que seja pautada em mentiras. Seja no suposto prêmio do protagonista, que logo desperta interesses alheios, ou em diversos momentos do último ato, o filme de Alexander Payne acerta ao analisar essa temática de forma bem-humorada e até tocante. Mas se a satisfação dos personagens aqui é pautada em elementos fraudulentos, a do espectador diante do filme é verdadeiramente genuína.
Nebraska (EUA, 2013)
Direção: Alexander Payne
Roteiro: Bob Nelson
Elenco: Bruce Dern, Will Forte, June Squibb, Bob Odenkirk, Stacy Keach
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 115 min
https://www.youtube.com/watch?v=ZuIBvmxIN4w
Crítica | Whiplash: Em Busca da Perfeição - Suspense regado a jazz
Fico realmente impressionado quando um artista mostra do que é capaz logo em sua primeira grande obra. Orson Welles em Cidadão Kane, Jean-Luc Godard em Acossado, Quentin Tarantino em Cães de Aluguel e até mesmo Dan Gilroy com seu eficiente O Abutre. Cada uma dessas obras tems sua respectiva importância para os períodos em que foram lançados. Damien Chazelle não vai mudar o mundo ou a linguagem cinematográfica com Whiplash: Em Busca da Perfeição, mas cacetada… O sujeito é dos bons.
A trama é inspirada em um curta-metragem do próprio Chazelle, centrando-se no jovem Andrew Nieman (Miles Teller), ambicioso baterista que almeja ser um dos melhores de seu tempo. Solitário, sem amigos e não recebendo o reconhecimento esperado de sua família, Andrew é selecionado para a banda principal de sua escola de música, regida pelo influente Terence Fletcher (J.K. Simmons). Mas à medida em que Fletcher vai se revelando um monstro obsessivo, Andrew começa a questionar seus limites.
Basicamente, Whiplash faz com bateristas de jazz o que Cisne Negro fez com bailarinas. Desde os acessos surtados de obsessão pelo perfeito até os instrumentos ensaguentados, Damien Chazelle mantém uma condução segura e invejável, demonstrando domínio dos mais variados enquadramentos (de quantas formas se é possível filmar uma bateria?), planos, movimentos de câmeras velocidades de quadros por segundo. Ao lado do diretor de fotografia Sharone Meir, Chazelle visualiza uma Nova York sombria e ao mesmo tempo harmoniosa, alcançando uma coloração similar à que David Fincher e Jeff Cronenweth trazem em suas colaborações - o que, particularmente no meu caso, é sempre um ponto positivo.
E dedico aqui um parágrafo inteiro para o sobrenatural trabalho de montagem de Tom Cross. Responsável por organizar e mesclar todo o material capturado por Chazelle, Cross oferece uma montagem frenética e que acerta ao acelerar a passagem de tempo em alguns eventos com cortes rápidos e jump cuts, e também deixar a cena fluir por mais tempo quando necessário (como o primeiro flerte entre Andrew e Nicole, vivida pela carismática Melissa Benoist). Mas é mesmo nos números musicais que Cross se sobressai, onde cada transição acompanha uma nota musical; cada corte segue uma diferente batida das baquetas de Andrew. Trabalho digno de Oscar, nada menos.
Tecnicamente impecável, seu esqueleto básico não deixa a desejar. O roteiro é eficaz ao trazer diversas situações que testam os limites do protagonista, assim como diálogos fervorosos que exploram como sua ambição fica à uma tênue linha da vaidade: a discussão com primos à mesa do jantar e um frio término de namoro são apenas alguns dos exemplos. Mas nada do que Andrew faz é capaz de chegar aos pés do Fletcher de J.K. Simmons, que – em uma performance nada menos que espetacular – entrega um dos antagonistas mais brutais, sádicos e enigmáticos dos últimos tempos. Seu discurso sobre “a morte do jazz” e a aceitação do medíocre é genial, e cada gota de suor que vemos Miles Teller derramar enquanto toca a bateria como um louco é algo assustador de se contemplar, já que a catarse parece nunca chegar.
Whiplash: Em Busca da Perfeição é uma obra que funciona exatamente como uma orquestra sinfônica. Cada departamento exerce sua função magistralmente, tal como instrumentos musicais, cada um a seu ritmo e sob a conduta de um sujeito inteligente para entregar uma experiência inebriante. Ao final, tudo o que posso dizer é “bravo”.
Whiplash: Em Busca da Perfeição (Whiplash, EUA - 2014)
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle
Elenco: Miles Teller, J.K. Simmons, Melissa Benoist, Paul Reiser, Austin Stowell
Gênero: Drama
Duração: 107 min
https://www.youtube.com/watch?v=iTgk3WbTErk
Crítica | Invencível - Falha na direção
Não sou um membro da indústria cinematográfica, nem convivo com pessoas do meio, então é difícil saber o que se passa entre os bastidores de certas produções e se as comédias de humor negro sobre Hollywood acertam em seu retrato. Eu realmente não sei se alguns diretores resolvem fazer tal filme visando apenas as premiações, dinheiro…. Ah, espera. Alguns só pensam nisso, sim. O problema é que Angelina Jolie não é nada sutil com suas intenções em Invencível.
A trama aborda a surpreendente história real de Louis Zamparine (Jack O’Connell), um jovem rebelde que acaba descobrindo habilidade de corrida, o que um transforma num atleta olímpico. Com o avanço da Segunda Guerra Mundial, Zamparine é alistado e vai de mal a pior quando seu bombardeio cai em alto-mar, deixando-o à deriva até ser “resgatado” por tropas japonesas, que o confinam num campo de prisioneiros.
Ou seja, temos três gêneros aqui: o filme esportivo, o filme de guerra e o filme de náufrago. É de se espantar que Louie Zamaparine tenha de fato sobrevivido a tudo isso na vida real, admirável. É um grande material que Jolie tinha em mãos, e ela reuniu um time de vencedores em praticamente todo departamento: os irmãos Joel e Ethan Coen para adaptar o roteiro, Roger Deakins para cuidar da fotografia, William Goldenberg e Tim Squyres (que, ironicamente, montou As Aventuras de Pi) na montagem e Alexandre Desplat na trilha sonora. Mas curiosamente, o texto não se parece nada com algo que os Coen faria, a música de Desplat é um de seus trabalhos mais esquecíveis e a fotografia de Deakins é competente, mas nada que desponte em suas melhores contribuições – e olha que estamos falando de um dos maiores diretores de fotografia da atualidade.
Isso revela que o departamento que atua em cima disso tudo, leia-se, a direção, não estava muito bem. Jolie consegue pintar umas boas paisagens e constrói tensão apropriadamente aqui e ali (as cenas com tubarões são ótimas), mas tem a mão pesada e trata tudo como algo melodramático e superexagerado, como se gritasse atrás das câmeras que “isso é importante” ou “isso é triste”, ou ainda “Oscar!”. Sua câmera quase sempre está na contra luz, desacelera para provocar catarses o tempo todo, o que provoca uma significativa diminuição no impacto que estas teriam.
Mas disso, temos a revelação de Jack O’Connell. Em seu primeiro grande papel cinematográfico, o jovem demonstra carisma e também a força que Zamperini precisa: ele corre, grita, se suja e também traz paciência e sabedoria nos momentos-chave. Só queria saber quem é Louie Zamperini, porque o filme não me ensinou nada sobre ele. É um sujeito bom, retratado de forma idealista como um ícone, mas eu realmnte não sei o que o move, o que o motiva… Como protagonista de uma narrativa, claro.
Invencível é uma história surpreendente e que poderia ter rendido melhor nas mãos de outros autores, mas que se sustenta aqui graças ao talento de seu protagonista. Angelina Jolie lentamente vai moldando sua visão autoral, mas não é com um melodrama gritante – ainda que bem intencionado – que ela vai se juntar aos grandes.
Invencível (Unbroken, EUA - 2014)
Direção: Angelina Jolie
Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen, Richard LaGravenese e William Nicholson, baseado na obra de Laura Hillenbrand
Elenco: Jack O'Connell, Domhnall Gleeson, Miyavi, Garrett Hedlund, Finn Wittrock, Jai Courtney, Maddalena Ischiale
Gênero: Drama
Duração: 137 min
Crítica | A Teoria de Tudo - Um biopic básico
Sou um fã confesso de Stephen Hawking, tanto por seu conhecimento científico incomparável quanto por sua inacreditável luta contra a doença que lhe tirou movimentações motoras e a habilidade de falar. Um biopic do cientista é isca fácil de prêmios, mas também de sentimentalismo barato e muito melodrama. Com A Teoria de Tudo, o diretor James Marsh fica entre os dois, mas aquém de seu potencial.
A trama começa quando Hawking (Eddie Redmayne) ainda é um calouro na universidade de Cambridge, em 1963. Em uma festa, ele conhece a estudante de Artes, Jane (Felicity Jones), com quem acaba iniciando uma relação. Em meio ao romance e seus estudos para comprovar sua teoria sobre a origem do Universo, ele descobre ser portador da Doença do Neurônio Motor, que lhe daria apenas dois anos de vida.
Dois anos de vida, mas como a História bem nos ensinou, Hawking permanece vivo até hoje, quase 50 anos após seu diagnóstico (isso não é considerado spoiler né? Duh). É uma longa e bela história que o roteirista Anthony McCarten (adaptando uma biografia de autoria de Jane Hawking) consegue comprimir em suas duas horas, conseguindo dosar o romance dos protagonistas com diversos conceitos da Física que Hawking estudava, especialmente a respeito de buracos negros (aliás, irônico que no mesmo ano, tenhamos tido uma biografia de Hawking e que Kip Thorne, seu colega de ramo, servindo como consultor no mesmo assunto em Interestelar), característica que certamente torna a experiência mais estimulante. O eterno debate entre Ciência e Religião também marca presença aqui, mas não ganha o aprofundamento que merecia.
Quanto ao romance, funciona principalmente pela química dos protagonistas. Felicity Jones já é um colírio para os olhos graças a seu belíssimo sorriso que sugere uma jovem adorável, e a atriz preenche Jane com momentos assim, retratando também como a condição de Hawking lhe fez provar sua força e seu eventual desgaste. Mas é Eddie Redmayne quem rouba os holofotes em uma performance absolutamente espetacular e assustadoramente física, assumindo cada detalhe da doença paralítica de Stephen Hawking – e ainda preservando leves nuances de humor e afeto -, sem cair para a caricatura ou algo exagerado demais.
Marsh dirige o filme com eficiência, ainda que abuse da câmera desfocada para relatar os momentos mais dramáticos. A trilha sonora de Jóhann Jóhannsson é bonita quando se dedica a explorar as descobertas científicas do protagonista, mas soa artificial demais quando usada como mero artifício para derramar lágrimas: basta observar como uma cena com total silêncio (no caso, quando Stephen usa a cadeira de rodas pela primeira vez) funciona muito melhor (e até emociona mais) do que uma em que os violinos e notas de piano de Jóhannsson dominam a paisagem sonora.
A Teoria de Tudo é um biopic eficiente que traz excelentes performances do talentoso jovem elenco, ao mesmo tempo em que conta uma grande história de forma convencional, emocional e até formulaica. Poderia ter ido mais longe em seus questionamentos e na vida de Stephen Hawking, mas não deixa de ser uma bela homenagem ao renomado cientista.
A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, Reino Unido - 2014)
Direção: James Marsh
Roteiro: Anthony McCarten, baseado na obra de Jane Hawking
Elenco: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Charlie Cox, Emily Watson, Simon McBurney, David Thewlis
Gênero: Drama
Duração: 123 min
https://www.youtube.com/watch?v=SbUVNHdPE4w
Crítica | O Ano Mais Violento - Quase um gângster
Eu já assisti a muitos filmes de gângsteres, e certamente o melhor tipo da variação no gênero é aquele em que o protagonista sucumbe ao caminho perigoso. Seja por lealdade a família, como retratada na imortal trilogia do Poderoso Chefão, a necessidade de sobrevivência e até auto satisfação, na excelente série Breaking Bad, ou pela simples diversão do negócio, vide o também imortal Os Bons Companheiros, é uma metamorfose das mais fascinantes. Então temos algo relativamente inédito: o “quase-gângster”, ao qual J.C. Chandor nos apresenta em O Ano Mais Violento.
Roteirizada pelo próprio Chandor, a trama gira em torno de Abel Morales (Oscar Isaac), um comerciante de gasolina que mantém seu negócio com a esposa Anna (Jessica Chastain) na Nova York de 1981. Ansioso por expandir seu negócio a níveis grandiosos, ele negocia a compra de uma propriedade judaica, justamente quando começa a ser atacado por criminosos e competidores, que almejam quebrá-lo financeiramente.
Primeiramente, aplausos a toda a equipe de Chandor pela construção visual absolutamente impecável. O design de produção recria com sutileza o início da década de 80, enquanto o figurino de Kasia Walicka-Maimone concentra-se na elegância (evitando o estilão mais bizarro, vulgo cabelos de Linda Hamilton em O Exterminador do Futuro) e na necessidade de proteger seus personagens do inverno pesado que assola Nova York. O diretor de fotografia Bradford Young vem se destacando (ele também é responsável pelo ótimo trabalho em Selma) como um profissional nato, adotando uma paleta de cor alaranjada que se aproxima muito do estilo de Gordon Wilis na trilogia do Poderoso Chefão, impressionando também com seu jogo de luz e os planos abertíssimos comandados por Chandor. Tecnicamente, é magnífico.
Meu problema com o filme é que a história simplesmente não empolga, e não traz muito de original. O Abel Morales de Isaac é um sujeito que luta para caminhar “no caminho certo”, como o próprio define, e é justamente o oposto que torna o gênero tão apetitoso. Chandor cria um jogo interessante entre Abel e a esposa, funcionando principalmente pelas excelentes performances de Isaac e Chastain, e sobre a resistência deste para não ceder “ao lado sombrio”, rendendo duas sequências inspiradas em que o personagem luta para controlar seus instintos violentos. Para um filme com um título desses, O Ano Mais Violento é surpreendentemente otimista.
Demora para encantar o espectador, mesmo que os personagens sejam bem representados. Até mesmo a decisão de ambientar o longa em 1981 (que como nos dizem as estatísticas, o ano mais violento da cidade de Nova York) surge desperdiçada, já que a narrativa fica presa a seu próprio mundo, sendo irrelevante qual o ano específico da história – ainda que seja interessante ver algumas locuções de rádio constantemente relatando crimes, como se este fosse uma espécie de fantasma que assombra o protagonista, tentando-o.
O Ano Mais Violento é um brilhante feito técnico e visual, trazendo boas metáforas e interpretações, mas que infelizmente não são o suficientes para carregar a trama arrastada e pouco estimulante que J.C. Chandor. Às vezes, o lado sombrio é o mais fascinante.
O Ano Mais Violento (A Most Violent Year, 2014)
Direção: J.C. Chandor
Roteiro: J.C. Chandor
Elenco: Oscar Isaac, Jessica Chastain, David Oyelowo, Alessandro Nivola, Albert Brooks, Elyes Gabel
Gênero: Drama
Duração: 125 min
https://www.youtube.com/watch?v=ySWXwXlXlQU
Crítica | Kingsman: Serviço Secreto - Uma ode ao James Bond fanfarrão
“Acho que ficaram sérios demais pro meu gosto”, diz o agente secreto Harry Hart quando o megalomaníaco Richmond Valentine pergunta sua opinião a respeito de longas de espionagem. É um fato que Hollywood tenta seguir uma linha mais realista e “Nolesca” para algumas de suas produções, e eu pessoalmente gosto muito do experimento e alguns dos resultados: Cassino Royale, por exemplo, é meu filme preferido de 007. Mas quando Kingsman: Serviço Secreto, uma obra assumidamente satírica e exagerada, nos clama para mergulhar na nostalgia do over the top e do cartunesco, é impossível resistir.
A trama marca mais uma adaptação dos quadrinhos de Mark Millar e Dave Gibbons para as telas, concentrando-se numa agência britânica de espionagem, a Kingsman. Quando um dos agentes é assassinado, Harry Hart (Colin Firth) fica incumbido de encontrar um substituto, e o vê na forma do delinquente Eggsy Unwin (Taron Egerton), um jovem preso por delitos em Londres. Enquanto Eggsy tenta sobreviver ao rigoroso processo de seleção da agência, Hart investiga o milionário de internet Richmond Valentine (Samuel L. Jackson), que teria um plano para aniquilar a raça humana.
Meu grande medo com Kingsman era que filmes de “espiões teen” nunca funcionam e O Agente Teen e o pavoroso Alex Rider contra o Tempo estão aí para comprovar. Mas o filme de Matthew Vaughn (em alta depois dos ótimos Kick-Ass: Quebrando Tudo e X-Men: Primeira Classe) funciona justamente por ser uma obra fortemente metalinguística e abraçar os exageros que marcaram a era de Roger Moore como James Bond nos anos 70 – gadgets malucos, guarda-chuvas metralhadoras e até pernas de lâminas para um vilã russa. O culto ao ícone do espião, aqui respeitando a elegância dos ternos impecáveis – não por acaso, a sede da Kingsman fica sob uma alfaiataria -, os bons modos (Colin Firth tomando uma chope depois de arrebentar uma gangue num pub é o mais alto nível de classe) e o obrigatório sotaque britânico, tanto com Firth como na presença obrigatória de Michael Caine.
E por falar em sotaque, vamos comentar a brilhante composição que Samuel L. Jackson oferece ao vilão Valentine. Do visual totalmente swag (com direito a boné de couro) até sua ousada decisão de pronunciar todas as suas falas com a língua presa, Valentine é um dos antagonistas mais fora do comum dos últimos anos: se Firth toma chope depois da briga, Valentine come McDonalds com vinho num jantar chique. Seu plano é apenas mais uma variação do clichê “destruir o mundo”, mas traz bom sustento do roteiro que Vaughn assina com a parceira Jane Goldman (ciência, ao comparar a Terra com o sistema imunológico, e religião, trazendo a história Arca de Noé à tona) e cenas de um nível de violência tão estilizado que chega a ser… belo. O festival de cabeças explodindo com fogos de artifício coloridos (fazer Valentine um sujeito que não aguenta ver sangue foi genial) e a já controversa cena da igreja, com um plano sequência editado que é absolutamente insano, são alguns exemplos. Seu tema, composto por Henry Jackman e Matthew Margeson é igualmente memorável.
Mas dentre todo o espetáculo de ação e o trabalho sólido dos veteranos em cena, o estreante Taron Egerton revela-se um ator carismático e com muito cacife para liderar uma produção do tipo. Seu Eggsy pode até ter pinta de bully e antipático, mas ao passo em que o roteiro vai explorando seu passado e também seu interior (pode parecer um bruto, mas adora pugs e My Fair Lady), Egerton vai caindo cada vez mais na graça do público. E sua transformação de trombadinha a “Colin Firth” – com os óculos e tudo o mais – é muito interessante, merecendo aplausos pela excelente rima temática e visual que Vaughn executa na cena final.
Kingsman: Serviço Secreto é tudo que um bom blockbuster deveria ser, misturando ação estilizada com humor inteligente, sarcasmo e uma metalinguagem acertadíssima. Uma ode ao gênero de espionagem pra deixar qualquer um sorrindo de orelha a orelha, comprovando que Matthew Vaughn é quem mais acerta no que faz.
Obs: Os créditos começam a rodar, mas uma cena imperdível é exibida durante a metade destes.
Kingsman: Serviço Secreto (Kingsman: The Secret Service, Reino Unido - 2015)
Direção: Matthew Vaughn
Roteiro: Jane Goldman e Matthew Vaughn, baseado na obra de Mark Millar e Dave Gibbons
Elenco: Taron Egerton, Colin Firth, Samuel L. Jackson, Sofia Boutella, Mark Strong, Michael Caine, Mark Hamill, Jack Davenport, Sophie Cookson
Gênero: Ação
Duração: 129 min
Crítica | Cidades de Papel - Uma adaptação inofensiva
Com o sucesso estrondoso da adaptação para os cinemas de A Culpa é das Estrelas, a Fox agora promete apostar pesado no material do escritor John Green: filmes de orçamento modesto e que atraem milhões de fãs, logo, uma estratégia inteligente. E não é o pior dos cenários, já que perto de Nicholas Sparks e E.L. James, Green é Fitzgerald. Pois bem, se a primeira incursão do autor nas telonas era prejudicada por uma direção amadora e pretensiosa, este Cidades de Papel se beneficia de uma premissa mais envolvente, ainda que falhe em ser algo realmente memorável.
A trama é centrada no adolescente Quentin (Nat Wolff), que cresceu admirando sua misteriosa vizinha Margo (Cara Delevingne). Quando ela desaparece repentinamente, Quentin começa a descobrir pistas deixadas por esta, o que acaba por iniciar uma longa viagem para encontrá-la.
Mesmo que você possa até recordar da premissa de Garota Exemplar, o simpático filme de Jake Schreier (do indie Frank e o Robô) é realmente muito mais leve e sem reviravoltas envolvendo psicopatas ou camas ensopadas de sangue. Adaptada novamente pela dupla Scott Neustadter e Michael H. Weber, a história insere-se no clássico âmbito do “filme de formatura do ensino médio”, caindo nos mesmos clichês e situações típicas do gênero, até mesmo oferecendo um inesperado programa de auto ajuda ao longo de seus 95 minutos. A “investigação” e subsequente jornada por Margo podem não ser tão empolgantes como um thriller seria (aliás, curioso que nem a polícia ou os pais preocupem-se com o sumiço da filha), mas funcionam graças ao acertadíssimo humor, especialmente as referências a Pokémon e o nonsense da piada com Papais Noéis negros.
Sobre o elenco, vale apontar que Cara Delevingne é uma ótima promessa, que funciona ao transmitir a animação e as excentricidades de Margo. Ajuda também que a atriz tenha uma expressão misteriosa e sobrancelhas grossas, mas merece todo crédito pela boa performance. Já o protagonista Nat Wolff infelizmente não vai muito além da expressão dominante de um sorriso torto, criando um Quentin inexpressivo e pouco cativante, só funcionando quando contracena com os eficientes Austin Abrams e Justice Smith, que interpretam seus amigos Ben e Radar. Halston Stage também tem destaque com sua Lacey, mas sua inserção e interação com os outros personagens não convencem – principalmente quanto à subtrama do baile de formatura.
Cidades de Papel entretém por sua curta duração, mas é rodeado de clichês batidos e personagens pouco interessantes, ainda que sua moral sobre a amizade seja muito válida e Cara Delevingne revele-se uma boa promessa para o futuro.
Obs: Fãs de A Culpa é das Estrelas ficarão surpresos com uma inesperada participação.
Cidades de Papel (Paper Towns, EUA - 2015)
Direção: Jake Schreier
Roteiro: Scott Neustadter e Michael H. Weber, baseado na obra de John Green
Elenco: Nat Wolff, Cara Delevingne, Austin Abrams, Justice Smith, Halston Sage, Jaz Sinclair
Gênero: Comédia
Duração: 109 min
https://www.youtube.com/watch?v=efdWb_9h6aE
Crítica | Pixels - Quando uma boa ideia cai nas mãos de Adam Sandler
Já faz muito tempo desde que, conscientemente, embarco num filme que traz em seu pôster o nome de Adam Sandler. Confesso que já me diverti bastante com as obras do ator quando criança, mas de uns tempos pra cá, Sandler foi transformando-se num ser insuportável e sem graça, assumindo que só trabalhava em alguns filmes “para viajar”, tendo até a própria Sony Pictures envergonhada de financiar seus projetos – como revelado no traumático leak do estúdio ano passado. Portanto, quando Adam Sandler é o fator mais suportável da aventura Pixels, sabemos que algo bem ruim nos aguarda.
A trama até parte de uma premissa interessante, quando uma raça alienígena misteriosa utiliza de figuras icônicas de videogames dos anos 80 para atacar a Terra. Em uma ação inesperada, o presidente dos EUA (Kevin James e não, isso não é uma piada mesmo) contata seu antigo amigo de infância (Adam Sandler) para liderar uma equipe especializada no assunto e salvar o planeta.
Parece muito o tipo de filme que sairia no final dos anos 80 ou começo dos 90, e confesso que esperava algo mais divertido de tal premissa. O roteiro de Tim Herlihy e Timothy Dowling adapta um curta-metragem homônimo de Patrick Jean, no qual Nova York era atacada por monstros em 8-bit. Infelizmente, o projeto caiu nas mãos da Happy Madison de Adam Sandler, que leva a história para uma direção infantiloide e povoada por piadas sem graça, machistas e apelativas: tudo bem se alguém acha engraçado o tipo de humor promovido por caras irritantes como Josh Gad e Kevin James – que basicamente só gritam como garotinhas e apostam em escatologias -, mas simplesmente não funciona para mim. Sandler não chega a perturbar, já que seu tipo é o mesmo em praticamente todas as suas produções e as piadas de seu personagem limitam-se a fazer referências pop (“Calado aí, Zack Efron”). Ha.
Pra piorar, enquanto seus personagens e situações são completamente ridículos (isso porque nem mencionei a pavorosa subtrama amorosa que envolve Michelle Monaghan), o longa inexplicavelmente tenta se levar a sério em seus momentos mais… Er, dramáticos? Ver Sandler perseguindo o Pac-Man num carro enquanto proclama para si mesmo num tom preocupante que “se falhar aqui, o mundo todo acaba” (eu juro que esperava um punch line) ou assumindo uma risível pose heroica num combate com o Donkey Kong inadvertivelmente transforma-se na piada mais inesperada de toda a produção. Porém, todas as subtramas que envolvem a relação de Sandler com o filho de Monaghan, a “discussão ética” sobre trapacear ou não e até discursos de amor verdadeiro, que envolvem a personagem Lady Lisa (é uma coisa tão idiota que senti vontade de xingar o roteirista em plena sessão), são igualmente hilários.
O diretor Chris Columbus até tenta trazer um pouco de ânimo com as cenas de ação, que chegam a ter certo dinamismo visual, com os planos mais unidimensionais durante o embate com Kong sendo eficientes na proposta de emular o estilo do videogame, mas não convencem quando temos protagonistas tão imbecis. Confesse, a única hora que é possível sentir algum ânimo é quando “We Will Rock You”, do Queen, começa a tocar.
Pixels começa com um conceito divertido, mas logo revela-se bobo demais para de fato funcionar, além de contar com um humor nada elegante de Adam Sandler e companhia.
Pixels (EUA, 2015)
Direção: Chris Columbus
Roteiro: Tim Herlihy e Timothy Dowling, baseado no curta-metragem de Patrick Jean
Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Josh Gad, Michelle Monaghan, Peter Dinklage, Brian Cox
Gênero: Aventura, Comédia
Duração: 105 min
https://www.youtube.com/watch?v=_F2-qRi5PaQ
Crítica | Godzilla (2014) - Why so serious?
Criado por executivos da Toho Co em 1954, Godzilla é um dos mais adorados ícones da cultura pop da cultura mundial, sendo um dos grandes representantes do gênero japonês Kaiju. Serviu como metáfora inteligente para a questão nuclear que se intensificava na época de seu lançamento e rendeu 28 longas em sua terra natal, além de duas versões americanas. No aniversário de 60 anos do lagartão radioativo, a Warner aposta na visão de Gareth Edwards no reboot Godzilla, que agrada ao resgatar elementos clássicos da franquia, mas erra no tom.
A trama traz os eventos para os dias atuais, com um cientista (vivido por Bryan Cranston) vasculhando para descobrir um segredo encoberto pela empresa japonesa na qual trabalhava antes da morte de sua esposa (Juliette Binoche). Ao mesmo tempo em que seu filho militar (Aaron Taylor-Johnson) retorno para os EUA, estranhos acontecimentos culminam no aparecimento de monstros gigantes que ameaçam cidades americanas – despertando Godzilla, que parte para detê-los.
É isso aí que você leu: Godzilla é, de certa forma, o herói do filme. É uma novidade para as pessoas não familiarizadas com o legado do personagem, mas tal decisão já foi usada diversas vezes ao longo de seus longas japoneses (o monstrão já teve até filhos, parceiros e crossovers) e serve como um diferencial interessante. A forma como o roteirista Max Borenstein (que seguiu ideias de Frank Darabont e David Goyer) descreve a criatura como “uma força da natureza que visa estabelecer equilíbrio no meio natural” é estimulante, assim como a ideia de trazer oponentes que não humanos – ainda que a criatura gigantesca represente uma ameaça à população. Vale elogiar também o design da criatura, que mantém a postura lenta e “gordozilla” do original.
Responsável pelo independente Monstros, Gareth Edwards acerta quando aposta no espetáculo, principalmente quando Godzilla sai na mão com algum de seus oponentes. O diretor ainda brinca com o espectador ao sempre adiar o encontro entre as criaturas, como uma grande porta se fechando antes do combate ou vislumbres em uma televisão. O senso de tamanho é igualmente importante, e ver coisas como um plano plongéque traz o protagonista nadando ao lado de um cargueiro, transformando os humanos em meras formigas, é animador. Também ajuda na revelação de seus monstros a trilha sonora surpreendentemente épica de Alexandre Desplat, que acertadamente escolhe trombetas e flautas japonesas para compor a narrativa.
Mas se Godzilla impressiona no visual, decepciona em seu roteiro.
Não que seja sensato esperar uma história genial vinda de um filme que traz monstros gigantes batalhando entre prédios, mas se você está disposto a concentrar mais da metade do tempo de projeção em subtramas humanas, ao menos torne-as envolventes. Borenstein fica preso à clichês e convenções (o militar voltando para casa, intrigas pai e filho, mulher e marido…), pecando ainda por seus diálogos expositivos (“Não pai, eu sou do esquadrão antibombas. Eu desarmo bombas, não construo”) e a unidimensionalidade de seus personagens; algo que também não ajuda o elenco. É só notar a diferença de qualidade entre a cena mais dramática entre Bryan Cranston e Juliette Binoche e aquelas entre Aaron Taylor-Johnson e Elizabeth Olsen (ainda que eu fosse capaz de assistir a uma trilogia só com a atriz rindo graciosamente).
“Ora seu… Clichês e arquétipos são típicos do Godzilla original!” Exatamente, mas Edwards erra ao levá-los tão a sério. Se não quisesse apelar para o cartunesco (como fez tão bem Guillermo Del Toro com seus humanos em Círculo de Fogo ou o Godzilla original, que trazia até um cientista de tapa-olho), então que oferecesse algo a mais, ou bem feito. Acompanhar figuras vazias por tanto tempo quase torna a experiência entediante, e esse não é o adjetivo esperado para uma produção do gênero. Nem mesmo o tom alarmante e assustador prometido pelos trailers marca presença aqui, já que nunca temos uma reação global aos eventos catastróficos.
Em termos bem simples, Godzilla é sensacional quando temos cenas com o protagonista, e simplesmente medíocre quando não o temos – o que é algo em torno de 70% da produção. Existem coisas que não precisam ser levadas tão a sério.
Godzilla (EUA - 2014)
Direção: Gareth Edwards
Roteiro: Max Borenstein
Elenco: Bryan Cranston, Elizabeth Olsen, Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Sally Hawkins, Juliette Binoche
Gênero: Aventura
Duração: 123 min
https://www.youtube.com/watch?v=tZz6Y5TvY3E