Crítica | Ted 2 - Sonolento e sem graça
Nunca fui um grande conhecedor do humor de Seth MacFarlane, mas me diverti bastante com o hit surpresa Ted, em 2012, que fora sua estreia como diretor e roteirista no cinema. Porém, ano passado o criador de Uma Família Pesada entregou a decepcionante comédia faroeste Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola, e agora, Ted 2 chega para confirmar que o acerto de MacFarlane em 2012 foi mera sorte de principiante.
Na trama, o urso falante Ted (MacFarlane) se casa com sua namorada Tami-Lynn (Jessica Barth) e anseia por ser pai, seja por doação de esperma de seu amigo John (Mark Wahlberg) ou através de adoção. Porém, o Estado se nega a considerar Ted como algo a mais do que uma propriedade (leia-se, um brinquedo), fazendo-o entrar numa batalha judicial para comprovar sua humanidade.
É uma premissa que diverte pelo absurdo, e que poderia muito bem ser transformada num pesado drama caso o protagonista não fosse um ursinho de pelúcia. E é aí que reside o grande problema de Ted 2, que revela-se uma obra assustadoramente descontrolada e sem sentido, que transita entre o humor escatalógico até cenas de tribunal que tocam seriamente em temas como escravidão e defesa de minorias, sem ter muita certeza aonde quer chegar. MacFarlane acerta em seu sempre eficaz trabalho vocal de Ted, mas como diretor, realmente deveria reconsiderar suas escolhas, já que a narrativa do filme é prejudicada por timing ruim de piadas, uma montagem inconstante e um ritmo tedioso.
Por exemplo, a trama principal com a advogada de Amanda Seyfried é constantemente interrompida por cenas aleatórias de John e Ted tentando causar algum tipo de humor, mas de nenhuma forma que caiba dentro da história: seja por aleatoriamente atirar objetos em corredores, referenciar Clube dos Cinco ou invadir um clube de stand-up para sugerir temas tristes como 11/9 ou Charlie Hedbo aos comediantes (essa fez rir, ok). De maneira similar, Liam Neeson e Morgan Freeman ganham participações sem graça, enquanto a narrativa é comprometida por uma entrada no road movie que simplesmente não empolga, mesmo que o roteiro de MacFarlane aposte pesado em referências pop – rendendo uma boa piada com Jurassic Park. Temos até uma grande luta na New York Comic Con (e pelas barbas de Odin, MacFarlane ganhou muita grana para promover brinquedos de Transformers…), mas que só entretém pela variedade de cosplayers envolvidos.
Nem mesmo a química de Wahlberg com o urso funciona muito bem aqui, principalmente porque o ator parece completamente desinteressado e a computação gráfica de Ted mostre-se estranhamente inferior à do primeiro filme. Seyfried também não rende boa participação, enquanto o vilão de Giovanni Ribsi divirta, mas sem o impacto surpresa causado no longa anterior.
Falta a Ted 2 o humor certeiro e o roteiro bem elaborado do primeiro, limitando-se a uma trama sem graça e entediante, só pontualmente capaz de rir. Acho que Seth MacFarlane deveria pensar bastante antes de decidir arriscar-se no cinema novamente.
Ted 2 (EUA, 2015)
Direção: Seth MacFarlane
Roteiro: Seth MacFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild
Elenco: Mark Whalberg, Seth MacFarlane, Amanda Seyfried, Giovanni Ribsi, Jessica Barth, Morgan Freeman, Sam J. Jones
Gênero: Comédia
Duração: 115 min
https://www.youtube.com/watch?v=S3AVcCggRnU
Crítica | 12 Anos de Escravidão - O triunfo de Steve McQueen
A escravidão é uma das mais profundas e vergonhosas feridas que os EUA trazem em sua História. No cinema, é possível encontrarmos o sombrio período do século XIX de forma alentadora, que de certa forma idealize a luta de homens brancos para lhes garantir liberdade (como Lincoln, de Steven Spielberg) ou versões satíricas como Django Livre, de Quentin Tarantino. Agora, filmes como 12 Anos de Escravidão não aparecem todo ano. Brutal, violento e provavelmente acertado em sua apuração histórica, o filme de Steve McQueen pega o gênero e lhe oferece uma visão devastadora e – infelizmente – verdadeira.
Baseada na experiência real relatada no livro de Solomon Northup (vivido aqui por Chiwetel Ejiofor), o roteiro de John Ridley explora como um homem negro e livre foi sequestrado em Washington e vendido para a escravidão ilegalmente no sul dos EUA. Durante 12 anos, Northup sofreu nas mãos de fazendeiros cruéis e lutou por sua sobrevivência.
Se até hoje você não conhece o nome de Steve McQueen (sem contar o famoso ator, claro), está na hora de fazer aquela visita básica ao IMDB. O diretor britânico entrega seu terceiro trabalho com 12 Anos de Escravidão, após os ótimos Hunger e Shame, duas produções que compartilham histórias humanas trágicas, trabalho visual apurado e um Michael Fassbender surtado (aqui, dando medo na pele do violento fazendeiro Edwin Epps). A partir do excelente roteiro de Ridley, McQueen não se acanha ao apostar em cenas que relatam a violência brutal a que eram submetidos os escravos de plantações: seja nos temerosos açoitamentos (um plano sequência que rende a cena mais intensa do filme), agressões verbais ou “mero” desprezo por sua dignidade – todos estes surgindo ainda mais aterradores em cena graças à trilha sonora de Hans Zimmer, que revela uma nova faceta de suas habilidades como compositor.
Mas talvez o que mais chame a atenção no projeto seja seu protagonista forte e incomum para o gênero: o Solomon Northup de Chiwetel Ejiofor não é um sujeito nascido escravo, e sim um homem livre com todos os benefícios e gozos de alguém de sua posição que, inesperadamente, encontra-se na situação de total submissão. Essa característica rende alguns dos melhores momentos do longa, quando o excelente Ejifor questiona as ordens de seus mestre e oferece respostas grosseiras para julgamentos injustos (“Fiz o que me foi instruído. Se deu errado, o problema é com a sua instrução”, solta para o desprezível personagem de Paul Dano). O ator surge completamente perdido no personagem, seu desejo de sobrevivência evidente a cada frame; o que de certa forma se manifesta de forma derrotista na trágica Patsey de Lupita Nyong’o, escrava predileta de Epps que tem pouco tempo em cena, mas vale cada segundo de sua esforçada performance.
Vale apontar também as “participações de luxo” que o filme traz. Temos Paul Giamatti como um negociante de escravos, Benedict Cumberbatch como um dos únicos sujeitos decentes de toda a projeção, a jovem Quvenzhané Wallis (protagonista de Indomável Sonhadora) como uma das filhas de Solomon e o produtor Brad Pitt encarnando um sujeito de ares “proféticos” que desempenha importantíssimo papel aqui.
Excepcional também em seus valores de produção, 12 Anos de Escravidão é uma experiência difícil e pesada. Corajosamente pega um dos gêneros mais delicados do cinema norte-americano e oferece um tratamento visceral e que certamente será lembrado por anos, não só por sua brutalidade, mas também pela força de seu impecável protagonista e o emocionante desfecho de sua dura jornada.
12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, EUA/Reino Unido - 2013)
Direção: Steve McQueen
Roteiro: John Ridley, baseado na obra de Solomon Northup
Elenco: Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Lupita Nyong'o, Brad Pitt, Michael Kenneth Williams, Paul Dano, Paul Giamatti, Benedict Cumberbatch, Quvenzhané Wallis, Bill Camp, Scoot McNairy, Chris Chalk
Gênero: Drama
Duração: 134 min
https://www.youtube.com/watch?v=xSL_sCHDsHc
Crítica | Expresso do Amanhã - Uma viagem criativa e empolgante
Alguns filmes lançados recentemente parecem ter sido feitos com um espírito dos anos 80, como se seus realizadores fossem apaixonados pelos divertidos e cults daquele período glorioso. Mad Max: Estrada da Fúria é um belíssimo exemplo visto este ano, assim como a pérola infinitamente adiada e mantida mofando na geladeira da Playarte Pictures: O Expresso do Amanhã, uma obra forte, empolgante e reflexiva.
A trama é adaptada da graphic novel francesa Perfura-Neve, de Jaques Lob, Benjamin Legrand e Jean -Marc Rochette, onde a Terra é condenada a uma segunda era do gelo após uma tentativa frustrada do governo em acabar com o aquecimento global. Nessa distopia congelante, os sobreviventes vivem num grande trem que roda toda a superfície do planeta: o Snowpiercer. Dentro, a luta de classes começa a incitar uma rebelião, liderada pelo idealista Curtis (Chris Evans).
É uma ideia fantástica que só fica melhor com a presença do diretor sul-coreano (que nação, que nação…) Joon-ho Bong, que já nos presenteou com Mother – A Busca pela Verdade e O Hospedeiro, agora embarcando em seu primeiro filme de língua inglesa. Bong também assina o roteiro ao lado de Kelly Masterson, tecendo uma narrativa intensa e fortemente baseada na sátira política, especialmente quanto à luta de classes que já se estabelece na divisão dos vagões do Snowpiercer: os pobres e operários viajam no último, enquanto os mais ricos e importantes vão habitando os dianteiros.
Dessa forma, Expresso do Amanhã é um filme completamente dependente do excepcional design de produção de Odrej Nekvasil, que fornece a cada compartimento do grande trem uma personalidade distinta, que também se reflete em cores, fotografia e arquitetura: o vagão dos operários é sujo e obscuro, enquanto a “escolinha” é colorida e vibrante, passando também por uma balada e um grande aquário. Visualmente, é maravilhoso, e revoltante que Nekvasil tenha sido completamente ignorado pela Academia.
Chris Evans também se sai muito bem no protagonismo da trama, criando um sujeito visionário e de intenções nobres, mas nem por isso menos violento e sanguinário; o confronto entre o grupo de Curtis e a segurança do trem num apertado corredor sombrio é memorável. Tilda Swinton surge irreconhecível como a burocrata Mason, abusando de cartunescos dentes falsos e perucas exageradas para criar uma debochada representante da alta classe, cujo figurino também contrasta radicalmente com o grupo de Curtis. Estruturalmente, o silencioso personagem de Kang-ho Song rende uma subtrama não muito envolvente quanto a principal, mas que revela-se decisiva para o surpreendente clímax.
Expresso do Amanhã é uma empolgante e inteligente sátira política, digna de algumas das melhores distopias já apresentadas no cinema, com um forte espírito dos anos 80.
Expresso do Amanhã (Snowpiercer, EUA/Coréia do Sul - 2013)
Direção: Joon-ho Bong
Roteiro: Joon-ho Bong e Kelly Masterson, baseado na obra de Jaques Lob, Benjamin Legrand e Jean -Marc Rochette
Elenco: Chris Evans, Jamie Bell, Tilda Swinton, Kang-ho Song, Octavia Spencer, Ed Harris, Ewen Bremner, John Hurt, Ko Asung, Allison Pill
Gênero: Ação, Ficção Científica
Duração: 126 min
https://www.youtube.com/watch?v=fyWfZ9866DE
Crítica | Blade Runner: O Caçador de Andróides (Versão Final) - A Obra-prima de Ridley Scott
São poucos os filmes realmente capazes de fazer o espectador se sentir dentro de seu universo. Seja através da fotografia, do design de produção ou do figurino de seus personagens, essa sensação de imersão é essencial para qualquer história, independente do gênero ou temática. Com Blade Runner: Caçador de Andróides, não só Ridley Scott talvez tenha concebido o filme mais atmosférico de todos os tempos, mas também um dos exemplares mais desafiadores, belos e poéticos do rico âmbito da ficção científica.
Baseado no conto Do Androids Dream of Electric Sheeps?, de Philip K. Dick, a trama se ambienta na Los Angeles de 2019, tendo início quando um grupo de Replicantes (máquinas virtualmente idênticas a humanos) escapa de uma colônia de escravos atrás da companhia que os criou, a fim de garantir um tempo de vida maior. Evitando criar pânico na população, a polícia envia o blade runner – um caçador de andróides – Rick Deckard (Harrison Ford) para localizar e eliminar o grupo antes que atinjam seu objetivo.
Já havia assistido a Blade Runner umas duas vezes em casa, até enfim ter a oportunidade de contemplá-lo na tela grande, graças à sessão dos Clássicos da rede Cinemark. Talvez tenha sido a qualidade da projeção, ou mesmo a imperdoável chuva que vem encharcando as ruas de São Paulo, mas me senti compelido a escrever sobre esta obra que cada vez mais cresce no meu conceito. Pelo que li, o roteiro de Hampton Fancher e David Webb Peoples passa longe do texto de Dick, adotando meramente termos e situações, partindo então para uma narrativa independente e que se beneficia imensamente de simbolismos e filosofia. O Replicante Roy Batty (o inesquecível Rutger Hauer) realmente é um sujeito mal apenas por desejar tempo a mais de vida, outrora limitada a meros 4 anos como um escravo numa colônia espacial? Não é irônico que Deckard lentamente começa a se apaixonar pela Replicante Rachael (Sean Young) mesmo tendo consciência de sua posição? Finalmente, não é a maior das hipocrisias se o grande caçador de andróides for, como apontam algumas hipóteses, um Replicante ele mesmo?
Todas essas questões Scott aborda com maestria, criando ao lado do diretor de fotografia Jordan Cronenweth (isso mesmo, pai do Jeff, habitual fotógrafo de David Fincher) algumas das mais lindas imagens já registradas no gênero. O visual da Los Angeles futurista, dominada por prédios faraônicos (o conglomerado da Tyrell é quase uma grande pirâmide, e faz sentido já que, se os Replicantes são escravos, seus fabricantes seriam os imperadores) e ruas com forte presença asiática, decadência e bueiros expelindo névoa constantemente é fortíssimo, sendo excepcional em criar um universo cyberpunk palpável e realista dentro de sua proposta de sci fi noir, além de fazer uso de todas as ferramentas que só o audiovisual é capaz de oferecer.
A cena em que Deckard persegue o primeiro andróide pela rua é um exemplo perfeito de elementos cinematográficos se combinando para criar algo realmente especial: a montagem de Marsha Nakashima e Terry Rawlings garante um ritmo de ação genuíno, enquanto a imperdoável chuva garante uma paleta fria pelas mãos de Cronenweth e, como poderia me esquecer, uma arrepiante música pelas mãos do compositor grego Vangelis, que rapidamente transforma a empolgante caçada numa tragédia catártica no momento em que Deckard dispara o primeiro tiro mortal. É altamente simbólico que a roupa de plástico da fugitiva pareça um par de asas enquanto corre, especialmente quando estraçalha uma vidraça, como uma espécie rara buscando a liberdade. E quando vemos a lágrima recém escorrida pelo rosto da Replicante sem vida? Gênio.
Mas entre inúmeros momentos memoráveis, aquele que certamente fixa-se na mente dos fãs é o diálogo final entre Deckard e Roy, o famoso monólogo de “Lágrimas na chuva”. Vale apontar que a direção de Scott ali é de um suspense de perseguição inigualável, fazendo jus aos tradicionais clímaxes de film noir, no qual o detetive durão persegue o vilão, mas o que Scott faz é reverter a situação: quando nosso blade runner está pendurado na beirada de um prédio, o andróide o resgata e compartilha seus pensamentos finais, onde entrega a constatação mais humana de toda a projeção, onde Roy deixa clara a tristeza que é a finitude da vida e a inevitabilidade do tempo. “Vi coisas que vocês… Nunca iriam acreditar” desabafa o robô moribundo sob a pesada chuva, numa amostra espetacular das habilidades cênicas de Hauer. E é ao mesmo tempo de partir o coração e empolgante, que nunca saibamos do que exatamente ele estava falando.
Bem, até a continuação chegar, mas algumas coisas são sagradas…
Blade Runner: O Caçador de Andróides é o impecável casamento entre ficção científica e film noir, que com tamanho apuro técnico, narrativo e cinematográfico, acaba rendendo uma obra que pode muito bem destacar-se como um dos melhores exemplares de ambos os gêneros. Um clássico que merece ser visto e revisto, para que nenhum momento seja perdido… Como lágrimas na chuva.
Blade Runner: O Caçador de Andróides (Blade Runner, EUA - 1982)
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Hampton Fancher e David Webb Peoples, baseado na obra de Philip K. Dick
Elenco: Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young, Edward James Olmos, Daryl Hannah, M. Emmet Walsh, William Sanderson, Brion James
Gênero: Ficção Científica, Noir
Duração: 117 min
Crítica | Evereste - Não faz jus ao Monte
No vasto gênero de homem versus natureza, o diretor que se arrisca a contribuir com este encara o desafio de tentar superar uma fórmula batida e formada por um verdadeiro campo minado de clichês. Filmes como Vivos, 127 Horas e Até o Fim impressionam por seus diferentes estilos, elenco e linguagem, mesmo seguindo uma fórmula batida, o que nos sugere que uma boa direção é capaz de salvar qualquer filme. Infelizmente, Evereste se arrisca pouco e fica na linha do aceitável, ainda que seu elenco faça valer a presença.
O roteiro assinado por William Nicholson e Simon Beaufoy é inspirado em uma desastrosa expedição real que ocorreu em 1996, na qual diferentes grupos de alpinistas foram vítimas de uma violenta tempestade de neve que os deixou presos no Monte Evereste.
Talvez o principal problema esteja na distribuição de personagens. O ótimo elenco é carregado de grandes nomes, mas que infelizmente se perdem na montagem desequilibrada de Mick Audsley, que transita a atenção para um personagem ou outro de forma descontrolada: ora ficamos mais ao lado do personagem de Jason Clarke (de longe, a figura mais agradável da produção), ora acompanhamos o esforço de Josh Brolin para sobreviver, invalidando uma noção clara de protagonista e também a chance de desenvolvê-los apropriadamente.
Digo, alguém me explica o que aconteceu com Jake Gyllenhaal? Porque o filme praticamente o abandona depois de certo ponto, e prefiro nem comentar sobre a triste queda na promissora carreira de Sam Worthigton, que é reduzido para coadjuvante do coadjuvante sem dó. Há pouco espaço para as personagens femininas também, com Robin Wright desperdiçada e Keira Knightley não fazendo nada muito além de chorar, sobrando para Emily Watson segurar alguns momentos mais emocionantes.
Como experiência, Evereste se sai um pouco melhor. O diretor islandês Baltasar Kormákur sabe como valorizar o ambiente e transformá-lo ao mesmo tempo em algo belo e assustador, com sua câmera aproveitando movimentos digitais que circulam o topo do monte e seus arredores; ainda que isso revele a artificialidade de suas tomadas. Os momentos mais intensos de nevascas e condições brutais representam o ponto alto, ainda mais considerando que a primeira metade peca pela sonolência e o inevitável clichê de “introduzir todos os personagens e seus dilemas”, não conseguindo algo realmente original ou digno de nota. Triste, dado a quantidade de talento envolvido.
Ao menos não temos um melodrama irritante, mesmo que o filme caia nessa área diversas vezes. A química entre Clarke e Knightley funciona mais pelo contexto de suas situações, enquanto a bela trilha sonora de Dario Marianelli constrói uma tragédia de forma nada apelativa. Os últimos minutos do filme funcionam bem como uma facada emocional, sem forçar a barra na catarse ou no sensacionalismo, apenas pela objetividade.
Evereste é um filme competente que acaba prejudicado pelo excesso de personagens e uma narrativa inconstante que se entrega aos clichês do gênero. Certamente é uma experiência divertida nos cinemas, mas não deve sobreviver além disso.
Evereste (Everest, EUA - 2015)
Direção: Baltasar Kormákur
Roteiro: Simon Beaufoy e William Nicholson
Elenco: Josh Brolin, Jason Clarke, Jake Gyllenhaal, Sam Worthington, Robin Wright, Keira Knightley, Emily Watson
Gênero: Aventura, Drama
Duração: 121 min
https://www.youtube.com/watch?v=a4Ojd3qBsA8
Crítica | Aliança do Crime - Nada incendiário
Quem não adora um bom filme de máfia? Talvez seja, junto com o western, um dos mais característicos gêneros do cinema americano, que já nos rendeu obras como a trilogia Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros, Scarface, Era uma Vez na América, Os Intocáveis e obras recentes como Os Infiltrados, O Gângster, O Homem da Máfia, O Ano Mais Violento e tantas outras. É sempre bom entretenimento observar sagas criminosas de figuras detestáveis que podem – ou não – criar curiosa empatia com o público. Quando anunciado que Johnny Depp largaria a excentricidade irritante de seus trabalhos com Tim Burton em Aliança do Crime, a empolgação é grande.
A trama é inspirada na história real do gângster Jimmy “Whitey” Bulger (Depp) e sua controversa aliança com o FBI, representado na forma do ambicioso John Connolly (Joel Edgerton) nas décadas de 70 e 80. Enquanto Bulger expande seu pequeno império no sul de Boston, é protegido por seu irmão senador (Benedict Cumberbatch) e ganha imunidade do FBI por entregar seus competidores.
É um material excelente para se trabalhar, e o roteiro de Mark Mallouk e Jez Butterworth consegue comportar uma vasta quantidade de eventos em uma narrativa concisa e que usa da função de flashfoward de maneira orgânica; com os antigos comparsas de Bulger prestando depoimento à polícia de forma que avance a trama sem exposição gritante.
O problema é que Aliança do Crime não é exatamente empolgante.
Tem todos os ingredientes e jogadores muito habilidosos, mas o diretor Scott Cooper realmente não consegue encontrar uma identidade para o longa. Não tem o carinho familiar que marcou O Poderoso Chefão (ainda que a história tente criar uma relação afetiva entre Bulger e seu filho pequeno), nem o humor ácido de Os Bons Companheiros, infelizmente limitando-se a uma experiência burocrática. Cooper até consegue compor bons enquadramentos (é curiosa a rima com o plongée do carro de Bulger com a visão de Connolly e sua esposa vistos atrás de uma porta) e o diretor de fotografia Masanobu Takayanagi utiliza bem das cores e do granulado para compor uma imagem que teria saído dos anos 70, mas não há nada de realmente memorável como cinema. Nem as súbitas explosões de violência impactam como deveriam.
Muitos irão assistir por Johnny Depp, e depois de ver o talentoso ator ser desperdiçado em tantas atrocidades, é confortante vê-lo bem encaixado na pele de Bulger. Sua fala mansa que logo revela-se ameaçadora é cativante, assim como o sutil trabalho do ator com os olhos, dominando todas as cenas em que aparece. É uma construção que felizmente não soa espalhafatosa, podendo muito bem ser posta lado a lado com seu ótimo trabalho em Inimigos Públicos, onde também deu vida a mais um notório criminoso da história dos EUA: John Dillinger. Porém, sua maquiagem excessivamente caricata o destoa de todo o restante da produção, como se fosse uma figura que, visualmente, não pertencesse àquele universo.
E mesmo com um elenco estelar em mãos, Cooper nunca consegue aproveitá-los. Joel Edgerton está excelente como Connolly, e sua jornada de corrupção é certamente o ponto mais interessante da narrativa (ainda que a transição de lado jamais seja verdadeiramente explorada, tendo uma cena de balada aqui e pronto), mas quando temos Benedict Cumberbatch, Kevin Bacon, Corey Stoll, Peter Sarsgaard, Juno Temple e Jesse Plemons todos reduzidos a participações especiais, é frustrante.
Aliança do Crime jamais atinge o grandioso status que poderia ter alcançado, limitando-se a uma narrativa mais segura e com medo de encontrar sua identidade. Funciona pontualmente pelo elenco e a progressão da história, mas é realmente um longa que não será muito lembrado.
Aliança do Crime (Black Mass, EUA - 2015)
Direção: Scott Cooper
Roteiro: Mark Mallouk e Jez Butterworth
Elenco: Johnny Depp, Joel Edgerton, Benedict Cumberbatch, Dakota Johnson, Kevin Bacon, Corey Stoll, Peter Sarsgaard, Juno Temple, Jesse Plemmons
Gênero: Drama
Duração: 123 min
https://www.youtube.com/watch?v=9E2wRy48i0g
Crítica | Entre Abelhas - Uma dramédia impressionante
Lá em abril de 2015, período no qual Entre Abelhas entrava no circuito de exibição nacional, confesso que era um hater. A cada cartaz e trailer em que aparecia a figura de Fábio Porchat com feições sérias, eu me pegava dando risada e me perguntando: como diabos Porchat, dono de um humor no canal Porta dos Fundos do qual particularmente não gosto (escrachado), teria a coragem de se arriscar em um papel dramático; e ainda levando consigo Ian SBF, responsável pela direção do canal. Pois bem, agora engolirei minhas palavras. O que Porchat e SBF conquistam aqui é algo que merece prestígio e reconhecimento.
Assinado pelos dois, o roteiro nos apresenta a Bruno (Porchat), um editor de imagens passa por um doloroso processo de divórcio com Regina (Giovanna Lancellotti), por quem ainda nutre sentimentos. Voltando a morar com a mãe (Irene Ravache) até restabelecer sua vida, Bruno estranhamente começa a parar de enxergar, sentir e ouvir as pessoas; seja na rua, em fotos ou gravações de vídeo. É um processo bizarro que vai ficando mais forte à medida em que ele tenta descobrir o que o causa.
É uma premissa que definitivamente poderia funcionar para ambos os gêneros: a comédia e o drama. O foco de Entre Abelhas é no drama, que através da condução hábil e segura de SBF, se desenrola com incrível sutileza e uma melancolia nada forçada ou pautada em clichês. É mesmo o humor não intencional e sutil que faz com que a história funcione tão bem: ver a reação histérica de Bruno quando um taxista "desaparece" subitamente com o carro em movimento é algo propício a arrancar risadas, mas ao mesmo tempo acompanhamos o real desespero do personagem ali. Isso pra não falar da incômoda cena na qual Bruno pode ou não ter atropelado uma pessoa na rua, demonstrando como sua "cegueira" vai tornando-se perigosa ao longo do filme.
Só esse exemplo já ilustra a impressionante capacidade de Porchat como ator dramático, que confesso nunca ter esperado. Bruno é uma figura palpável e crível, e as relações deste com Regina e o amigo Davi (Marcos Veras, excelente alívio cômico e dono de uma subtrama muito bem desenvolvida) são bem esboçadas através de ótimos diálogos que carregam uma irona e naturalidade que vi poucas vezes por aí - nada da artificialidade horrível e travada das telenovelas aqui. A presença de Irene Ravache como a mãe do protagonista é mais um exemplar de bom humor muito bem encaixado, especialmente pelas tentativas pouco ortodoxas de tentar reverter a situação de seu filho; incluindo abordar estranhos na rua e derramar tinta em cima da pobre cobaia Camillo Borges.
A sensação pesada e melancólica vai aumentando ao longo do filme, mesmo com todos os alívios cômicos. A fotografia de Alexandre Ramos abraça tons frios e uma profundidade de campo reduzida nos momentos certos (se tenho uma queixa universal com os vídeos do Porta dos Fundos, é o total descontrole quanto ao uso da ferramenta de desfoque), acertadamente isolando a figura de Bruno enquanto anda em uma multidão ou até mesmo uma rua vazia. Os planos abertos e silenciosos que nos colocam dentro do ponto de vista do protagonista são aterradores durante o último ato, e gosto muito de momentos sutis como aquele em que acompanhamos um longo monólogo de um psicólogo, apenas para no final deste sermos surpreendidos por um silêncio que indica seu "desaparecimento" aos olhos de Bruno.
À medida em que o isolamento de Bruno vai ficando mais intenso, a proposta do roteiro da dupla vai ficando mais clara, ainda mais com a presença recorrente de uma personagem que fora introduzida brevemente no primeiro ato. É uma metáfora muito simples e que emociona pela simplicidade, sendo a prova cabal de que é possível transmitir uma mensagem tão batida quanto a que vemos aqui se o método for eficiente, e SBF e Porchat merecem aplausos. Confesso que, por identificar-me com a situação do protagonista, peguei-me extremamente angustiado e, por fim, animado com a linda catarse final.
Acho incrível que um filme tão sensível e elaborado em sua proposta possa ser tão acessível e divertido quanto Entre Abelhas, ainda mais dentro da indústria cinematográfica nacional, onde comédias são excessivamente estúpidas e os bons dramas jamais cheguem ao alcance do grande público. O filme de Ian SBF é uma pérola, e simboliza um ótimo rumo para produções do tipo.
Entre Abelhas (Idem, Brasil - 2015)
Direção: Ian SBF
Roteiro: Ian SBF e Fábio Porchat
Elenco: Fábio Porchat, Irene Ravache, Marcos Veras, Giovanna Lancellotti, Marcelo Valle, Camillo Borges
Gênero: Comédia dramática
Duração: 100 min
https://www.youtube.com/watch?v=HspEMx-qyPo
Crítica | Quarteto Fantástico (2015) - Não foi dessa vez, de novo
Há uma década atrás, a Fox lançava sua primeira tentativa blockbuster (a versão de Roger Corman é trash demais para ser levada a sério) de lançar o Quarteto Fantástico nos cinemas. Ainda que de qualidade bem duvidosa, os dois filmes dirigidos por Tim Story conseguiam divertir com seu humor pastelão e trama macarrônica num adorável guilty pleasure, mas foram incapazes de sustentar uma franquia duradoura. Agora, seguindo uma linha mais dark e realista, o grupo da Marvel tenta se reinventar pelas mãos de Josh Trank.
A trama faz algumas mudanças na história original, trazendo os personagens da fase adulta para adolescente. Reed Richards (Miles Teller) trabalha com o amigo Ben Grimm (Jamie Bell) numa teoria para tornar possível o teletransporte e viagens interdimensionais. Com a ajuda de uma equipe formada pelos irmãos Sue (Kate Mara) e Johnny Storm (Michael B. Jordan), e o inescrupuloso Victor Von Doom (Toby Kebbell), o grupo consegue acesso a outra dimensão, onde ganham poderes bizarros que mudam suas vidas.
Depois de Josh Trank ter dirigido o ótimo Poder Sem Limites e um elenco realmente fantástico ter sido escolhido, é difícil de acreditar que este novo Quarteto consiga ser tão burocrático. O roteiro de Simon Kinberg, Jeremy Slater e o do próprio Trank empolga por se debruçar em uma abordagem mais científica do assunto, tanto que sua eficiente primeira metade funciona bem como uma ficção científica e até impressiona por algumas decisões visuais: o primeiro vislumbre dos poderes é quase amedrontador, com a imagem de um Johnny aparentemente morto sendo engolido por chamas ou o corpo de Reed sendo esticado à força em uma mesa cirúrgica. Porém, são apenas bons momentos encontrados numa narrativa sem vida, que pouco empolga e arrisca.
As relações entre cada membro do Quarteto falham ao provocar autenticidade, como se não houvesse química entre o elenco. Miles Teller se sai bem porque seu personagem tem o maior destaque, mas sua amizade com Jamie Bell é forçadíssima (aliás, o ator surge com uma imutável expressão cansada durante toda a projeção, e seu Coisa digital não é dos mais expressivos) e o pseudo romance com Kate Mara, nada convincente. Poxa, nem o carismático Michael B. Jordan tem a chance de brilhar aqui, já que seu Johnny é constantemente jogado em segundo plano, e me ficou a impressão de que o ator realmente se esforçava – mas parecia forçado a ficar no piloto automático. E mesmo que o Doom de Toby Kebbell seja muitíssimo bem introduzido e explorado, sua transição para vilão megalomaníaco é risível, e um dos grandes fatores que expõem os problemas de bastidores que assombraram seu pré-lançamento.
Se levar em conta o que vemos em tela, certamente a Fox teve problemas para concluir o filme, e não ficaria surpreso se os rumores de refilmagens fossem reais. Trank começa a narrativa muito bem, mas raramente vemos ali o mesmo cara que impressionou com a crueza e espetáculo em Poder sem Limites, trazendo cenas de ação tediosas (o clímax com o Dr. Destino é um dos mais apressados e sem energia que já vi na vida) e até uma montagem problemática que parece unir cenas desconexas: um tempo maior de silêncio entre um momento tenso para outro seria necessário aqui e ali, e é um claro sinal de problemas quando a trama salta 1 ano num momento crítico, ignorando desenvolvimento de personagens e a relação destes com seus poderes. A unica exceção é quando Dr. Destino acorda pela primeira vez, e seu violento e sangrento ataque ajuda a acordar o espectador... Mas isso quando já faltam 10 minutos para acabar o filme.
Nos quesitos técnicos, é competente, ainda que nada muito espetacular. É interessante observar como as chamas digitais cobrem com detalhes o uniforme do Tocha Humana, assim como o detalhe de preencher o traje do Sr. Fantástico de argolas e do Coisa surgir numa espécie de casulo de pedra. Aliás, as justificativas para cada um dos poderes são verossímeis, como as rochas que entram na cápsula de Ben ou o fogo que invade a de Johnny durante o teletransporte de ambos, e até o visual do próprio Destino; quase como uma versão mais controlada de A Mosca.
Mesmo que surja com nomes talentosos e boas intenções, o novo Quarteto Fantástico é um filme esquecível e que infelizmente não consegue fazer muito além do básico, se perdendo numa trama sem graça com personagens pouco carismáticos.
E aí Fox, quarta vez é a da sorte?
Obs: Esse filme não é em 3D. Glória, pelo menos isso.
Quarteto Fantástico (Fantastic Four, EUA - 2015)
Direção: Josh Trank
Roteiro: Simon Kinberg, Jeremy Slater, Josh Trank
Elenco: Miles Teller, Kate Mara, Michael B. Jordan, Jamie Bell, Toby Kebbell, Reg E. Cathey, Tim Blake Nelson
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 100 min
https://www.youtube.com/watch?v=WdkzdYfnwlk
Crítica | Wolverine: Imortal - Conflitos Mutantes no Japão
“Go fuck yourself, preety boy!”, solta o mutante Wolverine em certo ponto de sua nova aventura-solo. A f-word sai novamente pelos lábios do personagem, o que é algo muito incomum de se ocorrer em um filme adaptado de quadrinhos (ainda mais um da Marvel) e também já define o tom de Wolverine: Imortal: a selvageria. Mesmo que seja um longa muito problemático, é algo muito mais digno para o Carcaju do que o nojento X-Men Origens: Wolverine.
A trama do filme é situada alguns anos após os eventos de X-Men: O Confronto Final, trazendo um Logan (Hugh Jackman, pela sétima vez!) andarilho e assombrado pela morte de sua amada Jean Grey (Famke Janssen). A situação muda quando ele conhece a misteriosa Yukio (Rila Fukushima), que o convida para ir ao Japão e aceitar o agradecimento de um veterano de guerra que Logan havia salvado há muito. Em Tóquio, o mutante é surpreendido com a repentina perda de seu fator de cura e os esquemas criminosos que envolvem uma poderosa família japonesa.
O Wolverine é sem dúvidas o personagem mais popular da franquia mutante nos cinemas. Já tendo entregado um retorno financeiro decente à Fox com o filme de 2009 (apesar das críticas negativas), mais uma aventura com Hugh Jackman foi encomendada e, dessa vez, por que não colocá-lo quebrando tudo no Japão? O eclético diretor James Mangold (de Johnny & June, Os Indomáveis e Garota, Interrompida) acerta na condução das mais variadas cenas de ação em solo asiático: luta insana em um veloz trem-bala, garras admantium chocando-se contra o metal de espadas samurais e até um exército ninja está no pacote, aliás nunca havia visto tanto sangue em um filme da Marvel.
Jackman também faz valer a visita, já que o australiano continua trazendo as mesmas características do personagem – aqui, com muito mais brutalidade – com seu habitual carisma, que se destaca em um elenco (predominantemente japonês) que carece de boas atuações; com exceção talvez da exótica Rila Fukushima, cujas feições estranhamente belas – aliado à força de sua personagem – lhe garantem forte presença em cena.
O roteiro assinado por Mark Bomback e Scott Frank é até eficaz ao criar uma história coesa e que prenda a atenção, mas não que valha pelos 137 minutos que parecem muito mais longos do que realmente são. Mesmo que seja interessante apresentar uma nova história de amor (?) para o herói, a narrativa é repleta de personagens com motivações confusas e uns um tanto… cartunescos demais para ver a luz do dia (isso mesmo, ver a russa Svetlana Khodchenkova cuspindo ácido, ou seja lá o que for aquilo, é vergonhoso), sendo desnecessário comentar a estúpida reviravolta envolvendo um dos antagonistas e um certo Samurai de Prata. E lembra que o Wolverine tinha o fator de cura enfraquecido? Isso não o impede de tomar tiros à queima-roupa e sair voando no teto de um trem e correndo pela rua minutos depois. Imortal, de fato.
Mesmo que a produção impressione, Wolverine: Imortal não passa de uma mera curiosidade. Não acrescenta e nem prejudica a franquia X-Men, tornando-se uma história isolada que não necessariamente precisa ser vista para acompanhar a história dos mutantes no cinema. Basta a matadora cena extra que é revelada durante os créditos finais…
Wolverine: Imortal (The Wolverine, EUA/Japão - 2013)
Direção: James Mangold
Roteiro: Mark Bomback e Scott Frank, baseado nos personagens da Marvel
Elenco: Hugh Jackman, Rila Fukushima, Famke Janssen, Tao Okamoto, Hiroyuki Sanada, Svetlana Khodchenkova, Brian Tee, Hal Yamanouchi
Gênero: Ação
Duração: 126 min
https://www.youtube.com/watch?v=g7kdUy5_WlI
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Crítica | Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum - A jornada de um perdedor
Os irmãos Joel e Ethan Coen costumam dizer que “já existem muitos filmes sobre o sucesso”, como a justificativa para apostarem em tantas histórias com personagens e desfechos… Pouco convencionais, sem a esperança de um final feliz. Mas os Coen não são derrotistas ferozes, nunca deixando de lado seu humor negro característico, presente até mesmo no sombrio Onde os Fracos Não Têm Vez, e a saga folk Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum revela-se mais uma eficiente adição à carreira peculiar dos dois mestres; concentrando-se na vida de um verdadeiro derrotado.
A trama é centrada no músico fictício Llewyn Davis (Oscar Isaac), que encontra-se em sua pior fase após o suicídio de seu parceiro. Vagando pelas ruas da Greenwhich Village dos anos 60 (ponto de partida de figuras como Bob Dylan e Dave Von Ronk, que serviu de inspiração para a criação do protagonista), acompanhamos Davis dormindo na casa de amigos e aceitando qualquer tipo de bico pela cidade a fim de receber alguns trocados e alcançar o almejado sucesso profissional.
Basicamente é isso, como o título sugere: um olhar por dentro de Llewyn Davis, sem uma trama definida especificamente. A decisão estrutural possibilita que os Coen teçam diversas situações isoladas e que surgem diferentes a seu modo, seja no completo nonsense (no melhor sentido da palavra) ao apostar no road movie com os estranhos personagens de John Goodman e Garrett Hedlund ou na subtrama que envolve o carismático gato (sem exageros, que animalzinho talentoso) encontrado pelo protagonista – que possibilita um sutil paralelo não só com o próprio Davis, mas também – vejam só – com A Odisseia de Homero e Bonequinha de Luxo. Outro elemento fundamental é a ciclicidade da narrativa, que oferece início e fim praticamente idênticos, deixando claro que a situação de Davis não só é preocupante; mas permanente.
O personagem sofre, até mesmo as paredes do corredor parecem dispostas a achatá-lo (excepcional decisão do designer de produção Jess Gonchor) e a fotografia sobrenatural de Bruno Delbonnel nos situa em mundo frio, dominado por tons cinzas e paletas de cor frias – além de seu toque característico que é favorecido pelo uso da escuridão de bares ou uma onírica rodovia que literalmente representa o sombrio estado mental do personagem em determinada situação; a névoa permeia o ambiente para demonstrar a incerteza, a sensação de se estar perdido no meio do nada e apenas torcer para que consiga encontrar a direção certa.
Ainda assim, é impossível não se divertir com Inside Llewyn Davis. Não só pelas figuras excêntricas descritas acima, mas também pelas canções produzidas originalmente por T-Bone Burrett para o longa. Vale apontar as performances de “Hang Me, Oh Hang Me”, “The Death of Queen Jane” e o uso genial de “Fare Thee Well” para a sequência que apresenta o cotidiano de Llewyn. Seria uma heresia deixar de citar a divertidíssima “Please Mr. Kennedy”, canção com uma letra hilária que traz as vozes de Oscar Isaac, Justin Timberlake e Adam Driver (da série Girls).
Servindo como um curioso estudo de personagem que leva seu objeto do nada ao nada, Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum é uma experiência única, proporcionada por duas das maiores mentes do cinema contemporâneo. Seja em sua maestria técnica, narrativa ou em sua vibrante trilha sonora folk, o filme é tragicômico no melhor sentido da palavra. E sua ausência em grandes categorias do Oscar é crueldade.
Obs: reparem na “participação especial” que se destaca nos últimos momentos do filme…
Obs II: Quando a tradução é ruim eu detono, mas preciso reconhecer quando as distribuidoras fazem um bom trabalho. O subtítulo do filme é acertadíssimo, parabéns.
Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum (Inside Llewyn Davis, EUA - 2013)
Direção: Joel Coen, Ethan Coen
Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen
Elenco: Oscar Isaac, Carey Mulligan, Justin Timberlake, Adam Driver, John Goodman, Garrett Hedlund, F. Murray Abraham
Gênero: Comédia, Drama, Musical
Duração: 104 min
https://www.youtube.com/watch?v=eXMuR-Nsylg