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Crítica | A Baleia traz Brendan Fraser em performance transformadora

Novamente temos a figura de Darren Aronofsky trazendo um ator de volta aos holofotes com uma grande performance. É impossível não remeter à temporada gloriosa de Mickey Rourke com O Lutador, de 2008, que quase garantiu um Oscar ao ator após anos afastado das telas. E agora Aronofsky faz algo parecido para Brendan Fraser no drama A Baleia, que também está recebendo atenção dos prêmios.

O projeto é adaptado da peça homônima de Samuel D. Hunter, que também trabalha no filme como roteirista. Mantendo a tradição associada a trabalhos de Aronofsky, A Baleia é um longa polêmico por seu retrato e temática, mas que vale elogios pelo trabalho de Fraser.

A história do filme acompanha Charlie (Fraser), um homem morbidamente obeso que está em seus últimos dias de vida. Enquanto ministra cursos de redação pela internet, Charlie tenta se reconectar com sua filha adolescente rebelde (vivida por Sadie Sink) enfim se preparando para enfrentar alguns demônios de seu passado.

A Baleia definitivamente não esconde suas raízes teatrais, perfeitamente se adequando na categoria de teatro filmado. O fator mais interessante no roteiro de Samuel D. Hunter é como o espectador recebe apenas fragmentos da história, do passado completo que envolve o Charlie e a relação com sua família, e isso vai formando uma imagem mais clara e controversa à medida em que a história avança.

O longa acaba apresentando uma boa história de fundo, e no geral rende interações fascinantes entre seus personagens. As mais presentes envolvem conversas bem agressivas do Charlie com sua filha, que Sadie Sink é eficiente em injeta uma raiva e um caráter violento que é bem interessante de ver. Mas o ponto alto definitivamente reside na relação de Charlie com a Liz, sua enfermeira vivida pela ótima Hong Chau. O texto explora um conflito bem curioso entre os dois, porque a Liz mantém o Charlie vivo, realiza seus exames, mas ao mesmo tempo também é responsável por lhe trazer comida de qualidade questionável.

O fator mais negativo certamente é a subtrama bem descartável do personagem de Ty Simpkins, que interpreta um missionário de um culto religioso que constantemente visita a casa de Charlie. O propósito da trama é claro, e desempenha uma função crucial na jornada da personagem da Sadie Sink, mas definitivamente é um arco que atrapalha e tira o foco da relação central envolvendo Charlie.

Porém, o grande problema mesmo acaba sendo o próprio Darren Aronofsky. Ao longo da narrativa, existe um descompasso na forma como A Baleia quer retratar o Charlie: o texto e a performance de Brendan Fraser lutam pra tornar essa figura em alguém humano e empático, enquanto Aronofsky busca o retrato mais monstruoso possível. É a forma como sua câmera destaca a maquiagem, o corpo obeso, e principalmente a trilha sonora mega intrusiva e exagerada do Rob Simeon, que transforma algumas cenas do Charlie comendo descontroladamente em filme de terror.

É uma decisão contraditória com a própria abordagem do filme, que também se volta para um olhar mais intimista pela razão de aspecto menor (fazendo uso da tela em 4:3, quadrado), o que garante um enfoque maior nos personagens – o que só exacerba de uma forma negativa a presença física de Charlie, além de reforçar a presença de momentos excessivamente melodramáticos. É definitivamente um filme feito pra ganhar Oscar.

Mas obviamente, o destaque maior fica com Brendan Fraser. Sempre muito bem aproveitado em comédias e longas de aventura, e A Baleia é a oportunidade perfeita para o ator mostrar um lado totalmente diferente. Obviamente, a maquiagem e o traje de obesidade estão ali para um apoio considerável, mas é mesmo o trabalho de voz, o trabalho com os olhos, a forma como o Charlie parece ser incapaz de ser ofendido pelos outros; em como ele é absurdamente otimista e positivo mesmo com coisas que ele não deveria. Nesse lado mais dócil, Brendan Fraser encanta e emociona, oferecendo uma performance bem bonita, mas sofrida também; já que em todo momento em que o Charlie ri, sente fortes dores no peito.

Esse acaba sendo o principal elogio para A Baleia. Apesar do excelente trabalho de Brendan Fraser e do elenco no geral, o longa acaba em conflito consigo mesmo, já que Darren Aronofsky parece mais interessado no aspecto monstruoso de sua história, que por natureza está lutando para ser mais humana e intimista.

A Baleia (The Whale, EUA – 2022)

Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Samuel D. Hunter, baseado na própria obra
Elenco: Brendan Fraser, Hong Chau, Sadie Sink, Ty Simpkins, Samantha Morton
Gênero: Drama
Duração: 117 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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