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Crítica | A Família Addams – Uma animação que diverte com o absurdo

É inegável que a estranheza tenha lugar de destaque na ficção, hora com produções que se destacaram por trazer um lado mais excêntrico e sombrio, casos de Réquiem para um Sonho (2000) e Eraserhead (1977). Mas há também um outro lado abordado nas tramas de Hollywood dentro desse cinema bizarro, que é tenta dar uma amenizada ao tema, com mais toque de humor e originalidade, entrando aí produções como Os Fantasmas Se Divertem (1988) e Sombras da Noite (2012). Mas o topo do pódio fica com A Família Addams como mais célebre filme sobre o gênero. 

A nova versão de A Família Addams, feita em forma de animação, e dirigida por Greg Tiernan (Festa da Salsicha) e Conrad Vernon (Emoji: O Filme) é um retorno da turma mais macabra e diferente para as telas, já que o último filme sobre a clássica história (A Família Addams 2) havia sido lançado em 1993. Nesta versão mais moderna pode-se destacar a escolha dos diretores e da produção em se fazer um filme com o estilo de animação, uma escolha corajosa até se pensar que o mercado de filmes animados é bastante concorrido e com tantos títulos os Addams ficam até um pouco jogados de lado, mas isso não quer dizer que sejam ruins, pelo contrário, é bastante divertido e surpreende por trazer a alma da origem do projeto.

A Família Addams teve origem nos cartoons do norte-americano Charles Addams, e a animação, diferente de tudo o que já havia se visto no audiovisual a respeito do tema, capturou exatamente essa atmosfera das tirinhas originais, se inspirando livremente na abordagem de Charles Addams principalmente na elaboração da criação dos personagens, e não dos filmes protagonizados na década de 90 por Raul Julia, ou qualquer outra coisa que foi feita sobre o tema. Também aproveitaram para utilizar a ambientação das tirinhas originais para criar a atmosfera presente no longa.

A versão dos diretores Greg Tiernan e Conrad Vernon não perde a essência do que já existe nos Addams, pois esse é exatamente o propósito da família mais peculiar do cinema. A mensagem é a de aceitação, e não é porque a família Addams, que é bizarra, e ao se mudar para uma cidade toda perfeitinha, precisa ser caçada como se fossem bruxos ou sofrerem os mais diversos tipos de preconceitos simplesmente por serem diferentes. E esse discurso está em sincronia com o que era pensado por Charles Addams, que ao desenhar suas tirinhas pensou justamente em dialogar com com o oposto do tradicional na época em que viveu, e esse debate também está muito presente nos dias atuais, tornando a produção bastante identificada com o seu tempo.

É normal, em muitas animações, um tratamento mais humanista e alegre no jeito com que a narrativa é construída, com ambientações e personagens cheios de felicidade e cores, coisa que não acontece com os Addams, eles são completamente diferentes do que há no mercado. São sombrios e macabros, assim como essa família tão estranha tem que ser retratada, e o melhor é que não é um macabro que dá medo ou assusta, é na realidade totalmente o contrário. Há um humor que funciona com todos os públicos, e esse lado cômico surge com ótimas cenas absurdas e surreais de pegadinhas entre os personagens, e principalmente com as excentricidades dos Addams frente a normalidade dos habitantes da cidade.

Personagens como Gomez, Morticia, Tio Chico, Vandinha, Mãozinha são icônicos e tem seu espaço na cultura pop, sendo sempre lembrados em comemorações ou celebrações em que se demandam fantasias do tipo. Essa aura cult dos personagens se dá não apenas por serem diferentes ou bizarros, mas por trazerem uma essência original que não acompanha outros protagonistas de produtos culturais. Um destaque deste longa é o fato dos traços de cada um ter sido desenhado com um lado meio cartunesco, lembrando e fazendo uma homenagem com os cartoons originais de Charles Addams. 

A Família Addams é uma divertida animação para todos os públicos, e que serve para tirar o telespectador do lugar comum, utilizando do absurdo e das várias sensações de diferenças realçadas com a participação de personagens tão excêntricos e sem noção. O público mais jovem estava órfão de histórias tão bizarras quanto a apresentada no longa, e isso é o que deixa mais interessante a produção, que é o fato de deixar os novos telespectadores em sintonia com algo que foi um marco na década de 90, mas que havia sido abandonado pelos estúdios com o tempo. Espera-se que seja um recomeço dos Addams no audiovisual e que eles voltem, mas agora para ficar.

A Família Addams (The Addams Family, EUA, 2019)

Direção: Greg Tiernan, Conrad Vernon
Roteiro: Matt Lieberman, Conrad Vernon, Pamela Pettler, Matt Lieberman, Erica Rivinoja, Charles Addams (História original)
Elenco: Oscar Isaac, Charlize Theron, Chloë Grace Moretz, Finn Wolfhard, Nick Kroll, Snoop Dogg, Bette Midler, Allison Janney
Gênero: Animação, Comédia, Família
Duração: 84 min.

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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