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Crítica | A Favorita – O Toque de Genialidade de Yorgos Lanthimos

Se há um diretor que há algum tempo merecia um destaque em Hollywood pela maneira que vem se destacando e pelo jeito de criar histórias esse é sem duvida Yorgos Lanthimos. Aos 45 anos conta com uma cinematografia invejável, com produções que transitam entre a comédia, drama e o terror. Yorgos tem o poder de se reinventar a cada novo longa e toda vez trabalha algum elemento diferente, sendo as excentricidades dos personagens e colocando algum segredo em torno deles. No longa O Lagosta faz um romance diferente, inteligente e original e em O Sacrifício do Cervo Sagrado nos apresenta uma trama impactante, bizarra e cheia de mistério. E em A Favorita mais uma vez Yorgos Lanthimos nos apresenta seu trabalho mais maduro até o momento.  

A ideia em A Favorita é nos mostrar de forma cômica e banal a vida da rainha Anne (Olivia Colman) em um período em que a Inglaterra se encontrava em guerra contra a França e como a realeza convivia com tal cenário. Entre reuniões estratégicas e fofocas nos apresenta as personagens Sarah (Rachel Weisz) e Abigail (Emma Stone) que criam intrigas a todo instante nos bastidores em um jogo de poder para saber qual é a favorita da rainha e assim poder ser sua queridinha e assim conquistar vantagens dentro do reino. 

É uma dura crítica feita à realeza inglesa, com uma rainha que só pensa em usufruir de prazeres que vão desde jogos infantis e inúteis, como a hora em que Anne quer realizar uma corrida entre lagostas, ou nos momentos em que fica a fica presa em seu quarto conversando com seus coelhos. A rainha é pintada como uma mulher mimada que grita sempre quando é contrariada ou quando fica brava, e em nenhum instante aparece como uma mulher com de decisões fortes. A rainha é uma marionete de Sarah, que mesmo não estando no poder diz à Anne quais os caminhos políticos pelos quais a Inglaterra deveria seguir na guerra. Uma excelente mensagem sobre um reinado de faz de conta e sobre suas inutilidades cotidianas, mostrando como questões importantes eram deixadas de lado em proveito de questões pessoais.

Yorgos Lanthimos trabalha sua direção de forma totalmente diferente do que vimos em suas produções anteriores, alguns traços continuam presentes como os planos abertos que dão destaque para o ambiente em que o personagem está inserido. Mas não ia muito, além disso, era quase sempre câmera estática ou em pequenos movimentos. 

O principal toque de mestre de sua excelente direção está nas jogadas de câmera belamente trabalhadas. A câmera é a visão do diretor e o que assistimos na tela é o que ele pensava ser o essencial para a cena. Yorgos Lanthimos faz com que a câmera seja sua companheira e a usa de um jeito que insere o telespectador no cenário em que a trama é ambientada. A câmera sempre que possível está em movimento, indo lentamente de longe para perto da figura que se encontra em outro ponto da cena, ou indo rapidamente para outra figura de destaque, e tudo sem cortes, criando planos sequências lindos que dão maior dinamismo e realidade para o filme. Há ainda o uso de lentes anamórficas que distorcem o ambiente em que é filmado, causando o efeito conhecido como olho de peixe, tal efeito é colocado com o intuito de aumentar ou diminuir o ambiente dando a impressão hora de ser um lugar acanhado e pequeno hora de ser um lugar de vastas dimensões. 

A beleza da fotografia também é algo a se destacar, feita para dar um sentimento de tristeza, isolamento não apenas da rainha, mas das outras personagens que se encontram presas à Anne. Os figurinos e a belíssima direção de arte são belos e dão maior luxo e vida a um palácio que parece abandonado e monótono. A beleza dos figurinos é de dar inveja a muitas produções de época fazem com que o telespectador vivencie como era o período em que a história está ocorrendo.

Quase todo o longa se passa dentro da residência oficial da rainha e o local é colocado como se fosse um personagem. O diretor usou bem sua estrutura com seus longos corredores a se perder de vista e salões gigantes que não se enxerga o teto. O palácio tem papel importante na imposição de tudo que acontece na corte, desde as fofocas e intrigas ao que acontece sob quatro paredes na privacidade dos quartos.

Emma Stone está fantástica no papel de Abigail, uma mulher que a princípio é uma coitadinha vinda de outro local, logo mostra suas garras e se transforma em uma espécie de antagonista que faz de tudo para destruir sua rival Sarah. Abigail tenta conseguir a aprovação da rainha e não lhe faltará escrúpulos para isso, ajudando até  planos do opositor no parlamento Robert Harley (o ótimo Nicholas Hoult). Emma Stone está em uma de suas melhores performances, sua interpretação vai de uma mulher arrogante em alguns momentos, engraçada e sádica. 

Em contrapartida temos Rachel Weisz, a garota que a princípio é simpática e que cuida da rainha de todas as formas possíveis. Rachel Weisz está ótima na sua personagem, uma mulher dominadora e indiferente aos outros, mas não melhor que a própria Emma Stone e que a excelente Olimia Colman, uma protagonista belamente bem escrita, sendo mostrada como uma mulher depressiva, que não faz absolutamente nada o dia todo, e que vive sob a fagulha da paixão e da depressão. Anne tem todos ao seu lado, mas ao mesmo tempo vive sozinha em seu gigantesco quarto. Yorgos Lanthimos quis criar uma rainha mais humana, mostrando seus prazeres, seus pontos fracos, e sua tristeza.

Deborah Davis, Tony McNamara criam um roteiro com uma narrativa que é contada no formato de capítulos, fazendo com que a história se renovasse a todo instante. O tema principal de A Favorita – além de falar sobre a inutilidade do reinado – é o sacrifício feito pelas três protagonistas. Anne se sacrifica em um reinado em que está sozinha e não é amada, além de estar presa sob a tutela de governar o Estado, as pessoas a amam pela sua posição não pelo que realmente é. Sarah se sacrifica no sentido de ter de servir a rainha, uma servidão de longa data até a chegada de Abigail que também irá servir a rainha ao custo de usufruir das mordomias que a posição de favorita da rainha lhe dá. 

Mesmo não tendo ação aparente A Favorita não é em nada uma trama parada ou maçante. Os trabalhos ágeis de câmera e o fato das atrizes serem tão espontâneas fazem com que a história se torne viva e esteja sempre em movimento. Poderiam mostrar cenas de guerra, mas não é algo necessário para o filme, sendo que o foco principal dele é total no confronto entre Sarah e Abigail na missão de chamar a atenção de Anne. A Favorita é a perfeição de Yorgos Lanthimos, ele criou sua marca pessoal e nos resta esperar que continue assim

Esse filme foi assistido na 42ª Mostra Internacional de SP

A Favorita (The Favourite, EUA, Irlanda – 2018)

Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Deborah Davis, Tony McNamara
Elenco: Emma Stone, Olivia Colman, Rachel Weisz, Joe Alwyn, Mark Gatiss, Nicholas Hoult
Gênero: Biografia, História
Duração: 120 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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