Após anos de trabalho como um ator inconsistente, Ben Affleck realmente encontrou sua vocação forte como diretor. Depois dos ótimos Medo da Verdade e Atração Perigosa, Affleck atingiu o ápice com o thriller político Argo, que faturou o Oscar de Melhor Filme em 2013. Sua ascensão só é rivalizada pela queda subsequente, ao interpretar uma versão divisível do Batman para Zack Snyder e dirigir um dos grandes fracassos de sua carreira com A Lei da Noite, em 2017.
Passada a fase negativa, Affleck parece ter recuperado o brilho de seus anos como diretor. Após ótimas performances em longas de gênero variados, ele retorna para conduzir Air: A História Por Trás do Logo, drama esportivo que vai te fazer acreditar que é possível tornar a história de um tênis absolutamente empolgante.
A trama é ambientada na década de 1980, quando Sonny Vaccaro (Matt Damon) procura por formas de revitalizar a presença da Nike no mercado do basquete. Sua solução radical é focar todo o investimento da empresa na criação de uma linha inspirada na figura do até então pouco conhecido Michael Jordan, iniciando uma campanha agressiva para convencer o jogador a assinar um contrato de exclusividade com a marca.
Seguindo a linha de dramas esportivos como O Homem que Mudou o Jogo, Ford vs Ferrari e especialmente Jerry Maguire – A Grande Virada, Air é daqueles filmes que transcende o tópico. Por mais que possa parecer um assunto extremamente limitado e de nicho, o excelente roteiro do estreante Alex Convery faz um trabalho formidável em tornar até mesmo as mais burocráticas reuniões de orçamento interessantes. É um texto repleto de diálogos rápidos, divertidos e que inserem o espectador dentro do processo de Sonny, que instantaneamente age como a figura visionária e subestimada da empresa – garantindo o apoio do público.
Air é muito mais sobre o processo técnico e a história humana de uma decisão simples, raramente se concentrando no esporte em si; o que definitivamente abrange seu apelo e garante excelentes performances, com Matt Damon sendo o grande chamariz, mas dividindo a cena com os ótimos Jason Bateman, Chris Tucker, Chris Messina, o próprio Affleck (em um papel bem menor) e, especialmente, a ótima Viola Davis – que definitivamente rouba a maioria de suas cenas no papel da inteligente mãe de Jordan.
Com um roteiro fantástico em mãos, Ben Affleck opta por ser o mais discreto e sutil possível. Mesmo trabalhando com o talentoso diretor de fotografia Robert Richardson, a estética de Air não é exatamente cinematográfica e parece bem confortável em apenas capturar a ação e as performances de seu elenco; com uma nítida presença do granulado da película, adequando-se bem à ambientação dos anos 1980.
O que Affleck faz de interessante é se atentar às marcas. Adotando um publicitário como protagonista, sua câmera constantemente aposta em planos detalhe e closes de jornais, revistas, brinquedos e diversos produtos da época, o que garante uma boa imersão no período temporal (e deve ter agradado o departamento de produção de objetos) mas também a visão de Sonny e sua atenção aos detalhes. Affleck também é inteligente ao nunca mostrar – apenas sugerir – a figura de Michael Jordan, ao mesmo tempo garantindo uma imagem incompleta que poucos conseguem contemplar, mas também engrandecendo sua figura mítica; que só é revelada através de imagens de arquivo do Jordan real.
Air é um excelente retorno à forma para Ben Affleck, que mais uma vez mostra o poder do cinema: nunca poderíamos imaginar o quão empolgante e emocionante seria a história de origem de um calçado.
Air: A História Por Trás do Logo (Air, EUA – 2023)
Direção: Ben Affleck
Roteiro: Alex Convery
Elenco: Matt Damon, Jason Bateman, Viola Davis, Chris Messina, Chris Tucker, Ben Affleck, Marlon Wayans, Matthew Maher
Gênero: Drama
Duração: 112 min