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Crítica | As Panteras – Um roteiro que não sabe bem qual caminho tomar

Desde 2003 que a franquia As Panteras não recebia um novo capítulo, e muito se deve ao que foi feito com os dois filmes anteriores dirigidos de forma espalhafatosa por McG. Um reboot era necessário, primeiro para adaptar a história para a nova geração e segundo para atualizar a trama que já não tinha mais forças com a velha história de espionagem ou de bandidagem, e até por isso, naquela ocasião dos anos 2000, os longas acabaram perdendo a força e não tendo novas continuações.

Fato é que essa releitura de As Panteras, dirigido por Elizabeth Banks (A Escolha Perfeita 2), tem novos elementos que pode agradar aos fãs, principalmente em relação a questão do feminismo, que é um tema bastante atual e que não poderia ficar de fora do roteiro, mas isso não é algo que atrapalha a narrativa, nem que é tocado a todo o instante, ou que simplesmente é jogado em cena por ser jogado. Há sim alguns momentos chaves que são inseridos alguns temas feministas, mas isso feito porque a cena demanda isso e porque o próprio roteiro foi escrito com esse propósito.

Há muitas cenas que se constatam como o feminismo é importante, há cenas de assédio contra a personagem Elena Houghlin (Naomi Scott), preconceitos e outros temas do cotidiano que são inseridos na trama, mas que não são discutidos a fundo. Infelizmente a ideia não é debater temas sensíveis a sociedade, como a produção O Escândalo (Jay Roach) fará, por exemplo. Na realidade é uma grande oportunidade perdida em tratar dessas questões sem maior força e maior clareza. Há situações que poderiam dar muito mais assunto e que acabam se perdendo por não ser o foco do roteiro. 

As cenas de ação, que são a marca registrada da franquia, continuam no reboot e vão a um nível adiante, sendo melhores coreografadas como devem ser, utilizando melhores habilidades de lutas, com confrontos melhores pensados entre o trio de protagonistas e os vilões que vão surgindo. Não são cenas de ação de tirar o fôlego como as apresentadas em Lucy (2014) ou Atômica (2017) em que as personagens socam os antagonistas e tiram rios de sangue, aqui a ação é mais para impressionar e apresentar a força das três como equipe, e não para apenas mostrar a força física de cada uma. A ação, como tempo do longa, acaba se tornando algo bastante dispensável, mas isso por causa do roteiro e não por causa das cenas de ação em si.

O roteiro tenta se reinventar em um cenário em que as produções de filmes de ação quase sempre acabam indo para o lado da espionagem ou para o lado da traição entre equipes. O roteiro tenta se reinventar e ser original nesse cenário, e até tem momentos que conseguem destoar do que já havia sido feito nos dois longas anteriores. Obviamente que não dá para fazer nada novo assim do nada e os clichês vão surgindo com o tempo e o roteiro que de início parecia mais realista acaba se tornando um grande catado de filmes do gênero.

Há até uma tentativa de reviravolta próxima ao final que funciona por um momento, mas que atrapalha bastante o que havia sido criado no início da narrativa, e muito disso envolve o surgimento do vilão. Na realidade a direção faz uma grande atrapalhada com a criação deste vilão em si. Em um primeiro momento aponta para um subalterno forte como tem que ser, e depois apresenta o todo poderoso antagonista que tem sua importância para a trama, e que acaba por trazer uma grande mudança para a história futura de As Panteras

O protagonismo é dividido entre as três personagens interpretadas por Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska. Das três quem se destaca realmente, até porque a personagem ajuda bastante, é Naomi Scott, que faz o papel de uma mulher que parece ingênua, mas que esconde algo a mais dentro de si: é inteligente, sensata e com raciocínio rápido. Ella Balinska tem os seus momentos, principalmente nas cenas de ação, mas são tantas em que a atriz está presente que acaba se tornando repetitiva, e acaba mostrando como sua personagem de fato é vazia. Há uma tentativa de estabelecer um romance entre Ella Ballinska com o personagem de Noah Centineo, mas que não vai para a frente, até porque o personagem dele – e de todos os homens do filme – é extremamente irrelevante. Kristen Stewart é a que mais surpreende, sua atuação é convincente, principalmente pelas ótimas tiradas que dão uma suavizada para as cenas, mas infelizmente sua protagonista é ruim e desmiolada, algo que parece frequente nas produções de Elizabeth Banks. 

O mais problemático de Charlie’s Angels (nome original) fica em relação a direção fraca de Elizabeth Banks, que já havia feito dois trabalhos desastrosos em A Escolha Perfeita 2 e Para Maiores. Sua direção neste reboot de As Panteras não vai além do óbvio, não traz nada de original e novo, e não traz novos caminhos para a trama. Fato é que o filme lembra muitos outros do gênero e sua direção tem momentos produtivos e outros que não fazem sentido algum, mesclando cenas de ação boas e diálogos sonolentos que não levam a lugar algum. O alívio cômico mesmo é um exemplo disso, inserido principalmente sob o aspecto do ponto de vista da personagem de Kristen Stewart, tendo boas tiradas que fazem o público rir, enquanto há outros momentos que não se ouve uma gargalhada se quer.

As Panteras é um conteúdo vazio que mesmo assim diverte. Não há muito o que se esperar de uma produção que tinha tanto a se levar adiante, tantas mensagens a serem trabalhadas, mas que falha em sua criação narrativa e no jeito que elabora sua história. Não é um fracasso completo, pois há os seus momentos, mas fica aquele sentimento de que algo melhor poderia e deveria ser feito, ainda mais em relação ao tratamento da trama principal e da motivação das protagonistas. Provavelmente o filme terá uma continuação, e caso isso aconteça, que pelo menos pensem melhor em que filme querem levar para a tela e que mensagem querem passar para o público.

As Panteras (Charlie’s Angels, EUA, 2019)

Direção: Elizabeth Banks
Roteiro: Elizabeth Banks, Evan Spiliotopoulos, David Auburn
Elenco: Kristen Stewart, Naomi Scott, Ella Balinska, Elizabeth Banks, Patrick Stewart, Djimon Hounsou, Sam Claflin, Jonathan Tucker, Nat Faxon, Noah Centineo
Gênero: Ação, Aventura, Comédia
Duração: 118 min.

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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