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Crítica | Círculo de Fogo: A Revolta – Michael Bay Genérico

Ao contrário da maioria, não fui conquistado tão fortemente por Círculo de Fogo, filme lançado por Guillermo Del Toro em 2013 que celebrava os filmes de monstros japoneses em um festival de ação e pancadaria. Porém, confesso que é uma experiência divertida, e o talento de Del Toro para conduzir sequências grandiosas e trazer sua inconfundível assinatura visual em cenários e criaturas certamente faz valer a visita, mesmo que longe de perfeita. Com um resultado pouco expressivo nas bilheterias americanas, demorou para que a sonhada sequência visse a luz do dia, e com a Legendary trocando a Warner Bros pela Universal, o estúdio logo trouxe Steven S. Knight para comandar este Círculo de Fogo: A Revolta. Bem, como Del Toro era o diferencial naquele filme, não é de se espantar que Knight falhe de maneira colossal.

A trama tem início 10 anos após os eventos do original, com a humanidade vivendo tempos relativamente pacíficos após a vitória contra os Kaijus. Nesse cenário, o rebelde Jake Pentecost (John Boyega) e a sucateira Amara Namani (Cailee Spaeny) são recrutados para fazer parte de um novo pelotão de pilotos Jaeger, sob a tutela de Nate Lambert (Scott Eastwood). Enquanto uma empresa chinesa estuda a criação de Jaegers “drones”, um misterioso ataque de Kaijus faz o mundo entrar em alerta novamente, especialmente para descobrir a origem dos agressores.

No papel, o roteiro assinado por Steven S. Knight (não confudir com Steven Knight, do excelente Locke), Emily Carmicheal, Kira Snyder e T.S. Nowlin traz boas ideias para A Revolta. Um mundo afetado por batalhas gigantescas, destroços de Jaegers e Kaijus por toda a parte, e toda uma mitologia de sucateiros e comerciantes de partes das criaturas… exatamente como em Transformers, Os Vingadores e O Despertar da Força, parando para pensar. Bem, felizmente Knight ao menos aposta em um grupo de personagens diferentes, com o velho papo geracional de passar o bastão para personagens mais jovens, e o dilema de Jake Pentecost em fazer jus ao legado épico de seu pai (Idris Elba, no primeiro filme) é o mais próximo que temos de um arco de personagem, já que todos os outros jogadores são esquecíveis.

O motivo para a volta dos Kaijus é… interessante. É o tipo de ideia que podemos imaginar Del Toro jogando na mesa, e que fazem sentido dentro da lógica e os eventos do antecessor; sendo o tipo de argumento que uma boa sequência geralmente aborda. Porém, a execução é outra história, já que Knight escamba para o ridículo e oferece resoluções absurdas, e falo isso com plena consciência de que a grande inspiração por trás desses filmes são desenhos animados japoneses, sem falar na presença esdrúxula de Charlie Day nesse arco; ninguém parece ter consciência se seu papel deveria ser engraçado ou “assustador”, só restando suas cenas com o divertido Burn Gorman para nos trazer lembranças do original.

Só mesmo o carismático John Boyega para sustentar esse grupo sem graça e esquecível, com um sotaque britânico natural e um humor sempre bem-vindo, mas com características que o diferem drasticamente do Finn de Star Wars. E por falar na galáxia muito, muito distante, Cailee Spaeldi se esforça para criar uma versão sisuda de Rey, mas surge tão artificial quanto aquela que Michael Bay tentou nos enfiar goela abaixo no último Transformers. E pobre Scott Eastwood, que parece ter algum carisma escondido ali, mas Hollywood parece ser incapaz de encontrar um bom papel para o filho do lendário Homem sem Nome.

Como diretor, Knight é um desastre. Nenhum momento tem o devido impacto ou construção que poderiam torná-lo memorável, onde o diretor parece apressado e descontrolado, jamais criando momentum. Todas as cenas de ação parecem saídas de uma versão genérica de Transformers, e é aí que vemos a falta que Del Toro faz: não sabemos quais robôs são quais, o que faz cada Kaiju especial, e por aí vai… É tudo amarrotado e enlatado, tornando as intermináveis sequências de batalha uma experiência tediosa, e risível quando Knight aposta em uma câmera lenta súbita para frisar alguns movimentos – e expressões embaraçosas do elenco, claro.

Knight também carece de uma noção de espaço e tamanho, já que os Jaegers nunca parecem realmente ter o senso de escala que o primeiro tinha, além de sua paleta de cores ser muito mais pobre e sem dinamismo do que o anterior, em mais um fator que torna as cenas de ação esquecíveis, e nem mesmo o vibrante tema de Ramin Djawadi – conduzido aqui pelo inimaginativo Lorne Balfe – consegue provocar alguma reação.

Sem a paixão de Del Toro pelo material que o inspirou, Círculo de Fogo: A Revolta soa como uma tentativa patética de tentar obter o mesmo produto de forma enlatada e genérica, conduzido por um grupo “criativo” que falha em entender o que tornou o primeiro tão especial para seu público alvo. Absolutamente dispensável.

Círculo de Fogo: A Revolta (Pacific Rim: Uprising, EUA – 2018)

Direção: Steven S. DeKnight
Roteiro: Steven S. DeKnight, Emily Carmichael, Kira Snyder e T.S. Nowlin, baseado nos personagens de Travis Beacham
Elenco: John Boyega, Scott Eastwood, Cailee Spaeny, Burn Gorman, Charlie Day, Rinko Kikuchi, Tian Jing, Karan Brar
Gênero: Ação
Duração: 111 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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