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Crítica | Eu Sou Mais Eu – Um filme para ninguém

O YouTube está dominando os cinemas brasileiros. Diversos artistas e influenciadores digitais acabaram conquistando papéis em produções nacionais recentes, com até mesmo um filme inteiro feito justamente para unir essa bolha – resultando em Internet – O Filme. Mas dentre todas as telinhas de comentários por aí, Kéfera Buchmann é quem realmente tem pretensões de seguir o ofício de atriz, como visto em seus trabalhos em novelas da Globo e filmes como É Fada!. Bem, Eu sou Mais Eu não definitivamente não é uma amostra de talento. De nenhum dos envolvidos.

A trama do filme apresenta a cantora pop Camilla Mendes (Kéfera), a típica figura egocêntrica e narcisista, que subjulga todos a seu redor. Após um encontro bizarro com uma fã obsessiva, ela é magicamente transportada de volta para 2004, quando era uma adolescente desajeitada e socialmente deslocada. Ao lado de seu amigo Cabeça (João Cortês), ela precisará encontrar uma forma de quebrar o feitiço e retornar ao futuro. 

É o tipo de história que já vimos infinitas vezes no cinema, de todas as formas possíveis; e melhor. O próprio filme assume, em uma das inúmeras referências à cultura pop, que é uma situação similar com a de De Repente 30, mas colocando o adulto no corpo da criança. É a mesma fórmula e a mesma sucessão de eventos, baseando-se na esgotada ideia de “o estranho é bom”, mas fazendo-o da forma mais pedestre possível. É difícil entender o público alvo do filme, visto que é absurdamente infantil e imaturo em todas as decisões narrativas e visuais (além da trilha sonora, saída diretamente de um Tom & Jerry), mas assume momentos dramáticos e uma linguagem que definitivamente não é visada para um público infantil. Em outras palavras, é um filme para ninguém.

A direção de Pedro Amorim também sofre da esquizofrenia temática. Há closes e zooms típicos de um dramalhão mexicano (certamente mirando em Meninas Malvadas, mas sem o humor autor eferente), ao passo em que aposta em sequências musicais em câmera lenta para tentar criar algum tipo de envolvimento emocional, mas que só servem para salientar corpos e expressões de ridículo – falando em câmera lenta, alguém em 2019 ainda vê graça no efeito de voz grave que a velocidade reduzida promove? A julgar pela direção do filme, infelizmente sim. Ao lado de seu diretor de fotografia, Amorim até consegue compor alguns quadros esteticamente agradáveis, mas até mesmo comerciais de perfume trazem mais substância; isso sem falar no momento bizarro em que a câmera abruptamente corta para uma go pro de péssima qualidade para retratar o salto da protagonista em uma piscina.

Mas o grande problema, que acaba variando-se dessa indecisão temática, acaba sendo o protagonismo de Kéfera Buchmann. Todas as cenas em que a youtuber assume a persona da cantora famosa, é um show de exagero e antipatia muito além do que a caricatura requer, tanto que em momento algum somos capazes de nos simpatizar com a protagonista. Quando Camila está presa em seu corpo adolescente, o grande artifício de Kéfera é atuar com a boca aberta na maior parte do tempo, sendo tão forçada quanto a “nerd” do que a popstar dondoca. Quando chega a hora da catarse, a atriz é incapaz de provocar qualquer empatia ou sentimento.

E Kéfera não está sozinha, visto que todo o elenco parece preso em uma caricatura bizarra, que transita entre o infantil até a paródia adolescente para maiores – todas as garotas e garotos do colégio parecem saídos da franquia Todo Mundo em Pânico, tanto em promiscuidade quanto nível de imbecilidade. Apenas Arthur Kohl traz algum momento de alívio, sendo uma variação carismática do “avô hippie”, ainda que as trancinhas sejam um toque cartunesco demais, escancarando a inspiração em Willie Nelson.

Eu Sou Mais Eu deve agradar aos fãs de Kéfera Buchmann, mas àqueles que procuram bom cinema devem passar longe, buscando por versões melhores dessa mesma história em literalmente qualquer outra produção do gênero. Mas se serve de algum consolo, é um filme bem mais suportável e menos ofensivo do que o abominável É Fada!

O que não é dizer muito…

Eu Sou Mais Eu (Brasil, 2019)

Direção: Pedro Amorim
Roteiro: L.G. Bayão e Angélica Lopes
Elenco: Kéfera Buchmann, Giovanna Lancellotti, João Cortês, Flávia Garrafa, Arthur Kohl, Marcella Rica, Estrela Straus
Gênero: Comédia
Duração: 95 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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