Produções teens quase sempre estiveram em destaque na programação das TVs, pois ao abordar esse universo jovem, com vários temas a serem explorados e desenvolvidos, é natural que o seu público-alvo o assista esperando retirar algum de ensinamento para a vida, ou que tente encontrar na produção uma inspiração para algum problema que os aflige. A série Euphoria, da HBO, nasceu com essa missão, a de ter de espelhar a realidade do mundo dos adolescentes que estão próximos do fim do ensino médio e perto de outra fase de suas vidas que exige mais responsabilidade, que é a fase adulta.
E logo no primeiro episódio, com a protagonista Rue (Zendaya) sendo apresentada, a série já deixa claro que chegou para dialogar com a realidade de muitos jovens. Temas como vício em drogas e medicamentos, aborto, relacionamentos tóxicos, exposição na internet e sexo são mostrados de maneira crua, sem nenhum pudor e medo de chocar o telespectador. É algo que já havia sido presenciado na produção britânica Skins, mas com a diferença de Euphoria focar muito mais na vida dos personagens e as desenvolver em prol do episódio, ou seja, cada novo capítulo era contando a vida de algum protagonista importante para a trama.
Mesmo tratando de muitos temas o seriado não cai no mesmo erro da série da Netflix 13 Reasons Why, em que vários assuntos eram jogados sem se discutir nada. Já a série da HBO vai pelo caminho de não querer inchar os episódios com vários assuntos e assim acabar por tornar tudo superficial, foi por outro caminho e conseguiu se aprofundar em muitas questões importantes e atuais. Uma delas foi a do vício nas drogas, algo bastante presente na vida de muitos jovens e que o seriado usou para se espelhar, criando uma rotina em que Rue conta como começou os seus abusos em todo quanto é tipo de entorpecente. Outro tema interessante e que rendeu burburinhos na internet foi em relação ao personagem de Nate Jacobs (Jacob Elordi) que é o machão da trama e líder do time de futebol americano, e que possivelmente é homossexual, mas ainda não se descobriu, e cada vez que Nate se prende a esse fato acaba por se tornar mais violento com o tempo.
Outro ponto forte da narrativa está em relação em como os diálogos foram montados. Hora funcionam como auto-ajuda, com os personagens dizendo o que sentem, algo que é como uma reflexão do que muitas pessoas sentem e não conseguem expor, hora esses diálogos se tornam violentos por mostrar traumas dos personagens e por apresentar o lado cruel do ser humano, quem se encaixa muito nessa relação de violência é a dupla Nate Jacobs e Maddy Perez (Alexa Demie). O sexo é outro fator que é utilizado pelos roteiristas para dar maior tom de realidade para a trama, e as cenas de nudez e de sexo não são jogadas ali apenas para mostrar o elenco nu, essas cenas estão lá por outro motivo que é o de dar naturalidade ao que é apresentado, tanto que a série coloca mais os figurantes aparecendo nus que os protagonistas.
O ponto alto da produção e que certamente ajuda a segurar bastante a história são os personagens. Rue, Jules Vaughn (Hunter Schafer), Maddy Perez, Nate Jacobs e Kat Hernandez (Barbie Ferreira) são tão cheios de segredos e traumas que se tornam protagonistas ricos e fazendo com que fique fácil os desenvolver durante a trama. Isso feito com pequenas narrativas rápidas contadas no início de cada episódio. Tal fato é feito para contar mais sobre a vida de cada um sem se perder tempo. O mais interessante disto é que fica possível fazer um paralelo de como eram quando criança e como ficaram na fase adulta. Alguns destes personagens ficam em segundo plano e mesmo sendo interessantes não ganham o destaque que deveriam casos de Lexi Howard (Maude Apatow), Fezco (Angus Cloud) e Cassie Howard (Sydney Sweeney).
Zendaya dá uma aula de atuação e mostra que tem um excelente futuro pela frente, sua protagonista não é fácil de interpretar, cheia de traumas e viciada em drogas, e mesmo assim Zendaya tira tudo de si para transformar a garota. Em contrapartida Hunter Schafer estréia como atriz no seriado e surpreendentemente tira de letra seu papel, sua personagem é uma garota trans e que acaba tendo que entrar em um jogo maléfico feito por Nate Jacobs, além de Jules também se apaixonar por Rue. A principal surpresa do elenco fica a cargo de Jacob Elordi, que havia feito um péssimo papel em A Barraca do Beijo e que em Euphoria dá a volta por cima, é o vilão que comete as maldades e faz a história girar.
Mesmo tendo uma estrutura narrativa de fácil assimilação há de se elogiar um mecanismo utilizado pela direção e que ajuda muito a contar a trama que é a narração onisciente, aquela voz da Rue em todo início de episódio contando os acontecimentos na vida de cada protagonista, é como se Rue já soubesse tudo o que aconteceu e que nada mais é segredo. Mas nem tudo é elogio quanto as ótimas direções de Sam Levinson, Pippa Bianco, Augustine Frizzell, Jennifer Morrison, que é o fato de muitos episódios parecerem repetitivos, na narrativa e no jeito que os eventos iam se desenrolando. Um exemplo são as várias festas feitas para fazer com que a série ganhasse um ritmo e uma direção.
A 1ª temporada de Euphoria mostrou que o seriado veio para fazer algo de diferente, que se via em muitas séries do gênero, mas não com a profundidade presenciada na produção da HBO. O principal fato é a tentativa de quebrar estereótipos, como a do capitão do time de futebol americano que é homossexual, a da protagonista que se apaixona por uma garota trans, e muitos outros aspectos tabus em séries ou que são apenas apresentados de forma superficial. Euphoria não foi criada para agradar, e nem para chocar e sim para mostrar um retratado real de acontecimentos presentes do dia a dia, mas que muitos preferem manter escondido.
Euphoria – 1ª Temporada (Idem, EUA – 2019)
Criado por: Sam Levinson
Direção: Sam Levinson, Pippa Bianco, Augustine Frizzell, Jennifer Morrison
Roteiro: Ron Leshem, Daphna Levin, Sam Levinson
Elenco: Zendaya, Maude Apatow, Angus Cloud, Eric Dane, Alexa Demie, Jacob Elordi, Barbie Ferreira, Nika King, Storm Reid, Hunter Schafer, Algee Smith, Sydney Sweeney, John Ales, Austin Abrams, Keean Johnson
Emissora: HBO
Episódios: 8
Gênero: Drama
Duração: 45 min. aprox.