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Crítica | Game of Thrones – 2ª Temporada

Game of Thrones estava destinada a ser o grande fenômeno da televisão contemporânea. Apenas dois dias após a estreia da primeira temporada na TV, a HBO já renovou a série para um segundo ano, mantendo os showrunners David Benioff e D.B. Weiss no comando e injetando um orçamento ainda maior para a continuidade da história. Com isso, os 10 novos episódios de Game of Thrones mantém o mesmo nível de produção e qualidade de história de sua temporada anterior, seguindo de perto a adaptação do segundo livro de George R.R. Martin.

A trama desta segunda temporada começa imediatamente após os eventos da primeira, com o nascimento dos pequenos dragões de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) e a continuação de sua jornada pelo deserto. As longas caminhadas acabam colocando-a de frente com a civilização de Qarth, onde Dany e seus companheiros aprenderão importantes lições sobre liderança e confiança, e a aspirante à Rainha dos Sete Reinos testa seu conhecimento como Mãe dos Dragões. Do outro lado do mapa, o rei Joffrey Baratheon (Jack Gleeson) segue seu mandato cruel e sádico, com a indefesa Sansa Stark (Sophie Turner) sendo mantida como refém e sua futura esposa, mas a situação muda quando Tyrion Lannister (Peter Dinklage) retorna para Porto Real com o cargo valiosíssimo de Mão do Rei – para total desespero de Joffrey e sua mãe, a Rainha Cersei (Lena Headey).

Mas o grande motte da temporada é centrado na Guerra dos Cinco Reis. Com a notícia da real paternidade de Joffrey – fruto de uma relação incestuosa entre Cersei e seu irmão Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) – diferentes líderes de Casas ao longo dos Setes Reinos lutam para reivindicar o Trono de Ferro. O mais forte deles é Stannis Baratheon (Stephen Dillane), irmão do falecido Robert (Mark Ady) e que usa de sua crença na feiticeira Melisandre (Carice van Houten) e sua devoção ao Senhor da Luz. Paralelamente, o jovem Robb Stark (Richard Madden), proclamado como Rei do Norte, e sua mãe Catelyn (Michelle Fairley) continuam sua revolta para vingar a morte de seu pai e destronar os Lannister em uma campanha que ganha apoio de todo o Norte.

Os outros Reis no conflito incluem Balon Greyjoy (Patrick Malahide), Lorde das Ilhas de Ferro e pai de Theon (Alfie Allen) e Renly Baratheon (Gethin Anthony) como Rei do Jardim de Cima. E ainda que não faça exatamente parte da Guerra, Jon Snow (Kit Harington) segue como patrulheiro da Guarda Noite, que tenta lidar com um crescente ataque de selvagens do outro lado da gigantesca parede de gelo da Muralha, que são liderados por uma figura que se proclama Rei Além da Muralha.

Quem quer ser Rei dos Sete Reinos?

Como bem observado aqui, resumir a mera sinopse de uma temporada de Game of Thrones é uma tarefa que toma tempo e muita organização, justamente as duas características que melhor definem o desenrolar da produção da série. Ao longo de suas 10 horas de duração, D&D são capazes de contar uma história complexa de forma clara e concisa, com todas as diferentes linhas narrativas movendo-se à seu próprio ritmo, assim como a distribuição de personagens em diferentes ambientes. Claro, alguns acabam ganhando mais destaque do que outros – no que diz respeito à Guerra dos Cinco Reis, acho difícil que alguém tenha ligado para os núcleos de Renly e Balon, até porque a série dedica muito mais tempo e eventos interessantes aos de Stark, Lannister e Baratheon.

Aliás, a introdução de Stannis é uma das novidades mais fascinantes da segunda temporada. Não só por Stephen Dillane oferecer uma performance perfeita como um homem que nitidamente balanceia a inteligência de um líder com a fúria impaciente de um sujeito que fora enganado, soando como um Jason Statham mais maduro no processo, mas também pelas relações que mantém com seus dois grandes aliados: Melisandre e Sir Davos Seaworth (Liam Cunningham), um cavaleiro desonrado que agora serve como seu conselheiro. Tudo com Davos sugere uma camaradagem admirável, com ambos os personagens oferecendo belos contrapontos a cada um, mas é tudo mais interessante quando Carice van Houten está em cena; ainda mais pelo antagonismo que ela acaba friccionando entre o trio. Com sua beleza hipnotizante, a atriz holandesa faz de Melisandre uma figura sinistra e nada confiável, com ações que parecem saídas diretamente de um filme de terror – vide o inesquecível momento em que Melisandre da a luz a uma criatura medonha, como arma para os inimigos de Stannis.

Os núcleos dos Reis restantes oferece sua parcela de momentos memoráveis, uns mais que os outros. Tudo o que acontece com Renly e o Jardim de Cima é esquecível, mas serve para apresentar personagens importantíssimos, como a maliciosa Margaery Tyrell (Natalie Dormer) e  a valente cavaleira Brienne de Tarth (Gwendoline Christie), enquanto o fio condutor de Balon raramente avança a trama, apenas servindo para provocar uma crucial mudança de comportamento e lealdade em Theon, e introduzindo sua irmã, Yara Grejoy (Gemma Whelan). Essa questão com Theon oferece uma das grandes reviravoltas da temporada, com o personagem traindo Robb e tentando tomar Winterfell para si próprio, o que resulta na fuga desesperada de Bran (Isaac Hempstead-Wright), Rickon (Art Parkinson) e Hodor (Kristian Nairn) da cidade, e um desfecho um tanto apressado para seu ataque – mas cujas consequências serviram para mudar o rumo dos Stark para sempre.

Fogo no Mar

Já quando o assunto é Joffrey Baratheon e Porto Real, temos um dos grandes ápices da segunda temporada. A fim de livrar a população do reinado altamente inapropriado e maléfico do Rei, Tyrion tenta usar de toda sua influência como Mão para moldar os eventos à sua vontade, agindo verdadeiramente para fornecer uma sociedade melhor e criar uma imagem benéfica para a Família Lannister. Claro, isso inclui travar uma pequena guerra contra sua irmã Cersei, onde temos momentos de grande brilhantismo em roteiro e direção, como a acalorada discussão em que Lena Headey se ajoelha para ficar no mesmo nível de seu irmão anão, rendendo também momentos inacreditáveis em termos de performance. Ver a figura diminuta de Peter Dinklage triunfando sobre todos  com o poder de sua lábia – a técnica para descobrir qual de seus servos é um traidor é genial – e diretamente atacando e ofendendo a figura mimada e perversa de Joffrey é de um verdadeiro deleite.

Mas nada realmente supera o grande acontecimento da temporada, que marca também a primeira grande batalha da série: a Baía de Blackwater. Dirigido por Neil Marshall, o 9º episódio da temporada (batizado justamente de Blackwater) finalmente culmina no avanço de Stannis sobre Porto Real, trazendo consigo um exército poderoso e uma frota marítima perigosa, o que deixa os Lannister buscando um contra-ataque à altura. Ambientado ao longo de apenas uma noite, e desviando todo o foco para o combate, temos aqui um grande exercício atmosférico e de ação, com Tyrion assumindo a primeira linha de combate e entregando um dos discursos motivacionais mais poderosos desde que Mel Gibson desbravou-se em Coração Valente.

As imagens escuras da noite são preenchidas com flechas de fogo que cortam o céu, assim como os excelentes efeitos visuais que criam a gigantesca explosão verde do Fogovivo e a frota de navios de Stannis, além da ótima condução no violento combate pelas ruas desertas da cidade. Porém, um dos fatores que acaba impactando ainda mais é quando encontramos Sansa, Cersei e outras civis escondidos do confronto, tal como a decisão extrema que a Rainha quase toma durante os segundos finais do episódio; que despede-se com estilo ao nos apresentar pela primeira vez à canção “The Rains of Castamere”, um dos símbolos da Casa Lannister.

Das Terras do Gelo e da Neve

Quando afastados do núcleo da Guerra dos Cinco Reis, admito que nem tudo funciona.

Ver Arya Stark (Maisie Williams) tornando-se uma guerreira ainda mais letal é divertido, assim como os icônicos personagens com quem cruza pelo caminho (especialmente o enigmático Jaqen H’ghar), mas sua trama central, em fuga dos Lannisters, acaba fadada a repetições e uma ausência de grandes eventos. Isso sem falar no sonolento núcleo de Daenerys em Qarth, que só é beneficiado com um incidente incitante nos episódios finais – envolvendo o sequestro de seus dragões – e até lá, temos personagens bizarros e altamente caricaturais, como Xaro Xhoan Daxos (Nonso Anozie) e a grande maioria de seus habitantes. E mesmo que o clímax ali tenha um design de produção fabuloso e saiba brincar com a psique da personagem em uma cena onírica, é um tanto embaraçoso ver o “momento épico” de Dany e seus dragões feito de forma tão capenga. Felizmente, esses quesitos técnicos seriam melhorados nas temporadas seguintes.

Porém, as coisas são mais interessantes com Jon Snow. Beneficiado pelas magníficas locações de gelo na Islândia, a partir do momento em que Jon é enviado em uma expedição tortuosa para encontrar membros perdidos da Patrulha, a trama se engrossa de forma maravilhosa. E fica ainda melhor quando o Stark bastardo encontra a selvagem Ygritte (Rose Leslie), jogando-o num jogo de inimizade e um claro interesse amoroso que se desenrola de forma divertida, ao passo em que ele é incubido de infiltrar-se entre os Selvagens e descobrir mais sobre o Rei Além da Muralha. Mas, claro, o núcleo oferece o excelente clímax da temporada com a primeira revelação dos temíveis Caminhantes Brancos, criados em um misto impressionante de maquiagem e efeitos digitais, em uma cena simples, mas grandiosa, onde um exército de mortos vivos atravessa uma nevasca em direção à Muralha.

Mesmo que não tenha um arco tão satisfatório quanto sua incrível primeira temporada, Game of Thrones retorna em um ano forte e maduro, aumentando a complexidade de suas narrativas e aprofundando ainda mais seus excepcionais personagens. É também nessa temporada onde a série definitivamente alcançou um nível cinematográfico, que só continuaria a se expandir ao longo dos anos.

Game of Thrones – 2ª Temporada (Idem, EUA – 2012)

Criado por: David Benioff, D.B. Weiss
Direção: Alan Taylor, David Petraca, David Nutter, Alik Sakharov, Neil Marshall
Roteiro: David Benioff, D.B. Weiss, George R.R. Martin, Bryan Cogman, Vanessa Taylor
Elenco: Peter Dinklage, Emilia Clarke, Kit Harington, Sophie Turner, Nikolaj Coster-Waldau, Richard Madden, Maisie Williams, Charles Dance, Stephan Dillane, Carice van Houten, Lena Headey, Gwendoline Christie, Natalie Dormer, Michelle Fairley, Rose Leslie, Liam Cunningham, Alfie Allen, Isaac Hempstead-Wright
Emissora: HBO
Gênero: Ação, Fantasia, Drama
Duração: 60 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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