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Crítica | Gotham 1889 – Batman vs. Jack, o Estripador

O final dos anos 80 foi ótimo para os fãs do Homem Morcego. Tivemos nessa época o lançamento de grandes histórias do personagem: Piada Mortal, Ano Um, Morte em Familia, e é claro o lançamento do filme de Tim Burton, a primeira vez que Batman apareceria nos cinemas.

E tivemos também o lançamento de uma das histórias mais interessantes do homem morcego, mas não tão exaltada como as outras citadas, que é Gotham 1889, escrita por Brian Augustyn, na época o principal Editor da DC Comics, e desenhada por Mike Mignola, que no futuro se tornaria famoso por desenhar as HQS do Anti Herói Hellboy.

A história é considerada a primeira do mundo Elseworld, revistas não canônicas onde personagens da DC  são levados para épocas diferentes. Em Gotham 1889, o maior detetive das HQS é colocado frente a frente contra Jack o Estripador, o assassino em série mais famoso da história, e que até hoje nunca teve sua identidade conhecida. Ou seja, nem precisa dizer o quão inteligente foi ter colocado esses dois seres numa revista.

O ESTRIPADOR

Embora muitas pessoas conheçam a persona de Jack, o Estripador, não custa nada dizer um pouco mais sobre essa figura misteriosa.  O Estripador foi um pseudônimo usada por um assassino em série que matou e mutilou 5 prostittuas na periferia de Whitchapel, um dos distritos de Londres. O nome do assassino surgiu de uma carta entregue aos jornais na época dos assassinatos. Hoje suspeita-se que a carta tenha sido forjada pela imprensa na intenção de aumentar o interesse do público pelo caso.

Diversos foram os suspeitos considerados, e cerca de 2000 pessoas foram levadas a delegacia para prestar depoimento sobre. Como os assassinatos aconteceram sempre ao fim de semana, considerou-se que o assassino era um trabalhador regular e que vivia perto dos locais do crime. Em ao menos 3 vítimas, os orgãos internos foram retirados, o que levou as pessoas acreditarem que Jack deveria ser um médico, porque apenas alguém com conhecimento em medicina poderia fazer esses atos cirúrgicos de maneira tão precisa. Apesar da grande investigação, até hoje a identidade do assassino é um mistério.

Existe uma teoria da conspiração, que afirma que o autor dos assassinatos foi Sir William Gull, o médico da Rainha Vitória, e que os crimes foram uma conspiração da maçonaria junto com a coroa inglesa. Diversos estudiosos do caso negaram a história,mas devido ao teor dramático da teoria, ela acabou ganhando força com os produtores de obras de ficção, que a usaram como base para fazer obras baseadas nos assassinatos. Temos como exemplo a famosa HQ Do Inferno, do escritor Alan Moore, que acabou virando um filme com Johnny Depp como protagonista.

STEAMPUNK

Gotham 1889 é uma história considerada steampunk. Esse estilo surgiu na literatura e depois alcançou outras mídias. No steampunk personagens reais são mesclados junto com heróis fictícios, e juntos partem em histórias fictícias. Nessas histórias a tecnologia a vapor se desenvolveu de maneiras impossíveis, e superou até mesmo as tecnologias que usavam de eletricidade.

A maioria das histórias steampunk se passa na Era Vitoriana inglesa, época em que o uso das maquinas a vapor estava em alta, e varias tecnologias foram desenvolvidas. Mas o gênero não se prendeu apenas a essa época, visto que se expandiu para outros épocas da história, como por exemplo Velho Oeste e Idade Média. Existem também histórias onde o steampunk se mistura com contos de terror e fábulas.

O maior exemplo de literário que usou muito desse estilo foi Julio Verne. Em suas histórias, era comum o uso de uma tecnologia extremamente avançada para a época, como exemplo ” 20 mil léguas submarinas”, onde temos o Capitão Nemo e seu submarino Nautilus, uma obra extremamente avançada de engenharia.

Mas Verne não foi o único a propagar esse estilo. vários foram os escritores abordaram esse estilo em suas obras, como por exemplo HG Wells, Arthur Donan Coyle, Mark Twain, Charles Dickens, etc. Mas essas obras apenas foram nomeadas como steampunk no futuro, nas décadas de 1980, quando o nome foi inventado. Muitos discutem se é correto dizer que esses autores podem ser considerados como parte do estilo, visto que quando escreveram as obras, eles viviam na Era Vitoriana, mas isso é uma discussão para outra hora.

BATMAN VITORIANO

Agora vamos falar da história. Na revista, somos levados ao século XIX, 1889 para ser mais preciso. Bruce Wayne está na Europa, estudando com o doutor Sigmund Freud, onde afirma que não consegue parar de sonhar com a morte dos pais. Decide então voltar a Gotham e acaba trombando na viagem de volta com um antigo amigo dos seus pais, Jacob Parker.

Ao chegar em Gotham, Bruce visita o seu amigo Jim Gordon, que conta a Bruce sobre o aumento da criminalidade dentro da cidade. Wayne então decide vestir seu manto de morcego e começa a caçar criminosos.

Porém, ao mesmo tempo, varias mulheres começam a ser mortas na noite de Gotham. Suspeita-se que o morcego seja responsável pelos assassinatos, mas então a polícia descobre que o autor do crime é Jack, o Estripador, que fugiu da Inglaterra após cometer seus crimes e decidiu se instalar na América, e procurar novas vítimas.

As suspeitas então caem sobre Bruce Wayne, visto que os assassinatos começaram bem na época em que ele retornou da Europa. Então, ao fazer uma revista na casa de Bruce, a policia encontra uma faca ensanguentada, e ele é preso, julgado e condenado a morte. Cabe então ao próprio Bruce a descobrir quem é o verdadeiro assassino.

UM CONTO QUE VALE PELA ARTE

O roteiro da história, desenvolvido por Augustyn, é muito bem trabalhado. Ele conseguiu trazer para a Era Vitoriana diversos fatores do universo do Morcego. Temos a morte de Thomas e Martha Wayne, o exílio de Bruce para treinar e desenvolver habilidades que poderia usar na luta contra o crime. Temos também referências ao Coringa, vilão mais famoso do morcego, que foi citado como um homem que matou a esposa e depois tentou se matar, mas acabou apenas ficando com um sorriso maligno no rosto.

Outro ponto bem feito na história é a relação do Batman com o Estripador. Temos um ótimo argumento aqui que explica de maneira satisfatória o porque de o assassino ter escolhido Gotham City como seu novo alvo. Também temos o fato do assassino fazer parte do passado de Bruce, e ter uma relação com seu passado, o que traz uma grande e excitante reviravolta a trama

Uma parte que infelizmente me incomodou foi o fato de não terem abordado mais o lado detetive do morcego. Temos aqui o maior detetive da história, e um dos assassinos mais misteriosos. Era de se esperar que o lado da investigação fosse mais abordado. Porém, esse ponto foi colocado na obra de uma maneira rápida demais na trama, o que pra mim foi algo errado, visto o argumento elaborado.

Porém, não da pra negar, o ponto alto da história é o desenho de Mike Mignola. Seus desenhos apresentam um tom soturno, e junto com o uso de sombreamento dá um tom bem gótico a HQ. Isso tudo combinado com a paleta de cores frias usadas pelo colorista David Hornung.

Mignola também acerta na diagramação ao colocar dentro dos quadrinhos noticias de jornais sobre os acontecimentos de dentro da Trama, e também anotações dos diários pessoais tanto de Bruce quanto de Jack. O que traz uma belíssima estética, e contribui para que a história tenha uma boa fluidez.

Gotham 1889 não é um conto perfeito, tendo alguns percalços no roteiro, mas ainda sim é uma história com uma trama bem costurada e com uma belíssima arte, e que sem dúvida é uma das melhores Hqs do Batman no mundo Elseworld.

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Um Conto de Batman – Gotham City 1889 (Batman – Gothan By Gaslight) – EUA, 1989
Editora:DC Comics
Roteiro: Brian Augustyn
Arte: Mike Mignola
Colorista: David Hornung

Redação Bastidores

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