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Crítica | Guardiões da Galáxia Vol. 3 é o melhor filme do MCU

Ao longo da última década, o nome de James Gunn foi se tornando um dos mais interessantes e poderosos no cinema de quadrinhos. Saído do terror gore e satírico, Gunn encontrou seu espaço na Marvel Studios com o impopular grupo dos Guardiões da Galáxia, rapidamente transformando os heróis cósmicos em algumas das figuras mais aclamadas dos fãs de quadrinhos dos últimos anos.

A história do cineasta com os mercenários galácticos quase terminou de forma lamentável quando Gunn foi demitido da produção do terceiro filme, o que só possibilitou sua passagem para o lado da DC, onde dirigiu O Esquadrão Suicida e atualmente coordena toda linha de produção da empresa – com um novo Superman já em andamento.

Felizmente, a Disney deu a Gunn uma última chance de se despedir de seus personagens, eo cineasta entrega com Guardiões da Galáxia Vol. 3 um filme completamente fora da caixa e triunfal; que se destaca imediatamente como a melhor produção do estúdio até agora.

A trama do filme volta a seguir o grupo dos Guardiões da Galáxia, agora atuando como protetores da sociedade de Luganenhum. Quando Rocket (Bradley Cooper) é atacado pelo misterioso Adam Warlock (Will Poulter), o Senhor das Estrelas (Chris Pratt) organiza uma missão desesperada para salvar seu amigo, indo em confronto direto com o maligno Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji).

Seguindo uma estrutura convencional de grandes trilogias do passado, Guardiões da Galáxia Vol. 3 é um capítulo muito mais sombrio e pessoal do que seus antecessores. O toque particular de Gunn em misturar humor cartunesco e escatológico serve bem posicionado como de costume, mas os traumas profundos de seus personagens são bem mais evidenciados aqui; em especial do guaxinim Rocket, que é o destaque absoluto da narrativa, que enfim apresenta os flashbacks que detalham sua aterradora história de origem.

Em uma série de cenas corajosas e perturbadoras, Gunn testa os limites de seu uso de CGI (e da classificação rigorosa da Disney) para contar como Rocket foi criado em um experimento cibernético do Alto Evolucionário. Intercalando-se com a narrativa central dos Guardiões, os clipes de Rocket ganham mais impacto graças à presença de um grupo de outros animais do mesmo experimento, o que resulta em algumas das sequências mais tristes e chocantes que um filme do gênero já apresentou, muito em prol da excelente performance de Chukwudi Iwuji como um dos vilões mais odiosos da história do MCU. Não há tantos riscos ou viradas mirabolantes de trama em Guardiões 3, mas sim um interesse gigantesco em aprofundar os sentimentos e relações de seus personagens; e o guaxinim falante de CGI desde já configura-se como uma das figuras mais complexas e empáticas que Hollywood apresentou nos últimos anos.

Não que Gunn deixe todo o restante de lado. Com uma missão mais pessoal e com um risco sombrio, todos os demais personagens surgem mais maduros e com seus próprios arcos a serem cumpridos: Chris Pratt nunca esteve tão bom quanto Peter Quill, ao passo em que as dinâmicas entre Mantis (Pom Klementieff), Drax (Dave Bautista), Nebulosa (Karen Gillan) e Groot (Vin Diesel) atingem novos níveis de dramaturgia, enfim amadurecendo o grupo. Há também o elemento brilhante de se trazer uma nova versão de Gamora, permitindo que Zoe Saldaña explore um lado muito mais grosseiro e antipático da guerreira, constantemente batendo cabeças com Quill – que ainda sofre de amor e luto por sua perda (em Vingadores: Guerra Infinita).

E além do excelente trabalho dramático, James Gunn faz de Guardiões da Galáxia Vol. 3 sua definitiva obra como cineasta. Ainda trabalhando com o diretor de fotografia Henry Braham, seu filme é consideravelmente mais rico visualmente do que outros exemplares lavados e genéricos do MCU, onde Gunn aproveita a variedade estética de seus múltiplos planetas e ambientes (onde uma instalação espacial formada por material orgânico causa grande fascínio), além de constantemente explorar possibilidades inventivas com sua câmera e design de produção.

A visível inspiração de Gunn também se reflete nas cenas de ação, com destaque para um plano longuíssimo que acompanha todos os Guardiões lutando contra inimigos em um corredor apertado. É sem sombra de dúvida o maior momento da carreira de Gunn como diretor, e também uma das poucas sequências de um filme de super-heróis que fizeram meu queixo cair no chão, tamanha a habilidade e maestria em tela – e que ainda se beneficia de ter Beastie Boys como sua canção central.

Habilidoso em seu ritmo mesmo com a longa duração, Guardiões da Galáxia Vol. 3 é um filme completamente diferente dos demais do MCU. Graças à dedicação apaixonada de James Gunn, a conclusão da trilogia surge como uma empreitada emocionante, divertida e que sopra um pouco de vida para o tão desgastado gênero dos super-heróis. Definitivamente, James Gunn fará falta para a Marvel Studios, mas eu mal posso esperar para ver o que ele fará em seguida.

Guardiões da Galáxia Vol. 3 (Guardians of the Galaxy Vol. 3), EUA – 2023

Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn
Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldaña, Dave Bautista, Karen Gillan, Bradley Cooper, Vin Diesel, Pom Klementieff, Chukwudi Iwuji, Sean Gunn, Will Poulter, Elizabeth Debicki, Maria Bakalova, Sylvester Stallone, Nathan Fillion
Gênero: Aventura
Duração: 150 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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