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Crítica | Guardiões da Galáxia & X-Men: O Vórtice Negro

O volume três de Guardiões da Galáxia já nos trouxera o inusitado team-up desses heróis com os X-Men durante o evento O Julgamento de Jean Grey. Evidente que parte do motivo dessa união ocorreu em virtude de Brian Michael Bendis trabalhar como roteirista de ambas as revistas e permaneceu encarregado dessas por um bom tempo. Vórtice Negro marca o segundo encontro das duas equipes, dessa vez em uma saga propriamente dita, incluindo as revistas: Guardiões da Galáxia, X-Men, Ciclope, O Lendário Senhor das Estrelas, Nova e Capitã Marvel. Assim como a história que introduziu esse novo grupo dos Guardiões, estamos falando de uma história puramente cósmica da Marvel, mas que pode ser plenamente aproveitada por aqueles que conhecem apenas as aventuras mais “pé no chão” da editora.

Tudo começa quando Peter Quill e Kitty Pryde, que agora são um casal (inusitado, mas que surpreendentemente funciona), se infiltram na nave-viva do antigo rei de Spartax, J’Son, que, não por acaso, é pai de Peter. Lá eles descobrem e roubam o Vórtice Negro, uma espécie de espelho milenar criado por um Celestial, com a capacidade de garantir gigantescos poderes cósmicos àquele que os aceitar. Não é preciso dizer que todos logo se interessam por esse artefato e suas capacidades, logo descobrem, porém, que ele costuma trazer tragédia para as civilizações que ousam usufruir de seus poderes.

A premissa de Vórtice Negro certamente captou nossa atenção de imediato. Infinitas possibilidades poderiam ter sido exploradas a partir do conceito desse espelho, sendo possível explorar a fundo a personalidade de cada um dos heróis envolvidos na saga. O grande problema é que, durante grande parte da história, o roteiro se preocupa mais em inserir uma espécie de “batata quente” cósmica, com o artefato passando de mão em mão, colocando os personagens em difíceis situações para que, quase todos, cheguem ao mesmo ponto: “devo ou não usar o espelho?”. Essa repetitividade logo cansa o leitor, que parece não sair do mesmo ponto da trama, embora avance em páginas.

Dito isso, fica evidente que a saga poderia ser consideravelmente mais curta e não composta de treze partes, que se alastram por diferentes publicações da editora. Felizmente, as edições finais assumem uma narrativa diferenciada, ganhando mais urgência, já que muito mais é colocado em jogo. Aliás, é preciso ressaltar que essa saga conta com repercussões catastróficas para esse lado cósmico do Universo Marvel. Naturalmente que, para aqueles que leem ou leram as revistas dos Guardiões ou X-Men, estamos falando de uma história imprescindível para se entender os números posteriores a ela.

O que prejudica nossa identificação com a obra é a maneira como seus personagens são trabalhados. Embora alguns, como Quill e Kitty, ganhem um evidente destaque, alguns pontos são deixados de lado, alguns desses óbvios demais para não serem contemplados durante as diversas páginas. Um bom exemplo disso é a relação de Quill com seu pai. Depois dos primeiros números, sentimos como se o roteiro simplesmente se esquecesse que J’Son é um dos grandes vilões da saga, já que não existe sequer um momento do filho confrontando seu pai. Tudo isso piora com a rápida saída que arranjam para se livrar de algumas ameaças, incluindo um desfecho extremamente deus-ex machina, ainda que esse faça bom uso de uma das mutantes.

A arte passando por diversas mãos, cumpre sua função e, em alguns casos, muito bem representa o foco da história. É o caso de Ciclope que assume um traço mais cartunesco, dialogando perfeitamente com o fato de estarmos diante do jovem Scott Summers, que ainda luta contra sua insegurança. O traço de X-Men, por sua vez, é o que, visualmente, mais chama a atenção, utilizando cores vibrantes e fazendo completo uso do caráter cósmico da saga para trazer belos panos de fundo, que contrastam de seus personagens. O uso das cores se destaca aqui, também, para refletir a emoção de personagens, com quadros que mimetizam o uso de filtros fotográficos, tornando toda a leitura mais dinâmica, visto que ficamos verdadeiramente curiosos pelo que as próximas páginas nos resguardam.

Vórtice Negro, portanto, é uma saga de muitos altos e baixos, mas que, no fim, consegue nos divertir. Apoiando-se demasiadamente em uma fórmula repetitiva durante grande parte de sua história, esse evento da Marvel Comics, ao menos, justifica o team-up dos Guardiões da Galáxia com os X-Men, sabendo explorar individualmente seus personagens, ainda que deixe alguns pontos mal-trabalhados. Dito isso, se mantém como uma leitura divertida, que se faz necessária para aqueles que apreciam o lado mais cósmico da editora.

Guardiões da Galáxia & X-Men: O Vórtice Negro (Guardians of the Galaxy & X-Men: The Black Vortex – EUA, 2015)

Roteiro: Sam Humphries, Brian Michael Bendis, Gerry Duggan, John Layman, Kelly Sue DeConnick
Arte: Ed McGuiness, Kris Anka, Valerio Schiti, Paco Medina, Andrea Sorrentino, Mike Mayhew, David Baldeon, Javier Garron, David Lopez
Arte-final: Kris Anka, Mark Farmer, Jay Leisten, Mark Morales, Valerio Schiti, Juan Vlasco, Andrea Sorrentino, Mike Mayhew, Terry Pallot, Javier Garron, David Lopez
Cores: Marte Garcia, Marcelo Maiolo, Jason Keith, David Curiel, Rain Beredo, Chris Sotomayor, Lee Loughridge
Letras: Travis Lanham, Cory Petit, Joe Caramagna, Albert Deschesne
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: fevereiro a abril de 2015
Editora no Brasil: Panini Comics
Data de publicação no Brasil: março a junho de 2016
Páginas: 301

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Publicado por Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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