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Crítica | Guerra Civil 2 #3

Aviso: Esta crítica contém spoilers

Um quadrinho que começou com muitas promessas finalmente começa a ganhar tração. A edição 3 tem início em um julgamento. Os participantes mostrados são Tony Stark, Carol Danvers e Matt Murdock, como advogado de um outro membro não revelado. A sessão se refere aos acontecimentos que levarão os heróis de encontro com Bruce Banner, em seu laboratório secreto.

Maior austeridade

Esta mudança de tom e linearidade são bem vindas para o quadrinho, que tinha até então seus heróis em uma escalada de decisões precipitadas. Brian Michael Bendis tem muita capacidade em diálogos quando o assunto diz respeito a tribunais de justiça. No entanto, não sobra espaço para os costumeiros diálogos inteligentes e rápidos. Temos mais austeridade e um clima sério que permeia todo o quadrinho.

Acompanhando o desfecho da edição número 2, onde Ulysses têm uma visão onde todos os heróis são mortos pelo Hulk, Carol Danvers e o resto da equipe fazem uma visita supresa a Bruce Banner. Eles estão preocupados com o tipo de pesquisa que ele está desenvolvendo e seu potencial para lhe transformar em Hulk. Novamente, temos uma linda splash plage mostrando todos os heróis envolvidos na história até agora, juntamente com uma força de operações da SHIELD.

Apesar de ser uma bela imagem composta por David Marquez e Justin Ponsor, é difícil encontrar qualquer sentido ou motivo para o Deadpool ou o Velho Logan estarem ali. Algo que começa a incomodar na arte do quadrinho é a forma que Marquez e Ponsor parecem “beatificar” seus personagens. Explico: em muitos quadros, heróis são retratados com um rosto quase que angelical. Tanto em pose quanto em olhar, com a desnecessária adição de uma iluminação ao fundo que se assemelha a uma auréola.

O objetivo com essas luzes e desenhos é gerar empatia no leitor. É uma imagem que nos faz pensar que ele é inocente, ou pelo menos, agiu na melhor das intenções. Esta mesma tática estava sendo utilizada com Ulysses nas edições 1 e 2. É difícil julgar a necessidade desse “truque”. De certa forma, as conclusões a respeito da integridade dos personagens são mastigadas, sem deixar em aberto para julgamento. Essa forma de enquadramento se repete ainda por outras vezes na edição, o que parece exagerado.

Vingador versus Vingador

A história continua seu desenvolvimento alternando os acontecimentos entre a área externa ao laboratório de Bruce  e o julgamento. Este último, um prenúncio de que algo muito errado aconteceu.

Quando confrontado sobre os experimentos que está fazendo em si mesmo com células gama, Bruce discute com os heróis. Em um momento onde ele se irrita com as acusações, uma flecha o atinge em sua cabeça. Bruce Banner, o incrível Hulk, cai morto no chão. Da floresta, surge o assassino: Clint Barton, o Gavião Arqueiro.

Os motivos

Voltamos à cena do julgamento, onde então nos é revelado que o réu é Clint Barton. Ele admite ter recebido a flecha do próprio Bruce Banner com um pedido: em caso dele estar prestes a se transformar, Clint deve disparar o tiro de misericórdia para evitar mortes. Clint é imbuído dessa tarefa porque ele seria o único com a visão capaz de detectar a pequena transformação na íris do olho de Bruce instantes antes dele virar o Hulk.

Nesse ponto, é importante ressaltar que Brian Michael Bendis toma muitas liberdades com relação aos heróis. Uma delas, por exemplo, é que o Hulk já estava controlado pelo Bruce, nas histórias de “Totally Awesome Hulk”. A radiação gama havia sido absorvida por Amadeus Cho, que se transformou no mais novo gigante esmeralda.

Um outro problema é a relação um pouco conveniente entre Bruce e Clint Barton. A desculpa que Banner dá para explicar porque ele escolhe o Gavião Arqueiro é, no mínimo, um insulto ao personagem. Mesmo que Clint reconheça o insulto e demonstre surpresa com o pedido, ficou um pouco fora de seu personagem. Clint se divorciou de sua esposa porque ela matou, sem necessidade, o homem que a havia estuprado.

Apesar de que esta já seja a segunda morte na saga (Jeniffer Walters não foi dada como morta oficialmente) e que fique a impressão no leitor que ela seja barata, a morte de Bruce Banner pelas mãos do Gavião Arqueiro é o que coloca Guerra Civil 2 e seu tema em relevância (finalmente).

Recentemente, os Estados Unidos têm encarado instabilidade social no que diz respeito à policiais utilizando excesso de força em situações tensas envolvendo pessoas negras. Alton Sterling, de 37 anos, sendo a mais recente dessas polêmicas, na cidade de Baton Rouge em Louisiana. A nacão se divide sobre questões de raça, treinamento dos policiais, testemunhas do que realmente houve, câmeras, etc… Discussões em torno do acontecido tomam jornais e integrantes de movimentos como o Black Lives Matter inundam as ruas em diversas cidades do país em manifestações.

Conclusão

Em se tratando de um tema como este, a comparação é simples mas pertinente. Em caso de uma situação extrema, em quem confiar? Era necessária a morte de Bruce Banner ou existiam outros meios para deter o Hulk? O quadrinho conclui com o juíz prestes a dar o veredito de Clint e com Friday, a inteligência artificial de Tony Stark que cuida do sistema operacional de sua armadura. Esta última, informando ao Tony que descobriu como funcionam os poderes  de clarividência do inumano Ulysses. Esse gancho no fim da história consegue gerar antecipação pela próxima edição, ao mesmo tempo em que promete um tremor no status moral do conflito.

Bendis consegue, finalmente, colocar a história não só sob espectro político, como também cria finalmente o desastre que divide os Vingadores e ainda insere o governo com o julgamento de Clint. Todos estes três itens até então faziam uma falta tremenda para a história. Guerra Civil 2 passa a ser relevante.

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Publicado por Lucas Voltolini

Eu escrevo sobre filmes, jogos e dou uns pitacos sobre a indústria do entretenimento sempre que posso

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