Michael Myers estava morto. Mesmo que houvesse trazido um bom resultado nas bilheterias, Halloween II: O Pesadelo Continua nem de longe havia causado o mesmo impacto que o original, e nem mesmo John Carpenter e Debra Hill tinham interesse em revisitar o personagem quando a Universal inevitavelmente sugeriu um terceiro capítulo da série. A solução da dupla foi inspirada, e flertava com os interesses da recém-inaugurada franquia Sexta-Feira 13, que optou pela mesma saída antes de aprovar uma sucessão de filmes com Jason Voorhees: estabelecer uma antologia cinematográfica com a marca. Assim, Halloween III: A Noite das Bruxas nos traz uma história completamente original e desgarrada de Myers e dos eventos do anterior, mas
A trama começa a alguns dias da noite de Halloween, com todas as crianças no país sucumbindo à febre das máscaras de Halloween da empresa Silver Shamrock. Quando um homem é morto enquanto fugia com uma das máscaras, o médico Daniel Challis (Tom Atkins) precisa desvendar uma bizarra conspiração que envolve as máscaras, a empresa e um plano sinistro que culminará na noite de Halloween.
Rod Serling de segunda mão
É difícil imaginar os motivos pela recepção tão negativa de A Noite das Bruxas. O mero fato de não termos Michael Myers já é o bastante para enfurecer os fãs, mas o fato de que os fanáticos pelo terror entrarem no cinema esperando um slasher apavorante e terem recebido uma versão reciclada e trash de um episódio de Além da Imaginação certamente é o fator definitivo. Roteirizado pelo diretor Tommy Lee Wallace (em sua estreia na função após atuar como designer de produção nos dois filmes anteriores), a trama é muito mais próxima da ficção científica do que terror, e testa a paciência do espectador ao nos apresentar conceitos espalhafatosos, personagens risíveis e diálogos nada agradáveis – isso vindo de uma franquia com médicos safadinhos, veja bem. Wallace até traz uma sátira interessante ao consumismo e o uso da mídia para manipulação de crianças, mas é um argumento muito raso e que se perde em meio às cafonices.
Quero dizer, é no mínimo curioso que o médico vivido por Atkins simplesmente se envolva tão rápido nessa teia de mistérios, ainda que o fato de que inicia um caso amoroso com a filha do paciente fugitivo do começo do filme, na relação mais estranha e sem química que já vi no gênero em muito tempo. Não há ator bom que tire algo de uma premissa tão mal escrita, e Atkins e a bela Stacey Nelkin parecem não se esforçar tanto (ainda que a moça traga uma performance interessante durante o terceiro ato). Apenas o veterano Dan O’Herlihy parece tirar algum proveito da situação, na pele do inescrupuloso Conal Cochran, manifestação do corporativismo maléfico e realmente sinistro como o CEO da Shamrock – mas é um daqueles casos onde o ator oferece algo muito superior ao que estava no papel.
Suspensão de Descrença
Como diretor, Wallace não é particularmente inspirado. Ainda que tenha um bom olho para enquadramentos e composições (a maioria deles quando envolve alguma forma de arquitetura peculiar, vide sua profissão anterior), é incapaz de construir uma atmosfera palpável ou provocar tensão. A noção dos 10 dias que antecedem o Halloween mostra-se falha por uma série de elipses que nos dão a impressão de toda a trama se desenrolar em um final de semana, e em momento algum somos capazes de sentir medo ou desconforto, já que Wallace depende de planos longuíssimos pontuados por uma trilha sonora sintetizada preguiçosa (Carpenter, o que houve?).
Quando Wallace faz a melhor preparação de terreno, onde enfim veríamos o segredo por trás das máscaras de Halloween, a entrega é tão genérica e decepcionante do ponto de vista estético, que completamente invalida a força da revelação e os esforços da equipe em tentar oferecer algo realmente repugnante; em outras palavras, era só isso?
É realmente triste ver uma boa proposta falhando dessa maneira. Por melhor que tenham sido as intenções de Carpenter e Hill ao injetar vida nova nessa preciosa franquia, Halloween III: A Noite das Bruxas não tem um roteiro ou mitologia interessantes o suficiente para manter o interesse – ou o pavor – do espectador. Esquecível.
Halloween III: A Noite das Bruxas (Halloween III: Season of the Witch, EUA – 1982)
Direção: Tommy Lee Wallace
Roteiro: Tommy Lee Wallace
Elenco: Tom Atkins, Stacey Nelkin, Dan O’Herlihy, Michael Currie, Ralph Strait, Jadeen Barbor, Brad Schacter, Nancy Kyes, Jonathan Terry
Gênero: Terror
Duração: 98 min