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Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro – O terror sem susto

Filmes de terror, hora ou outra, acabam por cair na mesmice de sempre por abordar, quase sempre, histórias parecidas ou por colocar os personagens em uma situação de de perigo já vista em muitos longas. Produções como A Bruxa de Blair (1999), Jogos Mortais (2004) e Atividade Paranormal (2007), para citar as mais recentes, tentaram dar uma mudada no que já foi visto em demasia no gênero, isso sem precisar ter um grande trabalho de roteiro, apenas criando medo e suspense de forma simples.

Em Histórias Assustadoras para Contar no Escuro, o diretor André Øvredal (O Caçador de Troll) adapta o livro de Alvin Schwartz de uma forma se não original e nova, pelo menos competente e digna de impressionar a plateia. O que mais chama a atenção, em um primeiro momento, é a similaridade que o longa tem em relação a duas outras produções de terror que foram muito bem de bilheteria. A primeira é It, que tem como vilão um palhaço assustador que se alimenta do medo de seus alvos, e outro filme é Goosebumps, que tem as criaturas mágicas saindo de livros e ganhando vida. Essa mistura é o foco principal de Histórias Assustadoras, em que adolescentes encontram um livro velho no dia das bruxas e precisam sobreviver aos contos escritos no livro, tais histórias usam o medo dos personagens para os atingir.

É difícil fazer algo de diferente do que é relatado na obra literária. E mesmo sem mexer na história, o time de roteiristas, dentre eles Guillermo del Toro (A Forma da Água), tenta a todo o custo fazer algo novo, não no jeito de se contar a narrativa, pois a maneira se assemelha bastante aos formatos já consagrados de Hollywood, mas no jeito de se tentar dar susto. Há uma mescla de fantasia com horror típicos do estilo de Del Toro, mesmo o diretor mexicano não sendo o diretor há muitas peculiaridades de seu estilo de cinema com o que é visto em Histórias Assustadoras para Contar no Escuro.

Não são os sustos que tornam o filme mais interessante, e sim a criação da atmosfera em que o horror está inserido. Aos poucos os roteiristas vão criando situações com cada um dos personagens que vai jogando a trama para a frente, e tais acontecimentos acabam por trazer uma interação maior com os casos horripilantes nos quais estão inseridos. Assim como It não dá medo, Histórias Assustadoras cria uma sensação de pavor que é interessante, até o momento que acaba por se tornar repetitivo no jeito de tentar fisgar o público, pois a partir de um momento a narrativa se torna óbvia. Essa falta de originalidade no jeito com que a trama é apresentada mata um pouco os sustos, até porque é bem provável que os monstros vão pegar um por um dos personagens, algo como é feito em Premonição.

O ponto forte do longa é sem dúvida alguma os monstros. Guillermo Del Toro se notabilizou no cinema como um ótimo criador de criaturas bizarras e horripilantes, e em Histórias Assustadoras o diretor repete sua fórmula consagrada, e junto com o diretor André Øvredal, que também já havia trabalhado com monstros em O Caçador de Troll, conseguem fazer com que as criaturas se destaquem a tal ponto que em alguns momentos acabam se tornando mais importantes e interessantes que os próprios protagonistas. 

No primeiro ato há todo um cuidado, por parte do diretor, em querer dar uma ideia dos acontecimentos para o público. É louvável e elogiável que o diretor não perde tempo em enrolar e logo já nos mostra sobre o que é o filme. Mas a fórmula que de início parece funcionar, com o primeiro surgimento de perigo envolvendo o espantalho, logo se torna repetitivo e as várias aparições se tornam fantasiosas e nada arrepiantes. O terror só volta a funcionar com o aparecimento da criatura gorda e nada mais de impressionante ocorre, algo que não acontece com It, que a todo momento tenta pegar o telespectador de forma surpreendente.

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro não é um filme fantástico, mas não por isso deixa de ser interessante e divertido de conferir. Quem curte produções sobrenaturais e com criaturas bizarras irá curtir bastante, até porque longas do gênero geralmente se saem bem com o público, justamente por trazer tais aspectos sobrenaturais para a história. O longa não dá sobrevida para o gênero, nem tenta reinventar algo que já se observa em demasia no cinema, mas pelo menos é competente no jeito de se fazer o terror, com um suspense que funciona e sustos sem o exagero do uso de jump scares, que em algumas produções mais atrapalham do que ajudam. Quem procura um bom passatempo irá encontrar em Scary Stories to Tell in The Dark (nome original) o que procura.

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (Scary Stories to Tell in the Dark – EUA, 2019)

Direção: André Øvredal
Roteiro: Dan Hageman, Dan Hageman, Guillermo del Toro, Marcus Dunstan, Patrick Melton, Alvin Schwartz (Livro)
Elenco: Zoe Margaret Colletti, Michael Garza, Gabriel Rush, Dean Norris, Gil Bellows, Lorraine Toussaint, Austin Zajur, Natalie Ganzhorn, Austin Abramsr
Gênero: Horror, Mistério, Thriller
Duração: 100 min.

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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