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Crítica | Invasão Secreta – A Narrativa Eclipsada pela Ação

Depois de Mark Millar mexer fundamentalmente com o universo Marvel por conta dos acontecimentos de Guerra Civil, provavelmente a melhor saga já escrita para a editora até agora, muitos autores tiveram que oferecer soluções e novos caminhos para uma época repleta de times com Vingadores divididos. Explorando essa ideia de colocar herói vs herói, ficou a cargo do experiente Brian Michael Bendis criar uma narrativa que voltasse a refletir o turbulento cenário político americano, além de trazer embates épicos repletos de ação.

A saída disso foi resgatar uma brecha deixada nos anos 1970 com a saga Guerra Kree-Skrull na qual os Vingadores realizaram um verdadeiro estrago na sociedade alienígena dos Skrull que, desde então, deseja a vingança completa. Por conta da habilidade dos skrulls em se transformarem em outras figuras humanoides, por anos os alienígenas se infiltraram na Terra aguardando pela hora correta de se revelarem e dominarem o mundo. Em suma, Invasão Secreta é isso.

Fim da Confiança

A proposta de Bendis é inteligente por colocar os skrulls infiltrados em diversos níveis de confiança até mesmo dentro dos grupos de heróis. E com a descoberta perturbadora da existência dos alienígenas até mesmo nos Vingadores, Tony Stark pede a ajuda de Hank Pym e Reed Richards para encontrarem uma forma de detectar quem são os infiltrados disfarçados. Porém, assim que Stark descobre a terrível verdade, os skrulls decidem fazer a investida final contra a Terra e eliminar todos os heróis com sua legião de transmorfos.

Sendo um quadrinho repleto de erros e acertos, é fácil apontar os motivos pelos quais esse evento não se popularizou muito com os fãs da Marvel, apesar de levar diretamente aos eventos importantes de Reinado Sombrio que coloca diversos vilões icônicos como “protetores” do planeta. Começando pelos elogios, Bendis consegue inserir grande sensação de paranoia, principalmente pelo medo profundo de Stark em saber que não conseguirá deter os aliens a tempo, já que a invasão começa em questão de poucas páginas.

Muito do dilema da responsabilidade cai diretamente nos ombros de Stark, afinal ele ainda é o líder dos Vingadores oficiais e, portanto, o principal protetor do planeta. Mas com a certeza da infiltração, o herói mal consegue confiar nos colegas do próprio time. Bendis opta também em trazer esse evento sob a ótima de diversos grupos, mostrando os acontecimentos em uma escala realmente gigantesca, focando nos Vingadores Secretos e outros grupos de heróis.

Embora raramente esses núcleos despertem interesse, colaboram para permear o sentimento de desesperança e derrota que vai se espalhando entre os personagens. Outras boas ideias estão nas reviravoltas envolvendo as revelações sobre quais heróis são skrulls ou não, apesar de Bendis abusar desses cliffhangers a cada edição. Aliás, é justamente no exagero de reviravoltas e eventos que Invasão Secreta se perde entre inúmeros deus ex machina e buracos gigantescos de roteiro.

Bendis a todo momento, em tentativa de impressionar o leitor, inventa algum acontecimento impactante. Certamente eles funcionam em primeiro momento, mas logo passam a virar incômodos pela falta completa de lógica ou de coerência. Isso inclui até mesmo como Reed Richards descobre a fórmula para remover os skrulls de seus disfarces ou do retorno totalmente inesperado dos heróis originais que foram, absurdamente, sequestrados pelos aliens.

Ou desbanca para a besteira completa ao decidir assassinar certa personagem de modo totalmente inexplicável e incompreensível ou da completa ausência de Sentinela após escutar certas palavras ditas por Visão. É simplesmente bizarro. Essa alternância entre ideias boas e outras péssimas é constante em toda a HQ, mas ao menos Bendis fornece estofo o suficiente para fechar pontas soltas que ele havia criado anteriormente, além de pesar as consequências justas da amizade rompida entre Homem de Ferro, Capitão América e Thor gerando um peso emocional muito maior.

Mas melhor que a história, no mínimo, satisfatória de Bendis, temos a arte sempre fenomenal de Leinil Francis Yu que sempre surpreende com as generosas páginas duplas repletas de ação em artes gigantescas. Há todo um cuidado por parte do artista em inserir ação em diversas camadas de seus desenhos, transformando os confrontos em verdadeiras batalhas de uma guerra impossível. A violência é abrandada, obviamente, mas ainda assim há muito peso nas sessões de porrada, além de todo o cuidado com expressões faciais muito complexas que ele desenha para ressaltar a angústia, medo e desespero dos personagens.

Ambição Não Correspondida

Somente pela arte de Yu, Invasão Secreta vale a leitura, mas é preciso reconhecer que Bendis criou um evento ambicioso, mas repleto de furos para a Marvel. Sendo uma das sagas mais memoráveis da História recente da editora, acreditava que o evento era melhor escrito, afinal a ideia da invasão repleta de infiltrações e desconfiança é bastante interessante. A aposta em núcleos diversos e outras características narrativas que chegam até mesmo aos níveis religiosos, tornam o evento bastante bagunçado, além de exigir alguma leitura de acontecimentos anteriores importantes.

Ainda assim, foi um evento marcante que permitiu o nascimento de outra fase bastante interessante na Marvel com o Reinado Sombrio, se tornando uma leitura obrigatória para compreender os eventos posteriores.

Invasão Secreta (Secret Invasion, EUA – 2008)

Roteiro: Brian Michael Bendis
Arte: Leinil Francis Yu
Editora: Marvel, Panini
Edições: 1 a 8

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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