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Crítica | Mortal Kombat (2021) – Um fliperama inofensivo

Querem uma perspectiva diferente? Minha visão acerca de Mortal Kombat certamente será bastante rara para quem estiver lendo, e sei o que absurdo que estou prestes a proferir. Ao contrário de talvez 95% da população mundial, minha primeira experiência com este universo de torneios de combate multidimensionais é justamente com este novo filme lançado pela Warner Bros 2021. Isso mesmo. Eu nunca havia assistido ao longa de 1995 dirigido por Paul W.S. Anderson e, pasmem, nunca parei para jogar um único game da extensa franquia da Midway Games – eu sempre fui mais chegado em Tekken, perdão.

Dessa forma, todas as decisões e adaptações criativas tomadas pelo diretor estreante Simon McQuoid chegaram a mim sem qualquer referência prévia; e não é preciso ir muito longe para entender que a maioria delas desagradou bastante aos fãs do material original. Sendo então um leigo no assunto, a grande catarse que tive neste novo e moderno Mortal Kombat foi a de encontrar um longa completamente despretensioso e que, mesmo longe da perfeição, foi bem capaz de me oferecer um entretenimento inofensivo.

A trama funciona como uma espécie de prelúdio para o grande atrativo da saga, onde o jovem lutador Cole Young (Lewis Tan) percebe estar sendo caçado por um misterioso guerreiro com poderes de congelamento, Sub-Zero (Joe Taslim). Tudo isso porque Cole carrega consigo uma enigmática marca de dragão, que a faz ser encontrado por outros lutadores marcados, logo levando-os à revelação de que foram selecionados para um torneio de combate que reúne seres de diferentes dimensões, e que garante o balanço de todo o universo.

Totalmente arcade

Julgando meramente pela premissa, eu nem precisaria adivinhar que trata-se de uma adaptação de games para o cinema. O roteiro de Dave Callaham e Oren Uziel é extremamente simplista nesse conceito, parecendo não se preocupar em levá-lo a sério demais (o seriado Power Rangers veio à minha mente todas as vezes em que víamos os vilões em seu reino maligno), enquanto apoia-se na estrutura básica de um filme de recrutamento de equipe – um heist sem o heist, por assim assim dizer, até porque o tal do torneio titular não chega a ser, ironicamente, a grande atração do longa.

O que acaba, sim, tornando-se um problema aqui é a decisão em torno do protagonista. Não sou conhecedor dos games, mas uma rápida pesquisa afirma que o tal Cole Young é um personagem criado especialmente para este filme – garantindo a velha muleta narrativa do sujeito que, assim como o espectador leigo como este que vos escreve, aprende as regras do jogo de outras figuras mais icônicas do lore original. Uma desculpa aceitável, mas a trajetória de Young é repleta de clichês batidos que, além de não convencerem, parecem querer apostar em um melodrama familiar sério demais para um filme com ninjas congelantes. Toda a construção para a grande revelação em torno da habilidade de Young também é anticlimática, além de visualmente broxante.

Flawless Victory para o fotógrafo

Mas quando chegamos ao que realmente importa em um filme chamado Mortal Kombat, o espectador é melhor servido. Mesmo que não seja um Chad Stahelski da vida (há uma insistência em cortes agressivos), o diretor Simon McQuoid sabe como criar momentos iconográficos envolvendo as habilidades e coreografias de seus personagens, especialmente quando o ameaçador Sub-Zero de Joe Taslim está envolvido; e a emergência de sua habilidade evoca o melhor da fotografia de Germain McMicking, que brinca com as paletas de cor de forma inspirada – vide a luta do vilão contra o musculoso Jax (Mehcad Brooks) em um armazém lindamente temperado com luzes azuis em meio a tons quentes, ou o aguardado embate com o icônico Scorpion (Hiroyuki Sanada, infelizmente muito mal aproveitado) que aproveita muito bem a classificação indicativa mais alta e também as batidas intensas da trilha sonora original de Benjamin Wallfisch.

E por falar em classificação indicativa, este Mortal Kombat definitivamente se diverte com sua liberdade em poder quebrar ossos e jorrar sangue pelas paredes. Adotando os famosos “Fatalities” que tornam o game tão icônico, McQuoid abraça o gore espalhafatoso e a violência gráfica permitida, especialmente em um combate envolvendo o carismático Kung Lao (Max Huang) e a asquerosa Mileena (Sisi Stringer), que até mesmo evoca os famosos dizeres do game – eu posso nunca ter jogado, mas todo mundo já ouviu isso ao menos uma vez na vida.

O único elemento negativo envolvendo as cenas de ação encontra-se no trabalho de computação gráfica. Claramente o longa tem um orçamento mais baixo, e isso se reflete na composição de oponentes como o animalesco Reptile e o extremamente capenga vilão Goro, que mesmo sendo utilizado em uma cena ambientada à noite, deixa transparecer a artificialidade de sua composição – algo que ao menos o embate com Reptile consegue contornar ao usar uma luz de flare como fonte principal de iluminação. Bem, o fotógrafo McMicking certamente é a estrela aqui.

Movendo-se com um ritmo bem ágil e sem muitas firulas ao longo de seus 110 minutos, Mortal Kombat é uma diversão inofensiva. Se sai muito melhor quando dedica-se a seu visual inventivo na luta entre personagens humanos, e definitivamente fracassa em suas tentativas de abraçar elementos dramáticos. Mas, tratando-se de uma adaptação de um game de luta originado em fliperamas, o resultado é bem eficiente. 

Pelo menos, me fez tirar o atraso e jogar algumas partidas do game como Sub-Zero. 

Mortal Kombat (EUA, 2021)

Direção: Simon McQuoid
Roteiro: Dave Callaham e Oren Uziel
Elenco: Lewis Tan, Jessica MccNamee, Josh Lawson, Tadanobu Asano, Mehcad Broosk, Ludi Lin, Ng Chin Han, Joe Taslim, Hiroyuki Sanada, Max Huang, Sisi Stringer
Gênero: Ação
Duração: 110 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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