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Crítica | O Bravo e o Audaz #28-#30 – O Nascimento da Liga da Justiça

Março de 1960 ficaria marcado para sempre na história da DC Comics, e também na história dos quadrinhos. Naquele mês, era lançada a edição número 28 da revista The Brave and Bold (no Brasil, O Bravo e o Audaz), e nessa tínhamos pela primeira vez a união de Flash, Aquaman, Caçador de Marte, Mulher Maravilha, Superman e Batman, era o início da Liga da Justiça. Apesar de não ter sido a primeira equipe de uma história de quadrinhos ( a primeira foi a Sociedade da Justiça da América, na Era de Ouro) a LJA se tornou a equipe mais popular da nona arte, e inclusive se tornou uma influência para a Marvel Comics criar 3 anos depois a sua própria equipe.

A criação da Liga foi um projeto do escritor de quadrinhos Gardner Fox e do editor chefe da DC na época Julius Schwartz. Depois da segunda guerra, as história em quadrinhos de super heróis acabaram tendo uma gigante queda de popularidade gigante, devido a campanha de um psicólogo alemão chamado Fredric Wertham, que acusava as histórias de bandas desenhadas de serem responsáveis pelo aumento da violência entre os jovens, e levou suas críticas até o congresso. Apesar do governo americano nunca ter colocado a culpa editoras decidiram criar o Comic Code Authoritypara regular as HQS da época.

Feito isso, a DC decidiu que iria voltar sua atenção mais uma vez para os heróis. Decidiram então fazer um reboot de vários personagens famosos da Era de Ouro dos quadrinhos, e assim surgiram personagens como Hal Jordan e Barry Allen, respectivamente as novas versões do Flash e do Lanterna Verde. Com o sucesso desses novos personagens, Gardner Fox também decidiu que iria fazer uma nova versão da antiga equipe da DC,a SJA. Essa nova equipe iria contar com os novos personagens criados na Era de Prata, e com a trindade da DC, Superman, Batman e Mulher Maravilha, que devido a sua alta popularidade, conseguiram escapar da onda de cancelamentos que ocorrera na editora.

Para o nome da equipe, Fox e Schwartz  queriam um nome diferente de sociedade, porque achava esse nome um tanto quanto elitista demais, e poderia afastar leitores, então decidiram que chamariam a nova equipe de Justice League of America (Liga da Justiça da América), se baseando no sucesso da Major Baseball League na época. Como já dito aqui, a equipe teve seu início na revista O Bravo e o Audaz, que era a revista que estava servindo para que a DC testasse novas idéias e conceitos,e onde ja tinham surgido as novas versões do Flash e do Lanterna. A LJA ocupou 3 edicões.

        THE BRAVE AND BOLD #28-STARRO, O CONQUISTADOR

Na primeira história da Liga, Aquaman esta percorrendo o Atlântico, quando seu amigo Peter, o baiacu ( esse tipo de coisa acreditou foi o que prejudicou a imagem do personagem com o público atual) avisa sobre um invasor chamado Starro, que tem a forma de uma estrela do mar gigante. Ele então decide convocar os membros da Liga da Justiça para poder derrotar o vilão. Juntos na sua base,eles formam duplas para poder derrotar Starro, que transformou outras estrelas do mar em seus lacaios, e que pretende usar seus poderes para controlar mentalmente toda a população mundial.

Uma questão interessante nessa revista é o fato de que Batman e Superman aparecem apenas duas vezes, no início quando não respondem a chamada de Aquaman, porque estão resolvendo outros problemas, e apenas no final, para que a equipe possa aparecer reunida no último quadrinho. Isso foi uma decisão criativa da DC. Batman e Superman conquistaram uma popularidade muito grande desde que foram lançadas, eram ( e até hoje são) os dois carros chefes da editora, então, Gardner Fox e Julius Schwartz decidiram que não iriam utiliza-los muito nessas primeiras histórias, porque caso não a nova idéia não funcionasse, a imagem dos dois permaneceria intacta. E também pelo motivo de que eles não queria que a dupla tirasse a atenção dos outros membros da equipe, que ainda não tinham tanto nome.

Nessa história foi definido que os heróis iriam sempre cumprir missões em duplas, e seria assim durante um bom tempo durante as histórias da Liga. A idéia serviria para mostrar as diversas junções entre os poderes dos membros da Liga, e mostrar que todos poderiam trabalhar com todos. Essa era a motivação inicial para a criação da liga, pegar heróis que não eram ainda tão populares, e juntar eles como uma força que  não conseguiriam enfrentar sozinhos. Fazendo com que a LJA enfrentasse inimigos tão poderosos, Fox teria a oportunidade de trabalhar melhor todos os poderes e habilidades da equipe, e mostrar do que eram capazes. Resumindo, na nova equipe seria trabalhado tanto o individual quanto o coletivo.

Uma coisa interessante nessa HQ é que Fox, um cara bastante inteligente, é que ele usa de uma solução científica para que o vilão seja derrotado. Starro é uma estrela do mar, e segundo a biologia, essas estrelas podem ser combatidas usando Óxido de cálcio, conhecido popularmente como Cal Viva, e é assim que a LJA derrota o seu primeiro vilão. Apesar de estarmos falando de seres que eram quase deuses, Fox e Schwartz tinham a preocupação de que a fantasia se conectasse com a realidade. Por isso muitos vilões vinham do espaço, porque na época o mundo estava vivendo a corrida espacial entre URSS e Estados Unidos. Podemos citar também o fato de que o vilão Starro se alimentava de energia nuclear, vemos  uma crítica ao fato de muitos países na época estarem fazendo testes com bombas atômicas.

Vale o elogio também para a belíssima do desenhista Mike Sekowsky, que com seus traços conseguia dar vida aos desenhos, tornando as cenas de ação muito mais atrativas para o leitor. Sekowski era o responsável por desenhar várias histórias na época, então ele conseguia como poucos desenvolver nos quadros os poderes dos heróis. É também a primeira aparição de Snapper Carr, que se tornaria membro honorário da equipe , e que é um personagem que até hoje me perguntou porque foi criado, e nunca consegui responder isso. Mas sendo justo com ele, nessa primeira história ele realmente é útil, e ajuda a LJA.

THE BRAVE AND BOLD #29- O DESAFIO DO MESTRE DAS ARMAS

A história começa com um vilão do futuro chamado Xotar, que esta fugindo da polícia interestelar. Ele acaba encontrando algumas anotações da Mulher Maravilha que estão meio embaçadas, mas que falam que ele próprio usando uma de suas 4 armas. Ele decide viajar no tempo para fazer então a profecia se cumprir e derrotar a Liga da Justiça. Ele chega no passado e captura Snapper Carr, e logo depois captura a equipe de heróis, e os desafia resolver enigmas para poder encontrar a localização de suas armas, e tentar detê-lo.

Tão importante quanto o espaço, o tempo também seria uma questão muito abordada na história da LJAe diversas vezes as histórias sobre viagens no tempo seriam abordadas. Histórias sobre viagem no tempo eram bastante comuns na ficção, tendo sido algumas vezes em contos, citando por exemplo a história A Christmas Carol de Charles Dickens  A Máquina do Tempo de HG WellsE sabendo que Gardner Fox bebia de várias fontes para poder fazer histórias, faz sentido esse tema ser abordado já nas primeiras aventuras da LJA. Viagem no tempo ainda é um tema bastante discutido na ciência e na filosofia, e que encanta o imaginário popular, mesmo sendo quase um consenso que seria impossível de ser realizada na realidade.

Enfrentar um personagem de um futuro distante, poderia significar um pouco mais de dificuldade para a equipe, visto que ele tem muito mais conhecimentos, e uma tecnologia bem superior, mas o vilão acaba não sendo uma missão tão difícil para a Liga, e é facilmente derrotado. A maior dificuldade fica no fim da história, quando ele a partir de uma ilusão criada faz os heróis lutarem entre si ( tática essa que seria usada muitas vezes no futuro por diversos vilões), mas o Superman aparece e salva todos. Sim, nessa história Gardner Fox decidiu que não era mais arriscado usar os dois principais heróis da editora, visto o sucesso de The Brave and Bold #28.

Um ponto positivo para da história é o desafio que Xotar fez para os heróis, lançando testes de lógica para que eles descobrissem sua localização. Com essa idéia, Fox quis mostrar que não a Liga da Justiça não eram apenas feitos seres com poderes, e que também eram personagens de bastante inteligência, e que diversas vezes usariam esse fator em seu favor para vencer situações em que tivessem mais dificuldades. Isso tornava as histórias muito mais interessantes.

THE BRAVE AND BOLD #30-O CASO DO LADRÃO DE SUPER PODERES

A última história da Liga da Justiça na revista The Brave and Bold,o sucesso da equipe foi tão alto, que ela conseguiu a sua própria revista. Nessa história, os heróis da LJA estão todos resolvendo alguns problemas, quando de repente seus poderes falham de repente e quase os prejudicam. Mais tarde, reunidos no seu QG, eles descobrem um ser que vem cometendo crimes e usando os mesmos poderes dos membros da equipe. Esse vilão é o androide conhecido como Amazo, criado pelo maligno Doutor Ivo, que deseja conseguir a vida eterna, e faz com que o vilão procure por animais que tem longa vida e o ser humano mais velho, para que pudesse obter deles um elixir que lhe garantisse a imortalidade.

Essa é a primeira aparição do vilão Amazo, que teria diversas outras aparições nas HQS da Liga e inclusive de outros heróis. Como já dito antes, a grande vantagem desse vilão, era o fato dele conseguir sugar todos os poderes dos heróis da Liga, ou seja, o herói quem enfrenta esse vilão é quase como se estivesse lutando contra todos os outros membros da equipe. No começo parece ser impossível derrota-lo, mas ai entra a grande sacada do roteirista, pois ao mesmo tempo que o androide suga os poderes dos heróis, ele também traz junto as fraquezas dele.

Temos aqui mais uma HQ que faz um uso certeiro de fatos científicos. O Dr Ivo vai a procura de animais que tem uma longa longevidade para poder produzir um elixir que lhe garanta a vida eterna. Os animais citados na história realmente são aqueles que na vida real que tem uma vivência muito maior no reino animal. A pesquisa de Gardner Fox foi tão minuciosa que ele acertou mesmo até os anos que esses animais vivem.

Outra coisa bastante interessante citada na revista foi o elixir da longevidade. Na Idade Média, vários alquimistas acreditaram que era possível sintetizar essa poção a partir da Pedra Filosofal, um objeto que segundo aqueles conseguia transformar qualquer metal em ouro. Várias lendas envolvendo essa pedra se tornaram comuns durante o período em que a Alquimia estava em alta, e falava-se que vários alquimistas tinham conseguido produzi-la, entre eles o famoso médico Paracelsus, o criador do zinco. A lenda mais famosa envolve o alquimista Nicolau Flammel, que segundo a lenda, encontrou um livro com desenhos enigmáticos e misteriosos que não sabia o que significavam, então ao encontrar um sábio judeu, conseguiu traduzir os escritos e a partir deles fabricou a Pedra Filosofal, o que lhe garantiu riquezas e imortalidade. Histórias em quadrinhos também é cultura, ainda mais quando se envolve o nome de Gardner Fox, que sempre gostava de colocar novidades em suas histórias.

Agora vamos falar de dois momentos dignos da Era de Prata que tem na HQ. Primeiro, envolvendo a luta entre Flash e Amazo, onde o andróide usa dos poderes do Lanterna Verde. Para poder escapar, o corredor escarlate usa uma fantasia de penas amarelas, visto que o anel do lanterna não tem efeito no amarelo, nem um pouco galhofa. Agora, vamos falar de como a LJA derrotou os vilões. Ao imobilizar todos os heróis, usando gás cloro, Ivo pede que Amazo limpe as memórias deles para que não se lembrem de quem são. Mas ele não contava que o Lanterna Verde ingerisse o gás cloro e depois soltasse contra o raio do anel do robô c e impedisse o raio, visto que o gás tem coloração amarela. Como eu disse, situações típicas da Era de Prata.

Vale citar aqui também, mais uma vez Batman e Superman foram deixados de lado, e só aparecem no começo da história, e depois são designados para proteger dois dos animais mais velhos que se têm notícia, e não são vistos mais nem no final, um pequeno furo de roteiro do nosso amigo roteirista. Mesmo com sucesso, ainda havia a preocupação de deixar que os ” Melhores do Mundo” não tirassem a  atenção dos outros heróis. Mas os pontos positivos se sobrepõe nessa historia, e entre aqueles já citados, temos também mais uma vez a bela arte de Mike Sekowskyfazendo belos momentos em quadros onde temos os heróis desafiando a gravidade e os sete mares, dando ainda mais imponência a esses personagens e ao mesmo tempo com um grande valor estético.

Essas três histórias foram o início da maior equipe dos quadrinhos na história. Não são histórias perfeitas, e nem tão icônicas como outras que viriam a seguir, mas tudo isso é diminuindo quando lembramos que essas histórias possuem um valor histórico de tamanho inigualável, servindo até hoje como uma base para aqueles que escrevem histórias da Liga. E também são histórias muito gostosas e divertidas de se ler, e essenciais para os fãs da Liga.

Brave and the Bold Vol.1 #28 a 30 (EUA, 1960)

Roteiro: Gardner Fox
Arte: Mike Sekowsky
Arte-finalistas: Bernard Sachs, Joe Giella, Murphy Anderson
Letrista: Gaspar Saladino
Editor: Julius Schwartz
Editora: DC Comics

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Texto escrito por Raphael Aristides

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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