Para prender a atenção um bom drama precisa ter em sua história elementos narrativos que possam atrair o público e fazer com que este fique preso a trama do início ao fim, causando se não um fascínio pelo menos um encanto pelo o que está sendo assistido. É nesse cenário de criar um bom toque dramático que surge o interessante O Charlatão.
O longa conta a história de Jan Mikolášek (Ivan Trojan), um conhecido fitoterapeuta tcheco que viveu e realizou milhares de diagnósticos de pacientes apenas analisando a urina de pessoas humildes, políticos influentes do Partido Comunista e até mesmo oficiais nazistas, tudo isso sem cobrar nada em troca da cura por meio das plantas. Obviamente que o regime comunista não iria deixar alguém com tamanho prestígio à solta e uma acusação de assassinato o leva a julgamento.
É um drama que prende a atenção do início ao fim pela história de vida do protagonista, um homem que ansiava como meta não o poder, não era egoísta em querer viver em meio a riqueza pessoal que os homens poderosos amam expor, era sim alguém humilde e que tratava as pessoas de graça e que usava o seu dom para o bem, não o usava para obter nada de forma arbitrária.
Obviamente que não dá para cravar que é um retrato fiel, até porque não dá para dizer que muitas das coisas que foram apresentadas no longa são verdadeiras. Por exemplo, há quem diga que Jan curou milhões de pessoas e não milhares, mas é difícil de dizer com veracidade. Em cinebiografias há sempre essa margem para algumas interpretações e a diretora Agnieszka Holland (A Sombra de Stalin) consegue interpretá-las todas de forma excepcional, assim como fez em muitas de suas outras produções.
A cineasta tcheca tem em sua cinegrafia ótimos exemplares de produções que discutem temas como a família e principalmente o passado, tema esse que aqui em O Charlatão está bastante presente, hora mostrando a vida de Jan quando jovem e como se tornou um curandeiro ou para mostrar como o presente como um retrato da vida na antiga União Soviética.
Alguns vão dizer que o ritmo da produção é lento, e é mesmo, e isso não é um defeito, na realidade há um tempo para tratar cada assunto e eles são bem apresentados ao seu tempo. Mas não aprofundados como deveriam e nem como o público espera que sejam tratados. O problema é que é um filme longo e tem uma hora que não tem para onde a história correr, e é aí que se tem a impressão que é uma produção parada.
O Charlatão é uma ótima pedida para quem gosta de filmes sobre guerra, mas que não tenham uma temática violenta, e que ao mesmo tempo apresente a biografia de um grande nome que seja desconhecido por parte do público, caso de Jan, uma pessoa com muita história para contar e que recebe uma produção a altura de seu nome.
O Charlatão (Charlatan, República Checa – 2020)
Direção: Agnieszka Holland
Roteiro: Marek Epstein, Martin Sulc, Jaroslav Sedlácek
Elenco: Ivan Trojan, Josef Trojan, Juraj Loj, Jaroslava Pokorná
Gênero: Drama, História
Duração: 118 min