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Crítica | O Dinheiro - O Fim de Carreira de Robert Bresson

Matheus Fragata Matheus Fragata
In Capa, Catálogo, Cinema, Críticas•2 de abril de 2018•7 Minutes

Em toda sua carreira, Robert Bresson testou os limites do cinema como uma arte fria. Mesmo tendo criado obras inestimáveis para o Cinema Francês, o lance com Bresson sempre foi a distância em conjunto com o estudo humano em tragédias intimistas. Ao decorrer de doze longas, o cineasta discorreu sobre diversos campos, mas encontrou o submundo criminoso em O Batedor de Carteiras, um de seus maiores clássicos.

Logo, é curioso que seu último filme, O Dinheiro, um dos mais extremos em sua proposta estética, dialogue tão intensamente com O Batedor de Carteiras. Não somente a nível temático, mas por conta da motivação do crime e suas derradeiras consequências sem pesar moralismos ou fazer julgamentos através das obras.

Efeito Dominó

Bresson adapta um conto de Liev Tolstói para guiar toda a tragédia de O Dinheiro. A história segue o cinismo do efeito cascata ou efeito dominó saindo de uma problemática estúpida até chegar no completo caos e degradação. No início, temos contato com um rico garoto parisiense que pede um adiantamento na mesada para seu pai a fim de pagar uma dívida com um amigo. Com o pedido negado, o garoto e o amigo tentam passar adiante uma nota falsa de quinhentos francos em uma loja de artigos fotográficos.

Conseguindo se livrar da nota e com os proprietários logo descobrindo o golpe, contratam um faz-tudo chamado Yvon Targe, homem simples de classe trabalhadora, para reparar alguns equipamentos na loja. Inocente, o mecânico aceita quase todo seu pagamento em notas falsas que os proprietários repassam e logo acaba encontrando problemas com a polícia quando tenta pagar um café momentos depois. Nessa guinada ao azar, Bresson mostra as consequências dos atos desonrosos na vida de Targe e do balconista da loja, Lucien.

Como disse, não há dúvidas: O Dinheiro é o longa mais frio e fiel à uma proposta estética radical de Bresson, em seu momento mais pessimista. O discurso envolve como o mecanismo do dinheiro favorece rapidamente o florescer da corrupção no homem. Não se trata apenas da moeda, o que Bresson põe em debate é o papel social do dinheiro e como ele afeta nosso dia-a-dia a ponto de estabelecer relações entre nós baseados em preconceitos.

É, obviamente, algo muito idealizado que pode fugir da realidade, mas o modo fixo e inflexível que Brisson filma tudo transforma essa opinião em uma realidade cruel. Isso ocorre por conta do diretor sempre tratar a câmera como um elemento imóvel na vasta maioria do filme, deixando o plano totalmente estático e hermético permitindo somente que o enquadramento comande a encenação. Enquadramentos estes que geralmente trabalham com simetria ou, através da montagem, geram uma ilusão eficiente de continuidade de modo realmente mágico.

Com a imagem gélida, temos uma história tão fria quanto, pois Bresson observa tudo com muita distância. Além de estabelecer as relações humanas baseadas pela quantia de riqueza monetária, também temos o desenvolvimento do protagonista da história, Yvon, que ao se ver injustiçado e renegado pelo mundo, resolve ele mesmo negar a tudo e ceder a completa psicopatia e violência.

Bresson não entra no mérito se nosso protagonista já tinha essa enorme sede de violência ou se apenas foi motivado a entrar no submundo por conta do descrédito de sua honestidade depois de virar vítima de um golpe praticado por pessoas mais ricas que ele. Como o filme também carece de diálogos e as atuações beiram o robótico como bem o diretor gostava, isso nunca é verdadeiramente discutido.

Mas pela eficiência da direção do francês, temos plena ciência da transformação absurda que corrompe Yvon. Curiosamente o mesmo acontece com o balconista da loja que, assim que vê a corrupção dos donos, passa a roubar do caixa e falsificar o fluxo até ser pego e acabar demitido o que o leva para a criminalidade aplicando golpes a diversos cidadãos.

Nessa desesperança, corrupção moral, falta de ética e sede de vingança, Bresson pavimenta o caminho para um dos terceiros atos mais desoladores de toda sua carreira e, quiçá, do Cinema. Nele, vemos Yvon interagir com uma estalajadeira idosa que lhe oferece apoio e uma chance de recomeçar. Nesse segmento, repleto da exploração de texturas, além de contrapor os pecados da cidade contra os do campo, Bresson traz diálogos puros e realmente interessantes que tiram um pouco da monotonia da obra. Seguindo o tom pessimista da obra, temos a reviravolta final absurdamente impactante.

Sendo um filme bem conceitual e de moral aterradora, Bresson traz sua estrutura cinematográfica minimalista, mas aliada com um profundo grau de realismo bastante antiquado que acaba prejudicando o ritmo da obra, já que o diretor basicamente nunca recorra a elipses, por mais simples que elas sejam. Por conta disso, o espectador é obrigado a assistir muitos minutos envolvendo banalidades como o abrir e fechar de portas, caminhadas em corredores, etc.

A Vida como Arte

Sendo seu último longa, Robert Bresson não pesou a mão ou procurou fazer um enorme testemunho que fugisse da condução geral de sua filmografia muito apoiada pelo catolicismo. Em O Dinheiro, o histórico diretor apenas se despede trazendo uma tragédia absoluta que conversa ferrenhamente com a facilidade da corrupção da natureza humana. Desde seus primeiros momentos de existência até virar completamente escrava do dinheiro.

O Dinheiro (L’argent, França, Suíça – 1983)

Direção: Robert Bresson
Roteiro: Robert Bresson, Liev Tolstói
Elenco: Christian Patey, Vincent Risterucci, Caroline Lang
Gênero: Drama, Crime
Duração: 85 minutos.

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Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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