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Crítica | O Homem Invisível – Terror Psicológico com Toques de Realidade

A Universal sonhava em criar seu universo compartilhado de Monstros, colocando nele seus principais personagens, como Drácula, Frankenstein, O Monstro da Lagoa Negra, a Múmia e O Homem Invisível. Todos em uma mesma produção, e também o estúdio pensava em fazer um filme para cada monstro, e assim realizar o seu próprio universo ao estilo Invocação do Mal, como a Warner está desde 2013 montando o seu de maldições com Os Warren comandando. Mas algo havia dado de errado com o primeiro remake dessa nova leva com A Múmia (2017) em que Tom Cruise foi o protagonista, com o longa sendo bombardeado pela crítica e não sendo tão bem recebido pelo público.

Pois agora parece que a Universal desistiu, acertadamente, deste universo compartilhado e retorna ao cinema de monstros com o ótimo O Homem Invisível, em que o diretor Leigh Whannell (Upgrade) deixa de lado a simples ficção-científica, para se segurar em um tema mais atual e realista aos dias atuais, e é justamente essa pegada mais atual é que deixa o longa mais interessante e moderno.

O Homem Invisível, queira ou não, é a ideia de dar um super poder a um homem, e de dar um dom para um homem, que no fundo é narcisista, e assim o deixar ficar intocável. É assustadora a ideia de saber que há alguém que pode estar em qualquer canto e em qualquer lugar, que pode surgir a qualquer momento e de surpresa para te atacar. É esse o principal barato desta nova versão, pois o diretor que também é o roteirista dá mais um ar de terror psicológico para a narrativa, que é algo que demandava a nova história.

A trama conta a história de Cecilia Kass (Elisabeth Moss), uma mulher que sofreu abusos físicos e psicológicos de seu marido, Oliver Jackson-Cohen (Adrian Griffin), e então foge e se esconde dele para assim não sofrer mais com os abusos. A questão é que Cohen é um homem muito rico e aparentemente morre (isso está no trailer e não é spoiler) e Cecilia sente que seus dias de sofrer tortura psicológica terminaram.  Essa é uma ótima sacada do roteiro, pois coloca justamente o abusador na rota de perseguir a vítima. É algo que infelizmente acontece em casos do dia a dia e que são vistos, no Brasil e no mundo, com vítimas, em sua maioria mulheres, que são perseguidas por seus ex-namorados e ex-maridos e que não aceitam tão bem o término de uma relação.

A ideia do roteiro é de colocar o homem invisível justamente na cola da ex-mulher. Chega a ser sufocante e desesperador a sensação que Cecilia passa, pois ter alguém que ela não está vendo onde está a observando é realmente algo apavorante. O diretor passa esse sentimento de suspense de forma perfeita para o espectador. Em alguns momentos que parece que o filme vai ficar repetitivo ou chato, mas o roteiro é tão ágil e inteligente que se renova nas situações que ocorrem e a narrativa acaba por se reinventar.

Uma questão mostrada em O Homem Invisível fica em relação à tortura psicológica sofrida por Cecilia. Essa questão foi tão bem aprofundada que dificilmente os traumas irão sumir tão rapidamente na personagem, e isso é algo que é montado com inteligência a respeito da protagonista. Essa é a principal analogia e sacada da narrativa em confrontar a vítima e agressor. Leigh Whannell criou uma obra fantástica de suspense com crítica social, algo que vai muito de encontro com o terror social apresentado em Corra! do diretor Jordan Peele, uma produção que foi muito bem recebida pelo público e pela crítica e que falava sobre racismo, e a mesma coisa acontece com The Invisible Man (nome em inglês), mas aqui o terror social é sobre os abusos e violência doméstica que as mulheres sofrem por seus parceiros e muitas vezes não são ouvidas.

O suspense é bem explorado nesta nova versão, com uma atmosfera que é criada justamente para encaixar nas cenas em que o homem invisível ataca fora que quem pensa que o vilão irá ficar o tempo todo apenas atrás de sua vítima está muito enganado. O interessante do longa, é que por não se saber de onde o assassino irá atacar fica mais fácil de se causar sustos, e o bacana é que o roteiro não precisa colocar jump scares escandalosos para isso acontecer, os sustos acontecem com naturalidade. Há uma atmosfera muito parecida com a do terror dirigido por Paul Verhoeven em O Homem Sem Sombra (2000), que é uma versão diferente e mais sanguinolenta de Homem Invisível, mas neste filme atual o ambiente não é feito para dar medo e sim para criar um suspense em enganar o público em qual canto o vilão está.

O elenco do filme é bastante reduzido e a protagonista obviamente é Elisabeth Moss, ela aparece praticamente em todas as cenas, e o restante é elenco secundário. Portanto, há de se destacar quase com certeza que ela é a única protagonista, e isso é algo que funciona bem, deixa o longa com mais dinâmica, com diálogos ágeis, e com cenas de ação mais rápidas. Moss está com uma interpretação convincente, não está fazendo o mesmo papel da série The Handmaid’s Tale e a própria atriz consegue deixar a sua atuação diferente dos sofrimentos infringidos aos que a personagem do seriado sofre.

O Homem Invisível é uma produção que surpreende bastante, não apenas pela ótima narrativa que vai direto à história sem rodeios, mas também pela bela direção e bom roteiro de Leigh Whannell, que mesmo sem ter tanta experiência se mostra uma grande aposta para o futuro do cinema, e se continuar neste rumo irá se tornar um grande profissional. Quanto ao longa, é entretenimento de primeira, ainda mais para quem curte filmes de suspense e terror de qualidade.

O Homem Invisível (The Invisible Man, EUA – 2020)

Direção: Leigh Whannell
Roteiro: Leigh Whannell
Elenco: Elisabeth Moss, Oliver Jackson-Cohen, Harriet Dyer, Storm Reid, Aldis Hodge, Michael Dorman
Gênero: Horror, Mistério, Ficção-Científica
Duração: 124 min.

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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