Hora ou outra o cinema nacional é criticado pelo excesso de violência em suas produções. Como espelho da realidade, o cinema tem por objetivo retratar a violência que nos cerca e é justamente com isso que o filme O Nome da Morte (Henrique Goldman) tenta dialogar.
A produção conta a história de como Julio Santana (Marco Pigossi) se tornou o maior pistoleiro do Brasil que se tem notícia. Diz ele, ter matado mais de 450 pessoas ao longo de seu “trabalho” como matador. O filme foi inspirado na obra de Klester Cavalcanti que trabalhou por longos períodos para entender como era a vida de Julio, que dificilmente foi preso (apenas uma vez e depois foi solto) e como fazia para matar suas vítimas.
No longa, Julio é levado por seu tio para a capital a fim trabalhar como policial, mas lá descobre que seu tio quer na verdade que ele faça trabalhos sujos para ele. Eis que entra no mundo do crime e passamos a acompanhar cena a cena a construção de Julio como pistoleiro. Ele sente culpa de início, mas depois que vê o dinheiro entrando começa a matar cada vez mais.
Algumas das mortes apresentadas são bastante pesadas e deixam o espectador com raiva do protagonista, por matar pessoas inocentes apenas por matar. O que Henrique Goldman (Jean Charles) tenta nos mostrar é a banalidade com que essas mortes são feitas. Motivos fúteis e apenas por motivo de vingança a mando de pessoas que querem dar um fim em seus inimigos.
É algo bastante relevante o que é abordado em O Nome da Morte, ainda mais em um país com as mais altas taxas de assassinatos do mundo e que a todo instante a questão da segurança é discutida. Mas o que deixa o espectador mais receoso fica em relação ao tratamento que Julio que recebe no filme, pois em nenhum momento há um tratamento em transformá-lo em um vilão de fato.
O diretor parece que teve o cuidado de não transformar Julio em um herói, mas sim em uma vítima de uma sociedade corrupta, no caso ele usa os policiais como corruptos para transformar o rapaz em assassino. No livro ele é sim levado pelo o tio, mas nunca entrou para a polícia. Mas mesmo assim isso é algo bastante superficial e também não é algo aprofundado.
Há uma falta de consciência no personagem que o deixa muito parecido aos psicopatas apresentados em produções de Hollywood, mas só parecido mesmo, porque é tão forçado que o personagem é bastante esquecível.
Pigossi não convence como o rapaz do interior que vai para a cidade grande. Sua barba bem feita e seu porte físico atlético o deixam mais perto de personagens da malhação que propriamente com um interiorano, fora que sua atuação não é das melhores, força demais para passar o sentimento de que está com raiva e com ódio.
Algo que poderia ter sido mais bem explorado no longa é a falta de tensão, uma coisa que transformaria a produção não apenas em um relato de acontecimentos, mas também em um thriller muito mais interessante. Todas as cenas são bastante cruas, com tiros na cabeça e outras caracterizações impressionantes de assassinatos que levam o brasileiro para sua rotina de crimes do dia a dia.
O Nome da Morte é uma produção que poderia ir muito mais a fundo na questão da violência brasileira, algo que Tropa de Elite e Cidade de Deus fez muito bem. Há muitas oportunidades para se fazer isso, mas o diretor prefere sempre se manter superficial não tocando em temas delicados, apenas contando a história como ela foi.
Em um período em que a violência está bastante presente na vida dos brasileiros O Nome da Morte serve para entender como esse tipo de cinema tem perdido tanta oportunidade em dialogar a respeito dos acontecimentos sociais pelos quais o país passa e também sobre suas origens. Apenas fala da questão do dinheiro, como fator para Julio praticar as mortes e nada demais, não há uma outra questão mais mais ética que motiva o personagem, e isso torna a produção sem uma mensagem clara.
O Nome da Morte (idem, Brasil – 2017)
Direção: Henrique Goldman
Roteiro: Henrique Goldman, Vitor Leite, George Moura
Elenco: Marco Pigossi, Fabiula Nascimento, André Mattos, Jessica Alencar, Marie Paquim,Matheus Nachtergaele, Gillray Coutinho, Augusto Madeira, Martha Nowill, Dante Parreão
Gênero: Biografia, Crime, Drama
Duração: 98 min.