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Crítica | O Rei – Uma guerra desnecessária

Filmes medievais, geralmente, trazem em sua composição narrativa questões que são abordadas por necessidade da trama e que estão ali colocadas para apresentar como era o período retratado, em que haviam batalhas, diálogos em que se montam estratégias de guerra, e o próprio jogo de traições bastante comum para uma época em que a guerra era uma realidade e a vitória um objetivo a ser alcançado. 

Em O Rei (David Michôd) a produção utiliza destes artifícios, assim como muitos filmes do gênero, para criar uma situação e apresentar o ponto de vista do diretor quanto a um tema bastante interessante, que são os conflitos medievais pré-pólvora, em que soldados usavam armaduras pesadíssimas e com espadas idem. A trama gira em torno de Henrique V (Timothée Chalamet), que se torna Rei contra a sua vontade e que tem ideais bastante interessante em um momento em que se discute o uso de armas pelo mundo, e que no período medieval era bem comum sair guerreando por qualquer motivo fútil. A trama se passa durante a Guerra dos Cem Anos, em que Inglaterra e França ficaram com inimizades pelo tempo estabelecido. 

É um acerto o de mostrar um rei que não queira coroar e que é contra a guerra é algo a se elogiar, pois foge totalmente do que é apresentado em filmes sobre o assunto. A guerra ela é interessante sempre para alguém, há pessoas, dos dois lados do conflito, que esperam a oportunidade de eclosão do embate para poder se beneficiar por alguma coisa, e o jovem Henrique V se mostra uma pessoa extremamente fácil de ser manipulado. Há uma frase que se levada ao pé da letra faz bastante sentido “um rei não tem amigos”, e se isso for levado ao pé da letra pode-se entender os acontecimentos envolvendo toda a situação em que Henrique V está inserido.

A ideia do diretor é discutir esses temas profundos e de forma que faça pensar, com diálogos fortes e sucintos, mas o que mais chama a atenção é a batalha final estabelecida no terceiro ato, quando Henrique V vai à batalha contra a França e lá vence com um exército menor que o do inimigo. A cena do conflito dá força ao debate que Michôd levantou em O Rei, pois a luta entre os soldados é no mínimo ridícula, com armaduras pesadas e lutando em um pântano à mando de reis que criam guerra apenas por criar, sem ter um sentido aparente (se é que há um sentido para a guerra). A própria luta do príncipe Delfim (Robert Pattinson) contra Henrique é algo ridículo e cômico, Michôd quebra totalmente as expectativas do público, todos acreditavam que teria um duelo sangrento até a morte de um dos dois, mas o que se vê é algo completamente diferente, e que faz total sentido em um período em que as regras formais só eram estabelecidas até um certo momento.

O roteiro de Joel Edgerton, David Michôd acerta em não dar uma motivação real para que Henrique V vá para o campo de batalha. De início o rapaz se mostra um idealista, e até mesmo um samaritano, mas depois se transforma em alguém cruel e sem escrúpulos. A motivação dele para iniciar uma guerra sem sentido é algo muito bem criado ao longo da narrativa, há uma transformação no personagem, e isso é muito bem desenvolvido deste o primeiro ato, até a sua completa transformação no último ato.

No trailer de divulgação de O Rei apareciam dois personagens com destaque, o de Timothée Chalamet e o de Robert Pattinson, mas o que se vê no filme é algo completamente diferente. Primeiro que o personagem de Chalamet é o dono do longa, reina absoluto no primeiro ato, e depois surgem alguns atores secundários para dar maior força ao protagonista Henrique V. Fato é que Chalamet está fantástico em sua atuação, um rei sincero em seus ideais e temeroso em entrar em um conflito sem sentido.

O antagonista interpretado por Robert Pattinson é apresentado como o antagonista, rouba a cena com um discurso engraçadíssimo, mas que não se sustenta ao longo da trama, já que a produção é de Timothée Chalamet, e portanto é bastante triste ver que Pattinson é completamente abandonado a partir do momento que surge. É um erro dizer que é este é o melhor personagem de Robert Pattinson, já que o ator teve outros papéis interessantes, mas vale ressaltar o quanto o artista cresceu e melhorou sua interpretação, por isso seria mais interessante deixá-lo mais tempo em cena. O diretor, possivelmente, não quis fazer isso para não cair nos clichês tão comuns ao gênero e que ele estava tentando fugir até então.

As próprias cenas de batalha são coreografadas de uma forma não antes vista em um filme medieval. Estamos acostumados a ver grandes lutas de armas, também já assistimos ao estilo William Wallace, com mais ódio e crueldade, já em O Rei a luta lembra é mais corporal, lembra até mesmo uma briga de rua, com os personagens se arrastando pelo chão, agarrando o adversário, e até mesmo socando o rosto um do outro, fatos que até então dificilmente se via. É uma ousadia que o diretor tomou ao decidir qual direção iria seguir, e ir pelo caminho de fazer o mais simples sem exagerar ou criar elementos que acabassem tornando o longa igual aos outros. 

O Rei é um grande atrativo para quem curte não apenas filmes de guerra, mas também que gosta de história e filmes sobre o período medieval. Claro que algumas questões apresentadas não são exatamente iguais aos fatos históricos, mas isso é o de menos para quem procura um filme de ação diferente no catálogo tão numeroso da Netflix. A plataforma vem investindo pesado, muitas vezes erra com filmes fracos e sem sentido, mas quando acerta há de se elogiar e torcer para que mais produções ao estilo de O Rei sejam feitas no futuro.

O Rei (The King, Reino Unido, 2019)

Direção: David Michôd
Roteiro: Joel Edgerton, David Michôd
Elenco: Timothée Chalamet, Robert Pattinson, Lily-Rose Depp, Joel Edgerton, Thomasin McKenzie, Ben Mendelsohn, Sean Harris, Tara Fitzgerald
Gênero: Biografia, Drama, História
Duração: 132 min.

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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