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Crítica | Punhos de Sangue

A série Rocky, apesar de qualidade bem discutível, e Sylvester Stallone, canastrão que merecia um Oscar, são figuras marcantes para diversas gerações ao longo dos seus sete filmes, Creed, o mais recente. O primeiro filme causou grande burburinho, sendo a grande estrela da noite da Academia  em 1977. É inegável a empatia que o filme consegue provocar com a história inspiradora, as mensagens de resistência em meio ao melodrama romântico. Como são as grandes produções hollywoodianas. O personagem real que inspirou Stallone a fazer o roteiro também é – só que da Hollywood dos tablóides, dos bastidores, não a das telonas. Não que o boxeador tenha relação próxima com o universo do cinema industrial, mas do drama das celebridades sem limites.

Dinheiro, mulheres, drogas, bebida. Chuck Wepner (Liev Schreiber) tem uma esposa, uma filha, mas não consegue fugir das tentações e cai no estereótipo do cara que enfrenta recaídas e não entende que uma vida em família comum e uma vida de pegador bêbado não podem coexistir. Pelo menos é o que mostra Punhos de Sangue, novo filme do canadense Philippe Falardeau.

O longa tem como proposta fazer um filme sobre o boxeador, sem fazer um filme de boxe. A produção tem grande interesse, em primeiro lugar, em evocar o espírito do tempo dos anos 70 no Estados Unidos. O ponto de partida é, pelo menos, diferente do comum. Acaba funcionando melhor que alguns desastres como Nocaute (2015) ou Punhos de Aço (2016), mas não consegue se livrar das convenções o bastante para se afirmar como um projeto que foge da curva das cinebiografias programadas, nem contestar a falta de vitalidade do gênero.

Tenta-se empregar um olhar mais documental, com vários momentos de câmera tremida, com muitos zooms – visão que ao longo do filme vai se afrouxando. O que é até melhor, porque uma direção “documentarista” não se encaixaria bem com o roteiro. De resto, em aspectos técnicos, só há um virtuosismo primário que tenta conciliar um visual indie com os figurinos e as cores saturadas da época – inserindo ora imagens de arquivo, ora forçando a barra nos filtros.

O mais interessante é ver Chuck não como uma grande atleta, mas como um mais uma estrela de show cada vez mais patético. Ele é protagonista de sua história, mas não da história do esporte, sempre sendo ofuscado pelo retumbar dos nomes de Muhammad Ali ou George Foreman. Não à toa, a cena que inicia o filme mostrando um dos momentos finais da carreira de Wepner, numa luta para a caridade contra um urso domado.

Com o prosseguimento do filme, podemos até ver a sua decadência, mas também é possível ver que desde o começo, Wepner é celebrizado pela sua resistência , ganhando a alcunha de Bayonne Bleeder. Ele oferece entretenimento mais pelo seu sangue derramado do que pelos seus ataques. Justamente essa característica de sua história que tanto atraiu Stallone (Morgan Spector) a fazer Rocky – porém, nem ele, nem ninguém da produção do filme entrou em contato com Wepner na época. Só em Rocky II, quando o boxeador seguiu o rastro do sucesso do filme, mas a tentativa de participação foi frustrada.

Além de Falardeau reduzir as cenas nos ringues ao mínimo, também as cenas de treinamento têm pouco glamour. Com exceção do grande evento da luta com Ali, Chuck só vai à academia para conversar com o treinador (Ron Perlman) sobre as lutas que serão arranjadas: o protagonista só precisa saber quando vai entrar no palco.

Esse seu comportamento automatizado nos ringues, porém, não funciona no núcleo familiar. Chuck parece esquecer que a indiferença da esposa e da filha é mais dolorosa que qualquer soco, isto é, a conduta moral não depende mais do seu sangue. São nesses momentos de crise que Liev Schreiber mostra seu talento e dá mais valor ao filme, junto de Elisabeth Moss (Phyliss, sua primeira esposa) e Naomi Watts (Linda, a outra companheira).

O grande problema é que Falardeau acaba construindo uma narrativa um tanto asmática (sem capacidade ou tempo de respirar) com um personagem que não segue uma linha de evolução dramática até chegar nos minutos finais, quando já queremos que o filme tenha terminado.

Frente à sensibilidade de Rocky Balboa, a trajetória de Chuck Wepner. Mas, em comparação, se considerarmos Rocky como um gancho forte (nocaute seria hipérbole), Punhos de Sangue não passa de uma série de jabs irregulares.

Punhos de Sangue (The Bleeder, EUA – 2016)

Direção: Philippe Falardeau
Roteiro: Jeff Feuerzeig, Jerry Stahl, Michael Cristofer e Liev Schreiber
Elenco: Liev Schreiber, Elisabeth Moss, Naomi Watts, Ron Perlman e Morgan Spector
Gênero: Drama
Duração: 98 min

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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