Claire Millaud (Juliette Binoche) é uma mulher que foi abandonada pelo marido, ela logo se encontra com outro homem, no qual pensa em se relacionar, mas nisso acaba conhecendo, por telefone em uma conversa curta, o jovem Alex (François Civil), o colega de quarto de sua paixão momentânea e que logo se transforma em um amor à primeira vista.
O principal barato de Quem Você Pensa que Sou (Safy Nebbou) é o jeito com que a história dialoga com a realidade. É inteligente o jeito com que o diretor coloca uma mulher de 50 anos se relacionando, pela internet, com uma rapaz mais novo que ela. Essa é uma questão inegavelmente relevante para a personagem, que saiu de um relacionamento conturbado e procura um novo amor, e encontra em Alex o homem ideal. Claire acredita que caso assuma essa relação, ela não seja bem vista pelas pessoas, por ela ser uma mulher mais velha que o rapaz. Essa questão é debatida em vários momentos da trama, em que Claire fica se penitenciando em querer encontrar Alex, mas ao mesmo tempo procrastinando por acreditar que aquele nunca fosse o momento certo.
Esse é outro tema bastante interessante e que poderia ter um tratamento mais profundo em relação ao que é contado. Claire claramente perde uma grande oportunidade em sua vida, pois encontra alguém com quem se sente bem conversando, mas que deixa de lado por ficar imaginando o que as pessoas fossem falar dela, e assim deixa de viver um grande amizade, ou até mesmo um grande amor que poderia se tornar algo a mais lá para a frente. Porém, isso acontece não apenas pelo medo de Claire, mas soma-se o medo da idade com a questão principal e a mais relevante do longa.
Claire Millaud cria no facebook um perfil falso, com o nome de Clara, visualiza o perfil de Alex e começa a ver quais as suas principais qualidades, e quais os seus hobbies e gostos que mais o atraem, sendo assim coloca tudo que mais interessa em Alex em seu perfil falso, e tão logo começa a papear com o rapaz pela rede social, acabam por conversar por telefone, e assim o contato está feito. Em tempos que a internet é usada para fazer contatos, ou até mesmo para as pessoas se relacionarem digitalmente, é uma discussão válida ao que o longa se propõem, pois Clara não é exatamente a pessoa que Alex acredita que ela seja, porém Clara é apenas alguém que Claire gostaria que existisse, ou possivelmente que ela gostaria de ser.
Essa questão de Claire se sentir atraída e não ir em busca de se encontrar com Alex, é algo que tem a ver bastante com a solidão nessa idade da vida, pois ela é uma mulher sozinha, vive de relacionamentos superficiais e foi abandonada pelo marido, portanto há um medo natural em se relacionar novamente com outra pessoa, por isso Claire usa como desculpa a questão da idade para não se encontrar pessoalmente com Alex. E fica também a questão no ar, se Claire se relacionou com ele porque estava apaixonada ou porque simplesmente queria alguém para conversar e não se sentir sozinha.
O jeito com que a narrativa é contada é um acerto, apresentando a personagem e sua vida, e depois inserindo os seus dramas particulares de uma forma que enriquece a trama. Os dois plot twists, ambos perto do final, são bem trabalhados e conseguem alcançar o objetivo de surpreender o público, pois é bastante inesperado o jeito que ocorrem, principalmente o primeiro plot, que realmente é de deixar de boca aberta, tamanha é a surpresa. Essas duas viradas de roteiro servem para dar uma direcionada para o final, pois há um momento que a história não tem mais para onde ir, e a relação dela com Alex esfria bastante, então esse primeiro plot serve bastante para dar uma pré-finalizada no filme.
Juliette Binoche (Deixe a Luz do Sol Entrar) é o grande atrativo do longa, e sem ela, possivelmente, não seria a mesma coisa. A atriz veio a calhar em uma trama que debate a solidão nessa faixa de idade dos 50 anos. Com grandes papéis no currículo não é de se impressionar que esteja em alta, trabalhando em inúmeras produções sempre com muito afinco e determinação. Juliette Binoche traz alma para a personagem de Claire, e faz com que a atenção do público não se perca com a protagonista isolada em cena.
Quem Você Pensa que Sou funciona como um drama que debate várias situações que uma pessoa vive em uma fase da vida. De maneira sensível e séria debate questões relevantes. e o diretor Safy Nebbou mantem o foco na trama sem inventar questões que possam atrapalhar o andamento do longa. Em alguns momentos há um problema sério de ritmo no jeito que a trama é levada adiante, mas isso é algo que não deixa o filme ruim, apenas cansativo em alguns momentos. É certamente um bom drama francês sobre relações e suas dificuldades em criar laços afetivos, e que na internet não é necessário se criar uma relação duradoura para toda a vida.
Quem Você Pensa que Sou (Celle que vous croyez, 2019)
Direção: Safy Nebbou
Roteiro: Safy Nebbou, Julie Peyr, Camille Laurens (Livro)
Elenco: Juliette Binoche, Nicole Garcia, François Civil, Marie-Ange Casta, Guillaume Gouix, Charles Berling
Gênero: Drama, Romance
Duração: 100 min.