Revi e vi pela primeira vez nos cinemas, Rocky – Um Lutador, na semana passada. Depois de quase oito anos sem ver o primeiro filme que lançou a antologia de sucesso que hoje está repleta de pó e memórias na minha prateleira.
Foi uma experiência muito interessante notar como a mente envelhece. Fica mais sábia e tange outros sentidos. Quando tinha 13 anos, descobri os filmes ‘Rocky’ por conta dos meus queridos amigos Matheus Costa, Murilo e Antonio que ficavam discutindo qual a melhor cena de porrada, o filme favorito e sobre o joguinho vagabundo de PS2 que rendera horas de diversão para todos nós.
Realmente, naquela época, só me importava o quebra-pau e as brilhantes montagens de treinamento. Hoje, depois de anos escrevendo e estudando sobre cinema, história e política, Rocky virou outro filme para mim. E que filme incrível!
O resultado da crise financeira dos anos 70 atinge forte os filmes da nova guarda hollywoodiana. Pior ainda para a produção independente de Rocky. Nota-se claramente como o filme precisava de recursos que não estavam disponíveis na época. Tomadas longas e descritivas para preencher tempo de ação é que não falta no longa, mas faltava equipamento de luz, películas mais caras, um foquista mais apto, mais recursos de arte, etc.
Porém nada disso o afeta de verdade. Aliás, essas rusgas conferem seu status único. Temos aqui um genuíno underdog dos anos 70. Nada é mais evidente. A solidão, os subúrbios mal iluminados da Filadélfia, o desemprego, a propensão para o crime, más companhias, ambição e frustração, repressão sexual e o machismo. Está tudo lá! Tudo que eu não enxerguei por anos. Inclusive as cômicas inserções de outros filmes para simular o público da luta final. O embate do século foi gravado quase às moscas! Que experiência!
Mais incrível ainda é notar que Sylvester Stallone estava no momento de sua vida e atuando bem. Junto com Talia Shire, uma moça de traços únicos com sua beleza escondida e reprimida propositalmente pelo design de produção primoroso.
Porém, o grande trunfo do filme é colocar o Carl Weathers vestido de Tio Sam e com a bandeira dos EUA quando o fim da segregação racial tinha acontecido há menos de 12 anos. E também sendo ele a oferecer o sonho americano para um lutador branco de subúrbio – e também criminoso. Uma jogada muito audaciosa para aquela época que merece respeito até hoje.
Por essas e tantas razões, Rocky é um filme incrível, com atuações excelentes, trilha sonora memorável, montagem inesquecível e direção justa. Tão impressionante para mim foi perceber pela primeira vez que Balboa nunca ganhou a primeira luta. Não era pra vencer que ele estava lutando. Era para provar a todos de sua resistência, a força de seu espírito e o amor por sua mulher.
É mais uma metáfora da vida. Essa que nunca achamos significado concreto. Que apanhamos fisicamente, intelectualmente e moralmente por diversos motivos mesmo se estivermos no nosso pior momento. Ela é dura, perigosa, frenética e incansável. Cansamos de provar todos os dias que não cairemos. Que não perderemos a dignidade e muito menos a humildade.
E que até mesmo nas piores pocilgas, nos lugares mais hostis, frios e abandonados por todos, pode surgir, independentemente, uma força que move montanhas e que clama por sucesso. Assim como fez Rocky Balboa.
Rocky: Um Lutador (Rocky, EUA – 1976)
Direção: John G. Avildsen
Roteiro: Sylvester Stallone
Elenco: Sylvester Stallone, Talia Shire, Carl Weathers, Burgess Meredith, Burt Young
Gênero: Drama
Duração: 120 min
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