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Crítica | Rodin – o homem por trás da arte

Nascido em 1840 e morto em 1917, Augustine Rodin é considerado um dos pais da escultura moderna. Suas obras mais famosas aparecem em sua cinebiografia que estreou nos cinemas nacionais recentemente e traz à luz um pouco da genialidade desse artista que deixou obras marcantes. 

No filme de Jacques Doillon (Ponette – A espera de um anjo) é abordada a vida de Rodin entre os anos de 1880 a 1890, período no qual ele fez suas mais célebres esculturas, dentre elas estão o Balzac conhecido pelo nome de ‘Monumento a Balzac’ e a ‘Porta do Inferno’ baseada no livro a ‘Divina Comédia’ de Dante Alighieri.

É interessante para quem pensa em conhecer mais sobre sua vida, mas há de saber que não é uma produção que se aprofunda muito justamente por pegar 10 anos de sua vida e esmiuçar todos acontecimentos importantes nesse tempo. Desde seu romance com Camille Claudel e sua esposa Séverine, passando pela concepção e criação de muitas de suas obras, aqui podemos ver como ele as fazia, seu olhar apurado em representar o que está em sua frente e concluindo com a frustração com as críticas negativas a seu Balzac.

Ambas esculturas estão no longa. O início já se apresenta com a construção da ‘Porta do Inferno’ mostrando suas técnicas de construção com extremo preciosismo. A partir daí o filme vai desenvolvendo o jeito dele em criar outras esculturas, na maioria das vezes com mulheres posando para ele criar um esboço em um caderno e depois começando a dar vida aos desenhos. No meio disso tem o romance com Camille Claudel, sua famosa ajudante e amante que teimava em pedir para que Rodin abandonasse sua esposa e se casasse com ela. Ele já era casado com Séverine na qual tinha muitos filhos, nos quais não assumia por achar que eles não tinham o talento do pai e que isso o envergonharia. 

E é com o relacionamento com Camille Claudel que a produção gasta muito do seu tempo. A questão é o que mostrar sobre o relacionamento dos dois sendo que há duas produções a respeito da artista. Camille Claudel (1988) de Bruno Nuytten já havia desenvolvido belamente o relacionamento entre Rodin e Camille, desde o dia que se conheceram até o momento da ruptura com o artista por parte dela e em Camille Claudel, 1915 (2013) Bruno Dumont mostrou uma personagem mais humana já vivendo no asilo – local em que pessoas com doenças mentais ficavam presas – depois do término do relacionamento com Rodin até a data de sua morte. 

Em ambas as obras Camille foi muito bem desenvolvida, aqui ela parece mais uma garota histérica e sem brilho. Se a ideia do autor foi mostrar o ponto de vista de Rodin em não querer se casar com ela já que já tinha um relacionamento sério ele conseguiu, mas tirou todo o ar de romance que se imaginava haver entre os dois e deu um ar de realidade algo que o longa de 1988 tentou fazer. Por focar em Rodin, Doillon não trabalha bem a personagem de Camille, até seria desnecessário já que existem duas produções focadas nisso, ele mostra o porque dela abandoná-lo e não a mostra enlouquecendo e sendo internada apenas cita o acontecimento e bem rapidamente.

Como dito ele perdeu muito tempo mostrando esse relacionamento já apresentado no filme de 1988 e chega a dar sono de tão repetitivo quando os dois estão juntos. O relacionamento doeles é tão chato e monótono que chega a ser cansativo e a dar sono. Viviam se pegando, se declarando um ao outro e nada mais que isso, tudo sem emoção e claramente sem amor um ao outro, algo apenas carnal. 

Em alguns momentos falta vida ao Rodin vivido por Vincent Lindon, por sinal sua interpretação é ótima do homem que foi um gênio da arte e ao mesmo tempo um homem com muitos momentos conturbados no relacionamento. O problema mesmo é o personagem, ele é sério, frio, seco. A ideia de Jacques Doillon é apresentar um homem que vivia seu tempo sozinho entre as esculturas sem vida, apenas pensando na vida de suas obras. Essa solidão refletia em sua vida. Ele podia estar casado e junto com Camille, mas mesmo assim vivia sozinho. A representação de seu ateliê é uma boa demonstração disso, vivia cercado de mulheres quase sempre nuas e mesmo assim se perdia em seus pensamentos se isolando e criando sua arte. 

Essa solidão também é muito bem representada pelo silêncio. Em todos os momentos do filme, até mesmo nas cenas de discussão e conversa você sente o silêncio, ele é muito presente em tudo e é muito importante para o filme justamente por ajudar a moldar a vida de Rodin. A ausência de trilha sonora é outro fator que ajuda na propagação desse cenário, sua não presença ajuda a dar um ar realista ao filme. 

Além das interações com Camille Claudel e com sua esposa há alguns momentos que Rodin se encontra com outros artistas como a reunião que tem com Cézanne e Monet a fim de discutir o cenário artístico francês. Eles são muito pouco inseridos na obra e a presença deles é tão breve que nem dá para entender porque está no filme. Claro que não faria sentido colocá-los por mais tempo já que a história conta a vida de Rodin em um breve período. Mas não havia necessidade alguma do encontro estar lá, só o colocaram para mostrar a bajulação que o artista sofria e para mostrar um certo poder de liderança que tinha sob outros artistas. 

A frustração que teve com seu Balzac no qual foi rejeitado em primeiro momento por soar obsceno em um primeiro momento e depois por não conter elementos que lembrem o escritor francês como a falta de um livro em mãos é bem apresentado. Mostram o processo de criação, a rejeição, a dor por ser criticado por uma obra que não havia sido entendida pelos críticos. Esse momento é que percebemos como um gênio pode estar a frente de sua época sendo incompreendido por todos. Seu Balzac está exposto no Hakone Open Air Museum, museu japonês que está entre os mais visitados do país. 

É surpreendente como as questões técnicas estão bem inseridas na estética do filme. A fotografia é linda sempre criando contraste entre claro e escuro em alguns momentos predominando um tom acinzentado. Tudo para dar um toque realmente natural a história, pois naquela época não existia luz elétrica e seria estranho encontrar um lugar muito bem iluminado em um ateliê fechado. Para isso em alguns momentos se percebe que dão um jeito de deixar o local como se tivesse uma luz ambiente por lá. Um exemplo é quando está em casa jantando à luz de velas, essa cena é belamente iluminada mesmo só com a luz das velas.

Rodin não é um filme fácil de assistir, sua dinâmica é lerda em apresentar a vida do artista, em alguns momentos chega a dar sono. Não que ele seja desinteressante, mas o jeito que ele foi filmado mostrando um homem simples, exigente consigo mesmo e com muito diálogo o faz parecer chato. Ele tem seu público, quem gosta de Transformers ou filmes de super-heróis terá certa dificuldade em entendê-lo ou até mesmo de chegar ao seu final. O que vale nessa obra é entender pelo ponto de vista de Rodin como ele criava suas obras e como foi seu relacionamento com sua esposa e com Camille.

Rodin (Rodin,  Bélgica, França – 2017)

Direção: Jacques Doillon
Roteiro: Jacques Doillon
Elenco: Vincent Lindon, Izïa Higelin, Séverine Caneele, Edward Akrout, Nathalie Bécue, Serge Bagdassarian
Gênero: Biografia, Drama
Duração: 120 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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