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Crítica | Seinfeld: 8ª Temporada – Yada, yada, yada

É um tempo de mudança nos estúdios da NBC. Com a saída de Larry David no final da sétima temporada, Jerry Seinfeld ficava com a responsabilidade de manter o incrível nível de qualidade da série, além de lidar com as inesperadas consequências do season finale envolvendo Susan e George. Com isso, Seinfeld retornava em Setembro de 1996 para terminar em Maio de 1997, e o resultado final, que tinha tudo para ser uma catástrofe, é mais um inacreditável ponto alto do seriado.

Atarefado com a produção e roteiro dos episódios (além da própria atuação, claro), Jerry abriu mão de suas apresentações de stand up, que nunca mais abriram algum episódio da série. The Foundation começa devagar para nos situar na vida de George após a morte acidental de sua noiva Susan, que agora terá um fundo monetário em sua homenagem. Temos também o colapso nervoso de J. Peterman que deixa Elaine no controle das publicações de seu periódico e Kramer sendo Kramer, dessa vez aventurando-se no karatê infantil.

Mas se há uma mudança perceptiva, é no tratamento aos coadjuvantes e ao grau surrealista da série. Por exemplo, Newman nunca teve uma participação tão ativa, rendendo momentos hilários em The Chicken Roaster The Andrea Doria, quando forma uma frágil aliança com Jerry a fim de conseguirem um objetivo em comum. Pra não deixar batido, The Package faz uma hilária caracterização de policial malvado para o pacato carteiro, quando tenta incriminar Jerry de fraude pelo correio; pra não mencionar a bizarra subtrama na qual George se submete a um ensaio erótico…

E quando mencionei surrealismo ali no parágrafo anterior, não foi exagero. À medida em que os roteiristas mergulhavam nas ramificações do cotidiano, acabavam por descobrir petróleo na forma de eventos… extraordinários. Em The Bizarro Jerry, um dos melhores episódios de toda a série, temos nada menos do que três: a namorada de Jerry que tem mãos masculinas, o clube noturno que magicamente desaparece após um incidente com George e os Bizarros do título, uma referência ao vilão do Superman que é seu exato oposto. Esse trio de personagens rende ótimos momentos, especialmente com o conflito interno de Elaine a respeito de qual grupo escolher e as gags visuais, como o apartamento do Bizarro Jerry ser geograficamente invertido ao de Jerry, trazer um monociclo pendurado (ao invés de uma bicicleta) e até mesmo uma estátua do vilão Bizarro.

Já em The Abstinence, George resolve entrar em uma abstinência sexual, enquanto Elaine acaba na mesma situação quando seu namorado lhe despeja. Magicamente, George começa a desenvolver uma inteligência sobrehumana, fazendo-o resolver complicados cálculos de Física (“Mas é claro, Zero Absoluto!”), melhorar a performance dos jogadores dos Yankees e até rapidamente aprender Português para seduzir uma garçonete. Do outro lado, Elaine começa a sofrer o efeito reverso: curto e grosso, começa a desenvolver uma burrice sem precedentes. A explicação de Jerry é fantástica:

“Para uma mulher, sexo é como o lixeiro. Você coloca um saco de lixo pra fora e assume que alguém vai vir recolher. Mas, agora, é como uma greve de lixeiro. Os sacos estão se acumulando na sua cabeça. Calçada bloqueada. Caminhos bloqueados. Você está burra”

Esse tipo de fenômeno começa a ser cada vez mais  constante sob a gestão solo de Jerry, e é algo realmente hilário.

Claro, ainda teríamos diversas neuras dignas de Larry David, que ainda voltaria para fornecer a voz de George Steinbrenner. Oras, o que é mais George Costanza do que ser ridicularizado por um colega de trabalho e pensar na resposta perfeita apenas horas depois, e quando o tal oponente agora encontra-se em outra cidade? E, claro, George é capaz de fazer a viagem, provocar o incidente que o fez ser escrutinado para receber a ofensa apenas para usar sua “brilhante” resposta? Este é The Comeback, outro excelente ponto alto da temporada. Além desse bizarro Costanzaismo, as subtramas não decepcionam: Jerry enfrenta um tenista grego charlatão em um concurso de dignidade, Elaine tem um romance platônico com o responsável por recomendar filmes em uma locadora e Kramer fica paranóico quanto a eutanásia. A forma como todos esses 4 eventos culminam no ato final é mais um exemplo da genialidade dos roteiristas da série.

Mesmo que o brilhante Larry David não estivesse mais presente, a oitava temporada de Seinfeldsegurou as pontas com habilidade ao apostar no potencial de seus coadjuvantes e no nível de surrealismo de suas desventuras niilistas.

Agora, só nos restaria uma temporada…

Melhor: The Bizarro Jerry
Piorzinho: The Summer of George

Seinfeld – 8ª Temporada (EUA, 1996-97)
Criadores:
 Jerry Seinfeld, Larry David

Direção: Andy Ackerman
Roteiro: Jerry Seinfeld, Larry David, Peter Mehlman, Larry Charles
Elenco Principal: Jerry Seinfeld, Jason Alexander, Michael Richards, Julia Louis-Dreyfus, Wayne Knight, Peter Crombie, Barney Martin, Liz Sheridan, Jerry Stiller, Estelle Harris
Duração: 22 min. (cada episódio)

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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