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Crítica | Super Drags: 1º Temporada – Superficialidade em um tema complexo

Super Drags é uma série exibida pela Netflix, criada por Paulo Lescaut, Anderson Mahanski e Fernando Mendonça, onde o foco é nos personagens Patrick (Sergio Cantu), Donizete (Fernando Mendonça) e Ralph (Wagner Follare), funcionários de uma loja de departamentos que, quando necessário, são convocados por Vedete Champagne, uma espécie de chefe de operações e se transformam, respectivamente, nas heroínas Lemon Chifon, Scarlet Carmesin e Safira Cyan, para combater qualquer ameaça que venha a surgir e que vise prejudicar a comunidade LGBTQ.

Antes de mais nada é importante citar que, por mais que uma produção traga elementos que exaltem ou coloquem em evidência certas características de determinado grupo social com certo sucesso, no momento em que é realizada uma análise crítica da obra em si, é necessário pesar também os outros elementos que a envolvem. Sendo assim, o objetivo aqui é analisar os aspectos técnicos da obra, e não apenas o que ela trata.

JOVENS TITÃS EM AÇÃO! PARA MAIORES

Um Jovens Titãs em ação! para maiores. Confesso que não sou dos maiores fãs da série. Porém, para qualquer pessoa que tenha visto o filme baseado na mesma lançado recentemente, é inegável a semelhança tanto no traçado da animação, quanto no próprio estilo de humor, que em sua grande parte buscar obter o riso do telespectador através de ações e situações forçadas. Esse tipo de proposta pode trazer uma certa polarização na resposta do público ao que está sendo apresentado. Alguns exemplos dessas situações são o próprio modo de falar das personagens, ou algumas de suas atitudes, como a apalpada que a heroína Lemon faz no criminoso, quando este está desacordado, logo no primeiro episódio.

Sim, claramente o objetivo do seriado é não só satirizar os preconceituosos, o que, por incrível que pareça, não é o caso da grande vilã do seriado, como também exibir alguns dos conflitos enfrentados e até mesmo brincar com situações de seu cotidiano. Porém, de tanto forçar essas situações, as tentativas de gerar humor logo se tornam inconvenientes que tiram qualquer naturalidade dos diálogos.

Provavelmente outra situação que justifica essa tentativa de forçar tanto o humor é o roteiro e o conteúdo da série. Em 5 episódios de pouco mais de 20 minutos, o que temos são histórias onde os heróis tem que enfrentar alguma tentativa de Lady Elza (Rapha Velez) para roubar o highlight, a energia vital dos gays, visando ficar novamente jovem e poderosa. Em meio a isso, temos situações do cotidiano dos heróis, que, como já dito anteriormente, apresentam sátiras de situações da vida real enfrentadas por esse grupo, como o personagem que em certo momento é discriminado por sua forma física, o negro confundido com um criminoso, ou mesmo o personagem que quer apenas um diploma de “macho” para entregar ao seu pai.

Exceto nesse episódio envolvendo o diploma, denominado A cura gay, o qual considero o melhor da série exatamente por dar uma atenção maior a essa situação e aos sentimentos do personagem, no geral, a série é aquilo que vemos em tela, nu e cru. Não há uma preocupação maior em desenvolvimento de universo, personagem ou história.

Outro problema da série é sua vilã principal, Lady Elza, a qual sequestra Goldiva (Pablo Vittar), personagem totalmente desnecessária, e passa a temporada tentando, como citado anteriormente, sugar o highlight dos gays para tornar-se jovem. Não há qualquer apelo na vilã, e nós temos unicamente que aceitar sua necessidade e continuar aguentando até o final da temporada. Esse espaço por exemplo poderia ser muito melhor aproveitado por vilões que realmente tivessem algo contra, ou as Super Drags, ou a comunidade LGBTQ. Um vilão que conseguisse desafiar internamente as personagens, para que elas pudessem evoluir em seus conflitos, tornando-as assim muito mais interessantes.

Porém, apesar de seus defeitos, Super Drags tem sim suas qualidades. Se o foco é no exagero, podemos considerar a dublagem dos personagens um acerto, pois casa perfeitamente com o que está sendo visto em tela. Outro ponto que pode ser considerado positivo é a utilização das referências a alguns elementos da vida real. Fora a personagem claramente inspirada em uma famosa apresentadora de TV brasileira já falecida, as referências foram os momentos que mais funcionaram do ponto de vista cômico. A que remete a uma famosa fala de Gloria Pires, mesmo que rápida, é de arrancar o sorriso dos cinéfilos.

UM POTENCIAL DESPERDIÇADO

Até pelo momento onde temas como minorias e preconceito estão mais em evidência do que nunca, a ideia de uma série que transbordasse de elementos e situações do cotidiano LGBTQ não é de todo ruim. Muito pelo contrário. Mesmo com episódios de curta duração, um melhor aproveitamento do roteiro poderia ter levado Super Drags a desenvolver temas como o preconceito, homofobia, a pressão familiar, de modo mais aprofundado, o que poderia fazer da série um baita acerto e algo realmente inovador. Porém, o humor forçado e o desenvolvimento superficial da história levou a animação a ser apenas mais uma série que, apesar de conter uma ideia interessante, teve seus defeitos se sobrepondo a suas qualidades.

Criado por: Paulo Lescaut, Anderson Mahanski, Fernando Mendonça

Direção: Fernando Mendonça

Roteiro: Vânia Matos, Chico Amorim, Fernanda Brandalise, Marcelo Souza, Paulo Lescaut.

Elenco: Sergio Cantu, Wagner Follare, Fernando Mendonça, Pablo Vittar, Silvetty Montilla, Rapha Velez, Sylvia Salustti, Suzy Brasil, Guilherme Briggs, Carla Pompílio, Mariângela Cantú, Vinicius Barros, Lucas Gama, Patrícia Garcia e Fernando Mendonça

Emissora: Netflix

Episódios:  5

Gênero: Ação/Comédia

Duração: 25 min. aprox.

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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