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Crítica | The Flash é uma espetacular jornada pelo multiverso da DC

Poucas produções hollywoodianas foram tão amaldiçoadas quanto The Flash. Desde a ideia original da Warner Bros de produzir um longa-metragem do velocista escarlate no início dos anos 2000 até o lançamento do novo filme de Andy Muschietti, a jornada foi árdua e repleta de reviravoltas; dentro e fora das câmeras, com a mais recente envolvendo a polêmica figura pública do astro Ezra Miller.

Além dos problemas internos, The Flash ainda é lançado durante um período de incerteza da DC, que deve enfrentar mais um grande reboot de suas propriedades no cinema. Entre todas as questões enlouquecedoras a seu redor, ao menos é reconfortante atestar que o longa funciona sozinho como um grande filme.

Na trama, o corredor Barry Allen (Miller) segue trabalhando como o Flash ao lado da Liga da Justiça. Desenvolvendo sua habilidade para correr na velocidade da luz, ele planeja voltar no tempo para impedir o assassinato de sua mãe (Maribel Verdú), mas acaba criando uma perigosa nova linha do tempo sem a presença de outros heróis.

Analisando a premissa e a campanha de marketing do filme, que aposta no retorno do Batman de Michael Keaton e a introdução da nova Supergirl de Sasha Calle, havia o risco de o Flash ser um coadjuvante em seu próprio filme. Felizmente, o resultado é muito mais concentrado e sólido do que o esperado, graças ao ótimo roteiro de Christina Hodson (de Bumblebee e Aves de Rapina), que triunfa em reunir os diferentes tratamentos anteriores – de nomes como Joby Harold, Jonathan Goldstein e John Francis Daley – em uma história que é essencialmente sobre Barry Allen, e que ao mesmo tempo em que serve como uma aventura multiversal, também funciona perfeitamente bem como um filme de origem e introdutório à mitologia do herói.

Apoiando-se na clássica premissa de “Flash bagunça a linha do tempo”, Hodson é hábil ao explorar um dos subgêneros mais consagrados da Sétima Arte: a viagem no tempo. A situação na qual Barry se mete é completamente derivada de clássicos como De Volta para o Futuro, e o texto se diverte ao colocar seus personagens discutindo e teorizando sobre paradoxos, mas especialmente na decisão brilhante de colocar Barry Allen para contracenar com uma versão mais jovem e ingênua de si mesmo.

Isso garante uma performance genuinamente espetacular do controverso Ezra Miller, que balanceia o papel duplo ao tentar fazer seu Barry “original” amadurecer às pressas diante da situação vulnerável; além de lidar com a tragédia envolvendo sua mãe. Ao mesmo tempo (literalmente), ele brilha como a hilária versão mais estúpida de Barry, que garante diversos momentos de humor bem aplicados e, assim como o protagonista, uma jornada de amadurecimento que culmina em reviravoltas muito interessantes; e que honram a fórmula da viagem no tempo.

E por mais que Miller seja o destaque absoluto, há espaço de sobra para que Michael Keaton brilhe em seu triunfal retorno como Batman. Ainda que bem mais ágil e atlético do que seu trabalho nos filmes de Tim Burton, Keaton se diverte e oferece um papel coadjuvante forte, especialmente pela reverência com a qual Muschietti retrata sua iconografia. De forma similar, a introdução de Sasha Calle como Supergirl surge de uma inversão de expectativas de O Homem de Aço que é surpreendente, e a jovem atriz latina garante uma boa presença e muito carisma como a prima mais velha de Kal-El.

Tendo dirigido as duas partes de It: A Coisa para a Warner Bros, Andy Muschietti é mais um diretor de terror que migra para o gênero de quadrinhos; seguindo os passos de Sam Raimi, James Wan e David F. Sandberg. O cineasta argentino apresenta uma visão dinâmica e rica, que parece olhar diretamente para a arte dos quadrinhos como principal inspiração, apostando em sequências que abrem mão do realismo mais prático de diretores como Christopher Nolan, mas que valoriza a grandeza e o senso de espetáculo de seus personagens poderosos: tudo envolvendo a hiper velocidade do Flash é visualmente espetacular, especialmente durante a sequência de abertura ao lado do Batman de Ben Affleck.

O único problema grave está mesmo nos efeitos visuais. Durante todo o filme, a impressão é de que The Flash é um filme não finalizado, seja pela renderização de seus cenários digitais ou até mesmo elementos mais simples, como a nítida cobertura digital que diversos dos trajes do herói têm; e eu apostaria seguramente que Ben Affleck jamais vestiu o traje do Cavaleiro das Trevas nesse filme, já que seu rosto parece “flutuar” por trás do capuz o tempo todo.

Há também um dos momentos que os fãs mais calorosos da DC já estão sonhando há tempos, onde Muschietti usa dos efeitos visuais para vislumbrar o vasto multiverso da editora. É uma sequência realizada inteiramente através de efeitos digitais, e que pessoalmente não me ofereceram nada além de um mero fan service – com uma ou duas participações genuinamente especiais. O filme em si é muito maior e mais aproveitável do que isso, felizmente.

Mas é um mero detalhe. O resultado final de The Flash é uma obra surpreendentemente coesa e divertida, que tem seus melhores momentos quando aposta nas infinitas discussões sobre viagem no tempo e paradoxos. Independente do que o futuro da DC possa ser nos próximos anos, The Flash certamente será lembrado como um dos pontos mais especiais de sua História.

The Flash (EUA, 2023)

Direção: Andy Muschietti
Roteiro: Christina Hodson
Elenco: Ezra Miller, Michael Keaton, Sasha Calle, Michael Shannon, Maribel Verdú, Ron Livingston, Kiersey Clemmons, Antje Traue, Ian Loh
Gênero: Aventura
Duração: 144 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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