Então, o que pode ser dito sobre esse filme que já não foi dito milhares de vezes até hoje? Poderíamos tentar ser os diferentões e soar um pouco positivo para com o filme, mas aí seria uma atuação de vista grossa com um filme que realmente dá constantes tiros no pé, e que por algum milagre continua andando firme até o fim, e ter feito uma bolada de dinheiro ainda assim recheado de problemas que o amaldiçoaram.
Dito isso tudo, o que quero dizer é, o filme pode ser o desastre narrativo que for e com todos os argumentos de sobra que apoiem essa crítica já bem familiar com o filme, mas que não faz o filme deixa de ser divertido ainda mesmo no meio de tanta ruindade. Um dos melhores guilty-pleasures da última década? Estamos aqui para (tentar) defender isso, ou realmente provar que esse é um filme completamente sofrível, mas que consegue trazer um senso mínimo de diversão blockbuster com todos os traços Michael Bayianos que muitos amam odiar ou odeiam amar.
Não é um filme de todo desastroso como a má fama o dita, mas foi onde com certeza os constantes problemas da franquia realmente começaram a surgir quando decidiram intensificar a ridícula idéia de colocar os personagens humanos na frente protagonista, enquanto os próprios Transformers cujo o filme pertencem, ficavam quase de enfeite de tela, isto é se não fosse por Optimus Prime e os vilões Decepticons que ainda surgem o mínimo de importância e relevância em tela, quase ao ponto do filme poder se chamar de “Bumanos – A Vingança dos Robôs ignorados”.
O que só mostra o quanto Michael Bay nesse filme literalmente ligou o dane-se (evitando um linguajar mais pesado) para tudo que fãs poderiam realmente querer de uma continuação de Transformers, e faz do filme seu playground particular para brincar com o orçamento gigantesco da exata forma que quer. Então pode ir esquecendo qualquer ideia de que Bay aqui liga um mínimo de atenção para tentar construir um ritmo minimamente coeso e uma história bem contada (e que história simplesmente brilhantemente escrita).
Quando estamos em sequências focadas em um mínimo senso de atenção na (suposta) trama e focado nos Transformers, tudo é desenvolvido de forma tão apressada e que quase deixa a entender de que essa parte do filme não interessa nem um pouco à Bay. E quando é pra passarmos tempo com Sam e os outros personagens desinteressantes de alívio cômico ou os políticos militares, perdemos um bom tempo de tela com eles e o constante humor exagerado e caricato de Bay que causa mais risos involuntários por tão ridículo que tudo é.
Suponho que seja exatamente TUDO que os fãs queriam ver em uma continuação de Transformers: um robô gigante peidando um paraquedas; uma Decepticon fêmea dando um beijo de língua em Sam; o alívio cômico latino Leo (Ramon Rodriguez) gritando histericamente tanto quanto Shia LaBeouf; etc.
Isso porque nem comentamos ainda sobre o triplo do dobro de piadas estereotipadas que Bay traz novamente para o seu filme, com robôs gêmeos que falam que nem gangsteres negros, o filme focando um bom tempo de atenção em dois cães fazendo sexo e a mãe de Sam comendo brownies de maconha. Ah, e como esquecer o robô mais gigante e empolgante do filme, ter um close direto no seu suposto escroto. Novamente, TUDO que queríamos de um filme sobre Transformers.
O filme pode ter a trama mais idiota possível e um roteiro que ultrapassa o ridículo, que fora resultado da grande crise dos roteiristas de 2008, mesmo que duvido que teria sido uma maior salvação para o inevitável desastre. Mas, ainda se vê dentro dessa (se é que pode se chamar) narrativa, “sinais” (melhor cacoetes) de uma tentativa de construir um arco de desenvolvimento para o personagem de Sam.
Que assumia aqui a jornada rumo à se tornar um verdadeiro herói, com ele se sacrificando similarmente à Optimus no final, só para ser ressuscitado depois de uma suposta visão dentro do paraíso dos Transformers, e poder assumir seus sentimentos “enrustidos” pela sua amada Mikaela (que o deixa no próximo filme, é a vida) para ele também trazer a ressurreição para Optimus pois era o seu destino o tempo todo, o escolhido do universo Transformers. Novamente, TUDO, exatamente TUDINHO, que queríamos sobre um filme de Transformers.
Mas, em boa compensação à todas essas idiotices, a ação de Bay pelo menos se mostra estar muito melhor trabalhada do que o primeiro filme, ouso dizer. Com bem menos cortes frenéticos nas longas sequências de ação terrestre, e com o uso maior de tomadas mais longas e planos abertos no meio das usuais pirotecnias do diretor. Com o dobro da fotografia saturada do último filme dominando cada milímetro de tela ao ponto de nos fazer lacrimejar em tantas cenas com a luz de Deus Autobot parece querer sair de dentro do filme.
Mas se o primeiro filme parecia uma grande propaganda de carros e masculinidade, o segundo filme é com certeza uma grande propaganda militar, com toda a grande batalha no deserto no final sendo uma das maiores propagandas de alistamento já feitas. Junte-se aos fuzileiros e venha à locais exóticos para atirar em robôs gigantes e salvar o mundo!
E é um filme que ainda, por algum milagre, é fiel ao que diz em sua proposta de tentar ser um filme de aventura mais ala Indiana Jones que Bay constantemente dizia ser uma das suas maiores inspirações aqui. Que consegue trazer um mínimo senso de diversão, e que dá também a perfeita desculpa para Bay filmar nessas localizações exóticas do Egito e se divertir que nem uma criança brincando com bonecos dos Transformers só que com um orçamento gordo para sustentar suas ideias malucas. Não podemos julgar algo que com certeza seríamos também culpados de realizar com tais oportunidades.
Pois então, o que mais mesmo pode ser dito aqui do que você já não ouviu sobre Transformers: A Vingança dos Derrotados?! Talvez que não seja mesmo esse desastre todo que tantos o colocaram por tantos anos, mas que com certeza valida seu status de ser tão ruim e ridículo que consegue te abrir um sorriso por tanta ingenuidade megalomaníaca sendo criada. Como não se divertir?!
Transformers: A Vingança dos Derrotados (Transformers: Revenge of the Fallen, EUA – 2009)
Direção: Michael Bay
Roteiro: Ehren Kruger, Roberto Orci, Alex Kurtzman
Elenco: Shia LaBeouf, Megan Fox, Josh Duhamel, Tyrese Gibson, John Turturro, Ramon Rodriguez, Kevin Dunn, Julie White, Isabel Lucas, John Benjamin Hickey, Peter Cullen, Mark Ryan, Reno Wilson, Jess Harnell, Robert Foxworth, Hugo Weaving, Tony Todd
Duração: 150 min.