Crítica | Transformers: O Despertar das Feras joga muito no seguro

Sem grandes novidades ou riscos (ao menos desconsiderando a curiosa cena pós-créditos), Transformers: O Despertar das Feras é um filme extremamente seguro

Após cinco filmes comandados pela visão megalomaníaca de Michael Bay e um spin-off surpreendentemente emotivo, a franquia Transformers busca formas de se reinventar. Os filmes de Bay não foram exatamente queridinhos com a crítica, mas encheram os cofres da Paramount Pictures com bilhões de dólares em bilheteira; enquanto o derivado Bumblebee, de Travis Knight, fez o oposto ao apresentar um filme muito elogiado, mas não tão lucrativo financeiramente.

16 anos após o lançamento do primeiro filme, o estúdio tenta combinar os dois modelos de negócio com Transformers: O Despertar das Feras, uma espécie de reboot que tenta balancear o espetáculo rentável de Bay com o olhar mais intimista de Knight. O resultado, infelizmente, não acrescenta muito de novo ao jogo.

Na trama, o jovem Noah (Anthony Ramos) precisa desesperadamente de um emprego estável para ajudar seu irmão doente. Quando ele aceita roubar um carro esportivo de uma empresa, Noah se surpreende ao descobrir que o veículo é um Transformer da raça Autobot, que pede sua ajuda para recuperar um artefato valioso que pode levar seus colegas de volta ao planeta natal.

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Escrito por um batalhão de cinco roteiristas, O Despertar das Feras é consideravelmente melhor do que diversos de seus anteriores. Bebendo da fonte de Bumblebee, o filme tem um investimento emocional forte na relação familiar de Noah e seu irmão mais novo, o que garante um primeiro ato sólido e que permite ao espectador torcer para que o protagonista tenha sucesso; e toda a sequência com o primeiro contato com os Transformers, garantindo uma boa cena de perseguição, é realmente inspirada e divertida, assim como o carismático transformer Mirage, que tem voz de Pete Davidson.

É um bom ponto de partida, mas que se torna apressado demais para levar o filme o mais rápido possível para a ação: se Noah tem uma relação crível com sua família, toda a amizade e parceria construída com os robôs transformistas é bem artificial e forçada. A jornada para caçar o macguffin obrigatório, que traz a estagiária de museu vivida por Dominique Fishback, também não é das mais empolgantes, e acaba presa em uma das muitas variações que esse tipo de narrativa já ofereceu na franquia Transformers – com pistas, transformers ancestrais escondidos e locações remotas ao redor do mundo, mas agora com a categoria de “animais transformers”.

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E por falar em animais transformers, os chamados Maximals garantem excelentes criações digitais da sempre eficiente equipe de efeitos visuais. O líder Optimus Primal (sério) é uma das figuras mais expressivas e carismáticas que a franquia já ofereceu, e o cineasta Steven Caple Jr. parece se aproveitar muito mais das expressões mais humanizadas nos robôs.

Já na ação, Caple Jr. é um cineasta muito mais pragmático e consistente do que Michael Bay. Sua visão certamente carece da escala e espetáculo que tornavam os filmes anteriores – mesmo que incompreensíveis – ao menos visualmente impressionantes. Tudo na mise en scéne de Caple Jr. é fácil de acompanhar e seguir, mas pouco memorável ou inovador. De novidade, só a bizarra ideia envolvendo uma cena de ação com Noah e Mirage no clímax, que definitivamente nos faz questionar o que é um filme de Transformers – mas não no sentido positivo da coisa.

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Sem grandes novidades ou riscos (ao menos desconsiderando a curiosa cena pós-créditos), Transformers: O Despertar das Feras é um filme extremamente seguro. Traz bons momentos de ação e personagens carismáticos, mas não o suficiente para tornar a experiência realmente especial ou memorável. Um pouquinho de megalomania Bay faria bem.

Transformers: O Despertar das Feras (Transformers: Rise of the Beasts, EUA – 2023)

Direção: Steven Caple Jr.
Roteiro: Joby Harold, Darnell Metayer, Josh Peters, Erich Hoeber e Jon Hoeber
Elenco: Anthony Ramos, Dominique Fishback, Pete Davidson, Peter Cullen, Peter Dinklage, Michelle Yeoh, Ron Perlman, Colman Domingo, Liza Koshy, Tobe Nwigwe, Cristo Fernandéz
Gênero: Ação
Duração: 127 min

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Sobre o autor

Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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