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Crítica | Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw – Um desenho animado live-action

A franquia Velozes & Furiosos, surpreendentemente, vem rodando desde 2001 nas telas e parece mais forte agora do que foi no passado. Após nove filmes, a Universal Pictures percebeu o valor satírico e absurdo dos filmes que contavam com Vin Diesel como um mero ladrão de DVDs e piloto de corridas, transformando a história em verdadeiras missões para salvar o mundo, reviravoltas dramáticas e discursos açucarados sobre a importância da família.

Eis que nos dois últimos filmes da saga, o show começa a ser roubado por dois de seus personagens coadjuvantes: Dwayne Johnson e Jason Statham, que interpretam, respectivamente, Luke Hobbs e Deckard Shaw. A dinâmica dos dois se tornou explosiva no oitavo filme, e garantiu uma boa dose de humor graças à relação antagônica da dupla. Tamanho o sucesso – e aliado à briga entre Johnson e o astro Vin Diesel – os personagens ganharam seu próprio derivado na forma de Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw, focado justamente em uma aventura isolada dos dois. O resultado não é tão divertido quanto poderíamos esperar, mas explora o potencial da franquia em crescer além de Dom Toretto.

A trama abraça de vez o exagero da franquia ao apostar em elementos de pura ficção científica. Um vírus mortal é roubado pela espiã Hattie Shaw (Vanessa Kirby), que tenta protegê-lo das mãos do perigoso Brixton (Idris Elba), um soldado geneticamente modificado com partes mecânicas, e que pretende usá-lo para fins megalomaníacos de evolução da espécie humana. Diante dessa ameaça, os agentes Hobbs (Johnson) e Shaw (Statham) precisam colocar suas diferenças de lado e trabalhar juntos para encontrar Hattie e impedir o plano de Brixton.

Desenho animado

Logo em seus minutos iniciais, Hobbs & Shaw já diz exatamente que tipo de filme quer ser. Quando o Brixton de Elba aparece e é perguntado sobre sua identidade, ele responde simplesmente que é “o vilão” (e em outra cena ele grita que é o “Superman negro”), e já entendemos que o roteiro de Chris Morgan e Drew Pearce não irá ser dos mais complexos. E nem precisa, já que pretensão dramática nunca foi a intenção dessa franquia, que aqui abraça completamente a atmosfera e proposta de um desenho animado da década 90, bem representado quando Hobbs devora uma torre de panquecas em seu café da manhã.

Tentar discutir qualquer tipo de arco dramático ou até mesmo trama seria futilidade, já que o filme não está interessado nisso. Qualquer reviravolta ou acontecimento é uma mera desculpa para chegar à próxima cena de ação, e eu pessoalmente até não ligaria tanto para isso, se o trabalho de Morgan e Pearce para compor os diálogos carregados de humor fossem mais rebuscados. Não há nenhuma troca de insulto, discussão ou xingamento aqui que supere aqueles protagonizados pela dupla em Velozes e Furiosos 8. E fica ainda pior quando o longa enfia participações especiais de Ryan Reynolds e Kevin Hart por goela abaixo, e os dois simplesmente sequestram o filme para protagonizar suas próprias piadas aleatórias – nunca pensei que referências a Game of Thrones já pudessem ser tão datadas.

Ao menos o elenco parece estar se divertindo bastante. Mesmo que não seja explosivo quanto no filme anterior, Johnson e Statham garantem uma relação interessante e que entretém para seus protagonistas, com raros momentos de amizade sendo recompensas legítimas após as ofensas que literalmente competem para serem as mais elaboradas. Idris Elba assume uma nível de canastrice extremo, e sai bem nas cenas de ação, mas é mesmo Vanessa Kirby quem rouba a cena no papel da irmã de Shaw – sendo uma excelente atriz de ação, e também timing cômico. E, claro, na única cena presente no filme, Helen Mirren novamente nos faz desejar que tivéssemos um filme inteiramente sobre sua personagem; a mãe dos Shaw.

Pouca fúria

Quando chegamos à ação, o resultado não é tão inspirado quanto poderíamos esperar. Em mais um esforço notável, David Leitch (a cara metade inferior de John Wick e dos competentes Atômica e Deadpool 2) tenta bolar uma set piece mais explosiva do que a próxima ao longo de Hobbs & Shaw. Infelizmente, as coreografias de luta parecem cansadas e genéricas, e sem o timing cômico que os dois astros tentam conferir a diferentes golpes e socos – com o maior humor vindo de forma inadvertida, no clímax que envolve uma luta em slow motion. O excesso de CGI também tira o ar das perseguições de carro, motos e veículos militares que passam por cidades como Londres e até Chernobyl.

A exceção fica apenas para o final, quando temos uma sequência de ação que parece realmente prática e chama a atenção. A cena em questão envolve um confronto entre um helicóptero e diversos carros no chão, e foi o único momento capaz de provocar algum deslumbramento com o espetáculo, que ainda é capaz de homenagear as raízes da franquia Velozes e Furiosos ao trazer a famosa tomada digital do “turbo” de NOS sendo injetado no motor dos veículos.

Hobbs & Shaw não tem todo o charme de sua franquia original, mas deve garantir diversão o bastante para quem procura apenas por porrada desenfreada. Johnson e Statham garantem uma boa dinâmica, ainda que a ação fique apenas no nível de competente, mas serve para mostrar que o maluco universo de Velozes & Furiosos pode ganhar histórias derivadas.

Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (Fast & Furious Presents: Hobbs & Shaw, EUA – 2019)

Direção: David Leitch
Roteiro: Chris Morgan e Drew Pearce
Elenco: Dwayne Johnson, Jason Statham, Idris Elba, Vanessa Kirby, Eiza González, Rob Delaney, Ryan Reynolds, Helen Mirren, Eddie Marsan, Eliana Sua, Cliff Curtis
Gênero: Ação
Duração: 135 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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