Quem for assistir ao filme Vivarium sem ao menos ter visto o trailer, lido a sinopse ou sem saber nada a respeito da trama, irá se surpreender bastante com o que irá presenciar com seu mais de 90 minutos. Muitas pessoas irão odiar e outras irão amar a proposta concebida pelo diretor Lorcan Finnegan, seguida de seu roteiro com participação de Garret Shanley que parte de uma premissa original e incompreensível em alguns aspectos.
A história segue Tom (Jesse Eisenberg) e Gemma (Imogen Poots), um casal de noivos que vai atrás do sonho de comprar a casa própria e assim quem sabe um dia poder se casar e ter a sua própria família. Mas nem sempre as coisas são o que parecerem ser nas produções hollywoodianas e nem tudo é tão simples quanto se parece nas ficções científicas.
Logo a narrativa se transforma em um terror sufocante a respeito da vida dos dois personagens, construído de uma maneira que prende a atenção do espectador, isso em um primeiro momento, pois a premissa se mostra interessante em um aspecto dentro da ficção. Tom e Gemma, ao tentar comprar a casa própria, acabam indo parar em uma imobiliária que ao que parece tinha como dono um alienígena, e que os leva para um típico bairro americano bizarro e assimétrico, mas que na verdade se mostra um verdadeiro pesadelo no fim das contas.
O casal acaba ficando preso nesse bairro, não podendo sair do local, tendo que conviver naquele lugar que parece ser infinito, cheio de casas iguais e sem outras pessoas para conversar. Esse é o principal barato do roteiro proporcionado pela dupla Finegan e Shanley, em que é só o início de muitas esquisitices e loucuras propostas e que irão ditar a trama por todo o resto do filme. Uma situação que de início se mostra claustrofóbica e excêntrica, pois fica aquela sensação de que o casal terá que lidar com o estranhamento e assim superar essa nova batalha que vem pela frente, além de descobrir os novos limites que lhes estão sendo impostos para poder sair deste local, isso porque eles nem imaginavam tudo o que ainda viria pela frente.
Quando parecia que a história iria cair em declínio foi acrescentado um novo elemento para que o casal pudesse interagir, até porque a trama se tornaria chatíssima se fosse os dois convivendo dia a dia sem nada que pudesse fazer a narrativa girar para frente. Esse elemento novo é uma criança que é inserida na trama para que os dois tomassem conta dela, um menino bizarro e que deixa bem claro que não é bem um humano, até porque ele não tem atitudes de uma pessoa comum. Só que essa nova presença na história ajuda de início a dar um novo direcionamento para a produção e realmente leva a curiosidade do público a outro nível. Mas o excesso de segredo e a falta de respostas em quem ele é acabam deixando o espectador irritado e na escuridão, e assim acaba perdendo grande parcela do público que havia sido ganho no primeiro e segundo ato, e que então é perdido tão logo no terceiro ato. Isso ainda incrementando que mesmo a criança sendo chata ainda tinha o seu charme, e a fazendo se tornar adulta no terceiro ato perde todo o ar de mistério que ele tinha quando era uma ainda uma inocente criança.
As várias mensagens impostas pela produção são interessantes, mesmo que não aprofundadas, existe uma boa vontade no trabalho do diretor em seu trabalho. A mensagem mais interessante diz respeito a família, até porque Tom e Gemma são um jovem casal, e os pássaros filhotes mortos logo no início por Tom tem um ato simbólico. Esses filhotes não poderiam mais viver em família, e isso já mostrava que Tom era um personagem imaturo e também não tinha um grande apreço pela família, e ao colocá-lo para morar preso de forma forçada em uma casa com sua esposa, representava o ato de o obrigar a firmar um compromisso sério, e ele ao abrir um buraco no chão era a tentativa de tentar fugir daquele relacionamento. Uma metáfora sobre relacionamento difícil de entender e que precisa ir muito longe para compreender. Outra questão interessante do longa é a respeito da aquisição da casa própria, o perfeito sonho americano e que muitas vezes acaba se transformando em um perfeito pesadelo e que em Vivarium esse sentimento é captado perfeitamente.
Há uma aura de esquisitice que paira pelo jeito que toda a trama é abordada, desde o seu início com a chegada no bairro, passando pela infância da criança bizarra que ficava gritando horrivelmente, até a sua chegada a fase adulta. É uma pena que o diretor tenha ficado tanto tempo localizado apenas na casa e não tenha se quer pensado em mostrar o que havia por trás de toda aquela engrenagem, apenas para deixar mais perguntas do que respostas na cabeça do espectador. Algumas referências usadas pelo cineasta vêm logo à mente quando se assiste, até porque há muitas produções na cultura pop em que Vivarium pega elementos, como Feitiço do Tempo (Harold Ramis), mas de um modo diferente, pois os personagens não acordavam no mesmo dia sempre e sim acordavam todo o dia no mesmo local, era um feitiço do tempo ao contrário. Havia também uma referência em relação a série Wayward Pines, uma série desconhecida, mas bastante interessante dirigida por M. Night Shyamalan e que tem uma proposta parecida com o longa de Finnegan.
Atualmente o cinéfilo procura dentro do gênero de horror e sci-fi assistir a um filme que tenha um roteiro que seja original e que prenda a atenção, isso sem que tenha grandes furos. É por isso que é interessante acompanhar a narrativa do longa do início ao fim, mesmo que ela seja um pouco sem pé nem cabeça e mesmo que pareça sem sentido em algum momento, até porque é uma ficção científica. Uma parcela do público não irá curtir Vivarium, e com razão, por não aceitar que os vilões não têm uma motivação específica, por não ter um caráter definido para estarem ali, ou até mesmo por não ter as respostas apresentadas de bandeja, tudo tem que ser decifrado.
Vivarium pode ser considerado um entretenimento vazio, mas que diverte e que mesmo passados alguns anos haverá a lembrança na mente da história, justamente por sua originalidade, algo que acontece com filmes como Corra! e Midsommar que ficam na sua cabeça diferente dos filmes de gênero sobrenaturais e dos tradicionais slasher. Acompanhamos uma ficção diferente do que existe por aí e isso é o mais interessante do filme.
Vivarium (idem, EUA – 2020)
Direção: Lorcan Finnegan
Roteiro: Lorcan Finnegan, Garret Shanley
Elenco: Imogen Poots, Jesse Eisenberg, Senan Jennings, Eanna Hardwicke, Jonathan Aris, Danielle Ryan, Molly McCann, Olga Wehrly
Gênero: Horror, Mistério, Sci-Fi
Duração: 97.