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Crítica | Westworld traz mais dúvidas e mistérios em início de sua 4ª temporada

“Esses prazeres violentos têm fins violentos.”

Com essa frase de William Shakespeare em Romeu e Julieta, Westworld estabeleceu seus principais temas na primeira temporada, que norteou as críticas e todo o simbolismo presentes nesses seis anos de série e deve continuar norteando até o episódio final. Em 2016, o casal Lisa Joy e Jonathan Nolan decidiu trazer de volta pela HBO uma marca esquecida, renovando os conceitos apresentados no filme de 1973 escrito e dirigido por Michael Crichton, Westworld: Onde Ninguém tem Alma.

O universo do filme ainda chegou a ser expandido nos anos seguintes, com a continuação (fraquíssima) Mundo Futuro: Ano 2003, Operação Terra, de 1976, e a minissérie (praticamente impossível de encontrar na internet) Beyond Westworld, de 1980. Mas, apenas com a série reboot da HBO, a franquia tomou um espaço na televisão de uma audiência gigantesca, se tornando um fenômeno, e tratando dos temas apresentados de forma muito mais séria e com uma qualidade de produção impecável.

Hoje, a série volta para a sua quarta temporada, continuando sua estratégia de lançamento de dois em dois anos, que já virou uma marca característica dela. Há quem diga que as duas primeiras temporadas são perfeitas, ou que só a primeira é, mas é inegável que até a terceira apresentou novos conceitos interessantes, concorreu a prêmios, e a série tem se mantido como uma das melhores em atividade hoje.

Nos quatro primeiros episódios desse retorno à quarta temporada, somos introduzidos a novos temas que os escritores querem tratar. E, no meio do primeiro episódio, já somos relembrados do que aconteceu na terceira, então não é tão necessário correr atrás de um resumo. Agora, temos novidades que até então podem ter sido apenas pinceladas, junto das críticas usuais feitas ao longo de toda a história da série. Temos, por exemplo, atores fazendo personagens diferentes dos que estávamos acostumados nos últimos anos, como o mistério apresentado na nova personagem de Evan Rachel Wood, que trazem lembranças e podem fazer referência a temas, por exemplo, de reencarnação (que em alguns momentos fazem lembrar de A Viagem, das Wachowski). Nesse núcleo da personagem de Wood (o mais interessante, apesar de curto dentro dos quatro episódios), somos apresentados também a uma nova personagem, vivida por Ariana DeBose (recém vencedora do Oscar por Amor, Sublime Amor), em um papel intrigante e que ajuda a levantar questionamentos.

A metalinguagem, em certo grau, também está presente, com a série se sentindo confortável a ponto de comentar sobre si mesma e seu método de contar histórias. E que, aqui, podem trazer à memória o recente Matrix Resurrections (também de Lana Wachowski), com referências a videogames feitos dentro da série e camadas da realidade. Tematicamente, isso acaba trazendo de volta alguns conceitos apresentados na primeira temporada, e é impossível não comparar e não sentir saudades de como tão bem feito foram os plot twists no seu final e a apresentação do seu questionamento da realidade. Porém, no tempo da série, a primeira temporada parece História Antiga, sendo referenciada com imagens e objetos, mas deixando claro que agora estamos em um mundo diferente, que veio como consequência do estopim dado pelas decisões daquele início.

O slogan da nova temporada é “Adapt or Die”. “Adapte-se ou morra”. Analisando isso antes de assistir aos episódios, é possível criar uma ideia e algumas teorias do que pode vir pela frente. E, assim como a HBO gosta de fazer em outras séries e já fez em Westworld, a nova abertura da série traz pistas do que podemos esperar, reforçando algumas dessas teorias. Adicionalmente, isso fica ainda melhor pela trilha sonora do compositor Ramin Djawadi (jovem, mas que já está no panteão dos grandes compositores de trilhas desta geração).

Sua trilha evoca os temas que sabemos que podemos esperar, continua boa, e continua fazendo alusões a músicas conhecidas de forma instrumental e diegética (que tocam dentro da história), o que já virou um ótimo padrão na série. Porém, em alguns momentos, não necessariamente por problemas nas músicas, mas sim de escolhas de edição, a trilha parece estar ali para evocar emoções de uma forma exagerada, junto a frases de efeito e falas expositivas dos personagens, o que era menos comum nas temporadas anteriores e acaba fugindo um pouco do padrão de qualidade do nível de Westworld.

Com relação a essa comparação inevitável com as outras temporadas, fica claro que a estrutura da quarta temporada opta por mais ação que filosofia. Por exemplo, personagens lutam quando se encontram antes de conversarem, como acontece nos filmes da Marvel. Mas isso não quer dizer, necessariamente, que é ruim, afinal se espera ação de uma série de ficção científica e faroeste de alto orçamento, o público gosta, e desde a primeira temporada tinha ação. A série pode ser de ação e de alto nível, como foi nos seus primeiros anos. Mas isso pode acabar desapontando um pouco, quando se compara com a importância dada às discussões filosóficas nas outras temporadas e como elas acabam ficando um pouco mais rasas desta vez. Questão de alinhamento de expectativas.

É muito interessante também quando percebemos espelhos com planos e temas que já podem ser considerados clássicos dentro da série, e nossa memória já puxa para o que estava sendo dito lá atrás, quando apareceram de outras vezes (como, por exemplo, Dolores acordando na sua cama). O simbolismo das cores dos chapéus pretos e brancos também volta, mas agora com o direcionamento para uma terceira opção, o que também fala muito sobre os temas que a série quer estabelecer daqui para frente.

Além disso, os novos comentários sociais, também bastante presentes ao longo da série, vão por uma nova vertente. Agora, falamos de relações de trabalho, em comparação com as pontuações dadas sobre especulações do mercado financeiro na terceira temporada. Em alguns momentos, porém, nessa relação com a terceira temporada, somos levados a repensar algumas escolhas criativas que poderiam ter sido melhor exploradas se deixadas para uma surpresa agora. Por exemplo, a revelação chocante sobre o personagem de Ed Harris que nos deixou com um gancho dois anos atrás.

Um comentário adicional é que foi curioso ver como Westworld se adaptou ao mundo pós pandemia. Estamos em um momento em que esse marco histórico que vivemos está sendo refletido nos filmes e séries. Além, claro, de todas as produções terem sido afetadas e adaptadas por trás das câmeras, e Westworld não foi diferente nesse aspecto. Algumas acabam dando mais importância ao seu planejamento inicial e não fazem nenhuma referência à pandemia, como Succession, mas outras acabam direcionando temporadas inteiras para refletir a realidade, como Grey’s Anatomy. Pode-se pensar que Westworld, por se passar em um futuro distante, não teria para quê comentar, mas é feita uma citação bem pequena em um dos episódios, que pode passar despercebida, sobre momentos passados pela humanidade, e o período que estamos vivendo é referenciado.

A primeira metade da quarta temporada de Westworld, então, introduz uma curiosidade grande sobre seus novos mistérios, mas deixando saudade do nível de qualidade impecável das temporadas anteriores. Isso se dá principalmente em relação à abordagem das questões filosóficas tratadas e das surpresas bem feitas, que aqui acabaram ficando um pouco deslocadas e expositivas demais nos diálogos e nas tentativas de evocar emoções do espectador.

Westworld, até a terceira temporada, era uma das melhores séries da atualidade, então a régua da comparação acaba sendo – naturalmente – muito alta. Mas ela continua boa, e ainda tem potencial para continuar assim e finalizar entre as maiores não só da HBO, mas da História da televisão. Só não temos uma próxima temporada confirmada ainda.

A quarta temporada de Westworld começa a ser exibida na HBO e na HBO Max a partir deste domingo (26).

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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