em , ,

O Fantasma da Ópera conquista São Paulo novamente após 14 anos fora de cartaz

Não é a primeira vez que a clássica peça do consagrado Andrew Lloyd Webber visita São Paulo em grande temporada com seu atemporal O Fantasma da Ópera. Em 2005, na época o então Teatro Abril abraçou a produção mais longeva e popular da Broadway em adaptação excepcional com o trio de atores Sara Sarres, Saulo Vasconcelos e Nando Pradho

Apesar de não ter sido a minha primeira visita ao fabuloso teatro que é basicamente uma parada obrigatória a qualquer turista na cidade, simplesmente há um quê muito especial em O Fantasma da Ópera que é capaz de tocar o coração do público de diversas idades, afinal não é à toa que a peça simplesmente nunca saiu de cartaz da Broadway desde sua estreia em 1988. 

Agora, depois de mais de uma década fora da programação do teatro que de Abril, virou Pegeout e agora é Renault, O Fantasma da Ópera está novamente em cartaz já conseguindo ter sua temporada prorrogada diversas vezes em uma produção praticamente tão boa quanto a de 2005. Trazendo o trio Lina Mendes, Thiago Arancam e Fred Silveira como os personagens Christine, Fantasma e Raoul, respectivamente, a obra ainda comove a plateia com eficácia. 

Assombrações na Ópera de Paris

É evidente que a história de O Fantasma da Ópera se trata de uma das maiores tragédias épicas realizadas pela escrita de Lloyd Weber, que adaptou o romance homônimo de Gaston Leroux

Aos que desconhecem, a história é centrada em 1881 na Ópera de Paris que é constantemente atacada por um ser conhecido como o Fantasma da Ópera. Com a nova direção dos bonachões ricaços Firmin (Sandro Christopher) e André (Marcus Lanza), o impiedoso Fantasma demanda que Christine Daaé, uma das bailarinas do ensemble da Ópera seja a protagonista da peça Hannibal substituindo Carlotta (Joyce Martins), a prima donna da peça. 

Através de atentados que possuem escaladas crescentes de advertência e perigo, o Fantasma finalmente consegue emplacar Christine como o maior destaque da peça. Felizmente, Christine consegue dar conta do papel e impressiona a crítica com o teatro lotado. Festejando a conquista de sua amiga de infância, Raoul Chagny, o visconde, a felicita já deixando claro sua grande paixão latente pela moça.

Porém, enquanto a atriz se arruma em seu camarim, seu tutor, o “Anjo da Música” se revela e a congratula, a seduzindo e a encantando para as câmaras subterrâneas da Ópera onde vive e revela quem realmente é: o violento e deformado Fantasma da Ópera. A partir disso, um jogo perigoso de sedução e poder toma conta do lugar com Raoul e o Fantasma disputando pelo coração de Christine. 

A maior mudança, para quem já conferiu a produção de 2005, certamente se trata do elenco extremamente talentoso entre as duas edições. Embora eu possua um certo saudosismo pelo elenco original, o de 2019 não deixa nada a dever apesar de estranhamente nunca um ator específico se destaca dentre os demais como já acontecia em outras produções como Os Miseráveis, A Bela e a Fera, A Família Addams  e Miss Saigon.

Entretanto, quando todo o elenco se reúne no palco, em cenários majestosos (absolutamente iguais aos de 2005, seguindo o padrão rigoroso da Broadway)  principalmente durante a música Carnaval/Masquerade, há uma explosão de energia que possui tamanha força a ponto de contagiar a plateia. 

Na apresentação que fui, do dia 27 de outubro, o único ponto de fraqueza da obra foi justamente o grande tenor Thiago Arancam que estava, aparentemente, um tanto cansado no dia. Obviamente não é nada razoável condenar a peça e nem mesmo o ator por conta de algo tão humano, afinal interpretar o mesmo personagem ao menos cinco vezes por semana ao longo de vários meses de uma longa temporada não deve ser nada fácil. 

Problemas superficiais, mas notáveis na dicção de Arancam tornaram um tanto difícil compreender suas falas, bastante importantes, para compreender a narrativa em plenitude. Talvez seja por conta do sotaque rebuscado que o papel exige, em uma mistura de francês com português, isso também colabore para deixar a situação um tanto mais grave.

Arancam também traz um retrato mais violento do Fantasma. Na versão de 2005, eu, com apenas 11 anos, achava que a versão do Fantasma de Saulo Vasconcelos possuía mais humanidade, digno de maior compaixão da plateia. Essa memória se ateve até hoje para realizar essa comparação. Arancam consegue, sim, nos momentos finais do personagem na peça, trazer toda a vulnerabilidade, melancolia e tristeza que acomete o infeliz personagem.

Porém, para chegar a isso, em todo o restante do musical, seu Fantasma simplesmente é extremamente irritado, dominante, presunçoso e vingativo. Há mais ódio por Raoul e as vaciladas de Christine em sua versão, deixando seus atos violentos realmente detestáveis. É a essência do personagem, esse equilíbrio de violência e carinho, amor e fúria, sedução e vulnerabilidade, que torna o papel tão difícil de realizar. Infelizmente, na apresentação que fui, Arancam não alcança o equilíbrio, mas certamente merece todos os aplausos acalorados da plateia. 

Foto por Marcos Mesquita

2005 outra vez

Todavia, nada disso se torna um desafio para o restante do elenco composto por 39 atores e bailarinos que realizam com precisão cirúrgica as coreografias feitas por Gillian Lynne e replicadas ao redor do mundo inteiro. Se você viu a versão de 2005, então com certeza verá algo praticamente idêntico a de 2019. 

Logo, a qualidade dos espetáculos é, em teoria, totalmente equivalentes. A orquestra ainda enche o salão com os crescentes poderosos que diversas canções possuem como Carnaval, O Fantasma da Ópera, A Música da Escuridão, Já Não Há Retorno Mais e Preciso Ouvir de Ti. É simplesmente majestoso e feito com uma paixão invejável levando ainda mais em conta o trabalho árduo do elenco e dos músicos em suas sete apresentações semanais de quase 160 minutos.

As trocas de figurinos, 230 no total, acontecem em um piscar de olhos, assim como as dos cenários complexos e dos efeitos visuais impressionantes – com destaque, obviamente, para a queda do candelabro maravilhoso que fecha o primeiro ato em grande impacto. É um adorno de cenário tão bonito que é simplesmente impossível não admirá-lo em cima de muitas cabeças que o procuram entre alguns momentos mais sossegados do musical – como as cenas de Firmin e André. 

Enfim, O Fantasma da Ópera continua uma força simplesmente atemporal. É sem dúvidas o maior musical de todos os tempos e com certeza deve ser visto por todos. A produção brasileira se empenha ao máximo para conseguir realizar um espetáculo tão bom quanto o da Broadway e de West End. E realmente conseguem.

A emoção musical de O Fantasma da Ópera é, creio eu, infálivel. É simplesmente impossível não sair minimamente transformado depois do testemunho de uma história de essência tão humana. A história da tragédia do amor impossível. 

Que não leve novamente mais 14 anos para a peça retornar ao Brasil quando sua atual temporada acabar.

Serviço:

Teatro Renault

Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 411 – Bela Vista – São Paulo – SP, 01317000

Quinta e sexta, 21h; sábado, 16h e 21h; domingo, 15h e 20h.

Ingressos de R$ 40,00 a R$ 250,00. 

Avatar

Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Martin Scorsese diz que Coringa está fora de sua crítica a filmes de super-heróis

Daniel Craig defende Phoebe Waller-Bridge após comentários sexistas sobre novo 007