Com nove filmes ao longo de sua longeva franquia, Hellraiser permanece na memória dos fãs do gênero como uma obra de horror marcante, explorando temas como perversão, sexualidade e com intensas cenas de violência. Entretanto, dentre os muitos longas da franquia, poucos são reconhecidos pela sua qualidade, sendo Hellraiser: Renascido do Inferno (1987) considerado um dos melhores. As sequências não conseguiram replicar o sucesso da produção da década de 1980. Daí a importância de um reboot, que resultou em um novo e excepcional capítulo, mantendo o título Hellraiser: Renascido do Inferno.
Adaptado do livro The Hellbound Heart, de Clive Barker, a produção conta a história de Riley (Odessa A’zion) uma jovem que, para nutrir o seu vício, rouba uma pequena caixa quadrada que se assemelha a um quebra-cabeças. Aquele cubo misterioso é conhecido em sua forma original como a Configuração do Lamento, e é utilizada como um portal para o inferno, mas claro que a protagonista não tem ideia da a infelicidade que acarreta ao tomar posse desse pequeno e aparentemente belo artefato.
Dirigido por David Bruckner (A Casa Sombria), o cineasta transforma o filme em uma espécie de homenagem ao original lançado nos anos 1980, incorporando elementos de dor e sofrimento à narrativa. A trama é repleta de cenas intensas, onde a carne é esfolada e retalhada por mecanismos de tortura, proporcionando momentos de puro terror. O ato final é bastante sangrento e cruel, lembrando obras como Jogos Mortais e do body horror apresentado no recente Crimes do Futuro, de David Cronenberg.
Não existe Hellraiser sem a figura de Pinhead, aquela entidade com vários alfinetes no rosto que causa arrepios e medo apenas com a sua aparição. Os cenobitas também desempenham um papel crucial, surgindo com um aspecto bizarro, grotesco e aterrorizante. A intenção é genuinamente provocar um sentimento de angústia no público. Confrontar um cenobita não é algo que alguém desejaria fazer.
Na trama, os cenobitas não servem apenas como elemento de terror, mas também funcionam como catalisadores do pânico no imaginário do público ao apresentar como seriam – caso existissem – entidades demoníacas que buscam causar prazer através da dor, mesmo que esse prazer incessante seja eterno. Os demônios parecem ter saído diretamente de uma obra do Marquês de Sade, com figurinos e armas de natureza mística ao estilo sadomasoquista.
O roteiro, no qual Clive Barker não teve participação, vai por um caminho óbvio ao trazer personagens idiotas e que tomam decisões igualmente estúpidas. A narrativa se torna repetitiva em diversos momentos, com a personagem Riley buscando incansavelmente maneiras de trazer seu irmão Trevor (Drew Starkey) de volta do outro mundo, no qual foi levado pelos cenobitas, mundo esse que possivelmente pode ser o inferno ou não. As inúmeras transformações do Cubo de LeMarchand, além de servir como portal para um mundo de prazer sádico, é também utilizada como elemento de terror, indicando que algo extremamente cruel está prestes a acontecer caso assuma outra forma.
Hellraiser: Renascido do Inferno é certeiro em sua brutalidade, proporcionando doses assustadoras de tensão e pavor. Representa um reinício competente para uma franquia que havia perdido seu foco e caminhava para algo semelhante ao que ocorreu com outras séries que se perderam ao longo do tempo, como é o caso de O Massacre da Serra Elétrica. David Bruckner acerta ao incorporar elementos da obra de Clive Barker, preservando sua essência e mantendo vivo o legado da franquia.
Hellraiser: Renascido do Inferno (Hellraiser, EUA – 2022)
Direção: David Bruckner
Roteiro: Ben Collins, Luke Piotrowski, Baseado na obra de Clive Barker
Elenco: Odessa A’zion, Jamie Clayton, Adam Faison, Drew Starkey, Brandon Flynn, Goran Visnjic
Gênero: Terror, Mistério, Suspense
Duração: 121 min