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Replicante ou Humano? | O final de Blade Runner Explicado

Blade Runner não adquiriu o status de obra cult a toa. Dentre seus vários pontos positivos, há o cerne central da história que envolve o aposentado Blade Runner Rick Deckard e os Replicantes, androides criados pela Tyrell Corporation, mais fortes e inteligentes que os seres humanos, com o intuito de servir aos “seus superiores” humanos. O que é afinal, ser humano?  Independente do seu conceito, é inegável que, normalmente, a humanidade acabe tratando mal os quais são considerados por ela como inferiores, seja um animal, ou até mesmo os seus semelhantes que, por algum motivo, apresentem alguma condição que os impeça de atingir o status de normalidade idealizado pela sociedade.

Em Blade Runner, os Replicantes são considerados inferiores. Criados, como seu próprio criador define, com o único propósito de comércio, sendo tratados como objetos, escravos, que serviam apenas para o propósito de exploração e colonização de outros planetas. Originalmente, esses seres não deveriam desenvolver emoções. Porém, com o passar do tempo, eles começaram a ter suas próprias reações emocionais, o que forçou seus criadores a embutirem uma medida de segurança, onde seu tempo de vida não seria superior a quatro anos.

Agora imagine-se como um escravo. Vivendo conforme a vontade de outras pessoas, sendo tratado como alguém inferior, sem vontade própria, mesmo que você possua inteligência e força física superior a grande maioria de seus donos. Complicado não? Acrescente a isso uma dose de medo, emoções que você teve pouco tempo para entender, e está aí a receita para o caos. Pois é, foi essa combinação que acabou resultando no motim responsável por tornar os Replicantes figuras indesejáveis em nosso planeta.

Porém, será mesmo que eles devem ser tratados assim? Em uma sociedade onde os seres humanos tornaram-se cada vez mais frios, individualistas, os Replicantes são exatamente o que os humanos são em sua essência. É a capacidade de ter e sentir emoções que nos diferencia de máquinas, por exemplo. Porém, a partir do momento em que a humanidade vai se tornando mais e mais “mecanizada”, e criam-se máquinas que conseguem ter sentimentos, há o estabelecimento de uma linha tênue que delimita a diferença desses dois seres, o que acaba tornando esse sentimento de superioridade irônico.

VIDA

Você deve estar se perguntando qual a razão de toda essa longa introdução sobre o que é ser humano e como a linha que divide os seres humanos e os Replicantes, essencialmente falando, é mais tênue do que se imagina. Bom, acontece que são esses fatores que levaram Roy e seus parceiros a buscar encontrar seu criador. O medo os fez revoltar-se na Colônia e vir para a Terra. Não só o medo dos seus donos, mas o próprio medo da morte, que se aproxima cada vez mais, por conta de seu limitado tempo de vida.

LAÇOS CORTADOS

Ao encontrar-se com seu criador, Roy ouve que não há como prolongar sua vida. Sendo assim, de modo semelhante aos humanos, ele o mata, já que Tyrell em nada poderia ajudá-lo. Porém, isso não é apenas vingança. Matar Tyrell também representou o fim de uma busca, a libertação. Roy estava livre para se utilizar de seu tempo restante de vida do modo que bem entendesse. Os laços foram rompidos. E ao encontrar-se com um certo Rick Deckard, Roy mostra como os replicantes podem ser ainda mais humanos que os próprios seres humanos.

O FIM DE ROY

De volta ao apartamento de Sebastian, engenheiro genético que trabalhava para a Tyrell Corporation e foi usado como porta de entrada para os aposentos de Tyrell por Roy, o replicante e sua parceira Pris percebem que alguém chegou. É Deckard. Sendo assim, eles se escondem e armam uma emboscada com Pris se disfarçando para matar o caçador. Porém, ela não é o suficiente para matá-lo, o que leva Roy a enfrentá-lo. Enquanto dá um tempo para o policial fugir após o primeiro confronto, o personagem vê o corpo de sua parceira Pris caído no chão. Ao se deparar com aquela cena, Roy chora e se despede com um beijo. Porém, após presenciar a morte de sua última parceira replicante e perceber que sua vida estava chegando ao fim, Roy decide fazer com que Deckard sinta o que ele sentiu, caçando-o até o momento em que Deckard fica pendurado na beirada do prédio.  o que só não resultou em morte pois Roy, em seus momentos finais, salva o policial, alguém que o caçou e matou sua parceira.

ROY, O HUMANO

Mas afinal, por que Roy simplesmente não deixou Deckard cair? A verdade é que, naquele momento, Roy já havia percebido que iria morrer, que seu tempo de vida estava acabando. Com isso, após se libertar das suas amarras que o ligavam ao seu criador, ele nota que independentemente do que fizesse, seu destino estaria selado. Com isso, o personagem acaba entendendo o valor da vida, amando-a e se tornando assim impossibilitado de matar. Foi nesse momento que um simples sentimento, tão simples, mas tão poderoso e que está em falta em vários momentos no nosso mundo, também floresceu dentro dele. A compaixão. Ele percebeu que Deckard estava caçando-o apenas por não conhecê-lo, não entender o que ele passou, e resolveu tomar essa última atitude, mostrando que há mais de humanidade nos Replicantes do que os seres humanos imaginavam.

DECKARD, O REPLICANTE?

Uma questão que ficou em aberto ao final de Blade Runner foi a respeito da verdadeira identidade de Rick Deckard. Ao decorrer do filme, pequenas pistas são apresentadas, porém, é algo que provavelmente não teria levantado tantos questionamentos caso o fim do filme fosse diferente. Ao chegar em casa e deparar-se com Rachel, um novo modelo de replicante que trabalhava na Tyrell Corporation e tornou-se o interesse amoroso do personagem, Deckard percebe que não pode mantê-la em casa, tendo em vista o status dos personagens no filme. Sendo assim, ele decide ajudá-la a fugir. Porém, quando estavam saindo, Deckard encontra um origami em formato de unicórnio. Podemos logo associar que foi deixado pelo policial Gaff pois, logo ao início do filme, em determinado momento, a câmera foca no policial deixando um origami sobre a mesa de seu chefe, quando Deckard se reuniu com o mesmo. Aliado a isso temos a voz do policial ecoando na mente de Deckard, que apanha o origami e sai.

Toda essa situação poderia ser vista como algo sem significado, porém, em determinado momento do filme, quando ainda investigava o paradeiro dos replicantes foragidos, Deckard tem uma espécie de sonho/lembrança com um unicórnio. Essa foi outra cena que parecia jogada no filme, porém, ao vermos a cena final, uma conexão é feita. Afinal, teria sido mera coincidência, ou Gaff sabia do sonho/lembrança de Deckard? E se sabia, como? O policial desde o início aparenta não sentir o menor afeto pelo caçador, o que nos leva a crer que não teria como ele saber desse sonho diretamente por Deckard. Sendo assim, e se Deckard for um replicante? Isso explicaria o possível acesso de Gaff a esse sonho, uma vez que o próprio caçador teve acesso as memórias implantadas de Rachel.

Ainda existem outras evidências que embasam essa teoria, como o fato de Deckard ficar calado quando Rachel pergunta se ele já aplicou o teste Voight-Kampff, teste que detecta quem é replicante, em si mesmo, ou então o apreço do personagem por fotografias, característica também compartilhada pelos replicantes. Outro ponto é o motivo de Deckard ser considerado o único capaz Blade Runner capaz de caçar os fugitivos. Particularmente, nenhuma característica do personagem havia se destacado para que tal afirmação fizesse total sentido pra mim. Até o momento de seu confronto com Pris. Quando a personagem está lutando com Deckard, ela tenta enforcá-lo com as pernas, quebrar seu pescoço com as mãos, bate com as duas mãos ao mesmo tempo na cabeça de Deckard, e por fim, coloca os dedos no nariz do personagem e faz força puxando para cima. Porém, nenhuma dessas ações consegue matá-lo. Oras, se replicantes são seres mais fortes fisicamente que um humano normal, qualquer uma dessas ações provavelmente teria servido para matar o caçador. Mas nenhuma serviu, e isso causou surpresa até mesmo na personagem, vide suas expressões, constantemente expostas com closes em seu rosto. Seria essa uma própria indicação do diretor Ridley Scott de que deveríamos observar essa situação com mais atenção?

O fato de Deckard ser replicante explicaria perfeitamente tanto o personagem não ter sido morto nas mãos de Pris, por conta de sua resistência física acima do normal, quanto ele ser o melhor caçador, afinal, quem melhor para caçar os replicantes do que um outro replicante? E ainda há outro ponto que é: O que impede Deckard de ser um dos androides? Como podemos ver, os seres humanos não são exatamente melhores, ou até mais humanos, do que os replicantes. Sendo assim, colocar o personagem como humano pelo único argumento de “ser como nós” é falho. Inclusive, se observarmos, embora cace os replicantes por ser a sua função, Deckard é, dentre os supostos humanos, quem mais apresentou características emocionais dos replicantes, como o claro incômodo em matar um deles, ou mesmo se apaixonar e se importar com alguém, a ponto de, teoricamente, ter fugido com Rachel apenas para protegê-la.

A PERGUNTA SERÁ RESPONDIDA?

Toda essa teoria sobre a identidade de Deckard pode ter uma data para ser respondida: Hoje. Um dos motivos de euforia para Blade Runner 2049 é exatamente a possibilidade da confirmação da identidade de Rick Deckard. Embora os fatos apontem para o personagem ser um replicante, apenas Denis Villeneuve e Ridley Scott conhecem a real identidade deste que é um dos personagens mais conhecidos da cultura pop.

Redação Bastidores

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