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Análise | Nier: Automata – A Reconquista da Honra da Platinum Games

Era extremamente improvável que um game já relativamente desconhecido em seu lançamento em 2010 ganhasse uma sequência em 2017 que também se tornaria um dos jogos mais desconhecidos dessa geração. Nier chegou em 2010 sem fazer muito barulho, mas conquistou um nicho poderoso de fãs que abraçaram a ideia pós-apocalíptica de sua narrativa.

A ficção científica com traços de narrativa nipônica clássica de animes/mangás tinha um potencial imenso que voltou a ser aproveitado sete anos depois. Também surgindo sem muito barulho e exclusivamente para o PS4 (por algum tempo), Nier Automata trazia o renascimento tanto da franquia quanto do estúdio responsável pelo seu desenvolvimento.

Digo isso, pois a Platinum Games, responsável por games excelentes como Bayonetta e Vanquish estava amargando uma série de lançamentos ruins e pobremente recebidos pelo público e pela crítica especializada. Nier Automata era justamente tudo o que a Platinum precisava na época para reconquistar seu prestígio no mercado.

Ser ou Não Ser

Apesar de não ser necessário ter jogado Nier para compreender a história de Nier Automata, o jogo pode ser relativamente confuso em seus momentos iniciais. O prólogo agitado do game já oferece grande parte da dimensão dos desafios que a androide 2B, um modelo de alta complexidade da YorHa, encarará em sua missão eterna em destruir as máquinas de inteligência artificial rudimentar que dominam o que restou da Terra.

Nesse capítulo eficiente em sintetizar as relações e conflitos do game, conhecemos o androide 9S, um modelo de reconhecimento, combate e hacking que auxiliará 2B em sua jornada enquanto uma relação de amizade e amor floresce entre eles. Os androides YorHa foram criados para lutar pela humanidade com o intuito de reaver a Terra, invadida por alienígenas que ativaram um exército de máquinas que dizimou grande parte da humanidade.

Os que sobraram se refugiaram na lua criando a YorHa para combater os aliens e seus acólitos. Porém, esta guerra parece não ter fim enquanto milênios inteiros se passam. A diferença é dessa vez, 2B e 9S descobrem diversas mudanças de comportamento nas máquinas que fogem de suas programações normais. Tudo isso renderá um dos mistérios mais assustadores que a YorHa já encarou.

Nier Automata é um game de muitas qualidades, mas com certeza o que mais se destaca é sua narrativa que, apesar de relativamente curta, consegue conquistar o jogador pelo carisma de seus protagonistas, a relação entre eles e as diversas críticas sociais muito bem inseridas em seus capítulos de investigação com as missões principais do jogo – as secundárias são bastante genéricas e geralmente não valem o tempo do jogador.

Apesar do jogo não situar muito bem o jogador sobre as características dos androides, ao longa da narrativa é possível notar que, apesar de possuírem diretrizes sobre não se emocionarem, 2B e 9S possuem uma vasta gama de emoções que os tornam muito próximos de serem praticamente humanos. 9S é o mais propenso a sentir diversas emoções, inclusive uma paixonite boba por 2B que tenta resistir a todas as aproximações amigáveis de seu parceiro – o game explica a razão disso, mas é necessário muito esforço do jogador para descobrir.

Além da relação entre os protagonistas ser ótima e contar com dublagens excepcionais, o game sustenta sua história através de reviravoltas bizarríssimas que impelem o interesse do jogador para ver como a história termina. A cada nova fase, as máquinas apresentam características complexas que tangem sexo, entretenimento, relações de governo, militarismo e, por fim, religião. Isso oferece a dose necessária de novidades, mas há certa estrutura repetitiva nos encontros com os antagonistas Adam e Eve, além das dificuldades que os androides passam.

Já para os antagonistas, as características clichês de vilões de anime são bastante presentes. Os roteiristas não conseguem conferir personalidades interessantes o suficiente além de uma motivação pelo fascínio na ordem humana e sua cultura. Adam se destaca mais ao longo do jogo, mas Eve certamente é o mais fraco apesar de ser o vilão final do game. Aqui, há a tentativas dos escritores emplacarem a razão da engrenagem da guerra ser o ódio, um dos sentimentos mais humanos possíveis. Nisso, tanto as máquinas comandadas por Adam e Eve quanto 2B e 9S descobrem, conjuntamente, emoções cada vez mais complexas.

Aqui, se torna a busca não intencional pelo humano. E para compreender a história em sua totalidade, é preciso finalizar o jogo pelo menos três vezes para conquistar o final verdadeiro que pode ser sim bastante confuso, pois justifica melhor a presença da personagem A2 que é basicamente ignorada no primeiro gameplay.

Em suma, o único ponto realmente negativo que envolve a narrativa é a falta de recursos na produção de Nier Automata – isso ocorre em diversos segmentos do game. Em parte significativa da narrativa, não temos dublagem, apenas texto. É uma quebra de imersão que remete muito a games da geração do PS2 e certamente prejudica a apresentação do jogo.

Gameplay Platinado

É um fato que a Platinum é extremamente competente em criar sistemas de combates incrivelmente fantásticos e complexos, além de presentear os fãs sempre com lutas contra chefes icônicos. Com muita experiência na bagagem em combates exagerados, Nier Automata provavelmente seja o ápice da Platinum em questão de combate.

Apesar do jogo raramente encorajar maiores variações com as diferentes espadas que podemos obter no mundo semi-aberto do título, as variações de combos são extremamente orgânicas e agitadas, fazendo jus à essa velocidade absurda de movimentos para um androide de última geração.

Como o design dos setores do mundo aberto que funcionam como fases forçam mudanças de perspectiva de câmera chegando até mesmo a momentos em 2D e câmeras azimutais, há essa variedade de jogabilidade que, embora diversifiquem o combate e a direção artística do jogo, é fácil ficar perdido por conta dos elementos em tela. É explosão para todos os lados, peças de robôs voando, faíscas e tiros brilhantes voando. Impossível distinguir seus movimentos e, nessas horas, o jogo se torna um belo button smasher prazeroso, até você tomar dano sem saber como.

No fim, as mudanças de perspectiva, pelo menos as 2D, funcionam como uma faca de dois gumes. Trazem variedade artística, mas prejudicam o entendimento do que se passa em tela. Uma pena, porém, que a falta de recursos no orçamento limite de modo explícito esse jogo. Há muita falta de esmero técnico envolvendo bugs e designs artísticos mais inspirados para os setores do mundo aberto que visitamos.

Além de ser visualmente nada expressivo, o mapa é amaldiçoado por diversas paredes invisíveis que limitam a exploração do jogador de modo crucial. É uma verdadeira frustração explorar o mapa repleto de limitações que praticamente tornam o jogo em uma experiência linear. Mesmo havendo um mini mapa disponível, alcançar os objetivos por vezes é uma empreitada complexa. Ao menos, temos distinções claras nos setores do mapa que mostram mais desse mundo arruinado.

Apesar do jogo não encorajar o uso de certos recursos nas dificuldades mais baixas, é importante mencionar que há um sistema de aprimoramento de armas, diversos itens que aumentam atributos dos personagens, além de habilidades especiais para designar ao seu Pod, um robozinho que auxilia 2B a todo momento.

A Promessa do Amanhã

Mesmo por conta dos problemas certamente graves apresentados, principalmente na versão de PC que para rodar direito é preciso baixar um patch feito por um fã, as qualidades de Nier Automata sobressaem seus defeitos técnicos.

A Platinum conquista facilmente os jogadores pela história fascinante de ficção científica que possui reviravoltas imprevisíveis e bem audaciosas para o subgênero envolvendo inteligências artificiais, além de motivar os jogadores através do combate fluído viciante muito bem pensado. Há momentos verdadeiramente inspirados que poderiam ser ainda mais impactantes em termos de apresentação caso o projeto tivesse recebido maior orçamento.

Com vendas expressivas e sendo um dos games subestimados mais interessantes da geração, Nier Automata é a dica perfeita para todo gamer que adora jogos hack n’ slash com pitadas de RPG e exploração de mundo aberto. Com fator replay alto para ver todos os finais principais, o jogo tem uma vida útil prolongada artificialmente – na primeira jogatina, é fácil concluir a campanha em dez horas.

Agora com o preço mais convidativo e praticamente uma consagração unanime, garanto a vocês que Nier Automata é sim um dos grandes games dessa geração que merece certamente estar no seu catálogo quando o período de lançamentos ficar mais brando.

Pontos positivos: trilha musical estupenda, excelente narrativa e personagens, sistema de combate impressionante e orgânico, ótimo level design em seções lineares do game, bons chefes de fase, finais diferentes.

Pontos negativos: opção pelo mundo aberto é fraca e pouco inspirada, diversos problemas técnicos gráficos, paredes invisíveis, bugs ocasionais, mecânicas pouco encorajadoras para a experimentação com armas e combos em níveis mais baixos, fator replay artificial.

Nier Automata (Japão – 2017)

Desenvolvedora: Platinum Games
Estúdio: Square Enix
Gênero: RPG de ação
Plataformas: PS4, PC, Xbox One

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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