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Análise | Star Wars: The Force Unleashed II

Obs: contém spoilers do game anterior

Graças ao imenso sucesso de The Force Unleashed, a LucasArts já foi sábia em encaminhar uma sequência que foi lançada dois anos depois da estreia da franquia. Também cercado por hype, Force Unleashed 2 foi um título que prometeu muito e cumpriu muito pouco não conseguindo superar a sombra do primeiro jogo.

A má recepção do último game da LucasArts repercutiu bastante na época do lançamento do game. Entre as principais reclamações da crítica especializada e dos jogadores assíduos, a que mais se destacava em uníssono era: o jogo é curto demais. É de fato é.

The Force Unleashed 2 é um game aquém de seu potencial ao mostrar como a LucasArts trocou os pés pelas mãos em 2010.

Guerras Clônicas?

O roteiro é novamente capitaneado por Haden Blackman, o mesmo autor do primeiro jogo. O objetivo da história é fazer com que ela parece bastante independente da anterior, apesar de não conseguir esse feito integralmente, embora seja difícil se perder no roteiro ainda mais simples deste jogo.

Com toda a certeza, a principal mazela de Force Unleashed 2 é sua história que definiu a pífia duração do jogo – é possível zerar o game em quatro horas. Dessa vez, encarnamos novamente Starkiller. Darth Vader, ainda obstinado a conseguir um aprendiz perfeito que obedeça suas ordens sem questionar a moralidade das missões, “clona” Starkiller através do DNA de seu cadáver.

Testando o clone mais promissor, Vader ordena que Starkiller mate um dróide disfarçado de Juno Eclipse, o interesse romântico do herói no primeiro jogo. Por conta de alguns insights de seu corpo original ou de suas memórias suprimidas, o “clone” de Starkiller não consegue ferir o robô e escapa do confinamento de Vader.

Fugindo de Kamino, o planeta especializado na produção de clones, Starkiller parte em busca de reencontrar General Kota e Juno para redescobrir seu verdadeiro papel na guerra contra o Império.

Se eu falasse que o roteiro praticamente acaba em apenas duas viradas após isso, ficariam incrédulos, mas realmente é o que acontece. Como jogo, Force Unleashed 2 é basicamente um espirro. Um espirro muito divertido.

No storytelling, Force Unleashed 2 é basicamente um fracasso, não conseguindo agregar em absolutamente nada para o ex-cânone de Star Wars. A única discussão que envolve é a desconfiança se Starkiller realmente é um clone ou se ele de fato é o protagonista do jogo anterior que sobreviveu depois da luta contra Darth Sidious.

De resto, muito pouco se salva, apesar da história manter seu interesse aceso. Nunca temos um desenvolvimento nítido para o personagem que basicamente não questiona sua natureza como clone. Não há interesse em descobrir se ele é mesmo o Starkiller original ou algo do tipo. Nem a relação com Vader ou os outros personagens como Kota ou Yoda torna-se memorável. Aliás, Kota vira um personagem irritante por sempre tentar desmotivar o resgate de Juno que basicamente vira um mcguffin descarado para conferir propósito em uma jornada sucateada.

Ainda dividindo a conclusão entre finais bons e ruins, a história de Force Unleashed 2 não consegue nem mesmo se fechar satisfatoriamente recorrendo à pretensão de um terceiro jogo.

Apesar de raquítica, como disse, a história não é detestável, mas se torna basicamente um filler sem nenhum propósito.

Reformas na Força

Se a história falha consideravelmente, a LucasArts ouviu os fãs e reformou bastante a mecânica do jogo em sua sequência. Muita da atmosfera excepcional da física de partículas e colisões foi preservada, mas também diversos elementos foram aprimorados. Jogar The Force Unleashed 2 é uma dádiva de tão fluido que é seu gameplay.

A principal novidade é a mudança no sistema de combos e combate. Dessa vez, Starkiller porta dois sabres de luz tornando o game ainda mais rápido. Podemos misturar alguns poderes da Força para desferir ao longo dos golpes sem quebrar a sequência como usar um empurrão embutido na lâmina ou disparar raios sith através da espada. Com a manutenção da esquiva potencializada pela Força, o combate é extremamente dinâmico. Basicamente se torna o melhor combate de hack n’ slash que já vi em um jogo do tipo.

Os poderes da Força foram igualmente aprimorados. Digamos que eles têm mais “peso” ao serem lançados. Tanto o empurrão quanto o raio e o force grip, o “agarrão”, agora se comportam com mais violência ao interagirem com inimigos e cenário. O raio, em seu último upgrade, consegue incendiar os inimigos, além de iluminar boa parte do cenário. Já o force grip foi consertado significativamente. Agora é mais fácil pegar inimigos e objetos para lançarmos aos ares. Porém, a adição mais fantástica do grip é o massacre dos TIE Fighters que se comprimem até virarem uma bola de aço quando usamos a Força.

O sistema de evolução do personagem também é menos complexo. A árvore de habilidades foi reduzida apenas para aprimorar a Força e seus poderes. O sistema de compra é feito pelos pontos adquiridos ao cumprir objetivos ou destruir oponentes. Para aumentar as barras de vida e força, é preciso pegar alguns holocrons espalhados pelas fases.

Aliás, ainda é preservado, em escala reduzida, a customização de sabres e vestimentas do personagem. A cada nova fase, um figurino novo é desbloqueado e os cristais coloridos – agora com adicionais já embutidos na cor, estão espalhados em holocrons. É possível combinar sabres de duas cores distintas ao mesmo tempo.

Redução a custo de?

Em entrevistas na época, os produtores do game já diziam que teríamos menos oponentes no jogo se comparado ao primeiro título. E realmente é um fato. A redução de inimigos é gritante. Não enfrentamos alienígenas em basicamente momento algum. Os oponentes entram no rodízio de 3 variações de troopers, guardas reais com sabres vermelhos, guardas sensitivos à Força, AT-STs, um andador que dispara foguetes e lança chutes e dois outros andadores que lançam chamas ou vapor de gelo. Basicamente, é isso o que deixa mais evidente o quanto o jogo é repetitivo.

O game não conta com a variação de objetivos presente no 1 e nem com as divertidas caçadas aos Jedi que marcaram tanto as lutas contra chefes de fase. Em termos de game design, The Force Unleashed 2 é uma decepção tremenda também. A LucasArts, atenta a novos modelos de gameplay, tentou conferir vislumbres mais inspirados para o jogo. Uma pena que essas seções mais “roteirizadas” nitidamente inspiradas em Uncharted só aparecem duas vezes e se repetem em mais outras duas, tornando a grande novidade algo absolutamente broxante.

O mesmo acontece com o level design, muito mais empobrecido ante o jogo anterior. A diversidade de cenários não é tão expressiva como antes, já que em diversos momentos é possível notar locais reciclados ao longo do progresso linear das fases. Ao longo do progresso, temos apenas 4 ambientes diferentes sendo que somente 3 são verdadeiramente abertos para a jogatina: Kamino, Cato Neimoidia e a nave Salvation.

Kamino e Neimoidia são os cenários mais interessantes. Kamino é recriada com bastante acuidade fílmica apresentando uma nova dimensão do planeta chuvoso dos clones. Já Neimoidia possui cenários majestosos por conta de ser uma cidade içada aos ares constituída por pontos, arranha-céus e cassinos.

Já nas fases destinadas à Salvation, a direção do jogo toma um rumo inesperado e mais interessante ao fazer o game flertar com a atmosfera de survivor horror como em Dead Space. A atmosfera assustadora é garantida pelo rastro de destruição que acompanhamos na Salvation, além da iluminação ser melhor elaborada, trabalhando com mais sombras e escuridão. É justamente aqui que um dos pontos mais altos do jogo se faz notado: o estupendo design de som.

Os mesmos objetivos, novas texturas

Mesmo assim, com as três mudanças de ares em cada fase, o jogo permanece bastante repetitivo pedindo os mesmos objetivos, sempre. Basicamente, matamos muitos oponentes indo do ponto A para o B, resolvemos um puzzle simples para abrir um portal e retomamos a matança até chegar no chefe de fase. Dessa vez, não é possível percorrer o nível inteiro livremente matando pouquíssimos troopers. A LucasArts corrigiu isso recorrendo aos “portais” que só liberam após limparmos aquela seção da fase. Esse entrave só contribui para deixar mais evidente a repetição massiva em um jogo de somente 4 horas.

O exagero também retorna em The Force Unleashed 2. Em busca do épico, a LucasArts comete os mesmíssimos equívocos de outrora. Somente um dos três chefes de fase tem a duração correta de batalha por conta das mudanças de estratégia que assumimos a cada proporção de dano que o Gorog recebe na arena gladiadora de Neimoidia. É uma luta fascinante e bastante divertida em totalidade.

Porém, as outras duas, contra o Walking Terror, um robô-aranha protegido por escudos, e contra Darth Vader, decepcionam bastante. A primeira, em Salvation, é um porre de ser concluída por conta da burocracia exigida para desativar os escudos do droide. Fora o fato dele lançar os pequenos robozinhos que drenam energia a todo o momento. Com bastante paciência, é possível derrotar o Terror.

Já com Vader, a luta mais intensa do game, o time comete o exato mesmo erro do chefe anterior. A batalha é divertida, em partes, porém muita coisa é comprometida por conta da extensão colossal da luta. É como se os desenvolvedores estendessem ao máximo esses trechos para render alguns minutos a mais para a duração ridícula do jogo.

Com o lorde sith, na primeira metade da luta, temos a insistência em jogar diversos clones não finalizados contra o jogador. Alguns, sensíveis à força, outros que usam sabres – reciclagens de outros oponentes prévios do jogo. Com Vader pulando de plataforma em plataforma, além disso, a luta se torna maçante pela repetição dos elementos: combater clones, jogar tanques em Vader, pular para outra plataforma e, enfim, batalhar contra o vilão. Chato. Repetitivo.

Um precursor visual

Diante de tantas roubadas feitas pela LucasArts em game design e das más escolhas tomadas pelos fatores já expostos, é impressionante a evolução da engine gráfica própria da desenvolvedora entre os dois jogos com apenas 2 anos de diferença.

Não é exagero dizer que Force Unleashed 2 é um dos dez jogos mais belos da geração passada. Aliás, os gráficos conseguem se sustentar até hoje, caso jogue a versão de PC no setting máximo. A riqueza de detalhes, cor e saturação adequada deixam qualquer um fascinado, além das texturas ricas que estampam o mundo do game. Desde aço derretido, roupas molhadas, oscilações nos sabres de luz, na física da chuva reagindo ao vento, cenários e personagens, enfim, é de deixar qualquer um maravilhado.

Essa perfeição técnica realmente consegue dar um grau de imersão e realismo nunca vistos até Star Wars: Battlefront. Nos sentíamos verdadeiramente dentro do universo exuberante de Star Wars. Uma pena que o visual estupendo seja sacrificado por cenários pouco inspirados e reciclados.

A Força Moribunda

Diante do jogo anterior, é bizarro notar o retrocesso deste game que marca o epitáfio da gloriosa LucasArts. Como uma equipe tão criativa que conseguiu realizar um dos melhores jogos da franquia também deu origem a um dos jogos mais decepcionantes de uma geração inteira? Em vez de ser um retorno apaixonado, The Force Unleashed 2 mais pareceu um retorno amargo e obrigatório para dar prosseguimento a um projeto de franquia milionária. Tanto que o terceiro game já estava encaminhado até ser limado com o fechamento da produtora.

De modo algum Force Unleashed 2 é um jogo horroroso ou deplorável. Ele diverte até certo ponto, apresenta melhorias de mecânicas necessárias, além de contar com uma parte técnica exuberante com seus gráficos e desenhos sonoros. Porém, tudo vai por água baixo diante da inacreditável repetição presente em um jogo de míseras quatro horas.

Agora cabe à EA Games em resgatar o saudoso espírito dos jogos da LucasArts. Nada mais propício para este 2017 que promete muitas novidades para a franquia. Uma nova esperança.

Pontos positivos: excelente desenho de som, gráficos de ponta, gameplay fluido excepcional, novo sistema de combos, menus mais intuitivos e rápidos, mudanças interessantes de atmosfera, simplificação da árvore de habilidades, boa dublagem, possibilidade de desmembrar inimigos com golpes de sabres de luz, novos poderes como Jedi mind trick e Jedi Rage, novas texturas e animações para os poderes da Força.

Pontos negativos: inacreditavelmente curto, repetitivo e pouco inspirado, lutas contra chefes se alongam além do necessário, pouca variação de inimigos, intensa reciclagem de cenários, história filler, personagens perdidos que traem sua essência, poucos planetas e cenários, trilha musical inexpressiva, final broxante, bugs ocasionais, versões de consoles e pcs sem todo o conteúdo – versão de Wii tinha fases adicionais e mudanças de estrutura mais interessantes.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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