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Análise | Star Wars: The Force Unleashed – Ultimate Sith Edition

Difícil não apostar que um mísero fã de Star Wars não tenha caído no grande hype que cercou o anúncio e lançamento de uma das últimas obras da saudosa Lucasarts: Star Wars: The Force Unleashed. Lançado em 2008 para praticamente todas as plataformas existentes na época – incluindo Wii, Force Unleashed explorava o terreno fértil do hiato entre os episódios III e IV da saga respondendo a uma questão que poucos haviam perguntado: afinal, Darth Vader teve um aprendiz?

Sim, teve um aluno excepcional: o misterioso Starkiller, o protagonista da aventura retratada no game. Em uma das primeiras incursões imperiais em Kashyyk, Vader continua sua missão de matar Jedis espalhados na galáxia. Nesta missão, encontra um Jedi desertor. Durante a batalha, descobre que o mesmo possui um filho muito sensitivo à Força. Após matar o velho Jedi, Vader sequestra o garoto e passa a treiná-lo, secretamente, como aprendiz para ir à caça de Jedis sobreviventes da Ordem 66.

O Cânone que nos dá saudade

O roteiro de Force Unleashed, assim como todas a maioria das obras derivadas da saga original de George Lucas, era considerado canônico até a Disney comprar os direitos da franquia. O que diferenciava Force Unleashed das outras obras, era a benção e envolvimento direto de George Lucas no projeto, supervisionando as ideias propostas pelo roteiro capitaneado por Haden Blackman.

E de fato, uma das melhores características do jogo é seu enredo inspirado. Mesmo que falhe bastante em configurar camadas para os promissores protagonistas, a história encaixa tão bem no contexto geral da saga que é difícil não ficar impressionado com as ideias corajosas trazidas aqui.

Devido ao ritmo apressado, nós dificilmente conhecemos Starkiller de fato, mas o roteiro se propõe em estabelecer um arco completo de transformação de Sith para Jedi, honrando um conflito inconsciente do protagonista na sua divisão dos dois lados da força representado pelas duas figuras paternas de sua vida.

Acabamos simpáticos ao carisma do personagem por conta do conflito humano, além de reconhecermos o aflorar de um romance com a piloto de sua nave, a imperial Juno Eclipse, e da amizade com o cínico e psicopata robô Proxy que sonha, explicitamente, em matar Starkiller.

Force Unleashed funciona basicamente como dois jogos em um. Na primeira metade do game que contempla 4 fases, somos missionários diretos de Vader na caçado aos Jedi perdidos – incluindo alguns do canon oficial dos filmes como Shaak Ti. A verdadeira intenção de Vader com Starkiller, é usar o sith como aliado para destronar o Imperador.

Depois das incursões contra os Jedi, o game conta uma ótima reviravolta, embora previsível, e passa a tornar a figura de Darth Vader bastante complexa por conta dos planos e pedidos que ele passa a Starkiller na segunda metade do game. A partir desse ponto, diversos personagens conhecidos aparecem na narrativa como Bail e Leia Organa, Mon Mothma, entre outros. O destaque desse arco se concentra nos ensinamentos Jedi passados por General Kota que também orienta Starkiller diversas vezes.

Então temos sim um arco bem definido que divide o personagem entre os caminhos Jedi e Sith da Força. Tanto que o design da segunda metade do game colabora para que o personagem veja o caminho de destruição, miséria e escravidão que Império inflige a diversos sistemas que eram livres antes da visita de Starkiller.

Uma pena que, embora a transformação seja competente, a relação do protagonista com Darth Vader nunca é aprofundada como se deve. Pegando pelo contexto geral da saga, é possível interpretar o sequestro do garoto como uma vingança de Vader contra os Jedi que tiraram seus filhos após a tragédia em Mustafar. Além da adoção preencher o vazio que Vader deve sentir. O engraçado é o misto de ódio e afeição que o asmático antagonista sente pelo jovem sith.

Uma jornada galáctica

Além da história, o pessoal da Lucasarts também caprichou bastante com o level design e engines para construir a física surpreendente do jogo. Ao longo das 10 fases do game, visitamos diversos lugares interessantes como Kashyyk pré e pós dominação imperial, Felucia pré e pós, Raxus Prime pré e pós, algumas naves imperiais e a Estrela da Morte em plena construção.

Mesmo que o jogador revisite fases em 3 passagens diferentes, o conceito artístico renovado e a diversidade de objetivos não conseguem trazer uma ponta de desânimo para nós. As transformações são bastante impressionantes transmitindo uma crueldade nunca vista em nenhuma mídia até agora. O conceito artístico de cada lugar também impressiona.

Os ambientes são muito distintos entre uma fase e outra. Os corredores lustrosos monocromáticos das fases imperiais dão lugar ao verde exuberante de Kashyyyk, dos tons pastéis tóxicos do planeta sucata Raxus Prime, das florestas azuladas cheias de plantas alienígenas de Felucia, nos intestinos cheios de ventania de um Sarlacc ou para a verticalidade exigida para a exploração da Estrela da Morte.

Além do design artístico ser capaz de nos deixar boquiabertos, os gráficos eram bons para a época – mesmo que capados ainda para nivelar com outros consoles de geração passada. O cuidado da arte é tão massivo que Starkiller sempre apresentava novos trajes estilosos para cada fase – enquanto Sith, mais sombrios e picotados, enquanto Jedi, mais iluminados, claros e conservadores.

O mesmo se dá com os cristais de sabres de luz. Dentre os holocrons colecionáveis dispostos pelas fases, encontramos cristais das mais diversas cores para customizar os sabres. Alguns outros cristais ofereciam adicionais de dano, força, regeneração de vida, etc, para serem equipados na arma. Os holocrons também oferecem pontos de experiência adicionais para evoluirmos a árvore de habilidades do personagem

Os elementos de RPG certamente colaboram em tornar Starkiller o personagem overpowered que o jogo propõe que ele seja. Dominamos diversos poderes sombrios da força como os famosos raios projetados pelo Imperador. Lançamento de sabres de luz, explosão de Força, force pull, push e grip que permite o jogador interagir com diversos elementos do cenário, sejam objetos ou inimigos. Outras árvores dedicadas para a vitalidade a afins ou para comprar novos combos, também são disponíveis contando com seus próprios pontos para comprar habilidades.

O legal do aprimoramento dos poderes da Força é ver por transformações gráficas nítidas como o personagem fica cada vez mais poderoso.

Revolução na Força

Como dito, a principal proposta da Lucasarts para Force Unleashed era tornar o game um bastião revolucionário de elementos de física para que o jogador realmente se sentisse um manipulador nato da Força. Dito e feito, a Lucasarts conseguiu cravar mais uma excelente medalha em sua história.

Praticamente todos os elementos do cenário reagem com os poderes que soltamos para destruir a grande diversidade de inimigos trazidos pelo game design. Podemos arrombar portas maciças de aço com o empurrão ou abri-las com o force grip manipulando do modo que quisermos. Aliás, o force grip é uma das ferramentas mais uteis do jogo. Através dele, podemos jogar caixas nos inimigos ou capturar os troopers ou outros soldados, os jogando nas paredes ou no vácuo do espaço. O interessante é notar como os inimigos reagem quando são tostados, lançados pelos ares, segurados pela levitação, empalados pelo sabre de luz ou de qualquer outro modo que você encontre para dizimar as hordas de inimigos que aparecem nas fases.

Os efeitos eram realmente um belo diferencial de realismo para o jogo. As engines responsáveis para trazer aquele grau de interatividade nunca visto antes agora são as mais básicas para o desenvolvimento de qualquer game novo: havok e euphoria. Pena que na época, a reação física de tecidos ainda não era tão aprimorada quanto hoje, o que certamente causa um belo estranhamento quando andamos com Starkiller vestido com trajes mais compridos.

Carnificina Sith

O design das missões, embora tenha boa concepção de cenários, boas animações e variedade satisfatória de inimigos de diferentes dificuldades, raramente apresenta objetivos criativos. Sempre estamos em busca de alguém ou de algo, sem ter espaço para apresentar missões mais interessantes. A vantagem são as ótimas sequências contra os chefes de fase.

Há diversas lutas de sabre que não cansam. Alguns chefes como Kazdan Paratus precisam que o jogador se adapte diversas vezes por conta das mudanças de tática que a inteligência artificial apresenta. Já outras lutas são consideravelmente fáceis.

O game pode ser bem implacável em alguns pontos. A partir da segunda metade, nas fases revisitadas, a quantidade de inimigos é avassaladora. E como a variedade de dificuldade entre cada inimigo ou subchefe oscila muita, é fácil morrer diversas vezes. Porém, o design do game é falho, pois é possível atravessar largas porções dos níveis somente correndo dos inimigos, sem nunca entrar em conflito direto. Facilita o jogo e pode viciar o jogador a tomar esse speedrun. Se fizer isto, o game durará somente 5 horas. Enfrentando e limpando as fases, é possível tirar o dobro desse tempo durante a jogatina.

Em 2008, a moda levantada por God of War estava em pleno vapor. Os Quick Time Events se fazem presentes em Force Unleashed para finalizar batalhas contra os chefões e para apressar uma finalização contra um sub-chefe como um AT-ST ou um Rancor.

Porém, apesar destas características de revés, o game satisfaz tanto com o combate quanto com as seções de plataforma gigantescas – cair daqueles cogumelos em Felucia é muito irritante.

A direção do jogo só peca pelo excesso em uma sequência história que muita gente odeia: a queda do destroier imperial. Ele é o segundo chefe de Raxus Prime dominado pelo Império – a luta contra Proxy garante um dos melhores momentos do game. Na sequência, Starkiller puxa um destroier para a atmosfera do planeta apenas com a Força.

O que tinha tudo para ser uma sequência memorável e divertida, se torna a parte mais chata e insuportável do jogo. Para puxar a nave, é preciso manter o gatilho ativado além de fazer movimentos com os direcionais analógicos do joytick. O problema é que o jogo pede uma sequência que nunca traz a nave para perto. Além disso, não podemos ficar dedicando tempo para puxar o destroier de uma vez, já que ele solta 10 Tie Fighters de uma vez para te matar.

Isso se repete diversas vezes gerando uma passagem de mais de meia hora para que o jogador consiga vencer a luta. Demora demais, é chato demais e traz muita frustração pelo sistema injusto da mecânica da luta.

Sith Ultimate

A edição Ultimate Sith inclui todas as dlcs lançadas para o game, incluindo 3 fases de história bastante interessantes. Além das missões que duram 20 minutos cada, são liberados diversos trajes para jogarmos durante a campanha principal. Temos skins de uma infinidade de personagens da saga como Mace Windu, C-3PO, Ben Kenobi, Obi-Wan, Anakin, entre outros.

Das missões, apenas 1 se comporta durante o jogo e que também é a mais fraca dentre todas. A invasão ao templo Jedi em Coruscant diverte por uma boa luta de chefe e um design básico de fase, mas não oferece qualquer panorama narrativo para deixar Starkiller mais complexo.

Já as de Hoth e Tattoine são fora do cânone, se comportando como um universo paralelo de Star Wars para aqueles que optaram pelo final do lado sombrio na última missão. Em Hoth, Starkiller invade a base rebelde matando wampas e rebeldes de todo o jeito, além de enfrentar Luke Skywalker em três batalhas de sabre que praticamente são as melhores do jogo.

A de Tattooine é mais divertida que a de Hoth, se passando antes da fase centrada no planeta gelado. Nela, invadimos o palácio de Jabba enfrentando inimigos clássicos da saga como o Rancor, os jawas, alguns caçadores de recompensa como Boba Fett, entre outros. O final da fase também é ótimo com o confronto duplo contra Obi-Wan Kenobi mostrando toda a violência Sith de Starkiller, agora sem freios morais.

A Força Libertada

The Force Unleashed é um game ótimo. Mesmo com quase uma década de idade, o game se sustenta até hoje em diversos quesitos mostrando como a Lucasarts era um estúdio excepcional. A diversidade que o jogo traz certamente encanta qualquer um que ame o universo criado por George Lucas, além de contar uma história que se encaixava perfeitamente entre os episódios III e IV, não afetando nem mesmo a história de Rogue One.

Uma lástima a tragédia de Starkiller ter sido totalmente descartada, pois criava um significado valioso para a rebelião da Aliança Rebelde e também tornava Darth Vader um personagem mais complexo. Para quem tem interesse, o game se encontra disponível para venda na Steam rodando em quase todos os computadores e notebooks de hoje – apesar de um joystick ser recomendado para a jogatina.

As poucas falhas de mecânica ou de level design não tiram o brilho deste excelente game. Aqui, a Força é poderosa.

Pontos positivos: Jogo resistiu ao tempo, precursor revolucionário de física hiper-realista de efeitos de partículas e colisões, duelos de sabres, bons chefes de fase, excepcional direção artística, história valiosa para ex-canon Star Wars, bons personagens, gráficos bonitos para a época, jogabilidade divertida, ótima trilha musical e trilha sonora, excelente dublagem, customização, árvore de habilidades, poderes Jedi e Sith, finais alternativos, expansões divertidas expandido o universo para pontos de vista nunca explorados.

Pontos negativos: inteligência artificial estúpida, câmera irritante, excessos durante alguns conflitos, má decisão em deixar o nível totalmente aberto para exploração sem exigir demandas clássicas de jogos hack n’ slash, ausência de alguns poderes Jedi, dificuldade extrema em travar a mira, bugs ocasionais.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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